Como um amanhecer que não traz alívio, ‘Sunrise’, de Discrete, nasce sob nuvens carregadas — e brilha justamente por isso. Escute agora.
Na colaboração entre Discrete e Notelle, o dia não rompe a escuridão: ele a estende. ‘Sunrise’ é feita de atmosfera densa, silêncios tensos e emoções mal resolvidas. A faixa paira entre o impulso de seguir em frente e o desejo de permanecer exatamente onde se está — mesmo que isso signifique continuar perdido. É som para momentos em que o sol não representa começo, mas confirmação do que ainda pesa. Ouça aqui.
A produção é minuciosa, quase cinematográfica. Os sintetizadores vibram em camadas que se expandem devagar, como uma neblina que recusa se dissipar. A percussão pulsa com contenção, guiando a faixa sem pressa, sem clímax óbvio, como se estivesse tentando preservar o que ainda não foi dito.
E então, há a voz de Notelle — crua, urgente, como um pensamento que escapa antes de ser filtrado. Cada palavra soa como confissão, cada verso carrega o peso de algo que não se consegue esquecer. Ela não interpreta: ela sangra. A presença vocal não acompanha o instrumental — ela o corta, criando fendas emocionais por onde a vulnerabilidade escorre.
‘Sunrise’ é mais do que uma faixa — é um estado. Um espaço sonoro suspenso entre memória e desejo, entre o escuro que passou e a luz que ainda não conforta. Discrete e Notelle transformam o momento de maior claridade do dia em um reflexo sombrio daquilo que ainda arde por dentro.
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