‘Ergasiophobia F.’, de Katherine 404, é o som cru da frustração transformada em arte — quando tudo implode, sobra apenas o é de verdade.
‘Ergasiophobia F.’ começou como uma balada indie rock, mas, segundo a própria artista, a tentativa de “consertá-la” só agravou seu incômodo criativo. Até que, num gesto visceral, Katherine 404 apagou tudo, exceto a linha de baixo e os violoncelos. O resultado é uma composição despida, movida por simulação de contrabaixos sinfônicos no lugar do eletrônico. Uma escolha que confere à faixa uma textura orgânica, quase cinematográfica, ao mesmo tempo em que evoca uma inquietação latente. Ouça aqui.
A faixa parece emergir de um lugar onde a melancolia encontra a exaustão — como se a canção fosse a última tentativa de dizer algo sem adornos, sem firulas. Ao eliminar guitarras e sintetizadores típicos do indie, Katherine volta à sua essência mais eletrônica, num aceno sonoro à sua própria trajetória. É o som de quem já experimentou múltiplas formas e agora opta pela essência. Um retorno que é também um rompimento.
Aos 52 anos, Katherine 404 não tenta soar atual, nem retrô — apenas honesta. E talvez seja essa a maior força da faixa: a recusa em seguir fórmulas, o compromisso com o que é sentido antes de ser planejado. ‘Ergasiophobia F.’ é o retrato sonoro de quem ainda faz música não por carreira, mas por necessidade interior.
Escute: