Após entrar na música eletrônica através do House, foi quando RUSKAR descobriu o Afro House que tudo mudou. Entenda em nossa entrevista!
Entre tantas vertentes de música eletrônica que fazem nossos corpos se mexeram na pista de dança, há uma em especial que além de cumprir essa tarefa primordial, emana uma espécie de energia diferente de qualquer outra: o Afro House. Apesar de ainda estar bem distante de chegar a popularidade do House ou do Tech House, por exemplo, ainda assim alguns artistas acreditam que esse é o estilo perfeito para construir uma carreira, como RUSKAR.
A verdade é que sua porta de entrada foi mesmo o House, mas ao descobrir o poder do Afro, sua perspectiva mudou. Hoje, depois de somar mais de 10 anos como DJ e 7 como produtor musical, seu grande objetivo é fincar raízes nessa vertente que carrega sonoridades étnicas e orgânicas e se destacar no cenário estando sempre conectado com a natureza e as diferentes culturas, características inatas do Afro House.
Para conhecê-lo melhor, embarque com a gente em mais essa edição da coluna Descubra!
B4B – Olá, RUSKAR! Obrigado por aceitar essa entrevista. Nos conte então, primeiramente, o que te fez ingressar na música eletrônica? Você começou a tocar em 2012, né? Já faz bastante tempo…
Ruskar – Olá, pessoal! Prazer conversar com vocês. Sim, comecei a tocar em 2012. Mas o meu interesse pela música eletrônica surgiu em 2008 na época da dança “Rebolation” e “Sensualize”, que muitos dançavam nas raves e faziam vídeos para postar no youtube. Eu era menor de idade, então eu não podia ir nas festas para aprender, logo o youtube foi meu aliado nesse aprendizado. Os famosos “passinhos” eram feitos apenas ao som de música eletrônica, mais especificamente ao som de Eletro House, então passei alguns anos aprendendo a dançar até que em 2012 eu pude ir na minha primeira festa.
Quem fazia festa na minha região era o Rith Freitas. Eram festas matinês, mas foi a primeira vez que pude sentir a força da música eletrônica em um soundsystem potente e isso me dava mais energia e vontade de dançar, tanto é que na época formei um grupo de dança para ir nessas festas desafiar outros grupos. Até que em uma das edições conheci o Rith Freitas, DJ que fazia a festa na região e quem me ensinou a tocar posteriormente.
Minha vontade era ser DJ do meu grupo de dança, pois nos nossos ensaios era um saco quando a música parava de tocar, e o DJ tinha essa magia de fazer as músicas tocarem sem parar. Mas nessa de aprender a tocar, isso me levou aos meus primeiros eventos corporativos. Posteriormente fui DJ residente de um motel (sim, um motel), onde pude conhecer o DJ Fernandinho, um cara que me ensinou muito sobre discotecagem e sobre a vida em si, o considero um irmão. Foram muitos acontecimentos até aqui, mas o principal deles e que me manteve forte até aqui, foi ver que com a música é possível fazer muitas pessoas se sentirem bem ao mesmo tempo, e esse é o combustível que me mantém em movimento.
B4B – Em todos esses anos você dividiu a carreira artística com outro trabalho? Como você tenta dividir/organizar sua rotina hoje?
Ruskar – De 2012 até 2015 eu conciliei o meu trabalho em um escritório de contabilidade com o trabalho de prestador de serviços como DJ, pois eu não me considerava um artista. Em 2015 eu comecei a faculdade onde eu estudei produção musical, porém eram tantos trabalhos a serem realizados que não consegui manter 2 trabalhos mais a faculdade, foi nessa que o Dj Fernandinho me incentivou a largar o trabalho do escritório e seguir firme discotecando em eventos ao mesmo tempo em que ia fazendo produção musical na faculdade. Confesso que não foi uma decisão simples, ia completar meus 20 anos de idade e ter que pagar a faculdade apenas discotecando me dava um frio na barriga, era algo que tinha seus momentos de auge e de baixa, mas deu tudo certo. Porém em 2017 após finalizar a faculdade, eu decidi que não queria mais fazer eventos e que iria migrar totalmente de cabeça no mercado da música eletrônica, um mercado exigente e que valoriza outros tipos de condições.
Nessa época, veio um momento de dificuldade extrema, pois eu não conseguia gigs por ser inexperiente no mercado, assim como não tinha músicas que gostava para lançar, e muito menos tinha dinheiro para investir no projeto. Graças a Deus eu tenho pais que apoiam o meu trabalho e que me deram força para continuar seguindo trabalhando nesse sonho, então tive suporte deles durante um tempo, mas nunca gostei de ser dependente dos outros, então decidi buscar um outro trabalho aleatório, até que fui parar em uma metalúrgica.
Eu acordava às 6 da manhã, trabalhava até as 17 da tarde e só tinha a noite para me dedicar à carreira artística, o que era difícil, pois chegava em casa exausto. Isso era 2018 para 2019. Foi uma época frustrante, pois já tinha estudado muito, tocado bastante em eventos e tinha que trabalhar em uma metalúrgica para pagar as contas. Mas em 2019 eu saí dessa metalúrgica e comecei a trabalhar com um dos caras mais incríveis que conheci nessa vida, Andre Salata. Na época ele estava começando a Comunidade de Áudio que ele tem até hoje, e ele precisava de alguém para escrever os PDFs dos cursos e das lives.
Como desde da época da faculdade eu era um admirador assíduo dele, fui convidado a trabalhar com ele, e nessa época eu fiquei imerso na música eletrônica, pois o trabalho durante o dia era com música eletrônica e nos momentos em que eu não estava trabalhando, eu continuava imerso na música. Atualmente não trabalho mais com o Salata, mas presto serviços como técnico de som para CPro Áudio, uma das maiores empresas de som da América Latina, e como esse trabalho é apenas final de semana, durante a semana eu respiro música de todas as formas, principalmente produzindo minhas tracks.
B4B – E quando você começou a dar os primeiros passos, tocava mais House/Tech House, certo?
Ruskar – Olha, os primeiros passos, lá em 2012, eu tocava Dutch House e Eletro House. Eu sempre gostei muito de sons com o groove forte, que faz o corpo mexer mesmo sem querer. Posteriormente, eu passei tocar Tech House, mas depois de estudar produção musical, entender melhor a música na teoria, eu passei a admirar um pouco mais as músicas que faziam dançar e tinham harmonia, nessa eu me descobri no Afro House, um som que possui um groove forte, muita percussão (que adoro) ao mesmo tempo em que possibilita ser musical ou sintético.
B4B – Vimos no seu Soundcloud que há vários sets para diferentes gravadoras. Você sente que isso te ajudou a amadurecer e encontrar sua identidade atual?
Ruskar – Com certeza ajudou a amadurecer. A época desses sets foi no final da pandemia e um pouco pós pandemia. Ouvindo as gravações eu comecei a perceber que eu tocava músicas que não gostava muito e que estava mais querendo agradar o público do que me agradar, talvez por conta da influência dos eventos no meu passado, porém isso começou a me deixar meio mal, porque dificultava até a direção das minhas produções.
Na virada de ano de 2021 para 2022, algo mexeu fortemente comigo. É até esquisito dizer, mas o simples virar de ano me trouxe outros insights, eu passei a olhar as coisas de forma diferente, me senti energeticamente de forma diferente, simplesmente eu não conseguia mais gostar de nada eu fazia antes, nem das roupas. Mas ao pesquisar novas coisas, entender o funcionamento de outras, eu me encontrei no Afro House e tudo que engloba esse estilo.
Sempre acreditei muito em energia, sempre acreditei que fazer o bem irá atrair mais do bem, que coisas positivas são mais fortes que negativas e que o positivo sempre irá continuar colocando no caminho coisas mais positivas, sempre fui desse estado de espírito, e o Afro House tem tudo isso dentro de sua cultura, logo me identifiquei fortemente com esse gênero e tudo que há em volta dele, e cada vez mais estou em busca de me aprofundar para passar isso adiante.
B4B – E em que momento você percebeu que seu estilo começou a se aproximar do Afro House? Vi que uma de suas principais aspirações do momento é o Mezomo… nos fale um pouco sobre isso.
Ruskar – Eu comecei a perceber que meu estilo começou a se aproximar do Afro House quando comecei a participar das mentorias do Mezomo, que acontecem dentro da Comunidade de Áudio do André Salata. Apesar de eu não trabalhar mais com o Salata, eu continuo fazendo parte da Comunidade, e não só tenho mentoria com o Mezomo, mas também com o Binaryh e DJ Glen.
Porém o cara que me deu a direção sonora do Afro House foi o Mezomo. Ele já está a bastante tempo trabalhando nessa sonoridade e realizando diversos movimentos no Rio Grande do Sul, as dicas e insights que ele me passou quando perguntei “você acha que meu som está dentro do que é considerado Afro House” com certeza foram o que me levou a chegar na sonoridade que estou fazendo hoje, pois eu juntei tudo que ele me disse, com o que eu gosto, com o que eu acredito que pode funcionar e fiz o meu som.
B4B – No final do ano passado você teve a primeira grande comprovação de que o seu trabalho estava seguindo o caminho correto com o lançamento da ‘Elevator’, pela Nature Recordings, da Curol. O que significou esse lançamento pra você?
Ruskar – Realmente foi uma comprovação. Eu estava com várias músicas prontas que eu gostava, mas isso não era o suficiente. A propósito, eu faço músicas que eu gosto para o público, não para ouvir sozinho no estúdio, então estava em busca de ter uma resposta do mundo externo para as músicas. A primeira pessoa que chamei para enviar minhas músicas foi a Curol. Ele adorou algumas delas e a preferida para lançar no V.A da gravadora foi a “Elevator”. Essa foi a faísca que eu precisava para acreditar que as músicas poderiam pegar fogo, pois a partir dai eu passei acreditar mais ainda que as músicas funcionam e eu precisava trabalhar mais para que eles chegassem mais longe.
B4B – Agora, outra grande conquista, é sua presença no catálogo da renomada Sol Selectas, uma label que é referência mundial quando o assunto é Afro/Organic House. A aprovação demorou, mas veio, né?
Ruskar – Nossa, acho que nunca senti tanta emoção na vida com um vídeo de 15 segundos, os meus olhos encheram de lágrimas quando vi o Sabo tocando uma das músicas do EP pela primeira vez e a galera pirando. Foi a primeira vez que vi uma música minha explodir uma pista gigante e ter inúmeros videos dela. Mas isso só aconteceu graças a essa busca persistente e incansável de aprovação das músicas. Eu trabalhei para que elas chegassem em lugares grandes, nunca fiquei satisfeito com pouco, sempre dei o meu máximo para que tudo ficasse o melhor possível dentro das minhas condições, e foi com essa mentalidade que consegui chegar na Sol Selectas. Foi demorado a aprovação, mas ela veio. Enviei a música para o Sabo em Dezembro, mas foi só no início de Março que veio a resposta da aprovação para lançamento. Foram dias de ansiedade e emoção vendo as músicas rodando o mundo em diversas festas. É muito gratificante.
B4B – E você já tem outros lançamentos nesse nível que estão prontos para serem lançados?
Ruskar – Tem mais 3 músicas na mão do Sabo, mas que estão novamente naquela fase de teste. Porém eu estou bem confiante que podem virar novos lançamentos, até porque são músicas que fiz pensando na continuidade desses lançamentos, quero criar uma boa discografia.
B4B – Quais os próximos passos/novidades que você tem para compartilhar? Quais objetivos você ainda quer alcançar? Obrigado!
Ruskar – Assim como muitos artistas, meu maior objetivo é poder viver 100% da música. Eu já vivo, mas nesse caso eu me refiro a ver minha renda vindo 100% de apresentações artísticas, de shows, viajando o nosso Brasil para tocar, e depois de tanto suporte no exterior, por que não fazer Tours, conhecer o Oriente Médio, a Europa, entre muitos outros lugares. Mas com certeza o meu maior objetivo é começar a ter uma boa agenda de shows, tocar todo final de semana e entregar o meu melhor para o público. Tenho outras vontades, mas essa é a que está à flor da pele.
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