Martel explora a mata densa do Congo no novo single ‘The Ghost’

Sombras rítmicas, percussões cruas e texturas que respiram como floresta úmida definem ‘The Ghost’, nova música de Martel. Escute agora.

Martel

Em ‘The Ghost’, Martel apresenta o primeiro capítulo de seu projeto Zaire, concebido mais como escavação do que como composição. A faixa é uma descida lenta e densa pela mata sonora do Congo, onde polirritmias em ciclos irregulares se sobrepõem a percussões tocadas à mão e camadas sintéticas que parecem transpirar sob o próprio peso. É um trabalho que se recusa ao decorativo e confronta diretamente a matéria bruta da memória coletiva. Ouça aqui.

A construção da faixa se dá em fragmentos: tambores que tropeçam em repetições dissonantes, vozes que surgem como espectros à margem, gravações de campo que atravessam o espaço como lembranças insistentes. Nada aqui é nostalgia polida — tudo soa marcado pela erosão do tempo, pelo atrito de conflitos e pela presença incômoda de histórias que se recusam a desaparecer. Os sintetizadores surgem como véus enferrujados, oscilando entre presença e fantasma, mantendo a atmosfera em constante tensão.

The Ghost’ se insere como uma introdução contundente a Zaire, um manifesto contra a esterilização da música de matriz africana em moldes de pista genérica. Em vez de clichês, Martel expõe as fissuras políticas que atravessam esse território: extração colonial, espoliação corporativa e a persistência frágil da vida em meio à violência sistêmica. É um gesto sonoro que não busca exotismo, mas sim a restituição de densidade e verdade histórica.

Martel, ex-arquiteto que hoje se desdobra entre cinema, festas subterrâneas e trilhas para videogames, imprime em ‘The Ghost’ seu olhar transdisciplinar. O resultado é uma peça de escala ampla, textura pungente e compromisso ideológico, onde cada som carrega a força de um testemunho.

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