Yves Pilon existe em sua própria frequência no single ‘ sO boReD’

Como uma mensagem no meio de uma madrugada insone, ‘sO boReD’, de Yves Pilon, carrega ironia, descompasso e intenção camuflada.

Yves Pilon

Yves Pilon entrega uma faixa que soa como se tivesse sido composta por um circuito introspectivo em processo de colapso lento. ‘sO boReD‘ é feita de repetições minimalistas, timbres sintéticos que se recusam a preencher o espaço e ruídos que ecoam mais como intenções do que como sons propriamente ditos. É música que existe sem precisar de voz, porque já carrega em sua arquitetura o tédio, a ironia e o distanciamento que o título sugere. Ouça aqui.

A batida é seca, quase robótica, mas com falhas humanas nas entrelinhas. Nada soa urgente — tudo parece calculado para se repetir até desaparecer. Os sintetizadores vêm em camadas curtas, distorcidas, arrastadas como pensamentos não concluídos. O groove se forma não por exuberância rítmica, mas por arrasto, como quem levanta da cadeira só porque o loop mental exige.

sO boReD’ não quer agradar. Quer existir em sua própria frequência. Um loop quebrado que insiste em continuar, mesmo sem saber por quê. A ausência de vocal não é ausência de narrativa — é declaração estética. A faixa soa como crítica e arte ao mesmo tempo, como se estivesse rindo de si mesma, mas com peso.

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