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Entrevista

Entrevistamos: BLANCAh

Mulher, lésbica, que luta contra o preconceito apresentando um trabalho de qualidade e reconhecido no mundo todo. Conversamos com a BLANCAh!

Encerrando oficialmente os trabalhos do Pride Month, o B4B recebe um pássaro do techno nacional. Patrícia Laus, o nome por trás do projeto BLANCAh, conversou com a gente e abriu seu coração sobre assuntos envolvendo a luta LBTQIA+, falou sobre sua carreira e acima de tudo, sobre amor. Sobre sermos quem somos. Sobre nossas lutas e formas de resistir. Entrevistamos: BLANCAh.

Beat for Beat – Olá BLANCAh. Tudo bem? É um prazer imenso receber você em nosso portal. Para começar, sua relação com a música começou desde cedo. Como foi que você entendeu que iria viver de música na sua vida? E quais foram suas principais referências para que você levasse a ideia adiante? 

BLANCAh – Olá, tudo bem, o prazer é todo meu. De fato a música sempre me acompanhou, primeiramente como um hobbie, depois como brincadeira de adolescente quando formei uma banda. Se tornou profissão quando comecei a trabalhar em uma rádio na minha cidade.

Eu era locutora e programadora. Ali aprendi a fazer seleção musical, criar sequencias de playlists e a expor o meu gosto na musica. Era uma rádio muito livre e eu adorava isso. Não seguíamos “jabá”, tocávamos o que realmente nos interessava e os ouvintes se identificavam com os programadores e suas seleções. Ou seja, eu já era uma DJ e nem sabia haha.

Foi na radio também que surgiu o primeiro convite para discotecar em um clube que iria inaugurar em Florianópolis. Estamos falando do início dos anos 2000. De lá pra cá nunca mais parei de tocar e de me aperfeiçoar. Todo o meu caminho foi muito natural e todas as escolhas que eu fiz na minha vida foram guiadas pela bussola da Arte, tendo a música como minha maior expressão.

Além de música você também experimenta a arte do design em sua expressão artística. Tudo isso também faz parte do seu som? Como conseguiu implantar o design em sua carreira?

BLANCAh – Eu sou formada em Artes Visuais, tenho mestrado na mesma área. Sempre que penso em música, penso em imagem. Pra mim, é impossível criar música sem um norte conceitual e estético.

Cuido de todo o meu processo criativo de ponta a ponta, desde a criação das capas dos meus eps e álbuns, até meus ensaios fotográficos, ambientações e cenários. Tudo tem um porquê e uma explicação. Qualquer pessoa que tenha interesse em mergulhar no meu trabalho vai entender que BLANCAh é um pássaro e que em todos os meus trabalhos existem vestígios disso.

Sentimos a originalidade de suas melodias e de seus vocais em suas produções. Sua identidade única já foi muito bem recebida fora do nosso país. Lembra de algum momento único e histórico que você viveu em uma de suas apresentações no exterior? Qual foi o país que mais se conectou com sua identidade sonora? 

BLANCAh – Eu sempre cito a cidade de Beirut como uma das minhas melhores experiências como artista, mas mais pelo fator surpresa que me arrebatou. Eu não fazia ideia de como era a cena no Líbano e me surpreendi muito positivamente como tudo o que ví e vivi lá. O público também é muito caloroso, até hoje tenho fãs que me escrevem de lá.

Recentemente você e Binaryh lançaram o projeto Hiato, também criando uma label juntos. A relação profissional e o contato musical de você com Renée e Camila é bem próximo. Como vocês desenharam esse projeto tão lindo? Como é trabalhar com o casal?

BLANCAh – Chegar ao ponto de criar nossa própria gravadora foi um caminho muito natural pois nossa amizade já começou forte. Foi sinergia, foi reciprocidade, foi afinidade, foi amor a primeira vista, foram todos os ingredientes perfeitos forjando uma relação forte e muito afinada.

Como temos objetivos profissionais muito próximos, e como nos ajudamos mutuamente desde o inicio, nada mais natural do que formalizar isso criando a nossa “casa”, a Hiato. Trabalhar com eles é leve e crescemos juntos a cada dia.

HIATO

Recentemente, em uma campanha para o Dia dos Namorados para a marca Ratier Clothing, muitos de nós conheceram a Larissa, sua parceira. Neste último dia do Mês do Orgulho, como você vê o fato de muitos artistas LGBTQIA+ ainda se “esconderem” dentro do armário? A música eletrônica, que nasceu preta e gay, não está pronta para ter fortes representantes da nossa comunidade?

BLANCAh – A música eletrônica nasceu para isso, ser o discurso e o lugar das “minorias”; o “mercado”, o “business” a ressignificou a ponto de muita gente acreditar que ela não nos pertence mais, mas ela também é nossa sim! Este é um debate longo e complexo e é preciso interesse para que ele seja compreendido. Penso que qualquer pessoa que diz amar música eletrônica, deveria estudar suas origens para entender aonde se forjou o objeto do seu amor.

Como você bem disse… é uma musica preta, gay, trans, marginal. Só isso já deveria bastar para que, no mínimo, muitas pessoas fossem capazes de rever seus próprios pré-conceitos. Eu como DJ, nasci no meio LGBTQIA+, tocando para este público, e mesmo assim nem sempre me sinto confortável de expor minha vida pessoal. Não julgo aqueles que preferem manter suas vidas pessoais preservadas, e admiro aqueles que tem nessa luta a sua causa pois é preciso sim muita força e coragem.

Temos fortes nomes como The Blessed Madonna, Honey Dijon, Maya Jane Coles, Magda, a maioria das DJs que eu admiro são lésbicas ou bissexuais.  Temos vários núcleos como o He She They focados na causa também.  Eu particularmente, hoje tomo muito cuidado para não colocar a minha sexualidade na frente da minha música.

Não quero que gostem mais ou menos de mim por conta da minha orientação sexual, quero que gostem do meu trabalho e do que eu faço primeiro, e que o interesse na minha música desperte a vontade de pesquisar sobre mim. E ao pesquisarem encontrarão a minha história, encontrarão a Larissa, entende?

Acredito que existem formas diferentes de lutar e resistir. Há quem prefira a luta “armada”, o “confronto direto”, a bandeira empunhada. O mundo precisa dessa vanguarda! Há quem lute e represente resistência pelo simples fato de existir transitando em circuitos diversos, rompendo fronteiras e barreiras. Eu já estive do lado mais incisivo dessa luta.

Hoje entendo que o fato de eu ser mulher, artista, lésbica, transitando em circuitos hétero normativos, em porões undergrounds, em grandes festivais internacionais ou no clube local da minha cidade, tocando em peak time como headline, representa para mim resistir.

BLANCAh e Larissa

BLANCAh – Ser mulher, numa cena predominantemente masculina e além disso, ser lésbica, já te causou algum desconforto ou te colocou em alguma situação indesejada? Há alguma mudança de tratamento, quando sabem da sua sexualidade?

Na Verdade coisas acontecem, na nossa frente, nas nossas costas, mas nunca fiz disso um tema ou uma questão. Estou 100% focada no meu trabalho, ou seja, compor, me expressar, crescer. Quando um ato preconceituoso se dirige a mim, eu respondo lançando um álbum novo, saindo em turnê internacional, recebendo algum prêmio ou realizando algum sonho.

Pessoas preconceituosas e limitadas sempre existirão. Nosso papel é não permitir que nos limitem também! Lutar e conquistar todos os meus objetivos é a melhor resposta que posso dar a essa gente!

A música foi a forma que escolhemos para nos expressar. O techno, bem conhecido por não ter vocal em maioria das música, teria dificuldades em lutar por igualdade e pregar contra o preconceito? Como a BLANCAh pode fazer parte dessa luta, através do seu trabalho?

BLANCAh – Sou reconhecida como uma DJ de Techno, mas não me limito a ele. Meu ultimo álbum foi todo produzido numa pegada low bpm, pois meu objetivo maior era falar de amor. Trouxe minha família, meus amigos para dentro dele, e trouxe a Lari. Todo o processo foi muito intimo.

A música ‘Walk in Clouds‘ escrevi para a Larissa. O single foi lançado no emblemático selo Renaissance e ganhou remix do Fur Coat.  Essa é a minha forma de lutar.

Durante anos produzi festas para o circuito LGBTQIA+. Participei de diversas paradas da diversidade. Representei minha cena local ativamente. Hoje o que eu quero é falar de amor através da minha música, dos conceitos que crio e das minhas atitudes. Estou sempre disposta a conversar, a ouvir as pessoas, a responder cada mensagem que recebo, a abrir portas e caminhos para jovens produtores, a dar atenção a quem me pede.

Luto por um mundo melhor de uma forma simples, sendo simplesmente humana e buscando ser a cada dia um Ser melhor.

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Descubra: Bernardo Campos

Um artista carioca multifacetado, Bernardo Campos, já tocou ao lado de várias estrelas da cena underground e tá sempre em movimento.

Como resumir o perfil de um artista que já foi residente de clubs icônicos como Fosfobox, Dama de Ferro, Clandestino e é da festa RARA, que trouxe ao RJ nomes como Derrick Carter e Moodymann e que já tocou ao lado de Laurent Garnier, Tiga, Carl Craig e Solomun? Se você acha que é muito, calma que ainda tem mais.

Ele também idealizou o selo Molotov21 ao lado do DJ Pedro Mezzonato e Felipe Fella, é nome por trás da Festa Base, já teve suportes de Maya Jane Coles e Maceo Plex, recebeu em 2013 o Prêmio Noite Rio como melhor DJ de música eletrônica da cidade, é  metade do duo Nu Azeite que acabou de lançar seu debut álbum e também fez parte da crew Underdogs há algum tempo atrás! Ufffff… quase faltou fôlego por aqui.

Então, bom, se você ainda não ouviu o nome de Bernardo Campos antes, vai descobrir mais sobre ele agora, mas neste momento com um foco especial para seu trabalho de estúdio, sua parceria com o núcleo Underdogs, por onde irá lançar um release em breve, além de outras novidades.

Beat for Beat – E aí Bernardo, valeu por topar esse bate-papo. A gente já vai começar perguntando qual o segredo pra administrar/lidar com tantos projetos e iniciativas ao mesmo tempo… como é a sua rotina? Deve ser no mínimo maluca…

Bernardo Campos – Fala pessoal, valeu pelo espaço! O meu primeiro segredo é que eu trabalho exclusivamente com isso. Na verdade eu nunca tive outro emprego, comecei a trabalhar com música aos 20 anos e não olhei mais para trás. Acordo todo dia e o foco é sempre esse.

Um outro segredo é fazer parcerias, desde que comecei na música, percebi que a troca com outros artistas me enriquecia muito, então sempre procurei diferentes parceiros, mas que obviamente tinham alguma visão parecida comigo, pessoas que eu admirava de alguma forma.

O último segredo e talvez o mais importante: trabalhe muito! Seja disciplinado e se leve a sério. Já vi muitas pessoas se perdendo, pois à noite pode ser muito traiçoeira. É importante saber que você está ali trabalhando num ambiente que a grande maioria das pessoas está se divertindo. Mantenha sua saúde física e mental sempre em dia, talvez esse seja o maior dos segredos. 🙂

Imaginamos que pela pandemia ter congelado boa parte dos projetos que você faz parte, principalmente dos eventos, hoje, além do Nu Azeite, o trabalho de estúdio deve estar “à frente” dos demais… é mais ou menos isso?

Bernardo Campos – Com certeza, tenho focado muito no estúdio e no restaurante que trabalho que é o Pato com Laranja, único lugar que ainda posso discotecar. Aproveitei para fazer alguns cursos e ajeitar meu home studio. Tem saído umas coisas bem legais, diria que estou na minha melhor fase de produção até hoje.

Existe uma linha de som que você se familiariza ou prefere produzir? Seus próximos lançamentos abraçam o Chicago House, né? Fala um pouco mais sobre essa identidade e dos releases que vão chegar…

Bernardo Campos – Eu gosto do House em todas suas formas. Chicago é o berço e, inevitavelmente, sai uns sons assim porque eu amo esses timbres mais clássicos. Mas também tem umas coisas bem Afro que tenho produzido com meu amigo Icle. Nosso último release lançado pela WIRED em collab com Bruce Leroys e com os vocais da Bia Barros, ‘Dos Cuerpos‘, chegou ao top 4 de vendas do Beatport no gênero Afro House.

Gosto muito também de fazer Acid, Minimal, Disco, Edits e no Nu Azeite essa mistura de música brasileira com boogie. Eu vejo as minhas produções como extensão dos meus sets e como toco vários estilos acaba que isso transmuta pro estúdio também.

Essa linha mais houseira também tem um fit com o trabalho da galera do Underdogs, núcleo onde você é DJ residente e tá sempre em contato com eles. Como surgiu essa relação?

Bernardo Campos – Sim, o Underdogs foi um projeto que eu entrei tem uns 3 anos e foi justamente por essa afinidade musical com o Ricardo Salim e o Rodrigo Morgado. Lá a gente toca bastante House, Afro, Disco, edits…

E os planos também são promissores… você vai assinar o release de  estreia da gravadora deles, né? O que rola adiantar pra gente sobre isso?

Bernardo Campos – Exato! A faixa se chama Connected. Eu comecei ela no meu estúdio, gravei o vocal, fiz uma base e mandei pro Icle. Ele mexeu e terminamos ela em Niterói no estúdio dos amigos do Bruce Leroys. O resultado ficou bem bacana e a faixa vai ganhar remix de um grande artista que admiro muito mas ainda não posso falar muito sobre isso 🙂.

Pra fechar: quando bate aquela saturação de estúdio ou da música, qual é sua área de escape, pra esvaziar a cabeça, descansar um pouco e até respirar outros ares?

Bernardo Campos – Agora mesmo eu tive um block criativo de quase três meses. É uma coisa que vem e não tem como você lutar contra, tem que ter paciência que uma hora acaba voltando. O que eu gosto muito de fazer é pesquisar música, ver um tutorial, ouvir um set ou até ouvir minhas produções antigas, isso sempre me ajuda muito. Outra coisa que eu amo fazer é dar uma volta de Bike ouvindo playlists, sempre dá certo! Valeu turma!

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Lançamentos da Semana: 18 a 24/04

Artbat, Boris Brechja, Camelphat, Charlotte de Witte, Armin van Buuren e Alok são só alguns dos lançamentos da última semana. Ouça a playlist.

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