Jerry Street mostra uma nova personalidade no single ‘Saccharine’

‘Saccharine’, de Jerry Street, desliza entre doçura melancólica e experimentação crua, revelando um artista em transição vibrante. Escute.

Jerry Street

Há uma energia particular em ‘Saccharine’ — não a energia do impacto imediato, mas a de uma ideia que amadurece lentamente até transbordar. Durante quase um ano, Jerry Street lapidou a faixa entre tentativas, pausas e reconstruções, até que um momento de isolamento no interior da Itália abriu o fluxo criativo que faltava. Em ‘Saccharine’, Jerry Street — também conhecido como Shawn Richardson — deixa que esse gesto decisivo transpareça em cada curva do arranjo. Ouça aqui.

A faixa marca sua primeira aproximação consciente de um território mais direto de pista, depois de explorar um universo próprio de caos eletrônico, colagens ruidosas e o que ele chama de “feral-wave”. O resultado não abandona sua identidade; ao contrário, a reafirma. Há estrutura, sim, mas sempre atraves­sada por instabilidades intencionais, como se a música lembrasse de suas raízes anárquicas enquanto busca clareza. A pulsação é firme, mas cheia de pequenas rupturas — ecos do artista que sempre recusou a previsibilidade.

O uso de vocais sampleados expande esse contraste. A presença de Ronnie Douglas adiciona um tom forte e quase etéreo, um chamado que parece emergir de dentro da própria faixa. Sobre isso, Mellotrons multiplicados desenham linhas que lembram assombrações harmônicas, reforçando a obsessão de Richardson por texturas psicodélicas e timbres fora da curva. Ele torce esses sons como quem espreme vozes presas no ar, criando um ambiente estranho, porém profundamente cativante.

Escute: