Conheça a história de Redu X, que é DJ, produtor, comanda a label inner.art e como videomaker, já trabalhou ao lado de Vintage Culture.
por Ágatha Prado
Do audiovisual para as pistas. A vivência como videomaker em festas, eventos e festivais de música eletrônica foi o gatilho para o paulista Daniel Oliveira iniciar sua carreira como DJ e produtor musical do projeto conhecido como Redu X.
Hoje, após quatro anos desde que deu start ao projeto, ele é dono de uma assinatura que combina boas doses de peso e melodia, formatando um blend distinto através das nuances do Tech House, Melodic Techno, Deep House, Progressive e Indie Dance.
Residente da festa paulistana Sextinha e headlabel da gravadora inner.art, o artista vem colecionando ótimas parcerias ao lado de artistas como Vokker, HAAS, Doug e Guilherme Mendes, e lançamentos através do catálogo de seu próprio selo, como a poderosa “Reverie”, faixa lançada na última sexta feira (23).
Conversamos com Redu X para conhecer um pouco mais das referências que permeiam seu projeto, detalhes dos últimos trabalhos e a rotina criativa do artista:
Beat for Beat – Olá Redu X, tudo bem? Obrigada por topar essa entrevista. Primeiramente, gostaríamos de saber como foi esse processo de transição do audiovisual para os trabalhos como DJ e produtor de música eletrônica. Quando e como veio esse interesse em trabalhar diretamente com a música?
Redu X – Eu quem agradeço, gratidão pelo convite e espaço, fico muito feliz e realizado em poder compartilhar com vocês um pouco da minha história e do meu trabalho.
Essa transição foi um acontecimento com um impulso gradual, uma curiosidade que se arrastou por bons anos, até virar uma realidade e eu decidir de fato a me “arriscar” e meter as caras no mercado me lançando como Produtor/DJ, até bem antes mesmo de começar a trabalhar como videomaker nas festas e com artistas.
Eu sempre tive uma curiosidade muito forte desde moleque, ainda em tempos de escola e quando os CDs e Rádios FM eram o único meio pelo qual eu consumia canções, sempre fui muito ligado a música e predominantemente ao Rock, Metal e Nu Metal (até cheguei a ter uma guitarra e arranhava algumas coisas, haha). O eletrônico acabou vindo em seguida e foi uma conexão também muito intensa, ficava imaginando como os caras conseguiam criar e tocar as músicas sem a necessidade de uma banda, muitas das vezes ouvindo aqueles timbres com ruídos, texturas e sintetizadores, aquilo sempre me surpreendia muito e eu não fazia ideia de como as coisas funcionavam naquela época, só amava escutar aquilo.
Após eu começar a filmar as primeiras festas já a muitos anos, que aí então finalmente descobri e foi o tipo de paixão à primeira vista (ou a primeira ouvida rs), a energia que o eletrônico passava nas pistas pro público foi algo que me impactou d+, me surpreendeu e me inspirou muito, acabava sempre me trazendo uma alegria muito intensa gravar e registrar o sorriso, união e o movimento das pessoas nas festas e festivais, e era algo muito mais único do que comparado, por exemplo, a gravar qualquer outro show de outros nichos, e nessa época de tão deslumbrado acabei tentando aprender a produzir, mas sem êxito… as informações, facilidade e tutoriais que a gente tinha a disposição eram muito escassos e também de má qualidade, na desistência, frustrado e também por falta de tempo, acabei optando apenas em evoluir e focar na minha carreira audiovisual que já era meu principal ramo ativo.
O grande e principal estopim mesmo após ter vivido tanto tempo apenas como videomaker, foi por perder um grande amigo meu que era produtor e DJ em uma luta contra o câncer, e ele era mais novo do que eu, Murillo Tavares. O projeto tinha o nome de “MADTONGZ”, acabamos por criar um laço muito forte de amizade graças a ele conhecer meu trabalho na internet.
Ele era um grande admirador e fã dos meus trabalhos audiovisuais, a gente acabou trocando muito conhecimento por conta disso e ele foi meu mentor pra eu poder dar o start em produzir minhas primeiras ideias, após sua partida prometi a mim mesmo que se eu gostava e tinha esse desejo imbuído de seguir como um artista do eletrônico (eu sempre me questionava internamente sobre isso) eu deveria fazer isso logo e parar de deixar o tempo passar, tomar coragem pra correr atrás desse sonho que estava a um tempão preso dentro de mim.
Você sentiu uma certa similaridade entre as duas áreas, sobretudo entre a produção de vídeo e produção musical, ou foi algo totalmente novo para você?
Redu X – Sem dúvidas, foi e ainda é uma simbiose muito louca, inclusive o processo de aprendizagem acabou me facilitando muito na minha longa experiência com o audiovisual e mais especificamente na edição dos vídeos durante minha carreira. Só o fato de entender conceitos básicos como a linha do tempo na construção de um filme, com começo, meio e fim, me abriu uma visão muito ampla e prática na construção dos arranjos musicais, também com um começo, meio e fim.
Como em momentos onde por exemplo devemos priorizar um ápice, tranquilidade, descanso ou euforia, para criar sentimentos e harmonia no espectador pelo andamento de uma história, interligados a sentimentos que expressamos em takes abertos ou fechados, cenas em slow motions, ou com as devidas lentes captando cenas felizes, melancólicas ou de tensão, e em paralelo assim como na música selecionando ou criando timbres com suas melodias, acordes, escalas e timbres que também passam uma mensagem e um sentimento muito único pro ouvinte, percebe? A similaridade nem parece ser um acaso, pra mim se conectam como uma mágica.
Vamos aproveitar e fazer um ‘merchan’ da sua experiência no audiovisual? Quais trabalhos você destacaria e gostaria de compartilhar pra galera conhecer mais a fundo?
Redu X – Poxa, são tantos que não tem nem como eu citar todos por que essa resposta iria ficar imensa, mas ligado à música eletrônica talvez os maiores e mais expressivos destaques foi participar de quase todos os episódios do “On The Road” do Vintage Culture junto a equipe do Struder da Acqua Films, ter a possibilidade também de gravar alguns clipes dele como a ‘Eyes‘ e ‘Hollywood‘, além de acompanhá-lo em diversas tours, um dos trabalhos mais recentes que talvez seja um destaque e fiz parte da equipe de gravação e edição, foi do set que ele fez num palco suspenso em parceria com a cerveja Beck’s no ano passado.
Também entra no currículo com certeza gravar em grandes festivais e eventos como Kaballah, Green Valley, Tribe, Só Track Boa, Ultra Music Festival Brasil, Electronic Daisy Carnival Brasil, Ame Laroc Festival, Time Warp Brasil, Reveillon Let’s Pipa… Acompanhar artistas em Tours os gravando-os também em grandes festas e festivais como por exemplo de artistas como Neelix, Chemical Surf, Victor Ruiz, Liu, Ownboss, Vokker…
Agora fora do eletrônico, o leque se abre ainda mais gente, já gravei reality show pra FOX Brasil, gravei diversos curtas, institucionais pra muitas empresas e mega corporações, videoclipes pra artistas de outros nichos também como por exemplo do pop, sertanejo… a lista é muito grande, estou no ramo audiovisual a um pouco mais de 15 anos.
Agora falando sobre suas referências musicais: quais são os pilares estéticos que configuram sua identidade como Redu X? Você poderia citar alguns artistas que não podem faltar no seu case?
Redu X – O Redu X atualmente tem sido uma mistura da energia pra cima que Tech House proporciona, junto a influências do Techno moderno que já pende para uma vibe mais densa e intimista no meu ponto de vista, e linhas que transitam ali também pelo Deep, Progressive e Melodic House.
Gosto de unir o contraste do peso em paralelo com a calmaria nas minhas produções e sets, como se anjos e demônios disputassem pelo mesmo espaço, porém ao mesmo tempo convivessem em harmonia (papo de louco né, eu sei rs), e talvez essa seja a maior estética que consigo descrever pro meu projeto hoje. Em contrapartida, também procuro me dar a liberdade de produzir o que me vem do coração e estou inspirado pelo momento sem me prender a gêneros e paradigmas, acho que música é isso, se expressar e ser libertador pro artista também.
Referências que eu mega me inspiro atualmente vai desde Township Rebellion, Enrico Sangiuliano, Boris Brejcha, até Kyle Watson, Nora en Pure, Martin Ikin, RÜFÜS DU SOL, Lastlings… Agora os que não faltam no meu case é muito difícil dizer, eu rotaciono muito as músicas e artistas que carrego comigo pra tocar, estou sempre pesquisando e ouvindo coisas novas que me atraem.
Quando você decidiu criar a Inner.art? Qual a proposta sonora da gravadora? Você sente que estar no comando de um label ajuda o artista a se posicionar melhor no mercado atual?
Redu X – A criação da inner.art a principio, tinha sido uma necessidade minha em ter mais liberdade pra eu poder me expressar musicalmente e ter o domínio dos meus próprios lançamentos, sem seguir rótulos pro que está “em alta” ou “mais popular” no momento, com a intenção de realmente transparecer a originalidade individual e única de cada produtor, essa ideologia acabou chamando a atenção de outros artistas que a gente assina.
Damos a liberdade pra que cada um faça o que goste e busque sem se prender ao que outros selos impõem, ou ao que mais tá na “moda” agora e etc… Eu procuro criar e cuidar de uma família onde todos se ajudem, defendendo sua própria verdade e gostem da linha que façam sem demagogia ou preconceitos bobos, não é a toa que se galera ir lá conhecer, e inclusive fica o convite, vai encontrar artistas desde do Melodic Techno, a Minimal / Deep Tech, Tech House, Bass House, Deep House, Progressive House…
A gente procura obviamente definir uma quantidade de gêneros pra lançar que tem haver com a particularidade do selo, mas com uma gama bem ampla, o ponto é que se houver qualidade, a música for boa, é interessante, é original, e o artista também é bom, desenrolado e sabe o que quer, a gente lança sem dúvidas e atribui ele na família pra somar com a gente.
Agora sobre como isso me afeta estando a frente de uma gravadora própria, eu não consigo enxergar que talvez isso me dê algum privilégio no mercado, talvez sim e eu esteja cego, mas eu não sinto isso, às vezes não ainda…. acho que tenho e também dou o mesmo respeito por com quem me relaciono, da mesma maneira como antes de criar o selo, sempre procuro me posicionar de artista pra artista quando estou na minha posição de A&R na label, inclusive dou várias dicas e procuro dar muita atenção pros produtores que nos enviam demos.
Inner.ente Vol 1. foi o primeiro lançamento da gravadora, em março de 2020
Sobre seu último single, Reverie, como foi o processo de criação deste trabalho e qual a mensagem que você buscou transmitir através dela?
Redu X – “Reverie” foi uma produção bem particular, às vezes faço umas coisas “fora da casinha” que deixo guardado por muito tempo até decidir de fato lançar, e com ela foi o que exatamente aconteceu, assim como na maioria das faixas que eu geralmente faço e que tem uma linha bem diferente do meu habitual. Ela marcou uma virada muito importante em determinar que “verdade” eu queria seguir dali pra frente, depois dela veio outras inspirações que seguiram um formato próximo e evoluíram pra outras coisas.
Reverie se eu não me engano vem do Francês, mas que também tem pronúncia no Inglês, significa: devaneio, sonhos, fantasia, a imaginação, o abstrato… E nesses significados foi onde procurei a inspiração para produzi-la, como tema principal os sonhos, o inconsciente e a meditação, usei isso como base para minha interpretação na música, indo pra um lado bem calmo, reflexivo e profundo, ambientado em melodias e se unindo também ao minimalismo. No próximo mês já está programado o lançamento da próxima faixa que procede a ela, com o título “Rouse”.
Com relação aos próximos passos de sua carreira, tem algo planejado para quando a pandemia acabar?
Redu X – A estratégia até o momento continua sendo a mesma, manter contato com quem me acompanha, produzir e continuar lançando boas músicas, sets e tudo mais, em complemento com o gerenciamento da minha gravadora. Quando a pandemia der uma trégua e os eventos retornarem, espero ainda poder estar firmando e conquistando meu espaço, pois temo que a pressão vai vir muito disputada, então só quem conseguiu se manter ativo durante a pandemia, provavelmente vai conseguir sair dela respirando, já é + de 1 ano com a indústria sendo lesada e debilitada.
Após as coisas se estabilizarem tenho o planejamento de talvez montar um showcase com a inner.art, e voltar as atividades dentro da festa que sou residente, a Sextinha, do qual inclusive estou morrendo de saudades, e se Deus quiser, tocar em mais festas e regiões do qual o pessoal tanto me requisita e me questiona, em quando estarei lá indo visitá-los pra me verem em minhas apresentações, esse é um dos meus maiores sonhos e metas ainda a realizar.
Obrigado mais uma vez pelo espaço e convite Beat for Beat, foi um prazer enorme!
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