Uma das 100 DJs do ranking DJane Mag de 2022, Izzz é uma artista que aposta numa sonoridade mais hard e que você descobre agora!
Um dos grandes prazeres desta coluna, é apresentar artistas novos e que genuinamente bebem da sua arte e Izzz é uma delas. Mulher, uma das 100 DJs do ranking DJane Mag, ela foi na contramão de tantas outras e apostou num gênero não tão difundido de música eletrônica, o Hard. Com o objetivo de crescer como profissional e fomentar cada vez mais a cena dos hardbeats nacional, a artista conversou com a gente num papo bem profissional.
Descubra, Izzz:
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Beat for Beat – Quero começar falando sobre seu passado com a dance music. Como você veio parar na música eletrônica, no sentido geral? Lembra quais foram seus primeiros contatos e lembranças?
Izzz – A música eletrônica esteve presente em minha vida desde uns 10 anos de idade, quando eu ouvia ‘Summer Eletrohits’ no meu toca-discos, que na época era meu maior xodó. Eu nem sequer sabia que isso se configurava como música eletrônica, acreditava ser algum tipo de música pop, só depois de mais velha que fui perceber há quanto tempo esse estilo já existia no meu repertório.
Já no meu período de adolescência eu conheci o Skrillex, que hoje ainda é uma das minhas maiores referências artísticas. Eu me recordo de ter mergulhado em toda uma nova onda musical na época, onde o dubstep e o drum’n’bass se tornaram muito marcados na minha biblioteca pessoal. Em 2017 eu frequentei a minha primeira rave de psytrance e foi aí que um leque de possibilidades se abriu.
no início eu era voltada aos estilos do progressive e full on, e depois de viajar por diversos tipos de festas, eu comecei a ter mais frequência em eventos da cena underground, que tocavam hitech, darkpsy e psycore, descobrindo então novas possibilidades.
B4B – E a vontade de começar a tocar, surgiu em que momento? Tem algum fato que desencadeou a vontade ainda mais?
Izzz – A vontade de começar a tocar surgiu quando eu comecei a frequentar eventos de psytrance e me via cada vez mais rodeada de amigos e amigas que eram DJs e produtores, e eles sempre me incentivaram muito a fazer algo com esse desejo. Porém, eu era uma pessoa que tinha muito medo de errar, principalmente em frente a outras pessoas, e isso por muito tempo me impediu de dar meus primeiros passos, porque eu olhava os equipamentos e pensava: “Isso deve ser muito difícil! Então nem vou tentar…”.
Eu também creio que parte dessa resistência acontecia porque eu não havia encontrado, de fato, o estilo de música eletrônica que me tocava fundo o suficiente para dar esse start… até conhecer o hardbeats. Esse encontro aconteceu em uma festa de psytrance da virada do ano de 2018 para 2019, quando eu escutei Pharmacy Kids Story, o pioneiro da cena hard aqui no Brasil, e eu não fazia ideia do que era aquele som, mas eu tinha certeza de que se um dia eu fosse tocar, seria aquilo. Depois de ficar dias embasbacada com a apresentação, eu comecei a pesquisar loucamente pelo gênero e lembro claramente de ter pensado: “É isso que eu quero tocar!”
B4B – Hoje, você toca vertentes da cena hard. Como foi parar num cenário que não é tão difundido no Brasil? Isso dificultou seu começo de carreira como DJ?
Izzz – No início foi um pouco mais difícil porque eu tive que entender todas as configurações dessa cena sozinha, eu não conhecia ninguém para me ajudar a adentrar esse universo, então foi um período que eu “comi” muita referência e informação. Depois de um tempo eu fui encontrando coletivos e pessoas que já estavam se movimentando aqui no Brasil, e aí foi quando eu me toquei da magnitude do que eu estava me envolvendo… percebi que não seria só sobre subir no palco e mandar um som, mas também sobre fazer parte do crescimento e de toda a manutenção de uma cena que ainda está em crescimento no nosso país.
Então eu tornei o meu objetivo maior do que só a minha carreira, mas também em ser uma pessoa ativa na ascendência do hard brasileiro, que não só tem muito potencial, como também muitas pessoas com fome de um cenário bem difundido. No começo da minha carreira, estar em uma cena pouco conhecida não foi um fator decisivo para que eu tivesse oportunidades, creio que eu encontrei as pessoas certas nos momentos certos, então isso me abriu portas, o mais complicado foi sentir como se eu estivesse sozinha nesse meio (o que pouco tempo depois, como já comentado, eu descobri que não era bem verdade).
B4B – Além de fazer parte de uma cena não tão grande, você ainda é uma mulher. Como você vê a questão da barreira do gênero, tanto na cena hard, quanto na música eletrônica como um todo?
Izzz – Não é segredo para ninguém que a sociedade em que vivemos atualmente é fundamentalmente machista, então não só na música eletrônica, mas também em tantos outros meios profissionais, isso atravessa as nossas ações. Na cena do hard dance music a grande maioria são homens, não só aqui no nosso país, mas também fora, porém eu não acredito que isso aconteça porque menos mulheres estão tocando, como já escutei como argumento por aí… tanto que cada vez mais conheço mulheres ativas nessa cena e ansiando por destaque.
Na música eletrônica como um todo o caminho segue similar, e as oportunidades para esse público acabam por serem escassas e muitas vezes pautadas em questões que nada tem a ver com o talento da mulher, como a aparência, por exemplo. Além disso, é constante o debate do quanto as mulheres precisam desempenhar o triplo para estar no mesmo lugar, por isso acabam se profissionalizando mais, engajando mais nas mídias sociais e investindo muito mais tempo. Infelizmente é uma realidade que precisamos debater mais sobre e também promover ações que realmente transformem esse cenário.
B4B – Ano passado você figurou entre as 100 melhores DJanes do Brasil, segundo a revista DJane Mag. Como é para você, receber tal título, coisa que algumas DJanes do Brasil, mesmo com anos de carreira, ainda não conseguiram tal feito?
Izzz – Foi uma loucura total! Eu me lembro que no dia que fui nomeada eu chorei horrores. Isso não representou somente a mim, mas também a minha cena, porque eu fui a primeira DJane de hard a estrelar no ranking, então isso mostra o quanto não era só da minha cabeça a capacidade que nós temos de crescer aqui no Brasil. Eu trabalhei muito para chegar nesse lugar e apesar de ter sido muito surpreendente no dia, eu não vi como uma total surpresa porque eu sabia que era possível depois de tanto empenho que eu coloquei para conquistar isso. É muito gratificante ter sido reconhecida por eles como alguém com potencial, e querendo ou não isso nos faz querer ainda mais!
B4B – Quais são seus próximos passos na carreira? Quais maiores ambições, tanto mais do presente, quanto do futuro distante?
Izzz – Meu próximo passo com certeza é a produção musical. Atualmente eu estou trabalhando na minha primeira música autoral, que virá com uma identidade única dentro da cena do hard e eu espero quebrar algumas barreiras com isso. No presente, minha maior vontade é ampliar essa cena e realmente criar um público que seja fiel a esse movimento aqui, e eu já estou fazendo isso acontecer com tantos outros coletivos como a Tropicore, que produz eventos focados somente no hardbeats e, claro, continuar com as produções, lançando inclusive um álbum ano que vem ou no próximo.
Pro futuro distante é conseguir me apresentar mais vezes fora do estado de São Paulo, mas também fora do país, levando algo que seja genuinamente brasileiro e fazendo os gringos remexerem o quadril como nunca antes!
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