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Entrevistamos: Deekapz x VHOOR no The Town

Amigos de longa data, Deekapz e VHOOR uniram forças para transformar o New Dance Order no The Town num verdadeiro baile.

Foto: Bel

Deekapz é um duo de produtores do interior de São Paulo que busca combinar influências do global bass, com o background dos beats de funk brasileiros. VHOOR é um dos beatmakers mais originais do Brasil, misturando música eletrônica com elementos do funk e percussão afro-latina.

Os artistas, que fizeram um set original no The Town, que foi do baile funk ao trap, conversaram com a nossa redação. Confira agora nossa entrevista:

Beat for Beat – Olá pessoal, tudo bem? Para começar, é importante falarmos sobre a presença preta em festivais e eventos diversos. Como foi para vocês, tocar no primeiro dia de The Town, onde o New Dance Order foi totalmente tomado pela música preta?

Deekpaz x VHOOR – Pra gente é muito foda participar disso, principalmente por ser o primeiro The Town. É muito gratificante fazer isso, mas também, temos que lembrar de que precisamos de mais espaços assim nos festivais, de mais presença preta.

É importante pois para muita gente que estará ali, na pista, curtindo a experiência, nos seremos referências, poderão se espalhar na gente. As pessoas verão que elas podem e devem ocupar espaços, ter essa consciência. Queremos ser propagadores de ideias, influenciadores da música eletrônica popular brasileira,  periférica brasileira. É muito gratificante, mesmo, sermos essas pessoas e fazermos parte do New Dance Order.b4b

B4B – Seguindo essa ideia de propagar ideias, vocês também educam o público, afinal, é importante resgatar as raízes da música, pois muitos gêneros foram embranquecendo. Vocês acham que agem como educadores musicais?

Deekpaz x VHOOR – Eu acho que esse é o papel do DJ.  Nosso papel é realmente tocar, fazer essa cadência entre o que o público quer ouvir e o que a gente realmente quer que eles escutem. O DJ tem que ter essa ciência, ele tem que ter essa consciência que a gente tem esse papel de redisciplinar a pista.

É nesse momento que a gente usa o nosso espaço para tocar as músicas dos nossos amigos da periferia, tá ligado? Da onde a gente veio também,  influenciando outros artistas também, espalhando a palavra.

B4B – Agora falando de uma forma individual com cada um de vocês, Vhoor, você acabou de lançar o Maré, o EP. Como foi a construção do material?

VHOOR – O Maré foi muito importante pra mim,  porque ele fala um pouco sobre o outro lado meu,  que é de uma pessoa que mora em Minas Gerais e que tem esse aspecto interiorano, com a família de uma cidade no interior.  Então a gente acaba tendo essa vivência que é um pouco mais devagar,  de contar com a natureza.  O Maré também parte por poder falar um pouco sobre esse lado da minha vida.

B4B – Deekapz, vocês acabaram de fazer a segunda edição  do Deekapz Experience aqui em São Paulo. Como foi essa noite, que é tão especial para vocês?

Deekapz – Foi muito foda, principalmente por termos conseguido apresentar sets individuais nossos. Foi uma forma de nos aproximarmos ainda mais do nosso público, mas o Deekapz Experience é realmente uma experiência, como o próprio nome diz, onde a gente sempre traz um convidado.

Na primeira edição, o nosso convidado foi o Vhoor, coincidentemente. A ideia é realmente propagar essa comunidade do SoundCloud, a comunidade da música eletrônica underground, divulgando nossa sonoridade, espalhando a palavra, para então os grandes festivais, tour internacional. É muito louco isso,  pensar que nós estávamos, há 10 anos atrás, no nosso quarto,  produzindo, pensando no futuro e hoje, temos nossa própria experiência.

B4B – Falando sobre o The Town, como foi a construção para a apresentação de vocês?

Deekpaz x VHOOR – Tivemos bastante ensaio. A gente conversa há muito tempo, somos produtores que se conhecem há bastante tempo e isso facilitou um pouco o processo. Além dos ensaios, das conversas, sempre tem também o processo de sentir,  ler a pista e ver o que o público quer ouvir, junto com  as coisas que a gente queria apresentar e nós fizemos isso.

foto: Bel

B4B – A chuva não atrapalhou?

Deekpaz x VHOOR – A chuva foi praticamente um desafio, mas foi muito legal ver que o público continuou ali com a gente, até o final. É muito bom ver que dois projetos que estão em ascensão, poderem contar com a presença do público até durante um empecilho.

Nós conseguimos ressignificar a música eletrônica, trazendo o funk, miami bass, até no fim do set já partimos pra um funkão mesmo, mandelão, música de amigos, fazendo um verdadeiro baile. Muita gente que estava na pista, nunca teve a oportunidade de frequentar um baile de favela, de ir na comunidade e não sabem quais são as músicas que movimentam essa cena e não trouxemos isso, até debaixo de chuva.

B4B – Aproveitando que 2023 vai entrar na reta final, o que vocês têm preparado para o final deste ano?

Deekapz – Nós estamos trabalhando no nosso próximo disco, que deve sair ano que vem, não queremos prolongar tanto assim esse lançamento, já faz muito tempo desde nosso último álbum.

VHOOR – Eu estou finalizando alguns projetinhos, mais músicas, mais trampo. Fiquem ligados!

Vejam nossa cobertura do The Town no Instagram.

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Entrevista

Entrevistamos: Klean e kLap no The Town

De competidores em uma mesma batalha para o palco do The Town, conversamos com os talentosos Klean e kLap, atrações do New Dance Order.

Klean vs kLap | Foto: Padilha

DJ e produtor desde os 15 anos, kLap é um nome importante da cena bass music. Ele se destaca por misturar músicas eletrônicas de todo o mundo com a música brasileira. Klean, o DJ de apenas 21 anos que ganhou destaque internacional após seu remix ser apresentado por Rihanna no Super Bowl de 2023. Juntos, entregaram um set autoral de muito funk, house, afrobeat e todas as vertentes da bass music no The Town, onde conversaram com nosso time. Confira:

Beat for Beat – Vocês foram concorrentes da competição de beats organizada pelo Tropkillaz, onde empataram em primeiro lugar e hoje, estão trabalhando juntos no palco do The Town. Como foi o processo da evolução de competidores para amigos?

kLap – Na verdade, nunca existiu uma concorrência de fato. No nosso cenário, a gente  sempre vê o outro como um amigo, pois faz a mesma coisa que nós fazemos. Independente de quem ganhasse aquela competição, por exemplo, um ficaria feliz pelo outro. A conquista dos outros é uma conquista minha e esse sentimento é compartilhado. Mesmo que só um de nós estivéssemos aqui no The Town hoje, o sentimento de orgulho seria igual, mas justamente pelo fato de estarmos juntos aqui, transforma esse momento em algo mais especial ainda. Se estamos juntos, é pelo fato dessa mistura doida funcionar.

Klean – Na época da competição nós não nos conhecíamos ainda, mas como isso aconteceu durante a pandemia, isso fez com que nos aproximassemos ainda mais. Como ficávamos trancados em casa, produzindo sem parar, nos aproximamos bastante de forma online. Foi nesse meio tempo que começamos a trabalhar juntos, criar remixes juntos até que chegamos até aqui no palco do The Town.

B4B – E quando vocês falam de mistura, vocês são de cenas diferentes. Klean vem da Bahia, enquanto o kLap é de Brasília. Como é unificar dois cenários completamente opostos em uma coisa só?

kLap – Fazer isso é mostrar que a música eletrônica é diversa e possui várias possibilidades. Mesmo o Klean vindo da Bahia e eu do DF, duas cidades que não são tão vistas como polo da dance music, trazer essa mistura é conseguir mostrar que a música pode ser vista de várias maneiras.

Klean – Nós participamos de um nicho em comum no Soundcloud, onde nossos sons combinam muito e independente de estarmos em cidades tão diferentes, a nossa pegada sonora é muito parecida, o que torna esse processo de junção ainda mais fácil. Vocês puderam ouvir no nosso set que nosso som casa muito bem, inclusive tenho o próprio kLap como uma das minhas principais referências hoje.

B4B – Falando então da sonoridade, vocês trazem uma música eletrônica que tem bastante influência do Funk e do Trap, que mesmo sendo géneros de música eletrônica, não são tão consumidos pelo público clubber. O que vocês fazem para transmitir a mensagem de vocês para todos os públicos?

kLap – A grande questão aqui é que as pessoas ainda não veem o Funk como música eletrônica, mas sim, ele faz parte desse cenário. Nossa mistura bem para justamente mostrar que o funk, a música baiana, africana, a house… tudo faz parte da música eletrônica e essa diversidade de cultura, de gêneros, traz ainda mais possibilidades. É divertido poder ser diferente.

Klean – Eu digo que nossos sets podem ser uma porta de entrada para muita gente que ou não conhece a música eletrônica ou só consome o que é comercial, para que possam ver que existem muitas outras opções. Quando o público menos esperar, vamos misturar funk com trap e com house, tudo unificado de forma perfeita.

B4B – Agora vamos falar individualmente. kLap, você acabou de lançar um álbum, o ‘Mlk Nervoso’. Como é para você lançar um álbum completo?

kLap – Cara, ainda to tentando processar que lancei um álbum (risos). Eu passei muito tempo trabalhando para criar o material que vocês podem ouvir nas plataformas digitais e ver ele nas pistas, as pessoas ouvindo, é algo extremamente gratificante, ver como as pessoas se identificam com o trabalho.

Hoje em dia eu consigo ainda mais a importância de um artista lançar um álbum. É uma experiência incrível e vale muito a pena lançar um.

B4B – Klean, precisamos falar sobre Rihanna. Como você se sente ao ver seu remix de ‘Rude Boy’ sendo tocado no Super Bowl?

Klean – Isso tudo foi uma loucura. O remix foi criado há cerca de 3 anos atrás, postado nas redes sociais sem pretensão nenhuma de que chegasse até a cantora, eu queria só mostrar meu processo criativo. Três anos depois, a equipe da Rihanna conheceu o remix, me contataram e me pediram para usar a versão.

Até então eu não sabia onde o remix seria usado, mas eu especulava que fosse para o Super Bowl, já que ela estava confirmada. Assistir aquele show com o coração na mão, sem saber se iria acontecer ou não, até que o mundo todo ouviu e no final, deu tudo certo. Muita coisa aconteceu de lá pra cá.

B4B – Muita coisa aconteceu para ambos, até que chegamos ao The Town. Como foi a preparação para esse show? Como vocês estão se sentindo após essa apresentação?

kLap – O coração estava a mil. A ficha só caiu quando finalmente subimos no palco. Nós passamos muito tempo preparando esse show, querendo mostrar algo onde nós dois conseguíssemos nos identificar da mesma maneira. Nosso som combina muito e tentamos trazer uma proposta como se fosse uma batalha de DJs. Foi algo bem único e especial.

Klean – Nós pensamos em algo que funcionasse de algumas formas, seja nós dois de fato juntos, outras partes mais com a minha sonoridade, outras com a do kLap. Pensamos em algo que trouxesse uma estética um pouco diferente dos sets convencionais e que no fim, deu muito certo. Foi uma loucura.

Siga kLap no Instagram aqui e Klean aqui.

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Descubra

Descubra: Vigaz

Combinando o Desande com Funk, ambos ritmos bem brasileiros, Vigaz criou uma sonoridade única e tem ganhado cada vez mais espaço na Europa.

O cenário musical do Brasil sempre foi uma fábrica de talentos, e mais uma vez, está colocando um novo nome em destaque. O DJ e produtor Vigaz, que recentemente deixou o público europeu hipnotizado com seu estilo único, está de volta e cheio de novidades de “outro mundo” na bagagem! Com uma proposta musical ousada e inovadora, Vigaz combinou o Desande – um vibrante ritmo de Goiás – com o Funk, criando uma sonoridade totalmente nova que está encantando não só os brasileiros, mas também ouvintes em outras partes do globo.

“Tocar na Europa pela segunda vez foi uma experiência realmente transformadora. Não tenho palavras pra descrever a emoção de ver pessoas de diferentes culturas se conectando através da minha música. Foi maravilhoso perceber que a linguagem da música é universal, que o Desande e o Funk podem unir pessoas de todos os cantos do mundo. Cada show, cada cidade, me ensinou algo novo e eu trouxe todas essas lições de volta para o Brasil. Estou ansioso para incorporar tudo isso na minha música e nas minhas próximas performances.”

Vigaz, que batalhou durante sua infância e enfrentou inúmeros desafios para viver de música, compartilha: “A música eletrônica e o funk fazem parte da minha vida desde sempre. Mesmo diante de ironias e pouco caso das pessoas sobre a música que eu sonhava produzir, eu mantive minha decisão firme de terminar os estudos para viver de música. E aqui estamos, né? Tornando os sonhos realidade dia após dia.”

Esse jovem e ousado produtor sempre acreditou que para se destacar é preciso criar algo que seja não apenas único, mas que desperte a curiosidade nas pessoas. É sobre esse mindset que ele comenta sobre seu recente lançamento, o ‘Baile do VZ’, disponível em todas as plataformas de streaming:

“Eu gosto de brincar com a ideia de que algumas músicas são de outro mundo, e ‘Baile do VZ’ é uma delas! A ideia por trás desse lançamento foi criar uma música que grudasse na mente das pessoas, deixando-as extasiadas com o bass e os vocais da faixa. Acabamos de lançar um videoclipe que dá um vislumbre desse mundo, fica o convite para quem quiser ouvir e se divertir.”

Agora que Vigaz está de volta, estamos ansiosos para ver o que esse DJ e produtor talentoso nos trará a seguir. Enquanto isso, aproveite para seguir VIGAZ no Instagram e no Spotify.

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Área 51

Mandragora mescla Funk com seu estilo singular de Psytrance

DJ e produtor querido no Hemisfério Sul embarca em uma forte tendência musical

Totalmente sem limites e após a sua track “Vapo Vapo”, o DJ e produtor mexicano Mandragora acaba de se reconectar com o Funk Brasileiro em sua nova faixa, “Baba”. Com os vocais em português, cantados e escritos pela artista Melinna, ele mostra que seu movimento do future prog é modulável e que sua criatividade permanece um de seus trunfos.

Neste lançamento, Mandragora coloca o Funk em meio a uma rica mistura entre Hardcore, Eurodance e Hyperpop, elevando a altos BPM e grooves psicodélicos uma canção que fala sobre como não devemos esnobar nossos amores. “Baba” chega pouco tempo após uma grande turnê que o artista fez na América Latina recentemente. Confira:

Mandragora está no Instagram.

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Editorial

Ariele Quaresma, a bissexualidade e a dualidade da disco com funk

Bissexual assumida, Ariele Quaresma luta contra o preconceito, machismo e traz em sua essência, misturas inusitadas na pista.

Ariele Quaresma

Perante a música, somos todos igual e é isso que queremos mostrar em nossa #PrideWeek. A tradicional semana do B4B, voltada a comunidade LGBT, abre seus trabalhos com a Ariele Quaresma, uma artista que, além de enfrentar o machismo tão intrínseco na nossa sociedade, ainda precisa enfrentar a bifobia e o preconceito musical, por conta de suas escolhas sonoras.

Com uma carreira fomentada num dos maiores centros noturnos de São Paulo, a Rua Augusta, Ariele precisou batalhar bastante para conseguir o destaque no circuito Baixo Augusta, passando por algumas situações e aprendizados, que ela compartilhou com a gente na entrevista abaixo. Confira nosso papo com Ariele Quaresma na Pride Week.

Beat for Beat – Ariele, obrigado por conversar com a gente, ainda mais nessa semana tão especial. Pra começar, conta pra gente: como é representar a letra B, as vezes tão esquecida na sigla LGBT?

Ariele Quaresma – Oi pessoal. É um prazer conversar com vocês. Como DJ, mulher, bissexual, periférica, descendente de nordestinos, eu sou uma pessoa completamente fora dos padrões que a sociedade impõe. Eu sou tudo aquilo que queriam que eu não fosse. Representar a letra B da sigla traz o stigma da hiper sexualização, de ser objetificada, já que a sociedade e até mesmo nossa comunidade, não enxergam o bissexual como alguém que sente atração por ambos os gêneros. Nós não somos vistos, de fato, como realmente somos.

Muitas pessoas, principalmente casais, às vezes esquecem que somos pessoas que possuímos sentimentos. Acham que por sermos bissexuais, não podemos nos apaixonar por alguém, por não ter uma preferência e não é bem por ai. Não somos pessoas promíscuas e que só queremos sexos. Além disso, existe ainda a ideia de que uma mulher bissexual, por exemplo, ao se relacionar com uma mulher, passa automática a ser lésbica ou se for namorar um homem, transforma-se numa pessoa heterossexual e não é assim. Eu posso continuo sentindo atração por ambos. As pessoas precisam levar um pouco mais a sério as escolhas das outras e parar de coloca-las em caixas.

Esse “esquecimento” que as vezes sofremos, é porque as pessoas nunca nos veem como realmente somos, mas sim, como elas pensam que a gente seja.

Quando você fala na hiper sexualização, isso já aconteceu também na cena noturna? Você já sofreu algum preconceito ou resistência por sua orientação, na hora de ser contratada pra uma gig ou fazer um evento?

Ariele Quaresma – Pra minha sorte, eu nunca deixei de ser contratada por conta da minha orientação, mas já senti sim, assédio por parte de alguns contratantes. Não posso afirmar que ser bissexual tenha causado tais assédios, mas há uma grande chance, uma vez que sou assumida abertamente. Minha família, amigos e consequentemente, contratantes, sabem da minha orientação.

Já aconteceu de pessoas fazerem brincadeiras sexualizadas comigo. De homens casados acabarem passando a mão, só pelo fato de eu estar com um vestido. Situações que, infelizmente, a mulher sofre pelo simples fato de ser mulher, vai além da orientação sexual. O homem cis hetero precisa entender que ele não tem poder sobre o corpo do outro.

Em toda a minha vida, eu tive que falar um pouco mais alto que os outros, pra ser ouvida, então de certa forma, a vida me preparou para esse tipo de situação. Eu não fico mais calada e ninguém jamais me calará. Hoje, já não trabalho mais com pessoas que me submeteram a tais situações.

Ariele Quaresma na Selva | Foto: FALZER

E partindo então agora pro seu trabalho. Você é uma DJ que aborda um gênero não tão executado mais, que a disco. Como você chegou num dos estilos eletrônicos mais clássicos?

Ariele Quaresma – Minha carreira começou no circuito do Baixo Augusta e eu acaba tocando aquilo que precisava ser tocada, o que era pedido. Conforme eu fui ganhando experiência, autonomia e reconhecimento, comecei a explorar gêneros musicais que já faziam parte da minha vida e a disco music é um desses estilos.

Desde muito cedo, sempre fui influenciada pela minha mãe. Tenho memórias da minha infância, quando no fim de semana, durante nosso único tempo livre juntas, ela colocava aqueles CDs de flashback e isso me marcou. Além disso, após ler o livro “Todo DJ Já Sambou”, potencializei uma paixão que já existia dentro de mim e quanto mais eu pesquisava, mais eu queria tocar aquilo. Foi um efeito de dentro pra fora. Quando eu me encontrei musicalmente falando, tudo fluiu melhor.

Além de se especializar na disco, você trouxe novos elementos pra sua apresentação, misturando ele com funk, como no seu último set. Como surgiu a ideia dessa mistura tão inusitada e como foi a aceitação do público?

Ariele Quaresma – A minha carreira começou na Augusta e lá, o público é muito jovem e o estilo mais difundido entre eles, é o funk. Tem até uma brincadeira entre os DJs que basta a gente chegar na cabine, que alguém vai perguntar que horas vai começar o funk. É inevitável.

Além de existir a demanda pelo gênero,o funk faz parte de mim. Eu sou da periferia de São Paulo e o funk é uma das minhas realidades. Eu gosto de funk. Eu acredito que ele precisa ser reconhecido como um sub gênero da música eletrônica, já que todos os beats e samples são criados eletronicamente. O funk não é orgânico. Eu mesmo gosto muito de usar parte de uma música para criar outra. O funk combina sim com a música eletrônica, além de ser um estilo genuinamente brasileiro e eu tenho orgulho disso.

E fazer essa mistura, fez com que o seu público buscasse conhecer mais sobre música eletrônica? Você sente que conseguiu cumprir seu papel de educadora musical?

Ariele Quaresma – Eu vejo que meu trabalho, funciona como uma fusão entre os dois mundos. O público da música eletrônica passou a ter um contato maior com o funk, que ainda é muito marginalizado e vice-versa. Acredito que sim, consegui cumprir com meu papel de educadora musical e não só isso, em todas as festas que eu toco, eu tenho um olhar mais politico na hora de fazer essa fusão, pra juntar o melhor dos dois universos de forma coerente. Acho que a missão foi cumprida.

Falando também na questão politica, você tenta transmitir uma mensagem de liberdade de expressão, de enaltecer a cultura e artistas LGBT dentro dos seus sets? 

Ariele Quaresma – Assim como o meme fala, eu sempre tento “trazer um pouco de cultura pra esse povo”. Artistas LGBT são 60% do meu set. Eu sempre tento levar representatividade para as minhas apresentações. Hoje, já existem alguns funks de boa qualidade surgindo, nesse movimento de tech-funk, que são tracks de fato, misturando os dois estilos e que conversam com tanto com a comunidade LGBT quanto com o universo cis hetero. Eu consigo deixar meu trabalho bem balanceado.

Ariele Quaresma no Sputnik Bar | Foto: Bruno Carmo

Quais são os planos pra sua carreira musical?

Ariele Quaresma – Hoje, é continuar com a ascensão. Quero visitar lugares novos, ir para outros estados além de São Paulo e Minas Gerais. Quero melhor ainda mais o trabalho que venho fazendo, expandindo minhas pesquisas, meus estilos musicais. Quanto mais eu conhecer, maiores são as experiências que posso proporcionar. Imagine levar o disco-fluxo para outros países? Seria incrível.

Pra finalizar, que atitudes você acha que a sociedade precisa mudar, urgentemente, com relação a comunidade LGBT? O que você acha que podemos fazer pra mudar, nem que seja de forma pequena, o mundo em que vivemos?

Ariele Quaresma – Eu sou uma pessoa que tem muita fé, mesmo não seguindo mais a crença cristã que eu já tive. Hoje, vivemos num país quem a maioria é cristã e por isso, quero direcionar um recado para eles, que são as pessoas que mais precisam ouvir: precisamos pregar uma coisa que Jesus mesmo dizia, o amor ao próximo. Ame o  próximo como a ti mesmo.

As pessoas ainda estão em lugares de julgamento, achando que são melhores que as outras por conta de suas crenças, suas opiniões travestidas de preconceito e não é bem por ai. O respeito é o mais importante. Eu amar uma mulher ou um homem, não define quem eu sou. A minha condição sexual não define quem eu sou. As pessoas precisam ter mais amor pela vida alheia. É isso que falta para que possamos viver de forma mais saudável em comunidade.

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