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House Music: A casa dos diferenciados

Como um gênero nascido no subúrbio de Chicago ganhou a Europa, o mundo e uniu todas as raças e orientações sexuais para um único fim: dançar.

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Antigamente poderíamos até dizer que falar sobre a diversidade em um veículo de música como nós, seria um tanto quanto arriscado, mas não se fossemos falar sobre a música eletrônica. E nesta semana especial, antes da principal parada de orgulho à diversidade, movimento este com grande importância mundial para as minorias, falar sobre os gays, lésbicas, transsexuais entre outras contradições para o tradicionalismo, é quase que obrigação, ainda mais com dois editores homossexuais que fazem com que o Beat for Beat dê certo neste dois anos e meio de história.

E se vamos falar de música eletrônica e de diversidade, nada melhor do que contar a história do gênero de maior representatividade na dance music mundial, afinal, a House Music não tem esse nome a toa não é mesmo?

Na década de 80, na região suburbana de Chicago, entre mitos e contradições históricas, nascia permanentemente a House Music para o bem geral da famosa e atual EDM. Frankie Knuckles e Larry Levan, fundavam então a casa dos diferenciados, onde quem era preto, branco, gay, hétero, trans, cis ou de qualquer outro gênero, raça ou orientação sexual começou a se enquadrar em um ritmo dançante, de batidas 4×4 e melodias embaladas por vocais. House esta que veio com elementos da disco music e do pop (quer algo mais gay que a disco dos anos 70, usada até hoje como orientação de moda por drag queens no mundo todo?).

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Início da House Music em Chicago, meados dos 80’s

E então os diferenciados começaram a dançar, a ser felizes e a lutar mais ainda pela sua causa. O movimento político homossexual, lutando contra uma estúpida rejeição pelo país onde nascia sua maior representatividade na época, lutava também contra o HIV e suas mortes repentinas, lutava contra o vício das drogas por mentes conturbadas e lutava pelos direitos em ser pessoas com uma vida respeitada.

O câncer gay, como era chamado por muitos políticos e líderes religiosos, então fazia sua função de se proliferar, levando consigo também a música dançante que era a House Music. Chegando no Reino Unido, encorporou elementos acid, ganhando novos arranjos e também os ouvidos de todos os clubbers que amavam uma anarquia, ideologia esta que muitas vezes auxiliava também os diferenciados, por ser contra o Estado.

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Rave no Reino Unido embalada por Acid House, 80’s.

Mas logo o Second Summer of Love e o movimento do dance europeu unificou e levou tudo, os gays, as lésbicas, os pretos e as trans, tudo virou um molho só. Mas e a house music? Até então nos anos 90 a house se tornou mainstream, e, como todo gênero mainstream, o que era priorizado até então era o que gerava lucro, deixando de lado todo seu movimento político e contracultural que as épocas douradas traziam.

Nos anos 2000, os clubs LGBTQ iniciavam novamente um novo gênero musical, com o mesmo house music de fundo, agora acamado de batidas de percussão e agitado com remixes de divas da música soul e da música pop mundial, a figurativa house ganhava o tribal em suas veias, sendo reverenciado por grandes nomes da cena como Junior Vasquez, Victor Calderone e o falecido e memorável Peter Rauhofer.

De pontos altos e baixos, a House Music trouxe nos anos 2010 uma até então EDM, onde novos gays, lésbicas e trans começaram a surgir nos festivais e nas boates espalhadas pelo mundo, desta vez, unindo forças para que a música eletrônica pudesse ganhar maior representatividade no mundo todo.

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Casal curtindo o Coachella Festival

Do subúrbio de Chicago para a Europa, da Europa para o mundo, a House Music agora tem lado a lado a minoria e a maioria dançando juntas, assim como queriam os que lutavam nos anos 70 e 80. E mesmo que hoje outros grandes gêneros musicais como o pop consigam enquadrar a minoria em seus meios, sabemos que a real casa dos diferenciados sempre foi e sempre será a nossa velha e boa house music.

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Casamento do EDC Las Vegas 2017