Entre reinvenção, essência e futuro, Victor Ruiz fala sobre 20 anos de carreira, transformação criativa e os caminhos da música eletrônica.
Entrevista: Vitória Zane
Victor Ruiz, DJ e produtor, revela planos para 2026, que incluem um álbum, o primeiro de sua carreira.
Ele começou sua história com a música ouvindo Rock e Metal, quando criança. Aprendeu a tocar baixo também. Mas depois descobriu o Psytrance e tornou-se DJ e produtor. Hoje é um dos nomes mais celebrados do Techno brasileiro. Estamos falando de Victor Ruiz, mais informações sobre ele podem ser vistas por aqui.
A trajetória de duas décadas do artista na música eletrônica é marcada pela mistura de vertentes e sonoridades, que moldaram a identidade do brasileiro que ganhou holofotes mundiais.
Conhecido por sua exímia habilidade em produzir faixas, Victor Ruiz já lançou por grandes gravadoras, como Armada, mau5trap e Drumcode; já colaborou com grandes nomes, como Alex Stein e D-Nox; já remixou grandes lendas, como Oliver Huntermann e Perry Farrell; e criou uma grande label, a VOLTA.
Neste caminho, se apresentou locais icônicos, como Tomorrowland, Boom Festival, Fusion Festival, Electric Daisy Carnival e muito mais, além de ter tocado em quase todos os continentes somente neste ano.
Entre apresentações no Tomorrowland Brasil, título de “The Future of Dance” pelo 1001Tracklists e revelação de estar trabalhando num novo álbum em 2026, Victor Ruiz conta em entrevista ao Beat for Beat como tem sido sua relação com a música nesta jornada na cena e quais os planos futuros. Leia:
B4B: Victor, são 20 anos de carreira… E neste momento, em pleno 2025, você é indicado como “The Future of Dance” da 1001Tracklists. Como você enxerga essa indicação mesmo já tendo uma grande bagagem na profissão?
Victor Ruiz: Fiquei muito feliz com essa indicação, ainda mais num ano tão importante, cheio de outras conquistas. É um desafio ter uma carreira de quase duas décadas e se manter relevante, ainda mais num mundo onde tudo é tão rápido e tão descartável. Olhar para frente é necessário e é a direção que sempre tomei com minha música, acredito que estou colhendo os frutos que plantei nesses últimos tempos.
B4B: Você mesmo publicou que foi um ano em que mergulhou no estúdio para reencontrar seu próprio som, e por consequência disso, foi muito produtivo. O que (e quando) o fez perceber que precisava se dedicar a um momento especial de desenvolvimento (novamente) da sua essência e sonoridade?
Victor Ruiz: Com o fim da pandemia, 2023 veio como um balde de água fria para mim. A cena de Techno “Peak time”, que até então é onde eu me enquadrei, começou a ficar em baixa. Com gêneros tipo o Hard Techno tomando todo o espaço nos clubs e festivais de Techno, meus bookings – especialmente na Europa – sofreram muito. Isso mexeu muito com minha cabeça e me senti completamente perdido. Era também o primeiro ano da minha label VOLTA, e estava tudo muito desafiador. Esse foi um momento pivotal na minha vida e carreira. Me fez abrir os olhos e o coração para música no geral, pois quando comecei minha jornada musical foi com Rock e Metal no fim dos anos 90, sendo apenas uma criança. Vi que havia perdido muito da minha própria essência para me enquadrar em labels, festivais e públicos. Nesse momento comecei um mergulho profundo em que eu precisava (re)descobrir quem era o Victor. O resultado foi um álbum que vou lançar ano que vem, o meu primeiro, em 20 anos, e não vai ser um álbum de Techno.
Esse ano de 2025 eu usei para me aplicar no estúdio e realmente fazer música que me dá na telha, sem rótulos, e essa mudança tem sido constante. Esperem muita música nova vinda de mim, de diversos gêneros e colaborações inesperadas.
B4B: Aliás, você é um grande nome do techno, mas frequentemente toca em festivais com line-up cheio de psytrance. Como você enxerga o encontro dessas vertentes? E qual sua relação com cada uma delas?
Victor Ruiz: Eu comecei minha carreira de DJ produzindo e tocando Psytrance, então ver esses dois mundos se fundirem é muito louco. Eu acho incrível, principalmente quando eu divido line-ups e até palcos com meus antigos ídolos, artistas que me influenciaram tanto, e criar amizades e colaborações com eles me faz muito feliz.
B4B: Depois de tantos anos de estrada, o que ainda te provoca curiosidade musicalmente? E mais: quando você imagina o futuro da música eletrônica, você o vê mais tecnológico ou mais humano?
Victor Ruiz: Colaborações entre diferentes gêneros musicais. Isso tem me chamado cada vez mais atenção e me dá muito mais tesão em continuar produzindo. Toda vez que eu produzo com alguém – especialmente um artista de outro estilo – eu aprendo muitas coisas novas e meus horizontes se ampliam. Tendo isso em mente, penso que o futuro vai ser ambos. Humano e tecnológico. Com a expansão e aceleração do uso de inteligências artificiais, quem souber usar isso como ferramenta (e não muleta) vai se dar muito bem. E penso que juntar isso com colaborações entre produtores, é a receita mágica para o sucesso.
B4B: Fiz a pergunta acima porque o techno tem uma estrutura muito rígida e repetitiva, em alguns momentos. Mas você consegue trazer emoção dentro dele. Como é pra você “humanizar” uma sonoridade mais mecânica?
Victor Ruiz: Eu não venho do background do Techno, então a maneira como eu vejo o estilo é diferente. Nunca fui desses “techneiros raíz”. Eu gosto de tanta coisa que, obviamente, minha música sempre vai ser uma fusão de diversas coisas. Eu aprendi a tocar baixo como meu primeiro instrumento musical, assim sendo eu sempre trouxe essas influências para a música eletrônica. Tanto que nos primórdios do Brazilian Bass, eu me divertia muito fazendo os basslines mais diversificados e isso traz uma certa “humanização” para um som mais mecânico mesmo.
B4B: Falando em emoção, ela está presente no set que você disponibilizou do Tomorrowland Brasil. Como foi essa apresentação e quando teremos Victor Ruiz por aqui novamente?
Victor Ruiz: Foi muito emocionante ver o palco Freedom lotado, tão cedo, no mesmo horário de tantos outros artistas de peso no Tomorrowland Brasil.
É sempre mais gostoso tocar em casa, né? Foi demais sentir todo o carinho e calor do público lá, passou voando. Eu quero voltar pro Brasil já e curtir muito.
Junto com meu time estamos bolando tours para 2026, para tocar bastante por aí.
B4B: Você recentemente fez reworks de suas próprias faixas. Como você decide o que gostaria de remixar, sendo seu próprio som ou de demais artistas? Como essa escolha é feita?
Victor Ruiz: Nesse processo todo de reencontro musical, eu me conectei novamente com muitas músicas antigas minhas, que produzi em uma época que eu não estava nem aí para labels, festas e nem queria me colocar em “caixas”. Assim sendo sinto que queria re-lançar essas músicas, mas com uma roupagem mais moderna e mais a minha cara de hoje em dia. Tenho feito várias e vou lançar pela frente muitos outros EPs de Reworks.
B4B: Você também tem algumas colaborações com Mila Journée que tem alcançado grandes resultados. O que podemos esperar de Victor Ruiz ainda no fim de 2025 e início de 2026?
Victor Ruiz: Fora o álbum que mencionei acima, tenho um release saindo em dezembro na Drumcode na coletânea A-sides. Também estou fazendo colaborações com vários artistas brasileiros. Além de novas com a Mila Journée, fiz um remix para Maz, Antdot e Letícia Fialho da faixa “Corpo e Canção” que vai sair na label dos meninos, a Dawn Patrol. Tenho fechado todos os meus sets desde o Boom Festival com esse remix e é sempre um momento especial. Terminei uma collab com o Malive que tenho tocado em todos os meus shows, inclusive no Tomorrowland Brasil e tá uma bomba. Estou trabalhando em uma com o Alok também que vai ficar bem especial, e fazendo outras com HNGT, Alex Stein, Illusionize, DJ Glen & Vitor Munhoz, Lutgens, Moreira, e também com artistas internacionais como Space 92, Kaufmann, Oscar L, Tao Andra, Ignacio Arfeli, KURA e outros. Muita coisa vindo no meu label VOLTA, também na Arcane, label do Eli Brown, 1001 Recordings e outras por vir. 2026 promete ser um ano bem especial.
