Misturando New Wave, Nicolas Jaar e o lo-fi que tem tomado conta do underground, Tha_guts é um dos nomes mais originais da cena emergente. Descubra!
A recente porém promissora carreira do produtor gaúcho Augusto Pereira aka Tha_guts é baseada no talento e na seriedade com que ele encara seus principais desafios. Seu cartão de visitas para o mundo da música eletrônica foi um full lenght repleto de referências e com faixas que remetem a um clima nostálgico e moderno, praticamente ao mesmo tempo.
Criatividade não é e nem parece que um dia vai ser o problema para este jovem artista, que apesar do pouco tempo de distância do lançamento de Plastic Noise, seu álbum de estreia (ouça acima), ele garante que há outros trabalhos com a mesma profundidade e alguns elementos novos a caminho. Nesse bate-papo exclusivo, nós descobrimos um pouco mais sobre os pilares que formam Tha_guts, um artista com vontade e determinação para mudar os padrões tão engessados da cena:
Beat for Beat – Olá, Augusto! Muito obrigado por falar conosco. Ouvimos Plastic Noise e realmente soa muito bom. Como foi seu processo criativo com o álbum? Quanto tempo ele durou?
Tha_guts – As demos do álbum começaram a ser gravadas no final de 2016, início de 2017 e inicialmente não existia ainda um conceito prévio. Porém, no ano passado, eu estava pesquisando e consumindo bastante sonoridades que quebrassem um pouco esse padrão por vezes engessado da música eletrônica. Então no início de 2018 o álbum estava fechado e acredito que o processo criativo empenhado na produção das tracks ocorreu mais de um modo fluido e acidental do que com base em um planejamento.
B4B – Esse caldeirão de referências que formam o álbum é fruto exatamente do que? Como você organiza isso no seu cotidiano?
Tha_guts – É curioso escutar o resultado do disco como obra hoje, pois consigo perceber e distinguir as diferenças do que eu estava consumindo na época. Nem sempre a proposta é exclusivamente sonora, muito do que se escuta em Plastic Noise vem de experiências conjuntas entre o áudio e a imagem e por vezes somente imagem. Por exemplo, é como se eu tentasse reproduzir uma sonoridade a partir de uma obra gráfica ou literária. É engraçado, mas eu não organizo as referências, assim, geralmente acaba acontecendo diferente do previsto, proporcionando um resultado surpreendente e mais interessante.
B4B – Após o lançamento do seu álbum, o que exatamente você está projetando para o restante do ano? Há novos lançamentos a caminho? Algum desdobramento em relação as faixas já apresentadas?
Tha_guts – Esse ano promete ser bem cheio. Em abril aconteceu o lançamento do disco, e em breve planejo o lançamento de um EP mais voltado para um clima clubber, menos faixas que o álbum, com músicas mais longas e hipnóticas. Sobre o Plastic Noise, está em produção também um videoclipe da faixa Stupid Man e a track Brujas deve sair na coletânea do Kino Beat em julho. Ainda pretendo pensar sobre a possibilidade de remix do álbum sobre a perspectiva de outros DJs. Então tem muita coisa vindo por aí [risos].
B4B – Como exatamente surgiu a ideia de construir seu live act? Quais foram os principais aprendizados que você teve com esse projeto?
Tha_guts – Inicialmente quando pensei no live act do disco, a proposta era mais quadrada e voltada ao próprio álbum, mas no período de construção do live eu pude perceber essa ideia de um modo mais aberto. Particularmente, acho incrível os álbuns de estúdios de Jaar e Four Tet, mas quando vejo as performances ao vivo desses artistas é uma experiência totalmente nova e inspiradora. Nesse sentido, o live conta com desdobramentos das faixas de Plastic Noise, além de tracks inéditas e outras experiências sonoras.
B4B – Na sua visão, o que a cena nacional tem de mais efervescente no momento? De que forma isso tem impactado a carreira dos novos artistas?
Tha_guts – Nesses últimos meses eu tenho optado por ouvir o trabalho de artistas que entreguem uma experiência mais intimista, diferente do que se encontra no mainstream. Por exemplo, é incrível como existe uma crescente cena lo-fi impactando o cenário da música nacional, bem como artistas que se preocupam com um conceito que não envolve só música, mas uma proposta audiovisual completa. Nesse sentido, tenho escutado os trabalhos recentes da Saskia, uma artista incrível de Porto Alegre e o duo de DJs de SP da Tétano, Gabriel Andrade e Mauricio Kessler. Mas, também espero ansioso o debut álbum do L_cio que sempre soa fantástico.
B4B – Como você enxerga e avalia a cena gaúcha nesse momento e o que você avalia ser necessário para que ela continue crescendo de forma sustentável?
Tha_guts – Percebo mais dentro de Porto Alegre uma crescente cena das festas de rua, bem como coletivos interessados em produzir experiências fora dos clubes, como o Coletivo Plano e Arruaça. Igualmente, percebo que tem um grande número de eventos que ocorrem em ambientes fechados, mas que tem um público cativo que transita entre as festas. Hoje, cada vez mais tenho percebido as subdivisões dentro da própria música eletrônica, o que por vezes se questiona se essa situação não enfraquece o cenário. Contudo acredito que as micro cenas andem em paralelo por apresentar públicos diversos e propostas diferentes.
B4B – Para finalizar. Aonde você quer chegar com a música? Lugares? Algum em especial?
Tha_guts -Sabemos que na música São Paulo é o centro do país, então acredito que todo artista que tem alguma pretensão, aspira morar em SP. Contudo, tenho cada vez mais tenho me interessado pela cena eletrônica de SC, que pode ser uma parada no futuro. Fora do país, tenho uma curiosidade especial pela experiência de imersão de morar em uma cidade com um enorme histórico na música eletrônica como Berlim, imaginando o impacto na realização das novas produções. Porém, espero que o meu trabalho conte com a possibilidade de transitar entre estes e os mais diversos lugares.