Como o eco de um sonho modernista evaporado no concreto, ‘Expo 67’, de Wite Rino, é memória em estado líquido, suspensa no tempo.
Na nova faixa retirada de ‘Dream Tower’, quinto álbum de Wite Rino, o passado reverbera em ondas eletrônicas que parecem atravessar camadas de arquitetura, urbanismo e esquecimento. ‘Expo 67’ carrega a carga simbólica de um monumento que já foi fonte, já foi futuro, já foi ruído — e hoje permanece como vestígio silencioso de um ideal que não chegou inteiro ao presente. Ouça aqui.
A música, como a fonte que a inspira, pulsa em movimentos circulares. Sons que imitam água — ou sua ausência. Batidas que lembram o fluxo, mas soam mais como saudade. Há um equilíbrio entre rigidez e fluidez que traduz perfeitamente o ambiente que a originou: o brutalismo do Sir Richard Squires Building, reinterpretado por Wite Rino como um corpo sonoro em transformação. Cada camada traz a textura de algo que envelheceu com beleza e estranheza: sintetizadores carregados de eco, melodias que lembram menus de jogos esquecidos, atmosferas densas que pairam como neblina urbana.
‘Expo 67’ não apenas revisita uma época — ela a reconstrói com reverência crítica. É uma faixa que abraça o surrealismo de uma promessa utópica encapsulada em um pedaço de cidade, e que hoje resiste como um espaço contemplativo entre o real e o imaginado.
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