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Editorial

Disco Demolition Night: a noite em que a música eletrônica queimou

Mais do que bizarro, a Disco Demolition Night foi um verdadeiro atentado contra nossa música, a comunidade preta e LGBTQIA+.

O dia 12 de julho está pra sempre marcado na história da música eletrônica. Muitos podem não saber, seja por conta da idade ou por esse episódio ter sido tão bizarro, que merece ser esquecido, mas a Disco Music amargou uma noite em que milhares de LPs foram queimados, em meio a um campo de beisebol, por conta da inveja ao sucesso emergente da discoteca.

O gênero dançante que surgiu e ganhou forças no fim dos anos 60 até os 70, consagrou nomes reverenciados até hoje, como Donna Summer e assim como a house music (que viria a substituir a disco anos depois), nasceu entre as minorias. Eram as comunidades pretas, latinas e LGBTQIA+ que faziam ecoar a disco music e lotar as discotecas. O sucesso era tanto, que cada vez mais a música ganhava adeptos.

De música de “preto e viado” para Hollywodd. De Donna Summer a Bee Gees e John Travolta. As rádios, que até então eram dominadas pelo rock, passaram a tocar aquele som eletrônico, cheio de repetições, que promovia a liberdade e possuía músicas com muitos minutos de duração. Foi esse combo que fez com que Steve Dahl criasse verdadeiro ódio a Disco Music.

Steve Dahl

Juntando a fome com a vontade de comer, no dia 12 de julho de 1979, o time de beisebol estadunidense White Sox, que gostava de proporcionar experiência além jogo aos seus torcedores, resolveu promover a Disco Demolition Night. Aliados ao radialista Steve Dahl, eles queimariam, em pleno campo e após o jogo daquela noite, discos de vinil do gênero, por pura diversão. E assim fizeram.

O White Sox esperava uma média de 20 mil torcedores para acompanharem a partida e o evento bizarro, número que já era acima dos 15 mil habituais, mas uma multidão de 50 mil pessoas lotaram o estádio. Era tanta gente, carregando os LPs para irem à fogueira, que a organização do time não conseguiu coletar todos e os discos eram arremessados das arquibancadas. A música era totalmente desprezada.

Coincidência ou não, foi no ano de 1979 que a disco music viu seu declínio. Mesmo já não conseguindo manter o sucesso inicial, foi logo após a Disco Demolition Night que o gênero praticamente sumiu. A música, que conseguiu emplacar diversos artistas negros e que abraçava a comunidade LGBTQIA+, sofreu um grande atentado naquele ano.

Anos depois desse episódio grotesco, Steve Dahl afirma que jamais foi racista ou homofóbico naquela ação (será?) e que a Disco Demolition Night surgiu da faceta roqueira de Chicago e que cidade era diferente de Londres ou Nova York, lugares onde a disco era reverenciada. Há também o ódio pessoal, já que Steve foi demitido de uma rádio por negar-se a tocar aquela música dançante.

Este episódio que é até hoje, pra lá de esquisito, está registrado em vídeo e pode ser assistido no Youtube. Frases como “Disco Sucks” são ditas durante a partida, até a primeira explosão, por volta das 40 minutos até a dispersão do público. Se você quer passar um pouco de raiva, assim como a gente, basta dar o play logo abaixo. É um verdadeiro show de horrores.

Mas como a vida é cheia de reviravoltas, a mesma cidade que foi palco daquela noite, viu a música eletrônica se reerguer ainda maior e melhor. Assim como a fênix, que renasce das próprias cinzas, a Disco Music de lugar a House Music, mais uma vez pelas mãos de pretos, gays e travestis, nascendo no gueto e servindo como um gênero livre. Foi o queimar para o renascer.

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