Como um prato que desafia o paladar, ‘Sauerkraut and Pickled Kale’, de Otto Reitano, transforma o cotidiano em uma experiência complexa.
‘Sauerkraut and Pickled Kale’ não é uma faixa que se impõe — ela se infiltra. Desde os primeiros segundos, a faixa de Otto Reitano apresenta timbres sintéticos e granulados se movimentam com autonomia, como pequenos organismos tentando formar um ecossistema sonoro próprio. A escuta é convidada à observação minuciosa: são oscilações, ruídos digitais tratados como matéria viva, tudo disposto em um campo estéreo que parece em constante mutação. Ouça aqui.
A produção de Otto explora o detalhe como condutor emocional. Fragmentos melódicos curtos aparecem e desaparecem com volatilidade, provocando a sensação de que algo está sempre prestes a acontecer — mas não da forma convencional. Não há construção de drop, nem refrão, nem obviedade. Em vez disso, há formas que se desdobram: picos de frequência que surgem abruptos e depois desaparecem como se engolidos pelo próprio silêncio. Texturas acústicas disfarçadas de ruído, e ruídos que soam mais humanos do que qualquer instrumento.
A estrutura é livre, mas nunca caótica. A faixa transita entre estágios de contemplação e distorção controlada, evocando estados mentais específicos — como a memória fragmentada de uma cidade que nunca se visitou. É música que não busca a pista, mas cria um espaço novo para o corpo ocupar.
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