Koppe traz um estudo detalhado sobre colapso, deslocamento e beleza residual no seu novo EP, ‘Isolated Research Sectors’. Escute agora.
Há discos que sugerem mundos. ‘Isolated Research Sectors’, novo EP de Koppe, é mais do que isso — é a arquitetura sonora de um mundo pós-tudo. Um espaço onde o concreto já rachou, onde sensores ainda captam ruídos de um passado funcional, onde as vozes humanas são ecos sobre trilhos que ninguém mais percorre. Compre aqui.
Contando com quatro faixas, o EP mergulha em territórios do techno mais quebrado, ambientações industriais corroídas e tensão cinematográfica. A proposta não é conduzir ao êxtase, mas ao estranhamento. Não é sobre resolução — é sobre circular em ruínas.
A abertura, ‘Traversing City 37’, define o tom: uma marcha hipnótica por uma cidade abandonada, conduzida por camadas de percussão seca e atmosferas espectrais. A sensação é a de um deslocamento constante, como se estivéssemos cruzando passagens ocultas de um sistema urbano em colapso. A faixa não se apressa — ela avança com peso, mas em silêncio interno. Uma introdução precisa para o universo do EP, onde o espaço é denso, mas nunca estagnado.
Na sequência, ‘In Cavern Depths’ eleva o pulso. Mais acelerada e opaca, a faixa adota um groove enigmático, como se algo estivesse se movendo nas sombras. O ritmo é constante, mas há instabilidade nas entrelinhas. Sons reverberam de paredes invisíveis. A pressão é subterrânea, quase líquida. Tudo pulsa com uma força que não explode — apenas comprime.
‘Pulsating Blue Light’ abre uma fenda sensorial. Os sons, ainda sombrios, se tornam mais acolhedores, criando uma atmosfera que flerta com o emocional sem se render ao óbvio. É como se, por um momento, o concreto se desfizesse em vapor, e a pulsação deixasse de ser ameaça para se tornar companhia. Ainda estamos em território underground, mas agora com luzes azuis piscando no fim do túnel.
Encerrando o EP, ‘Four Voices’ resgata o espírito do techno clássico, mas o faz através de um contraponto melódico que parece vir de outra dimensão. É aqui que a viagem se inverte — da densidade à clareza, do peso à melodia. Uma conclusão inesperada e sutil, que oferece alívio sem perder a coerência estética construída até aqui.
Com esse lançamento, Koppe traz um techno que respira ferrugem, que valoriza o desgaste, que encontra beleza no que já foi abandonado. ‘Isolated Research Sectors’ é som em estado de ruína — e é exatamente isso que o torna tão vivo.
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