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Rita Lee morre aos 75 anos e deixa marca na música eletrônica

Uma das maiores da música brasileira, Rita Lee morreu 75 anos. A artista deixa um legado musical, passando também pela dance music.

Dificilmente abordamos por aqui artistas que não fazem parte da música eletrônica diretamente, mas é impossível não falar de Rita Lee. Diagnosticada com câncer de pulmão em 2021, a rainha do rock brasileiro vinha fazendo tratamentos contra a doença. A morte, que aconteceu na última segunda (08), foi comunicada apenas hoje, 09 de maio, nas redes sociais da artista, por sua família: “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”.

Rita Lee foi uma importante figura, principalmente quando falamos sobre a revolução do rock, o tropicalista e também sobre o feminismo. A sua banda, Os Mutantes, foi uma das bandas brasileiras mais cultuadas no mundo e sua carreira solo sempre foi muito elogiada, principalmente por ser cheia de personalidade. Rita teve uma carreira meteórica, encerrando apenas em 2013, quando cantou no aniversário de São Paulo. Foram mais de 40 álbuns, muitos anos de carreira, diversas situações polêmicas e música de qualidade!

E não foi só no rock que Rita marcou sua presença. Em 2021, João Lee, filho da nossa eterna rainha do rock, lançou um ambicioso projeto, o ‘Rita Lee e Roberto – Classix Remix, Volumes 1, 2 e 3′. Foram mais de 40 remixes, de grandiosos nomes da cena eletrônica, revisitando a carreira da artista. Desde Gui Boratto, DJ Marky, Vintage Culture, Tropkillaz, Renato Cohen a Chemical Surf, Dubdogz, Renato Ratier, Coppola, entre outros. Somente Rita foi capaz de reunir tantos talentos em um trabalho impecável como esse.

É difícil dizer adeus, ainda mais para uma artista que marcou certamente algumas gerações. Nossas condolências aos amigos, familiares e fãs da artista. Por aqui, seguiremos te aplaudindo e ouvindo, Rita. Descanse em paz.

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DJ Meme revisita hits brasileiros em ‘Clássicos Reboot vol 1’

Versões estendidas, remixadas e vitaminadas de clássicos da música brasileira como você nunca ouviu…e viu, pelas mãos de DJ Meme.

Há dois tipos de discos de remixes. Aqueles que assassinam as músicas originais e aqueles que as engrandecem. Estamos diante de um caso à parte; “DJ Meme apresenta: Clássicos Reboot vol 1″, não apenas engrandece a importância histórica de cada uma das 10 faixas clássicas de música brasileira escolhidas a dedo pelo autor do álbum, mas, acima disso, as devolve para a audiência de hoje tomando todo o cuidado em manter suas almas intactas.

Como o próprio Memê adverte, seu disco não foi pensado exclusivamente para pistas de dança. Trata-se de um redesign digitalizado de músicas que foram criadas há mais de 30 anos. Verdade que algumas já nasceram para fazer dançar, como “A Noite Vai Chegar”, de Lady Zu, um hino da disco music nacional, ou ainda “Lança Perfume”, de Rita Lee e Roberto de Carvalho, balanço que botava gente para requebrar nas boates no início dos anos 80. Já outras, como “Cheiro de Amor”, de Maria Bethânia, “Só Você”, de Vinicius Cantuária, e “Quero um Baby Seu”, de Caetano Veloso, pouco ou nada têm a ver com uma pista. Como um artesão sonoro, o principal mérito de Memê neste trabalho foi ter resgatado músicas preciosas para serem ouvidas hoje em dia.

“DJ Meme apresenta: Clássicos Reboot vol 1” começou a ser concebido durante a pandemia, quando, assim como a imensa maioria dos DJs do planeta, Memê estacionou seu case em casa e passou a ter algo raro para essa categoria de trabalhadores que vive na estrada ou virando noites: tempo livre. Sentou-se em frente do computador e começou a revirar seu próprio acervo de fitas DAT, um tipo de mídia digital que era usada para armazenar sessões de gravação de forma mais compacta e prática do que as fitas de rolo.

E o que faziam essas DATs enfeitando o estúdio de Memê? Bem, estamos falando de Marcello Mansur, um dos criadores do ofício remixer no Brasil, DJ da primeira leva de criadores de versões exclusivas construídas a base da gilete, fita de emenda (a tal splicing tape) e muita criatividade. Ele estreou nesse métier em 1985, aos 20 anos de idade, criando um remix para “No Mundo da Lua”, do Biquini Cavadão.

A música bombou e tudo mudou na carreira dele. Vieram encomendas para remixar “À Francesa”, de Marina Lima, e “Música Urbana”, do Capital Urbana, duas versões que viraram queridinhas nas rádios e consolidaram o nome de Memê como remixer. A partir daí ele virou o DJ preferido de nomes da música pop, como Lulu Santos (com quem lançou o álbum “Eu & Memê, Memê & Eu”, em 1995), Gabriel o Pensador e nomes gringos como Shakira, Gloria Estefan, David Morales, Frankie Knuckles e Dmitri From Paris, entre outros.

Voltemos para DJ Meme apresenta: Clássicos Reboot vol 1″. Como se deu a escolha das faixas, já que o álbum traz medalhões que nem sempre circulam entre discos de DJs? O próprio Memê é quem conta.

As músicas foram escolhidas como um DJ escolheria a próxima faixa para tocar na pista. Tem duas pessoas com quem, durante o processo de escolha, eu bati bola, que foram os DJs Zé Pedro e o Marky, que entendem demais de música brasileira e foram uma espécie de embaixadores deste trabalho“, diz.

A primeira música concluída, das dez contidas no álbum, foi “Fullgás”, de Marina Lima. “Quando começou a pandemia, a gente não tinha pra onde ir, não tinha onde tocar, não tinha o que fazer, né? A gente começou a fazer lives. Um dia fui pro estúdio e resolvi pegar o meu caixote de DATs. Quando eu peguei a fita da Marina, descobri que tinha todos os canais. Aí joguei no computador e comecei a brincar. Quando eu vi, a música começou a tomar forma. Comecei a fazer aquilo de brincadeira, mas levando a sério. Mandei pro Zé Pedro e pro Marky e eles piraram. O Marky fez uma live só pra tocar a música. Todo mundo ficou pedindo a música“, lembra.

Daí surgiu a ideia de, por que não, retrabalhar músicas incríveis que saíram do repertório das gerações mais novas não por falta de qualidade ou genialidade, mas por soarem de outra época.

Liguei pro Paulo Lima, que é o presidente da gravadora [Universal], e falei da minha ideia. Mandei o remix da Marina e ele adorou: ‘Vamos fazer’“, conta. Memê então pediu carta branca para mexer no acervo da gravadora, o que foi concedido.

Eles começaram a abrir arquivos para mim e converter para digital“, diz. O passo seguinte foi conseguir as autorizações com os artistas. “A minha sorte é que eu comecei a fazer isso num período onde estava tudo meio parado, e essas autorizações foram saindo mais facilmente. O mais bacana é que todos os artistas, incluindo Bethânia e Caetano, autorizaram desde o início que eu botasse a mão nas fitas pra mexer e, depois, todos eles autorizaram o remix feito“, revela.

Não é um disco para pista. É um álbum de remixes, no qual mostro o arranjo original, mostrando a diversidade daquela música que já é conhecida há mais de 30 anos“, detalha Memê.

VINIL E DOCUMENTÁRIO À VISTA

Com DJ Meme apresenta: Clássicos Reboot” já na praça, o próximo passo será o lançamento de uma série de vídeos documentais com entrevistas com os artistas e seus produtores, conduzidas pelo próprio Meme e por Charles Gavin.

Cada capítulo vai ser uma música. Já estão confirmados episódios com Ed Motta, Paralamas, Dalto, Lady Zu. Vamos contar as histórias por trás de cada música contida no álbum“, conta Memê.

Outra novidade é que o álbum está nos planos da gravadora para ser lançado em vinil, com toda pompa que merece: no formato caixa, para colecionadores. Estamos ansiosos para botar as mãos nessas bolachas que já nascerão clássicas.

POR DENTRO DE UM REMIX

O disco reconta uma parte importante da música brasileira, com artistas icônicos de várias épocas e estilos musicais. Começa com “Daqui pro Méier”, do Ed Motta, resgata Pessoa, uma joia rara de Dalto cuja versão de Memê revela o quanto a faixa sempre foi um electro à la “Together in Electric Dreams” (de Giorgio Moroder e Phil Oakey), traz Caetano Veloso para uma pista de disco music, coloca um brilho sensual em “Cheiro de Amor”, de Maria Bethânia, joga “Óculos”, dos Paralamas, dos anos 80 para uma sonoridade atual.

É interessante abrirmos um parêntese para falar da gênese da palavra remix, que nos primórdios significava pura e simplesmente mixar (misturar as diferentes faixas de som) novamente (re-mixar). Quando os primeiros produtores começaram a criar novas versões em cima de trechos de músicas previamente lançadas, convencionou-se a chamar essa técnica de remix. Existem, porém, outras formas de falar dessas versões, como rework, re-edit e reboot, que dá nome ao álbum. Mas e aí, como nasce um remix das mãos do Meme?

Esses remixes são bem específicos, completamente diferentes do que eu venho fazendo há mais de 30 anos. O remix normalmente vem sob encomenda. Peço sempre as partes originais. Preciso daquelas guitarras separadas como foram gravadas sem processamento. Por quê? Porque eu vou justamente remixar. Já este álbum de remixes nada mais é do que o mesmo processo que eu fazia quando comecei aos 20 anos de idade. Não tinha como botar eletrônica no meio, não tinha como fazer versão de house. Isso veio um pouquinho depois. Lá no início você botava a fita na máquina e usava os elementos originais. Hoje a gente normalmente quer dar a cara da gente. Aí bota um beat eletrônico, uma linha de baixo. Nesse álbum os elementos que foram adicionados são muito sutis, para não ferir o arranjo original. Não interferir harmonicamente, com notas musicais. Por exemplo, o Dalto e o ‘Lindo Lago do Amor’, se você comparar um com o outro, vai ouvir percussões que não têm nos originais, mas são coisas que acompanham o beat original. Mexi na estrutura utilizando o que já tinha ali dentro“, explica.

Entre as surpresas encontradas nas fitas, estava uma trecho de Lady Zu cantando em inglês. “Tem coisas que você não ouve na original porque elas não foram utilizadas. Por exemplo, a Lady eu encontrei uma voz em inglês, aí eu peguei um trecho da gravação e botei no meio“, conta. “Mas acho que a minha maior surpresa foi ouvir o Dalto. A música é toda eletrônica, não tem uma guitarra, não tem um baixo. É tudo um homem só tocando, o Lauro Salazar. Ele fez o arranjo todo eletrônico a pedido do Mayrton Bahia, que foi o produtor da faixa. Na época eles não tinham tecnologia para soar tão eletrônicos no Brasil. Porque quando você ouve a versão remix até o Dalto começar a cantar parece que estamos ouvindo Human League“, compara. Já a faixa que ficou mais diferente da versão da original é “Quero Um Baby Seu”, de Caetano. “Nessa versão, avancei meus limites impostos por mim mesmo. Mudei os beats e adicionei cordas“, conta Memê.

Do alto dos seus 37 anos de experiência como remixer, Memê dá dicas valiosas para quem quiser mexer em músicas alheias. “Se você pegar a voz e conseguir fazer soar como se tivesse sido gravado daquele jeito de forma natural, vai ser lindo. Também é preciso tomar cuidado com essa coisa de acelerar ou atrasar a velocidade, pode parecer fake, ansioso“, ensina. “A menos que a sua intenção seja parecer esquisito. Arte não tem limite, não tem certo, nem errado“, finaliza.

Escute agora ‘DJ Memê apresenta: Clássicos Reboot vol 1‘, disponível nas plataformas digitais:

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Rita Lee e Roberto de Carvalho repaginados em ‘Classic Remix Vol. 1’

Uma das maiores cantoras do Brasil, Rita Lee e seu marido, Roberto de Carvalho, ganham versões remixadas em ‘Classic Remix Vol. 1’

Por Guilherme Samora

Há um tempo, João Lee me contou de uma ideia grandiosa: um projeto de remixes da obra de Rita Lee & Roberto de Carvalho. Na concepção dele – que é DJ e produtor – o cancioneiro de seus pais, a obra prima do rock/ pop, poderia, sim, se transformar. E a ambição se mantinha no formato do projeto: parrudo – com mais de 30 releituras – e pelas mãos de artistas brasileiros e de diversas partes do mundo. O embrião veio da junção do lado profissional que João escolheu trilhar – a música eletrônica – e do mais profundo pessoal, seu elo familiar.

Fazer esse trabalho é um tesão absurdo. Eu, dos três filhos, sempre fui o menos roqueiro. Tinha um distanciamento musical do repertório de meus pais e, com esse projeto, eu consegui juntar o que sou e o que eles são. Trabalho com música eletrônica há 25 anos. E, com essa bagagem, conheci pessoas – seja em baladas, lojas de vinil, almoços ou jantares. Me conectei com artistas, DJs, produtores que fizeram ou fazem parte da minha vida. Conseguir trazer esse time para celebrar essas músicas tão maravilhosas é uma honra. É o projeto da minha vida”.

Foi um passo ousado juntar DJs de todo o mundo, com seus estilos diferentes e visões distintas. O resultado está em 37 remixes, que serão divididos em três lançamentos. O primeiro, “João Lee presents: Rita Lee & Roberto – Classix Remix Vol. 1”, já está disponível nas  plataformas digitais. E não é que deu certo? Tem para todos os gostos e a divisão escolhida por João, de acordo com cada volume, surpreende pela coesão. Mas, para chegar a esse ponto, foram meses e meses de trabalho.

Para escolher os DJs, me reconectei com conversas e encontros que tive ao longo dos anos. Muitos me falavam que gostariam de remixar ou fazer uma releitura de determinada música dos meus pais. Ou seja: foi um trabalho de conectar pontas e montar o quebra-cabeça de quem faria cada música, qual delas seria mais techno, house, latina ou mais drum’n’bass. Posso dizer que cada música tem uma história e um motivo para estar lá”, conta João.

Dois exemplos que estão presentes nesse primeiro volume são de Mary Olivetti e DJ Marky. Mary, que trouxe vibração ainda mais feminina para o clássico ‘Cor-de-rosa choque’, lançado no disco “Rita Lee & Roberto de Carvalho”, de 1982, é filha de Lincoln Olivetti. O músico, produtor e arranjador tocou em álbuns e shows de Rita & Roberto. Marky, por sua vez, teve influência da mãe ao escolher ‘Caso sério’. Ele lembrou a João que foi apresentado à obra da dupla através dela e do disco de 1980 – que ficou conhecido como “Lança Perfume”, reeditado em vinil pela Universal Music no fim de 2020, e que traz “Caso sério”. No volume 1, Marky apresenta duas versões do hit-caliente do casal. Uma bem ao seu estilo e outra surpreendentemente latina.

Entre os muitos hits absolutos de Rita & Roberto neste primeiro volume, ‘Mania de você‘ ganhou releitura de Dubdogz & Watzgood e outra de Harry Romero; ‘Lança perfume’, claro, está muito bem representada com remix assinado pelo francês The Reflex; Gui Boratto fez uma releitura bastante pessoal de ‘Mutante‘, disparada uma das canções favoritas dos fãs da dupla, na qual a voz de Rita – linda, chique e emocionante – se sobressai; ‘Vírus do amor’, na visão do irlandês Krystal Klear, é outra surpresa, assim como ‘Doce vampiro’, de Inner Soto, que ganhou uma vibe mais obscura; ‘Saúde’ é assinada por Tropkillaz; ‘Nem luxo nem lixo’ é do duo Chemical Surf e ‘Atlântida’ – música celebradíssima tanto por roqueiros quanto na cena eletrônica – é de Renato Cohen.

João também deu sua contribuição como DJ, numa ótima e swingada releitura de ‘Jardins da Babilônia‘ (do disco “Babilônia”, de 1978), que sai no volume 2, previsto para maio. O volume 3 será para junho.

Eu estava na dúvida se eu faria um remix ou não… Não é por nada, mas estava sem tempo, com tantos detalhes do projeto para resolver. Mas, quando estava quase tudo pronto, acabei recebendo ‘Jardins’ em multitrack. E senti que ela não poderia ficar de fora. Não é uma música fácil de fazer, tem uma pegada bem roqueira e tive que trabalhar muitos elementos – como a bateria de forma específica -, mas acabou saindo naturalmente e ficou legal”.

Outro laço familiar da pesada é o remix de ‘On the rocks’ (do disco “Bombom”, de 1983), criado por Beto Lee, em parceria com Apollo 9 e que estará no volume 2. A escolha da canção – acertadíssima para o sangue roqueiro que corre em Beto – não foi por acaso.

Minha ligação com essa música vem desde a primeira vez que a escutei. Chapei na hora! Ela é organicamente dançante. Então, não foi difícil pegar esses elementos, como o teclado, baixo, além de guitarra – que carrega a música toda – e inserir loops e efeitos. Eu adorei a experiência com o Apollo, que é um cara de quem gosto muito e que é muito talentoso. Estou muito feliz por estar nesse projeto do João”, conta Beto.

Em tempos como esses, os “classix remix” chegam em ótima hora. Não só para revisitar a vasta e essencial obra de Rita & Roberto, mas para trazer o que eles representam para muita gente: alegria. Portanto, arrasta o sofá da sala (ou pula na cama do quarto) e a ordem, para aliviar um pouco, é uma só: dançar. Pra não dançar. Escute agora, disponível nas plataformas digitais:

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Lançamentos da Semana: 3 a 9 de Abril

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