A holandesa Clone Distribution encerrou contrato com a Trip Recordings, de Nina Kraviz, devido suas possíveis saídas Pró-Putin.
Com uma guerra acontecendo no Leste Europeu, devido a inegociáveis políticas por parte dos governos da Rússia e Ucrânia, dificilmente posições partidárias distintas estariam trabalhando em conjunto. Como foi o caso entre a Clone Distribution e Nina Kraviz. A Clone, uma das distribuidoras fonográficas presentes no ramo do techno, com sede em Roterdã, Holanda, encerrou seu contrato com a Trip Recordings, gravadora de Nina Kraviz, devido à sua posição sobre a guerra na Ucrânia, explicando que “este não é o comportamento moral e enérgico que queremos representar ou estar associados”.
Segundo a própria Clone, a postura de Nina sobre a invasão à Ucrânia foi o passo final para que a associação entre as organizações tivesse um fim. Assim que anunciado o fim de suas relações, diversas entidades e consumidores, incluindo até a revista Time, solicitou pedidos de esclarecimentos. Serge, fundador da Clone Distribution, emitiu então uma nota oficial de esclarecimento para não deixar nada subentendido.
Na primeira parte do texto, Serge explica que o fim do relacionamento entre Clone e Trip não é nenhum segredo e aos que solicitaram os motivos, todos seriam totalmente esclarecidos, seguido de uma lista muito detalhada e fundamentada dos fatores que levaram ao térmico das relações com Kraviz. Em trecho, a declaração cita:
“No passado, mesmo após a anexação da Crimeia à Rússia, Nina Kraviz apresentou diversas saídas pró-Putin. Além disso, claramente flertou com os sentimentos da CCCP/URSS em várias ocasiões, enquanto a URSS era um regime que defendia a opressão das minorias, marginalizava as comunidades LGBTQ + e assassinava milhões de pessoas. No mais, no recente álbum de Nina, “All His Decisions”, também são encontrados vários sinais de elogios e bajulações, ocultos, para a URSS, levantando questões que, à luz da atual invasão russa, não podem mais ser ignoradas.”
O silêncio de Nina Kraviz nas redes sociais desde o início da guerra, plataforma onde a própria produtora costumava ser bastante ativa antes da invasão, tem sido amplamente questionada por toda a indústria fonográfica, por amantes de sua música e colegas de profissão. Clone se encontra decepcionada também com o silêncio e a falta de posicionamento da artista, o que coincide com suas atitudes anteriores:
“Ao se recusar escolher um lado e não se manifestar, Nina permite continuar seu estilo de vida como uma artista performática, como se nada estivesse acontecendo, enquanto saques, estupros, assassinatos e a destruição de um país por seus conterrâneos continua(…) Vemos este silêncio como um sintoma de uma positividade tóxica e uma ignorância que a Clone Distribution opta por não representar (…) Ela pode muito bem ter suas razões pessoais para justificar tal comportamento, mas como parceira de negócios, a Clone é igualmente livre para não aceitar convenientemente estas razões.”
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A Clone tem organizado diversos eventos para arrecadar fundos a favor de ajuda humanitária da cruz vermelha e também para os refugiados ucranianos. A declaração de Serge sobre o fim do relacionamento entre Clone Distribution e Nina Kraviz pode ser lida na íntegra aqui. Um dia após a quebra de contrato, Nina finalmente se pronunciou em suas redes sociais, afim de esclarecer todo esta tumultuada polêmica envolvendo seu nome, sua carreira e sua gravadora. Segue declaração na íntegra abaixo:
“Se me pedissem para ilustrar o apogeu do determinismo, eu daria como exemplo os tempos em que vivemos agora. Tudo em que estivemos envolvidos nas últimas décadas atingiu seu ápice quando fluxos descontrolados de mentiras e ódio, cujas razões nem sempre são óbvias, levam inevitavelmente à violência, instabilidade e conflitos entre pessoas, entre países.
O impulso está crescendo dia após dia. Assim, eventos terríveis se confundem nas redes sociais e na mídia com o cotidiano. Em alguns desses casos, tudo isso entra em conflito com crenças estabelecidas, como valores pessoais e estilos de vida. Estamos condenados a fazer parte disso.
Como pessoa, musicista e artista estou profundamente comovida com o que está acontecendo no mundo. É espantoso o que se tornaram as relações do meu país com a Ucrânia. Sou contra todas as formas de violência. Estou orando pela paz. Dói-me ver pessoas inocentes morrerem. Sou musicista e nunca estive envolvida no apoio a políticos de partidos políticos, e não pretendo fazer isso no futuro. Não acho certo falar sobre o que está acontecendo nas redes sociais. Na minha opinião, pode aumentar o grau de ódio que tudo consome e não ajuda na compreensão. De acordo com Sêneca, filósofo, estadista e dramaturgo estoico romano, ‘a disputa em si será extinta se um lado se recusar a apoiá-la’.
Nos últimos meses, enfrentei ódio e mentiras contra mim e não tenho certeza se é realmente porque minha declaração não apareceu no Instagram. Isso me entristece, mas não me deixou amarga. Sempre acreditei que a missão da música e dos músicos, da música eletrônica, do techno e da cena house é unir pessoas completamente diferentes apagando fronteiras e padrões ao invés de dividi-las. Quando as pessoas nascem, não escolhem os pais nem o país de nascimento. Então, ao lançar composições, compilações no meu selo Trip Recordings, era o talento do artista que importava para mim, não o país em que ele nasceu. Pretendo continuar seguindo os princípios da união apesar das tentativas de censurar o trabalho dos artistas da minha gravadora. Produzindo, lançando e tocando boa música, que é o que eu mais amo. Paz. Nina Kraviz.”
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