O produtor Leo Janeiro ainda comenta sobre como a velha guarda pode aprender com a nova geração. Vem conferir esse papo exclusivo.
por Maria Angélica Parmigiani
Quando pensamos no currículo do carioca Leo Janeiro ao redor da música, fica difícil listar todas as suas atividades dentro do segmento. DJ, produtor, label head, curador, gestor em diversos projetos, enfim, eis um cara verdadeiramente aficionado pela música eletrônica e a cultura que gira ao redor dela. Sem exageros, um dos nomes mais influentes em nosso mercado e um dos personagens que estabelece pontes sólidas com o “mundo lá fora”.
Mas, além de todo o business e de toda a arte, Leozinho, como é chamado na sua terra, é também um agente de transformação cultural. Envolvido com projetos que visam o fomento da cultura de pista em sua cidade, ele tem se desdobrado para conseguir avançar casas de maneira colaborativa no cenário, algo que ele considera extremamente importante para a evolução própria e do entorno.
Um dos projetos recentes no qual ele esteve envolvido, foi o programa de novos talentos do Festival de Ativação Urbana, no Rio de Janeiro, que visava dar abertura a novos nomes do cenário local. A FAU como é conhecida na cidade é um projeto que tem como premissa tornar o nicho verdadeiramente plural: levando a música de pista para outros territórios e outras camadas da população, através de eventos de ocupação na cidade.
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Conversamos com ele para saber mais detalhes desta iniciativa e como ele enxerga os movimentos daqui pra frente para uma música eletrônica nacional mais inclusiva.
Leo, tudo bem? Obrigada por esse papo. Você é um artista muito engajado com a música eletrônica, inclusive participativo em ações e projetos colaborativos para fomentar a cultura nessa esfera. Para você, é importante que artistas mais consolidados se envolvam e puxem esse tipo de iniciativa? Por que?
Leo Janeiro: Obrigado, eu realmente acho que já passou da hora de termos ambientes mais democráticos e colaborativos. Existe um novo momento que precisa ser discutido, algumas práticas precisam mudar e isso está acontecendo, existe uma forte resistência e por isso artistas maiores podem contribuir para uma cena mais equilibrada e igual, abrindo um campo de possibilidades para quem quer entrar.
Recentemente você participou do programa de novos talentos da FAU, no Rio de Janeiro. Pode contar para os nossos leitores um pouco sobre esse movimento e como ele tem sido importante para a cultura de pista na cidade?
Leo Janeiro: O FAU é uma ideia sensacional, altamente inclusiva e que tem como bandeira este equilíbrio importante nos dias de hoje. Eu estou faz pouco tempo na curadoria mas já avançamos bastante na questão artística e de infra-estrutura. Eu considero que novos artistas são mega importantes pois trazem com eles a novidades de uma maneira geral e um novo público, além de também fomentar que é possível sim ter um espaço num mercado tão disputado.
E como foi contribuir no projeto de capacitação destes novos artistas? Como foi o processo? Como você se sentiu?
Leo Janeiro: Escutamos os sets, conversei com muitos deles o que eu havia gostado e o que não, procurei incentivar a capacidade de criatividade [que considero] tão importante e dar abertura para expor suas ideias, isso acaba ajudando bastante, escutar é a parte mais importante.
Essa conexão entre cultura, música eletrônica e educação acaba gerando um impacto social bem positivo, especialmente, sobre pessoas com menos acesso. Como você enxerga essa tríade? E qual impacto que você sentiu que esse evento trouxe para estes alunos?
Leo Janeiro: Não vejo melhora ou crescimento sem isso, minha geração foi importante em alguns aspectos mas acabou esquecendo outros tão importantes, capacitar as pessoas para aquilo que elas desejam ser é fundamental, apoiar, ajudar faz parte. Precisamos cruzar algumas fronteiras e realmente sair da bolha. Eu demorei um pouco pra sacar isso, mas hoje estou 100% nesta pegada.
Eventos como o da FAU, possibilitaram o acesso da cultura musical eletrônica para mais camadas da população, o que sem dúvidas, mostra um case de diversidade e maior representatividade. Como funciona o trabalho de curadoria em um projeto assim? O que você busca?
Leo Janeiro: Busco ajudar, ter um outro olhar e principalmente me colocar à disposição, em tudo o que eu faço, tenho ido nesta direção.
Para fechar, o que você considera que precisamos fazer para tornar a música eletrônica mais acessível e inclusiva em nosso país? Obrigada!
Leo Janeiro: Estar onde a galera está, entender os novos movimentos e aprender com eles. Mesmo com tanto tempo neste mercado, os últimos tempos foram de total aprendizado. Artistas estabelecidos precisam virar essa chave, isso pode ajudar a criar uma nova geração muito bacana dentro do nosso mercado.
Leo Janeiro está no Instagram e SoundCloud.