Lucio mostra uma irregularidade intencional no single ‘Maremosso’

‘Maremosso’, de Lucio, é um estudo em tensão e fluidez, um organismo que respira entre silêncio e desordem, como água sob vento repentino.

Lucio

Nada em ‘Maremosso’ se acomoda. A faixa de Lucio pulsa com irregularidade intencional, como se os próprios sons se debatessem em busca de forma. Inspirada pelo espírito de “Ludus”, de Arvo Pärt, e parte do projeto Esercizi di Stile 3, a composição alterna entre equilíbrio e agitação, com timbres que emergem e se dissolvem como fragmentos instáveis em um mar simbólico. Não há repetição — há transformação. A percussão é descontínua, os ritmos se desfazem e retornam em novas formas, enquanto camadas sonoras sussurram, colidem e se reorganizam em padrões imprevisíveis. Ouça aqui.

Lucio conduz esse caos com gestos mínimos, como um maestro de forças naturais invisíveis. Cada som parece à beira de um colapso ou de uma pausa definitiva, e é nesse entrelugar que ‘Maremosso’ encontra sua potência. A escuta exige atenção: o movimento é sutil, mas profundo. A irregularidade rítmica não dispersa — ela concentra. Cria um campo sonoro onde o tempo não se mede em compassos, mas em tensões acumuladas e silêncios significativos.

Há algo de físico na experiência: como se a faixa atravessasse o ouvinte com micro-ondas de instabilidade emocional. Lucio transforma turbulência em linguagem, instabilidade em gesto artístico. ‘Maremosso’ não busca agradar ou embalar — ela agita, desloca, propõe.

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