O artista Eric, do duo Duc in Altum, reflete, junto à Beat for Beat, suas influências e inspirações multi-artísticas. Conheça-as.
por Rodrigo Airaf
A arte e suas definições são uma discussão em constante menção e renovação. É indubitável que a arte atravessa aspectos históricos, culturais e sociais de todas as sociedades e, por isso, a expressão de um artista é um convite ao seu universo interior e sua essência como ser humano, ao mesmo tempo que reflete também como se relaciona, dentro de sua subjetividade, com o mundo ao redor.
O brasileiro Eric Frizzo Jonsson se permite dialogar via arte. DJ e produtor integrante do duo Duc in Altum, encontrou nas características do minimal, junto à esposa Arjana Vrhovac Jonsson, o terreno propício para suas experimentações e maneiras de se expressar pela música. Este empenho mútuo gera frutos para a dupla há anos, seja em pistas de clubs e festivais como D-Edge, Sunwaves Festival, Surreal Park, Exit Festival, seja levando suas produções para labels importantes, a exemplo da Rhizome, Cabana Music e pela Serialism — na última, lançaram recentemente o EP Firewall to Saturn.
Eric conta como se conecta com a Arjana para chegar a um resultado artístico mútuo e criar uma identidade compartilhada:
“É bem natural quando criamos, Arjana entende muito de música e da cena eletrônica, temos um gosto muito parecido tanto nas cores quanto na profundidade. Escolhemos sons e ideias e vamos criando, principalmente depois de ter mais ou menos a ideia musical estruturada em termos de ritmo, elementos e energia, e depois passamos para o arranjo. Talvez nessa parte discordamos um pouco o que é natural 🙂 porque apesar de sermos um casal, cada um tem suas próprias ideias, mas te digo que muitas músicas ficaram melhores nesse momento já que são duas pessoas pensando e estruturando a mesma música. É muito importante collabs na música eletrônica, porque você aprende muito com o outro e isso acho que sempre foi o ponto forte do nosso projeto. Fazer uma música não é muito diferente de fazer uma pintura, escolhemos”.
Se você pensa que o senso coletivo de Eric Frizzo se aplica somente ao Duc In Altum, engana-se. Eric é um “remixer” de qualquer tipo de arte e uma das suas formas mais evidentes de trabalho é a criação de releituras e intervenções em obras ao seu modo, aspecto que o colocou no caminho da dance music de maneira natural, pelo caráter transmutador da música eletrônica.
Por exemplo, Eric fez uma interferência sonora na exposição Filme-fátuo, de Dirnei Prates, do projeto Perímetros. Outra manifestação artística interessante que coloca Eric em interseção com a subjetividade de outros artistas foi com o coletivo Glory Hole, pintando capas de vinis pop com tinta óleo, sampleando e criando novas músicas. Como expositor, além dos inúmeros trabalhos no Brasil, passou por cidades como Berlim, Porto e Lisboa.
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Ele contou para a B4B como conecta suas diferentes habilidades na arte e como tudo isso começou:
“comecei meu processo criativo no desenho desde pequeno, mais tarde resolvi fazer artes plásticas na Faap. Nessa época eu pintava muito, mas já começava a fazer experimentos com colagens e vídeo. Nessa época da faculdade eu já gostava muito de música eletrônica, ia em quase todas as raves da época, entre elas: Circuito, SP Groove, XXXperience, Avonts… Então foi natural querer de alguma forma inserir a música eletrônica nas artes.”
Logo nos primeiros anos de faculdade, Eric fez um trabalho que mostrava a interferência gestual entre a escultura e o vídeo chamado ‘Modela Ação’, onde inseriu a ideia do remix da música eletrônica em vídeo. Esse projeto, junto com mais outro trabalho, lhe rendeu o primeiro prêmio anual de artes plásticas da FAAP de 2003. Podemos dizer que essa foi a porta de entrada do seu modo de expressão atual:
“meu processo plástico já tinha o modo operante do remix da colagem digital e quando passei a trabalhar com vídeo, o som era parte da matéria, e por aí veio a vontade de trabalhar com o som ou a música. Ser artista plástico fez com que eu fosse autodidata e consequentemente fosse em busca da minha própria identidade, e eu sempre fui apaixonado por computadores e meios digitais então foi natural eu querer fazer músicas e interferências sonoras como mais um meio para me expressar”
Formado em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), multimeios, como vídeos, pinturas e desenhos digitais são os elementos que permeiam seu trabalho. Além de tudo, Eric divide ainda suas energias (literalmente) com o Atma Gaia, que conduz ao lado da Arjana e trata-se de um canal sobre meditação que usa música para chegar a diferentes estados de consciência.
Ele termina contando a importância desse projeto espiritual e as perguntas que o inspiram a criar:
“A espiritualidade é a minha maior busca e meu maior tema quando me expresso artisticamente. Muita gente se pergunta: de onde viemos, quem somos? pra onde vamos? São perguntas que eu faço todos os dias desde que eu sou pequeno, e muitas delas sem nenhuma resposta. Então pra mim, o único lugar onde posso procurar essas respostas é dentro de mim mesmo, ou seja, quando eu crio algo e me expresso criativamente sempre é sobre essas perguntas, já que para mim com palavras seria quase impossível me expressar sobre esses temas”.