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Entrevistamos: BATEKOO no The Town

Uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+, a BATEKOO conversou com a gente no The Town.

Batekoo

Edição: Carlos Vinicius

A BATEKOO é uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+ com foco nas juventudes urbanas. Muito além de uma festa, é um polo de conexão entre jovens inquietos, que buscam propor narrativas contra-hegemônicas e transformações sociais no cenário cultural brasileiro.

Foi durante mais um grande de feito do coletivo, sua apresentação no The Town, que conversamos com eles sobre a importância de corpos pretos ocuparem seus lugares que são de direito, em meio a cena musical eletrônica. Confira agora a entrevista:

Beat for Beat – Vamos falar um pouco sobre a história da BATEKOO. Vocês começaram lá na Bahia, em 2014 e de lá, foram para todo o Brasil. Como é para vocês, ocupar espaços que são seus por direito?

BATEKOO – Começar em Salvador pra gente foi algo bastante desafiador, porque é a cidade com o número de pessoas pretas fora da África, então percebemos uma desproporcionalidade muito grande de eventos, oportunidades de cultura e manifestações culturais voltadas a pessoas pretas e LGBTs pretas. Depois que a festa foi um sucesso em Salvador, percebemos que essa demanda, na real, não era algo exclusivo de Salvador.

Depois disso, a gente passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Santos, e agora chegamos em Lisboa. Com isso, conseguimos perceber que existe uma comunidade que necessita de uma atenção e que a gente consegue, de alguma forma, também, pensar com a cabeça dessas pessoas e propor espaços onde nos sentimos confortável para sermos nós mesmos e colocar essas pessoas também em destaque tão grande quanto os nossos, e isso é importantíssimo.

Ficamos muito felizes de poder, de alguma forma, criar esse intercâmbio, essa conexão da pista com o palco, porque não é só sobre a gente que tá ali em cima do palco, é também sobre as pessoas pretas que estavam no The Town, por mais que tenha sido uma minoria muito pequena. Sentimos que é um caminho que estamos construindo que é irreversível e que, em breve a gente vai conseguir mudar ainda mais as estruturas para que a gente não seja mais exceções e minorias

Batekoo

B4B – Quando vamos falar de ocupar espaço precisamos também falar da questão da música preta  A house music nasceu preta, o funk nasceu preto, o hip hop nasceu preto, mas embranqueceram. Como é o processo de reeducar as pessoas musicalmente, mostrando o contexto histórico dessas músicas?

BATEKOO – Esse resgate é uma luta muito antiga, de outras pessoas que vieram muito antes de nós, esse resgate de que a maioria dos ritmos criados são pretos. Muitos são invisibilizados, mas acho que ultimamente, principalmente no Brasil, de teve um crescimento muito grande principalmente da ballroom e da cena de vogue, isso deu uma popularizada muito grande em ritmos eletrônicos de dance music então, o house, para as pessoas entenderem que é um ritmo preto feito para pessoas pretas, num espaço preto.

Hoje em dia a gente vai percebendo, mesmo que aos poucos, que tá rolando esse movimento, inclusive, de afirmação que funk é música eletrônica, porque é isso, é uma música feita digitalmente então é música eletrônica, querendo ou não. Ainda precisamos de algumas afirmações de espaços grandes como, por exemplo o The Town, criar um palco de música eletrônica e colocar vários DJs, vários artistas e performers de funk e com isso vamos percebendo esse avanço nessa luta que a gente e quem veio antes, está fazendo há muito tempo, esse reconhecimento.

Inclusive, estamos destacando isso em todas as entrevistas que fazemos. Achamos que o The Town se propôs a fazer uma curadoria sobre a noite de São Paulo e fez isso com muita excelência. Estamos ao lado de vários artistas que encontramos semanalmente na noite da cidade, na base de quem tá construindo a cena, o que é muito importante, mas que é muito pouco visto e o The Town se propôs a dar esse destaque pra essas pessoas e tá sendo incrível ver pessoas  que a gente sabe que tá moldando muito a cultura brasileira, que tá construindo e virando tendência. Moldando o comportamento brasileiro a partir da música, tocando em um festival gigantesco como esse.

Até porque com essa globalização, principalmente que o Brasil tem dessa mistura de vários ritmos, do funk, do vogue, do house, nós temos várias propostas, então hoje ter um palco com vários produtores que trazem além dessa tendência, mas essa afirmação e essa  imersão com esses vários ritmos é muito prazeroso. 

Achamos que eles puxaram também para essa afrodiáspora, porque todos esses ritmos  que a gente toca, que vive nessa nossa cultura, eles também vêm dessa afrodiáspora, desse local do corpo preto, ser retirado das suas terras, ser dissipado ao redor  do mundo e cada região  trazer uma musicalidade, uma sonoridade, mas que no fim  elas se transpassam. Se eu escuto um funk e um vogue beat, o bouncing ele vai vir de um mesmo lugar, assim como um afro e as coisas se transpassam e é muito lindo ver isso também. A BATEKOO conta isso, esses encontros de ritmos, de ancestralidade e no The Town contamos ainda mais.

B4B – Vamos falar também sobre o festival de vocês. Qual é a sensação de sair de festas pequenas, para o The Town e seu próprio festival na Neo Química Arena?

BATEKOO – Fizemos nosso primeiro festival no ano passado, em dezembro e agora estamos indo pro segundo, que vai ser dia 7 de outubro na Neo Química Arena. Temos artistas como Grupo Revelação, Liniker, Gaby Amarantos, Sampa Crew, Tasha & Tracie, Kyan, Mu54O, A Dama, Shevchenko & Elloco, entre outros. O festival significou pra gente, na nossa trajetória, um grande passo, um marco na nossa história, porque no começo a Batekoo fazia evento em São Paulo para 300 pessoas no Morfeus e agora, a gente fazer um festival  para 12 mil pessoas, estar aqui  também no The Town, um festival para 100 mil pessoas é muito incrível, é muito gratificante, todo mundo aqui sabe o corre que foi pra chegar até aqui. É difícil, é complicado, tem aqueles percalços no caminho mas a criatividade da juventude negra tem feito acontecer e está fazendo as coisas virarem, independente dos desafios.

Para completá-lo, nós somos um dos poucos festivais brasileiros proposto por pessoas pretas, e isso já é uma coisa muito incrível de se destacar. O nosso propósito no ano passado, que foi o nosso primeiro festival, que era algo muito novo também, era propor um festival que a gente não se visse apenas no palco, mas também na pista pensando num festival que fosse majoritariamente negro, esse ano a gente vem com o big bang dos pretos.

Mesmo depois de tudo isso, conseguimos transformar a nossa vingança em felicidade, pensando muito que às vezes celebrar, dançar, estar com os nossos é a melhor  maneira da gente se vingar do racismo e de todas as violências que a gente sofre no nosso dia-a-dia. É um momento muito importante, também falar do festival da BATEKOO porque pra gente é a realização de um sonho, e a realização também da criação de um espaço que a gente sente que não existe e que é muito importante nós, cabeças pretas, estejamos pensando nesses espaços propostos para pessoas pretas, onde sabemos do que a gente gosta, não é algo fácil de se decifrar, e a publicidade nunca vai conseguir chegar lá sem a gente.

B4B – Obrigado, galera, muito obrigado!

BATEKOO – Obrigado!

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