Da paixão pelo Daft Punk até a atual residência do Núcleo Big Fish (Curitiba), Lucas V. é o novo personagem da nossa coluna. Descubra!
Por Maria Angélica Parmigiani
Lucas Vieira da Silva ou apenas Lucas V., se encantou pela música eletrônica quando começou a entender o potencial de transformação que ela pode gerar nas pessoas. Desde muito novo, ele observava seu pai curtir bandas renomadas do cenário mundial de New Wave e já na pré-adolescência começou a curtir sons que tem total sinergia com a pista.
Não demorou muito para que a curiosidade guiasse o futuro artista para sons muito emblemáticos de seu tempo e que se tornaram atemporais, como faixas do Daft Punk. A energia celebrativa e brilhante desses sons mexeu em campos subjetivos de Lucas e foi ali que ele percebeu que essa fagulha se transformaria em seu propósito.
O artista recentemente conquistou o terceiro lugar num campeonato de DJs da Big Fish e foi convidado pelo Ilan Kriger (sócio/fundador) para se tornar residente do núcleo curitibano. Dentre os itens avaliados, o fundador do projeto citou a pesquisa musical abrangente, mixagem e a construção como pontos fortes de Lucas, que por um certo tempo se considerou tímido para tocar. Após alguns convites e apresentações no formato live, ele agora se prepara para o retorno das pistas em busca de voos ainda maiores.
Beat for Beat – Oi Lucas, tudo bem? Primeiramente obrigada por essa entrevista. Vamos começar do começo (risos). Como foi sua história com a música? Existe algo que te levou para esse universo antes da Dance Music?
Lucas V. – A minha história com a música começou já nos meus 10/12 anos, muito por conta do meu pai que curtia muito as músicas dos anos 70 e 80. Me recordo que uma vez por ano passávamos as férias em Santa Catarina e de SP à SC íamos ouvindo muito New Order, Pet Shop Boys, Queen, Michael Jackson e Depeche Mode. Quando eu ouvi a ‘One More Time‘, do Daft Punk, foi quando algo entrou na minha alma e me preencheu com uma força que é difícil de descrever e ainda sinto esse sentimento vivo até hoje.
Lemos na sua biografia que um dos momentos que te marcou, quando mais novo, foi o show do Justice no Sónar 2012, um festival extremamente relevante. Por que esse momento foi marcante para você? É uma referência para você até hoje?
Lucas V. – O Sonar é incrível! Principalmente pela sua mescla de artistas se apresentando no mesmo palco e são artistas que dificilmente viriam para o BR se não tivesse um festival dessa magnitude. Eu já era fã do Justice desde 2007 e infelizmente não consegui ir na tour deles em 2008, no Skol Beats (que mal sabia que seria a última edição), portanto estava com a expectativa lá em cima, e eles não decepcionaram!
Foi uma epopeia, foi um mar de pessoas pulando a cada batida, onde o duo fez um elo com o público e ambos compartilhavam da mesma energia. É esse tipo de energia que procuro levar para os meus sets, compartilhar o meu amor com a música com quantas pessoas eu puder.
E por falar nela, quem são os artistas nacionais e internacionais que você mantém no radar a nível musical? E tem algum deles que você se inspira sobre como ser artista e conduzir a carreira?
Lucas V. – Internacionais que mais acompanho são Joris Voorn, EJECA, Lost Desert, Zoo Brazil e Satoshi Fumi são alguns dos Djs que mantenho no radar. Nacionais acompanho Albuquerque, Leo Janeiro, L_cio e Stanccione. O Albuquerque e Kaká Franco são dois DJs que me inspiro bastante, desde a construção de um set, a gestão de carreira tocando em grandes casas, sem perder a identidade e sempre buscando surpreender nas apresentações.
Foi somente no ano passado que você se envolveu mais profundamente com isso, um ano super maluco para todos nós e que te trouxe algumas instabilidades como crises de ansiedade, algo muito comum nos dias atuais. A música é um refúgio para você nesse aspecto? Sente algum benefício físico quando está em contato com ela?
Lucas V. – Quando estou pesquisando ou tocando, eu me sinto completo, é como se fosse um líquido que preenchesse um balde vazio, com a música me sinto livre e consigo me expressar melhor com outras pessoas. Ela me fez lidar com muitas coisas na minha adolescência e me ajudou novamente nesse período obscuro da quarentena.
Nesse mesmo ano, você conquistou o terceiro lugar no campeonato para novos DJs residentes do núcleo de Techno, Big Fish. Como foi esse processo? Por que você acha que se destacou tanto?
Lucas V. – No momento que cheguei para o torneio já tinha me “acostumado” a me apresentar nas lives, então me permitiu ficar mais solto durante as apresentações e a preparação foi muito importante, digo no sentido musical, ficava horas pesquisando tracks para surpreender os jurados e mashups diferentes que trouxessem uma nova roupagem no set, foi um evento bem legal, a minha família inteira conseguiu me ver tocar [risos].
Você tem desejo de produzir ou primeiro quer se lapidar na arte da mixagem? Vi que você cria alguns mash-ups, algo bem comum na velha escola do Techno, o que te motivou a isso, será um desejo oculto de criar algo seu ou na verdade reformular o que já existe somente?
Lucas V. – Eu quero me lapidar na arte da mixagem e na pesquisa musical. Sobre a segunda pergunta, acredito que são as duas coisas.
Eu tenho muitos ídolos na música eletrônica, e um deles é o Laidback Luke, parece ser meio bizarro por conta da linha que toco hoje em dia, porém quando comecei a curtir a cena e me aprofundar, lá em 2007/2008, curtia todos os sets e podcasts que ele soltava e ele criava mashups incríveis, ele tinha um poder de misturar diferentes melodias, acapellas com instrumental, que praticamente criava uma nova música, trazia um modo diferente de ver aquele som.
Entendo que para isso eu ainda preciso ter bastante bagagem musical e um bom ouvido, é o que busco no dia a dia, descobrindo novas labels e artistas, seguindo dicas de Djs mais experientes e escutando podcasts de outros.
Acho que um DJ que possui bagagem musical pode fazer parcerias com produtores, pois às vezes o produtor não tem muito tempo para buscar referências, ou às vezes tem, mas não sabe por onde começar, acredito que o DJ tem pode criar grandes projetos com quem produz. Produtores de plantão, me esperem na DM de vocês [risos].
E falando em estilos: o que você procura combinar em seus sets? Você considera importante essa dinamização de vertentes? Se sim, por que?
Lucas V. – Acho essencial para um DJ se destacar. Você navegar entre as vertentes mostra muito a senioridade que você já alcançou na cena. Porém, para você ter sucesso nessa viagem musical, você precisa ter algumas premissas:
– Tracks organizadas na sua biblioteca
– Pesquisa musical – Escute uma nova label e um novo Djs todos os dias
– Veja as referências em artistas que não possuem rótulos
Obs: Claro que existe um limite no sentido de estilos, no meu caso sempre procuro ter Deep House, Organic House, Melodic e Progressive… vai depender do horário do som, da proposta da festa e da expectativa do público.
Quais suas impressões do cenário de música eletrônica atual? O que você espera para seu futuro?
Lucas V. – A música eletrônica superou o “Disco Sucks”, superou as proibições das raves e festas nos anos 2000 e vai superar essa “porrada” que a pandemia deu. Acredito que o cenário tem tudo para beneficiar os novos DJs da cena, principalmente aqui no Brasil. Com a alta do dólar e a crescente busca de consumidores por música eletrônica, principalmente nas ferramentas Spotify e Soundcloud, tenho boas expectativas para o futuro e me motiva em buscar melhorar a cada dia para aproveitar essa tsunami de festas que virá pós pandemia.
Eu espero me tornar relevante na cena eletrônica aqui em Santa Catarina, mais especificamente em Blumenau, para buscar saltos maiores e quem sabe um dia me tornar residente de um club, onde é o meu grande sonho! Sei que é um processo longo e árduo mas é a paixão que me motiva a alcançar esse objetivo.
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