Poder dançar, sem preocupar-se com julgamentos ou preconceitos, fez da cena techno underground, uma das mais inclusivas na música eletrônica mundial.
Uma pista escura. Luzes piscando e uma música alta tocando. Aquele bate-estaca repetitivo, ecoando a noite inteira e pessoas dos mais diversos tipos dançando. Diversas formas, gêneros, estilos e cores confraternizando juntas, sem distinção… parece um sonho utópico, mas a cada dia que passa, essa é a realidade do novo cenário da música eletrônica mundial. Todos juntos, unidos pelas batidas sintetizadas, preocupando-se com apenas uma coisa: diversão.
Anos atrás, na década de 70, 80 e o começo dos anos 90, a influência queer, com a disco e house music, eram fortes em todo a cena club. Clubbers e Club Kids eram vistos em diversas festas, sempre extravagantes e com muito glitter, mas isso foi perdendo força com a popularização da música eletrônica. Quanto mais mainstream ela se tornava, mais comum era achar festas segmentadas a diversos públicos. O público cis, branco e hétero, acabou dominando uma cena que antes era diversa e o público LGBT, por vezes, era recluso a cantos mais escuros e escondidos, já que a sociedade, ainda intolerante, não aceitava que a felicidade alheia fosse celebrada.
A cena tão colorida e vasta, retrocedeu e foi preciso muita luta, em todos os sentidos, para que a palavra plural voltasse a fazer parte do vocabulário eletrônico e isso aconteceu, graças ao movimento underground e principalmente ao techno. No Brasil, por exemplo, algumas festas começaram tímidas e, com um passo de cada vez, estão conseguindo disseminar que todos são iguais perante a música. Para entrar, existe um valor muito maior do que o preço do ingresso: exigisse respeito. Chegar na bilheteria e ser atendido por uma transexual, validar seu ingresso com uma drag queen, comprar sua consumação com uma lésbica, ser atendido no bar por um hetero cis e ver um gay performar, parece cena de um filme adolescente rebelde, mas é a mais pura realidade em grandes centros urbanos, como São Paulo.
Carlos Capslock, ODD, Mamba Negra, Tantsa, Vampire Haus e até mesmo festivais como o DGTL, tem aderido a bandeira da diversidade, pra mostrar que o preconceito não tem mais lugar, principalmente na pista de dança. A comunidade LGBT cansou de se esconder e passou a frequentar lugares onde, anos atrás, era recriminada. DJs saíram dos chamados “clubs gays” e passaram a ser convidados para diversas pistas ao redor do mundo. Performers deixaram de ser excluídos e tomaram o seu devido lugar no palco, em frente aos holofotes. A divisão entre públicos, principalmente no cenário underground, deixou de existir e isso só fez com que mais opções e visibilidade fosse dada a uma cena que é de todos e para todos. O techno abraçou a todos!
Fazer com que as pessoas soltassem suas amarras, abriu um novo mundo de possibilidades. Unir toda uma cena, sob a mesma bandeira, a da música, fez com que nosso tão amado gênero atingisse níveis de destaque gigantescos e proporcionou novas experiências para todos nós. Poder ver grandes eventos percorrerem o mundo, pistas lotadas e artistas renomados com extensas tours, foi um reflexo da união de toda uma geração. Ver o techno como o gênero eletrônico mais ouvido no mundo, é resultado de que, quando não existem divisões ou barreiras, é possível atingir feitos incríveis. Vivemos hoje, num mundo onde os beats sobressaem-se a quem você beija ou o que veste. Um mundo onde você pode ser quem e como quiser. Basta dar uma volta na festa mais próxima, pra perceber que quanto mais misturado, melhor, basta respeitar.
O que era sonho, tornou-se na mais pura e feliz realidade. Hoje, vivemos uma era onde todos podem conviver juntos e sem discriminação. Somos livres. Na pista, somos todos iguais!