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Las Bibas From Vizcaya apresenta a nova ‘PS. New York Is Very Hot’

Inspirada num documentário LGBTQIA+ norte-americano, ‘PS. New York Is Very Hot’ é a nova track de Las Bibas From Vizcaya. Escute!


Com base no documentário LGBTQIA+ norte-americano, chamado ‘P.S. Queime Esta Carta Por Favor’, Las Bibas From Vizcaya produziu seu novo lançamento, a track P.S. New York Is Very Hot.

O documentário conta sobre cartas com mais de 60 anos que foram encontradas em um container em Los Angeles, e que abrem uma cápsula do tempo pre-stonewall, contando em detalhes como a cena LGBTQI+ da época, falava, se divertia e paquerava, o que se torna extremamente relevante pela quase total falta de registros dessa época em que ser gay era ‘caso de polícia’. “Ter acesso a esse material nos faz valorizar ainda mais nosso presente e reverenciar as pioneiras”, explica.

Em um bruto e clássico House, Las Bibas conta como desenvolveu a letra e a mensagem da track:

“A minha ideia foi samplear trechos das cartas recitadas no filme e montar um novo diálogo tirando-as do contexto original para trazer leveza. No filme alguns diálogos são fortes, pesados e falam de discriminação, como por exemplo ‘Nova Iorque está muito quente’, mas o ‘quente’ no filme é referente ao perigo, pois a cidade estava repleta de policiais patrulhando as ruas, boates e bares atrás de gays. Já  na música a mesma frase soa apenas como ‘Nova Iorque está muito quente’ de tesão mesmo. O título da música já faz alusão ao nome original do filme, talvez assim quem sabe eu possa atiçar a curiosidade de alguns para assistirem o documentário e se maravilhar com as histórias daqueles personagens da vida real”, detalha.

Com vocais sussurrados, sexy e provocantes, ‘P.S. New York Is Very Hot’ traz elementos do Chicago House raiz, local onde essa vertente nasceu e, inclusive, onde surgiram os primeiros clubs gays.

“Precisei escrever aos produtores e diretores do filme e solicitar uma autorização do uso do sampler. Eles amaram a ideia, sobretudo o produtor Craig Oslen. O único pedido foi que uma parte da música fosse destinada a Fundação Edward F. Limato, a mesma que ajudou na realização do filme, e que dá suportes a artistas LGBTQI+. E assim será feito”, completa.

‘P.S. New York Is Very Hot’ é mais um lançamento direcionado a enaltecer a cultura e personagens da comunidade durante o mês de junho, mês do orgulho LGBTQI+.

Portanto, não deixe de escutar essa linda homenagem de Las Bibas From Vizcaya, já disponível nas principais plataformas digitais. E para quem ficou curioso sobre o documentário, acesse www.psburnthisletterplease.com

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Editorial

Tebetê #11: Honey Dijon no Boiler Room x Sugar Mountain 2018

Um dos sets mais icônicos de house music do Youtube, Honey Dijon no festival Sugar Mountain em 2018, pelo Boiler Room, é destaque na Tebetê.

Foto: Boiler Room

Muito antes das lives tornarem-se moda, tudo isso por conta da pandemia, a cena da música eletrônica mundial já era grande amiga das transmissões virtuais. Festivais e canais sempre fizeram essa conexão do público com seus eventos através da internet, mas o Boiler Room, um dos especialistas no assunto, sempre entregou grandes performances e hoje destacamos uma lendária e digna da coluna Tebetê.

O ano era 2018. O festival era o Sugar Mountain em Melboune, Austrália. A DJ era uma das maiores deusas da house music atual: Honey Dijon. Com transmissão especial do Boiler Room, a apresentação transformou-se na mais assistida da artista no Youtube e o 10º vídeo mais popular no canal do coletivo. Com mais de 7.5 milhões de visualizações, o set é de longe, um verdadeiro viral.

Repleto de batidas vibrantes que nos convidam para dançar, o set combina saxofone e outras texturas instrumentais com vocais emprestados de hip-hop e clássicos da house music, com direito ao marcante discurso ‘I Have a Dream‘ de Martin Luther King. A performance de Miss Honey, criando mashups ao vivo, beira a perfeição e sua alegria é contagiante. Uma dose de estímulo para os dias mais tristes.

Considerada uma das artistas LGBTQIA+ mais influentes da cena eletrônica mundial atual, Honey Dijon é um ícone de luta e resistência. Ver uma mulher trans, preta, assumindo pickups do mundo todo e com lugar destaque por onde quer que passe, é motivo de orgulho e merece ser reverenciado em nosso Pride Month. Uma verdadeira diva e que tem todo nosso carinho e admiração.

Curta abaixo o set inigualável de Honey Dijon no Boiler Room Sugar Moutain 2018, também disponível no Soundcloud e relembre esse momento histórico em nossa coluna Tebetê! O set também está

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Editorial

Ga Crux, a liberdade e a transformação potencializada pelo psytrance

De uma infância com David Guetta a uma carreia focada no Full On, Ga Crux é o primeiro convidado do Pride Month 2021 do Beat for Beat.

Para muitos, o primeiro contato com a música eletrônica sempre aconteceu na rua, entre amigos ou até mesmo numa baladinha aleatória, mas para Gabriel Serracini, nome por trás do projeto Ga Crux, primeiro convidado do Pride Month 2021, a dance music veio de família, logo cedo, gênero esse que o encantaria profissionalmente e o aceitaria como ele realmente é.

A música sempre esteve presente na minha vida. Nasci numa família de músicos, então sempre estive rodeado de muita melodia, cantorias e notas musicais. Com o passar dos anos, acabei de aperfeiçoando no violão e baixo, até que fui apresentado para a música eletrônica ainda pequeno, nos anos 90, pelo meu irmão e meu primo. Mal sabia que seria o início de um longo relacionamento musical.

Assim como para muitos artistas, as influências sempre contaram muito no momento de decidir seu futuro e com Ga Crux não seria diferente. Aqueles artistas que ele conheceu, logo que descobriu a dance music, se fizeram muito importantes em seu desenvolvimento profissional e pessoal.

Comecei ouvindo aquilo que era bem popular no começo dos anos 2000. The Prodigy, Benny Benassi, David Guetta, Alex Gaudino, Lorena Simpson… mesmo não ouvindo com tanta frequência hoje, foram artistas que me fizeram ir atrás, pesquisar a música eletrônica, me aprofundar cada vez mais, até que me encontrei!

Considerada por muitos como uma das cenas mais inclusivas da música eletrônica, foi no Psytrance que Gabriel encontrou um lugar para chamar de seu. Mais uma vez por indicação de amigos próximos, ele visitou pela primeira vez a festa Gaia Connection e foi paixão à primeira vista.

Eu nunca tinha escutado as vertentes psicodélicas do trance. Comecei ouvindo Progressive Trance, até que me deparei com o Full On e me encantei. A velocidade, os elementos, a vibe transmitida, tudo me fez decidir que seria aquilo que eu gostaria de tocar e produzir. Conhecer o psytrance foi uma das melhores coisas que já aconteceram na minha vida.

E é por abraçar a todos, que a cena alternativa se mostrou tão receptiva para Ga Crux, assim como para tantas outras pessoas. Mesmo frequentando outras cenas, voltadas para a comunidade LGBTQIA+, é no psytrance que ele se sente mais à vontade.

O Tribal House, tão característico entre a minha comunidade, não me acolhe tanto quanto as festas que frequento. Seja musicalmente falando ou até mesmo pelo ambiente, me sinto muito bem quando estou entre a natureza, ao invés de clubes. Não me refiro ao público, mas a sensação de liberdade, da conexão com o verde, da comunhão com o psytrance.

Claro que não podemos ser hipócritas e dizer que é tudo maravilhoso. o preconceito, mesmo que pequeno, existirá em alguns lugares. Nem todas as pessoas estão preparadas para conviver com as diferenças, mas Gabriel também usa de sua voz como artista para transmitir mensagem de aceitação:

A cena é, em sua grande maioria, amável com todos. Você acaba criando laços que vão durar uma vida toda, mas nem tudo são flores. É preciso se posicionar sempre, onde quer que você esteja e acima de tudo, apoiar o seu igual. Usar das redes sociais para levar conhecimento ao próximo, buscar formas de conscientizar e mostrar que as diversidades existem e estão ai. Precisamos sempre cortar o mal pela raiz.

Trilhando o tão sonhado caminho do sucesso, Ga Crux está investindo na sua carreira de produção musical e apostando em sets que estão disponíveis no Soundcloud. fazendo uma rápida reflexão, ele diz a si mesmo:

Parabéns! Você está indo pelo caminho certo. Continue assim.

Odin by Ga Crux

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Editorial

Junho, um mês de orgulho e resistência com as cores da nossa bandeira

O mês de junho celebra o orgulho LGBTQIA+ e no B4B, as comemorações que antes duravam uma semana, agora serão ainda maiores.

O ano era 1969. Na cidade de Nova York, nos Estados Unidos, havia um único bar dedicado à comunidade LGBTQIA+ daquela região, o Stonewall Inn. Sem licença para comercializar bebidas e saídas de emergência, além de não seguir as exigências sanitárias da época, ali era o único lugar abertamente de NY e que tinha como seu principal atrativo a dança – nele aos frequentadores era permitido dançar.

Mesmo já funcionando anos depois da descriminalização da homossexualidade nos EUA, a comunidade ainda era muito perseguida e os frequentadores do Stonewall Inn também. Foi no dia 28 de junho, após uma batida policial, que a comunidade decidiu não se calar mais e causou o episódio que até hoje, é conhecido como um dos marcos mais importantes da comunidade LGBTQIA+ dos últimos anos: a Revolta de Stonewall. (Fonte: Hypeness)

Mas o que isso tem a ver com o Beat for Beat e com a música eletrônica? TUDO!

Revolta de Stonewall 1969

Após 1969, o mês de junho tornou-se o Mês do Orgulho LGBTQIA+. É no mês de junho que as maiores Paradas do mundo acontecem (São Paulo, Nova York, Paris, Barcelona, Londres, Roma, Tel Aviv, Sidney, Toronto, Las Vegas, entre outras)  e também, quando é celebrado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, 28 de junho, em homenagem ao ato tão importante de Stonewall. No B4B não seria diferente.

Desde sua criação, em 2015, este portal celebra o orgulho, as cores da nossa bandeira, através da Pride Week. Durante alguns dias seguidos, dedicávamos parte da nossa programação para abordar temas importantes, sempre dialogando com artistas LGBTQIA+ da cena eletrônica nacional, mas este ano será diferente. A partir de 2021, o Beat for Beat realizará o Pride Month!

Durante todo o mês de junho, começando agora, traremos entrevistas com artistas nacionais e internacionais, todos pertencentes a comunidade. Teremos playlists especiais, um Beat Sessions exclusivo e colorido, tudo isso para enaltecer ainda mais os artistas que nunca se esconderam da sociedade. Que possuem orgulho de levantarem a nossa bandeira. Aos que não sabem, a redação original do Beat for Beat é composta 100% por homens gays!

Não queremos impor uma “ditadura gay”. O Pride Month quer celebrar o orgulho que sentimos e continuar oferecendo um conteúdo de qualidade, dessa vez, sob o arco-íris que nos rege. Queremos, acima de tudo, resgatar as raízes da música eletrônica, que nasceu no meio da comunidade LGBTQIA+ preta e além disso, mostrar que o respeito é bom e a gente gosta!

Feliz Mês do Orgulho!

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Entrevista

Entrevistamos: BLANCAh

Mulher, lésbica, que luta contra o preconceito apresentando um trabalho de qualidade e reconhecido no mundo todo. Conversamos com a BLANCAh!

Encerrando oficialmente os trabalhos do Pride Month, o B4B recebe um pássaro do techno nacional. Patrícia Laus, o nome por trás do projeto BLANCAh, conversou com a gente e abriu seu coração sobre assuntos envolvendo a luta LBTQIA+, falou sobre sua carreira e acima de tudo, sobre amor. Sobre sermos quem somos. Sobre nossas lutas e formas de resistir. Entrevistamos: BLANCAh.

Beat for Beat – Olá BLANCAh. Tudo bem? É um prazer imenso receber você em nosso portal. Para começar, sua relação com a música começou desde cedo. Como foi que você entendeu que iria viver de música na sua vida? E quais foram suas principais referências para que você levasse a ideia adiante? 

BLANCAh – Olá, tudo bem, o prazer é todo meu. De fato a música sempre me acompanhou, primeiramente como um hobbie, depois como brincadeira de adolescente quando formei uma banda. Se tornou profissão quando comecei a trabalhar em uma rádio na minha cidade.

Eu era locutora e programadora. Ali aprendi a fazer seleção musical, criar sequencias de playlists e a expor o meu gosto na musica. Era uma rádio muito livre e eu adorava isso. Não seguíamos “jabá”, tocávamos o que realmente nos interessava e os ouvintes se identificavam com os programadores e suas seleções. Ou seja, eu já era uma DJ e nem sabia haha.

Foi na radio também que surgiu o primeiro convite para discotecar em um clube que iria inaugurar em Florianópolis. Estamos falando do início dos anos 2000. De lá pra cá nunca mais parei de tocar e de me aperfeiçoar. Todo o meu caminho foi muito natural e todas as escolhas que eu fiz na minha vida foram guiadas pela bussola da Arte, tendo a música como minha maior expressão.

Além de música você também experimenta a arte do design em sua expressão artística. Tudo isso também faz parte do seu som? Como conseguiu implantar o design em sua carreira?

BLANCAh – Eu sou formada em Artes Visuais, tenho mestrado na mesma área. Sempre que penso em música, penso em imagem. Pra mim, é impossível criar música sem um norte conceitual e estético.

Cuido de todo o meu processo criativo de ponta a ponta, desde a criação das capas dos meus eps e álbuns, até meus ensaios fotográficos, ambientações e cenários. Tudo tem um porquê e uma explicação. Qualquer pessoa que tenha interesse em mergulhar no meu trabalho vai entender que BLANCAh é um pássaro e que em todos os meus trabalhos existem vestígios disso.

Sentimos a originalidade de suas melodias e de seus vocais em suas produções. Sua identidade única já foi muito bem recebida fora do nosso país. Lembra de algum momento único e histórico que você viveu em uma de suas apresentações no exterior? Qual foi o país que mais se conectou com sua identidade sonora? 

BLANCAh – Eu sempre cito a cidade de Beirut como uma das minhas melhores experiências como artista, mas mais pelo fator surpresa que me arrebatou. Eu não fazia ideia de como era a cena no Líbano e me surpreendi muito positivamente como tudo o que ví e vivi lá. O público também é muito caloroso, até hoje tenho fãs que me escrevem de lá.

Recentemente você e Binaryh lançaram o projeto Hiato, também criando uma label juntos. A relação profissional e o contato musical de você com Renée e Camila é bem próximo. Como vocês desenharam esse projeto tão lindo? Como é trabalhar com o casal?

BLANCAh – Chegar ao ponto de criar nossa própria gravadora foi um caminho muito natural pois nossa amizade já começou forte. Foi sinergia, foi reciprocidade, foi afinidade, foi amor a primeira vista, foram todos os ingredientes perfeitos forjando uma relação forte e muito afinada.

Como temos objetivos profissionais muito próximos, e como nos ajudamos mutuamente desde o inicio, nada mais natural do que formalizar isso criando a nossa “casa”, a Hiato. Trabalhar com eles é leve e crescemos juntos a cada dia.

HIATO

Recentemente, em uma campanha para o Dia dos Namorados para a marca Ratier Clothing, muitos de nós conheceram a Larissa, sua parceira. Neste último dia do Mês do Orgulho, como você vê o fato de muitos artistas LGBTQIA+ ainda se “esconderem” dentro do armário? A música eletrônica, que nasceu preta e gay, não está pronta para ter fortes representantes da nossa comunidade?

BLANCAh – A música eletrônica nasceu para isso, ser o discurso e o lugar das “minorias”; o “mercado”, o “business” a ressignificou a ponto de muita gente acreditar que ela não nos pertence mais, mas ela também é nossa sim! Este é um debate longo e complexo e é preciso interesse para que ele seja compreendido. Penso que qualquer pessoa que diz amar música eletrônica, deveria estudar suas origens para entender aonde se forjou o objeto do seu amor.

Como você bem disse… é uma musica preta, gay, trans, marginal. Só isso já deveria bastar para que, no mínimo, muitas pessoas fossem capazes de rever seus próprios pré-conceitos. Eu como DJ, nasci no meio LGBTQIA+, tocando para este público, e mesmo assim nem sempre me sinto confortável de expor minha vida pessoal. Não julgo aqueles que preferem manter suas vidas pessoais preservadas, e admiro aqueles que tem nessa luta a sua causa pois é preciso sim muita força e coragem.

Temos fortes nomes como The Blessed Madonna, Honey Dijon, Maya Jane Coles, Magda, a maioria das DJs que eu admiro são lésbicas ou bissexuais.  Temos vários núcleos como o He She They focados na causa também.  Eu particularmente, hoje tomo muito cuidado para não colocar a minha sexualidade na frente da minha música.

Não quero que gostem mais ou menos de mim por conta da minha orientação sexual, quero que gostem do meu trabalho e do que eu faço primeiro, e que o interesse na minha música desperte a vontade de pesquisar sobre mim. E ao pesquisarem encontrarão a minha história, encontrarão a Larissa, entende?

Acredito que existem formas diferentes de lutar e resistir. Há quem prefira a luta “armada”, o “confronto direto”, a bandeira empunhada. O mundo precisa dessa vanguarda! Há quem lute e represente resistência pelo simples fato de existir transitando em circuitos diversos, rompendo fronteiras e barreiras. Eu já estive do lado mais incisivo dessa luta.

Hoje entendo que o fato de eu ser mulher, artista, lésbica, transitando em circuitos hétero normativos, em porões undergrounds, em grandes festivais internacionais ou no clube local da minha cidade, tocando em peak time como headline, representa para mim resistir.

BLANCAh e Larissa

BLANCAh – Ser mulher, numa cena predominantemente masculina e além disso, ser lésbica, já te causou algum desconforto ou te colocou em alguma situação indesejada? Há alguma mudança de tratamento, quando sabem da sua sexualidade?

Na Verdade coisas acontecem, na nossa frente, nas nossas costas, mas nunca fiz disso um tema ou uma questão. Estou 100% focada no meu trabalho, ou seja, compor, me expressar, crescer. Quando um ato preconceituoso se dirige a mim, eu respondo lançando um álbum novo, saindo em turnê internacional, recebendo algum prêmio ou realizando algum sonho.

Pessoas preconceituosas e limitadas sempre existirão. Nosso papel é não permitir que nos limitem também! Lutar e conquistar todos os meus objetivos é a melhor resposta que posso dar a essa gente!

A música foi a forma que escolhemos para nos expressar. O techno, bem conhecido por não ter vocal em maioria das música, teria dificuldades em lutar por igualdade e pregar contra o preconceito? Como a BLANCAh pode fazer parte dessa luta, através do seu trabalho?

BLANCAh – Sou reconhecida como uma DJ de Techno, mas não me limito a ele. Meu ultimo álbum foi todo produzido numa pegada low bpm, pois meu objetivo maior era falar de amor. Trouxe minha família, meus amigos para dentro dele, e trouxe a Lari. Todo o processo foi muito intimo.

A música ‘Walk in Clouds‘ escrevi para a Larissa. O single foi lançado no emblemático selo Renaissance e ganhou remix do Fur Coat.  Essa é a minha forma de lutar.

Durante anos produzi festas para o circuito LGBTQIA+. Participei de diversas paradas da diversidade. Representei minha cena local ativamente. Hoje o que eu quero é falar de amor através da minha música, dos conceitos que crio e das minhas atitudes. Estou sempre disposta a conversar, a ouvir as pessoas, a responder cada mensagem que recebo, a abrir portas e caminhos para jovens produtores, a dar atenção a quem me pede.

Luto por um mundo melhor de uma forma simples, sendo simplesmente humana e buscando ser a cada dia um Ser melhor.

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Mainstage

Coletivos unem-se no festival online LGBTrance de Rua + Monxtra

O LGBTrance de Rua + Monxtra é o primeiro festival de PsyTrance e vertentes 100% produzido por crews LGBTQIA+ no Brasil e será transmitido via Twitch.

Em meio a pandemia, diversos coletivos precisaram se reinventar, seja para se divertir, criar uma fonte de renda ou até mesmo, disseminar seus ideias. É com a ideia de “colocar fogo nos padrões”, que 3 coletivos se uniram para criar um evento online. LGBTrance, Monxtra e Trance de Rua realizarão, entre os dias 24, 25 e 26 de julho, uma extensa programação de lives na Twitch, com uma produção 100% LGBTQIA+.

o LGBTrance de Rua + Monxtra será “um atentado contra a moral e os bons costumes do conservadorismo da família tradicional brasileira“. Serão três dias de muita música, cultura, arte, subversão e resistência. Na sexta (24), sets e performances de artistas nordestinos darão o tom do evento; já no sábado (25), debates, oficinas, palestras e informações de contracultura e reconstrução social farão parte da programação e no domingo (26), o psytrance volta ao festival, dessa vez com artistas de todo o Brasil.

Pitta, performer do LGBTrance de Rua + Monxtra

Entre os nomes envolvidos no LGBTrance de Rua + Monxtra, estão Yakecan, Arkana, Shankar, Odara, Perséfone, Pitta, isso só para citar alguns. Serão mais de 30 nomes, que vão garantir muita música, arte, cultura e informação em forma de luta contra o fascismo, transfobia, homofobia e o racismo que ousam existir. Totalmente gratuito, o evento acontecerá no canal da Monxtra no Twitch, que você acessa aqui e no evento do Facebook, aqui, você encontra todas as informações, além da programação e horários das apresentações.

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Editorial

PITTA, o psytrance e a luta por liberdade em amar e se expressar

Pansexual, DJ e inserido na cena do psytrance, PITTA é um exemplo de que podemos ocupar todos os lugares, seja ele qual for. Acompanhe nossa entrevista.

PITTA

Um artista multifacetado. Jorge Pitta, ou só PITTA, começou frequentando a cena noturna LGBTQIA+, até que gradativamente, foi ocupando seu espaço de direito na cena do psytrance. Pansexual, ele representa o + da sigla e hoje, conversa com a gente num papo bem cabeça.

Confira nossa entrevista com PITTA, convidado da nossa #PrideWeek 2020

Beat for Beat – Pitta, muito obrigado por topar conversar com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, nos diga: como é ser uma pessoa LGTQIA+ dentro da cena trance? Você acha que ainda há resistência para que o público aceite alguém de nossa comunidade?

PITTA – Eu quem agradeço a oportunidade falar com vocês. É muito importante ter esse espaço pra gente. Muito preciso, na verdade.

Bom, a cena trance tem algumas subdivisões, ramificações de público, mas vou falar de uma maneira mais geral. Existe dentro da cena trance, um espaço pra pessoas LGBTQIA+. Existem projetos inclusivos muito importantes pra nós da comunidade, como o LGBTrance e o projeto Trance de Rua, mas este espaço é algo que precisa de mais visibilidade, mais atenção. Infelizmente, o ramo artístico rico que a cena psytrance possui, ainda é composto predominantemente por homens cisgêneros heterossexuais brancos. Consequentemente isso pesa e tendencia espaços disponibilizados aos LGBTQIA+ e mulheres, tanto aos artistas quanto ao próprio público.

Particularmente dizendo, ainda sinto resistência sim, tanto dos organizadores de eventos quanto do próprio público, em lidar com a presença de pessoas que fogem do padrão heteronormativo que é imposto a nós, não só nas festas, mas no nosso dia a dia.

PITTA no Luar Music Bar

E você já teve dificuldades em marcar uma gig, por ser uma pessoa LGTBQIA+? Sofreu preconceito, injúrias ou até mesmo agressões, enquanto tocava ou frequentava uma festa?

PITTA – Eu não me recordo de ter sofrido injúrias e agressões. Até porque as pessoas que frequentam e organizam a cena trance, costumam criar pra si uma postura inclusiva e “deboísta”, mas infelizmente as coisas não se dão dessa forma. A gente sabe que assim como no nosso cotidiano, o preconceito muitas vezes está presente de maneira velada. As pessoas têm atitudes preconceituosas, que às vezes nem se dão conta, ou fingem não se dar conta. Olhares, dizeres feitos, mas não diretamente a nós, são exemplos de coisas que eu já presenciei e vivi algumas vezes.

Mas na questão artística, é nítido como o preconceito aparece. Ele aparece quando nós olhamos os line ups das festas e nele predomina, ou é inteiramente composto por homens cis brancos heterossexuais, ou quando intervenções artísticas promovidas pela festa, se dão da mesma forma. Até mesmo na pista, quando pessoas que fogem dos padrões que a sociedade nos impõe, ocupam seus espaços somente pra curtirem seu momento, e se deparam com vários olhares de canto de olho, de reprovação, de pessoas apontando (como já vi acontecer). São atitudes disfarçadas, que as pessoas pensam que ninguém vai perceber, que acabam instaurando o medo e insegurança de pessoas como e, de  ocuparem seus lugares na cena.

Você se sente seguro? Confortável, frequentando um ambiente que não te aceita totalmente?

PITTA – Acho que desconfortável é a palavra. Não me sinto inseguro, porque acho que é meu papel resistir e ocupar esse espaço, para que outras pessoas como eu possam também estar ali. Pra que elas futuramente se sintam confiáveis de poder ocupar esse lugar comigo.

PITTA

Falando agora da sua carreira como DJ. Como foi que você saiu da pista e passou a ocupar um lugar no lineup das festas? Você lembra da sua primeira gig?

PITTA – É engraçado como a minha carreira como DJ andou de mãos dadas com minha aceitação e sexualidade. Meu interesse sobre a música eletrônica e mixagem foi despertado justamente quando comecei a frequentar as casas noturnas LGTBQIA+, então fui me aprofundar sobre o assunto. Aprendi as técnicas básicas de mixagem num curso na escola para djs da DJ Fabíola Sellan, que hoje é uma querida amiga.

Mais uma vez na noite LGBT, organizadores de festas que são grandes amigos meus como o DJ Edy Monster, me deram oportunidade de me lançar profissionalmente nesse ramo e me ajudaram bastante no meu aprofundamento como DJ. Com bastante treino, dedicação e ajuda de toda essa galera, incluindo o Viktor, editor do B4B, que me deu o empurrãozinho pra começar lá no início, na minha primeira gig, no Luar Music Bar, em São Paulo, consegui seguir a diante com esse trabalho artístico que é tão bonito e importante. Sou muito grato a toda essa história que construímos até aqui.

PITTA

E o trance? Como ele apareceu na sua vida? Como foi o processo da migração sonora para o que você toca hoje?

PITTA – Quando eu já tocava, comecei a querer ampliar meu repertório. Então comecei a descobrir outras vertentes diferentes das que eu já estava habituado a ouvir. Foi aí que conheci o psytrance. Foi amor a primeira ouvida (risos). Daí então comecei a frequentar festas com esse segmento, para que eu além de poder criar maior consciência sobre o som que eu queria então tocar, poder fazer o famoso network, pra poder começar alcançar novas oportunidades de apresentar meu trabalho e crescer com ele.

Quanto ao processo de migração sonora, a gente sempre aperfeiçoa né? Amplia o repertório, aprende mais um pouco. Quando ingressei na cena trance, eu mesclava entre o progressive e o fullon. Mas depois de um tempo resolvi focar apenas no fullon groove, que era mais a minha praia. Como disse antes, a cena trance se divide em ramificações, então, trabalhando no meio, desenvolvi gosto por outras vertentes e uma delas foi o Darkpsy. Foi aí que dá mesma forma que antes, trabalhei pra ampliar e aperfeiçoar meu repertório para poder atuar ali também.

Atualmente tenho 2 projetos: PITTA (fullon) e Cabron (Darkpsy). Eu resolvi trabalhar com mais de um projeto, porque acho que quando a gente se define muito, a gente acaba se limitando e fazendo as coisas de maneira organizada, acho que conseguimos explorar sempre mais um pouco de nós, artisticamente falando. Tocar uma vertente não pode ser impedimento da gente aprender mais um pouco sobre outra, não é mesmo?

PITTA e Edy Monster

E mesmo que todo o cenário atual seja incerto, quais são os planos pra sua carreira musical? Tem usado este momento de isolamento a favor da sua evolução como artista?

PITTA – O cenário atual deixa tudo meio incerto mesmo. Infelizmente estamos todos passando por tudo isso e é muito triste. Esse momento aconteceu sem a gente esperar, de maneira rápida. Me fez pensar muito sobre a minha vida, sobre tudo que eu queria pra mim, principalmente sobre minhas questões profissionais. Eu trabalho artisticamente não só como DJ, sou ator também. Toda a classe artística foi golpeada por essa situação. A partir daqui, a gente vai ter que se reinventar, assim como o mundo inteiro.

Eu utilizei esse momento de internalização para me aperfeiçoar profissionalmente sim. Pra estudar, pra ampliar horizontes, criar novas técnicas, projetos e planos, pra quando o novo normal se instalar, esses investimentos me prepararem pra integrar um novo mercado de trabalho, que a gente ainda desconhece. Mas que tenho esperança que depois desse tempo de reflexão, seja mais justo, igualitário e inclusivo a todos os profissionais do ramo artístico.

Pra finalizar, que mensagem você quer transmitir para o mundo, através da sua música? Que atitudes você deseja que o mundo adote, para que as diferenças sejam deixadas de lado? Obrigado!

PITTA – A música tocando numa pista não é só uma música. O dever da arte é comunicar. Acima de toda a técnica do DJ, existe alguém que quer, além de proporcionar momentos de alegria, passar uma mensagem. Então, entenda a mensagem, e principalmente: valorize isso.

Por trás de todo meu trabalho, exite alguém que é diferente, e que estando ali, quer mostrar que o diferente também é bom, e também merece ocupar seu espaço. A diferença não está aí pra ser exterminada, mas pra ser além de admirada, respeitada. Não tem problema ser diferente. O errado é tentar ser igual.

VALORIZE A ARTE, em especial, os artistas LGTQIA+ ❤

REBOOT. by DJ Pitta

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Editorial

Divas por uma Diva: Ella De Vuono e o orgulho em forma de música

Mulher cis, lésbica, DJ, produtora e um verdadeiro ícone na comunidade LGBTQIA+ da música eletrônica. Veja nossa entrevista com Ella De Vuono.

Foto: RECREIOclubber

Uma grande amiga do Beat for Beat, Ella De Vuono dispensa imitações. Uma das grandes artistas LGBTQIA+ do Brasil, Ella contou pra gente um pouco sobre sua luta em nossa comunidade, falou sobre preconceito e aceitação, além de criar uma playlist super especial, que celebra a diversidade.

Confira agora nosso papo com Ella De Vuono, convidada da #PrideWeek 2020.

Beat for Beat – Oi Ella, muito obrigado por conversar com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, conta pra gente: você já sofreu algum preconceito ou dificuldade para agendar gigs, por conta da sua orientação sexual? 

Ella De Vuono – Oie, é sempre um prazer falar com vocês! Obrigada vocês por lembrarem de mim e darem visibilidade ao meu trabalho.

Olha, felizmente nunca sofri preconceito em gigs no meio da música eletrônica (clubs e festas), mas teve um job em especial, que era para tocar em um evento corporativo e o cachê era super bom, que fiquei sabendo que não me escolheram por ser lésbica. Segundo o responsável, ele tinha medo que eu desse em cima das mulheres no local. Acredito que esse julgamento dele, deve partir de suas próprias atitudes.

Ser uma mulher cis, lésbica, traz em sua essência a hiper sexualização do seu corpo e até das suas relações, visto que muitos homens ainda possuem fetiche em casais. Você já sofreu assédio ou passou por alguma situação desconfortável, por conta disso?

Ella – Essa é a minha vida. Posso contar no dedo quantas vezes sofri preconceito por ser lésbica, mas as vezes que fui assediada por conta disso, são incontáveis. Por isso que eu e minha namorada não “baixamos a guarda” para nenhum homem que se aproxime, não perdoamos nenhuma “brincadeirinha”, não deixamos passar nenhuma insinuação. A gente já corta no ato, porque simplesmente não toleramos.

Na grande maioria das vezes, um “elogio gentil” (entre muitas aspas) acabou sendo um assédio disfarçado e os homens queriam mesmo tentar alguma coisa. É complicado, pois se não damos moral, somos metidas e arrogantes. Se damos, é que estamos dando mole e queremos ir pra cama com o fulano. Então simplesmente não tem papo. Fez brincadeirinha, eu corto.

Ella De Vuono na Levels

Podemos dizer que assim como no futebol, a música eletrônica transformou-se num ambiente em que se assumir é algo raro e que muitos artistas têm medo do que pode acontecer após “saírem do armário”? Você acha que ainda é necessário se esconder tanto, em pleno 2020 e a que você atribui esse medo todo de dizer quem você realmente é?

Ella – Primeiramente, acho que não existe uma comparação plausível entre música eletrônica e futebol. A música eletrônica surgiu dos guetos, das minorias, dos negros, dos homossexuais, dos excluídos. Liberdade é a palavra de ordem em meio a música eletrônica. Se tem um lugar no mundo que eu nunca nem pensei duas vezes para ser quem eu sou, é em um club, em uma rave.

Lembro no começo, quando me entendi como lésbica (2005), eram nas raves que a gente podia se beijar em público, que a gente podia ser um casal sem medo, mas ainda assim rolavam assédios. Acho que só fui parar de ser assediada em festas como a Carlos Capslock, Gop Tun, Mamba Negra, etc.

Eu acho que nunca é necessário se esconder, nem em pleno 2020 e nem nunca. Acredito que o medo vem de diferentes lugares dependendo da história de vida de cada um, mas ao meu ver, se somos aceitos pela nossa família desde sempre, então esse medo é muito mais fácil de enfrentar em qualquer lugar.

Ella De Vuono na Carlos Capslock

Você é uma verdadeira militante da causa LGBTQIA+. Como DJ, você busca tocar artistas da nossa comunidade, dentro dos seus sets? Além de atos, como você passa a mensagem de respeito durante suas apresentações?

Ella – Sempre que eu posso, toco músicas de artistas que se enquadram nas “minorias”, mas isso não é um fator fundamental para mim. Pois na questão musical, eu levo em consideração a música e apenas ela, gênero, orientação sexual, etnia ou raça, não é determinante.

Minha mensagem é passada de diversas maneiras, visualmente na minha performance, roupa e maquiagem. E na minha música, tanto nas minhas produções que são carregadas de mensagens que trazem diversas questões sociais, quanto em acapellas aplicadas em cima de outras músicas, seja trecho de discursos, ou de entrevistas ou até mesmo de alguma outra música.

Foto: RECREIOclubber

Na playlist que você criou pra gente, você colocou grandes artistas LGBTQIA+, além é claro, das Divas supremas, como Madonna, Cher, Diana Ross. Qual o tamanho da influência dessas artistas no seu trabalho e como você tenta traduzir isso no techno?

Ella – Amo! A influência dessas mulheres é gigantesca na minha carreira, meu amor pela Madonna é super escancarado, todo mundo que me acompanha sabe. Para mim, essas mulheres e muitas outras como Nina Simone, Grace Jones, Rita Lee e Maria Bethânia por exemplo, são uma inspiração de que não se separa a artista da pessoa. Que ser uma figura como elas, está sim, em suas atitudes e valores. Que nossa arte tem que ir de encontro com nossos valores e posicionamento.

Eu sempre jogo uma acapella da Madonna, da Lady Gaga, Cher e até da Leandra Leal em cima de algum techno ou house. Além disso, tenho músicas autorais com trechos de entrevistas ou discursos delas também.

Podemos dizer que hoje, o techno é a cena mais inclusiva da música eletrônica. São cada vez mais comuns, festas em que os corpos são livres e podemos ser quem realmente somos. Qual a sensação de fazer parte de um coletivo que foi um dos grandes responsáveis por essa revolução de liberdade de expressão?

Ella – A sensação é de orgulho e pertencimento. Eu amo a Carlos Capslock e já amava sendo apenas frequentadora, depois que entrei para o coletivo como residente, eu pude ver que essa mensagem é realmente genuína, que eles realmente se importam com a cena, com os frequentadores e com todo o staff. Acho que um exemplo disso que estou falando, é a Vakinha que a Capslock está fazendo para conseguir alguma renda para todo o staff que ficou sem trabalho com o cancelamento de todas as festas deste ano.

Como eu já citei acima, nunca esqueço da sensação de alívio que tive de passar uma festa inteira curtindo numa boa sem ter sido assediada. E quem educa parte do público que não recebeu tal educação de berço, é a festa.

Pra finalizar, o que a Rafaella diz todos os dias, para a Ella De Vuono? O que move a sua luta diária, para mostrar para o mundo, que todos somos iguais? Obrigado!

Ella – Acho que a Rafa fala assim: Ella, beesha cê tá arrasando! Continue assim porque eu dependo da senhora pra viver!

O que me move é exatamente a inconformidade de ficar calada. Como me calar diante de tanto ódio? De tanto preconceito? Me manter neutra é ser conivente com tudo de ruim, é medíocre, é raso. Parafraseando Bob Marley: As pessoas pessoas que tentam tornar esse mundo pior não tiram um dia de folga. Como eu vou tirar?

Obrigada você pelo espaço, espero que gostem da playlist.

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Via UnderGROUND

Honey Dijon participará da Parada LGBTQIA+ de NY em formato live

Uma das paradas do Orgulho LGBT mais famosas do mundo, receberá um set especial de Honey Dijon, que será transmitido pela The Lot Radio.

Honey Dijon

No próximo dia 28 de junho, é comemorado o Dia do Orgulho LGBTQIA+ em lembrança a revolta da Stonewall, de 1969, marco importantíssimo na luta do movimento à diversidade e a cidade que foi palco para tal episódio, não deixaria a data passar batido. No próximo fim de semana, Nova York celebrará o amor em todas as suas formas, com uma transmissão especial.

Já que o mundo ainda sofre com os efeitos da pandemia, a tradicional Parada do Orgulho LGBTQIA+ de NY não acontecerá, mas o grupo de promoters novaiorquinos Wrecked, The Carry Nation, Good Room e Elsewehre se uniram e irão realizar uma live de 56 horas, que será transmitida pela The Lot Radio.

Começando na sexta, dia 26, às 16h (horário de Brasília) e indo até segunda (20), às 02h, o evento reunirá grandes artistas da comunidade, entre eles Jasmine Infiniti, Dee Diggs, Jason Kendig, Mike Servito, quest?onmarc, Ron Like Hell, além de uma das DJs e produtoras mais requisitadas da house music atual, Honey Dijon.

Cumprindo com seu papel social, os organizadores da transmissão também pedem doações, que serão divididas entre algumas organizações que dão suporte a comunidade preta e LGBTQIA+. Você poderá ouvir a transmissão da maratona de 56h no site da The Lot Radio, clicando aqui e por lá, também conseguirá fazer suas doações.

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Editorial

Las Bibas from Vizcaya, a arte drag e o tribal como produto nacional

Ela começou tocando em Recife, até se transformar numa das pioneiras em levar a arte drag para as picapes. Leia nosso papo com Las Bibas From Vizcaya.

Las Bibas From Vizcaya | Foto: Renato Filho

Natural de Recife, Las Bibas from Vizcaya começou sua carreira ainda nos 80, atuando em clubs voltados a um público diferente daquele que a consagraria. Drag queen, DJ e produtora musical, ela carrega em suas músicas, a militância.

Representando a letra Q da sigla LGBTQIA+, confira agora a nossa entrevista com Las Bibas From Vizcaya para a #PrideWeek 2020 do Beat for Beat.

Beat for Beat – Olá Las Bibas, muito obrigado por conversar com a gente nessa semana tão importante para nós. Para começar, nos diga: como é ser uma DJ drag queen, na cena eletrônica nacional? Você ainda sofre muito preconceito ou resistência com relação a contratantes dentro e fora do mundo LGBTQIA+?

Las Bibas From Vizcaya – Dentro do mundo LGBTQI+ não mais, mas ate uns 3-4 anos atrás, alguns contratantes me olhavam atravessado, talvez por não pesquisarem sobre a minha trajetória ou o meu trabalho. Eu me aventuro em diversas aéreas: vídeo, podcast, na arte drag. Acredito que eles achavam que eu faria de tudo, menos tocar… bobinhos! (risos).

Fora do Universo LGBTQI+, quando eu tocava (hoje não mais), os contratantes eram mais antenados. Lembro de uma vez que toquei no  D-EDGE e o club fez uma mini matéria minha, na página deles, falando de mim e o meu trabalho como DJ.  Achei tão incrível que printei e guardo como um quadro de parede (risos).

Você é uma das pioneiras em levar a arte drag para as picapes, além de ser uma grande produtora musical. Você tem mais de 30 anos de estrada, já que começou em 1984. Como foi o começo da sua carreira, com relação a sua orientação sexual? Tem alguma coisa que você percebe que não mudou, mesmo depois de tantos anos?

Las Bibas – Eu comecei em clubs mais direcionadas ao público hétero, mas já estava fora do meu armário, porém  de maneira “discreta e no sigilo” (termo utilizado em apps de relacionamento). Eu não imagina que um dia, tocaria montado em drag e cá estou hoje.

Mesmo sendo gay, nunca tive problemas em casas/festas “ht”, mas resolvi migrar para os eventos LGBTQIA+ no início dos anos 90, ainda lá em Recife, minha cidade natal, quando a coisa começou a tomar mais forma. Pra vocês terem uma ideia, nos 80, em Recife, só existia praticamente 1 club LGBT e alguns bares, foi nos anos 90 que começaram a surgir vários clubs.

Mudou muita coisa de lá pra cá, mas algo que o público LGBT ainda tem, e que difere do público hétero, é fidelidade com um club, por exemplo. Nossa comunidade chegava a passar 5-10 anos na cena noturna e mesmo que hoje, gerações mudam a cada 3-2 anos, manter-se fiel a um local não mudou. Durante um mesmo ano, por exemplo, você consegue ver quase os mesmos rosto na pista, figurinhas carimbas e isso bom, pois você cria laços com o público e faz até amigos.

Las Bibas From Vizcaya na The Week

A comunidade LGBTQIA+ adotou o tribal como um dos seus gêneros preferidos e no Brasil, ele ganhou novas formas. Uma sonoridade diferente. Como é ser referencia na produção musical de um estilo que ganhou a cara brasileira e a que você atribui esse grande sucesso entre a nossa comunidade?

Las Bibas – A comunidade LGBTQIA+ sempre foi um gueto nos 70, 80 e 90, e sendo um gueto, a sonoridade sempre foi mais fechada e peculiar. Sendo assim esse som pouco mudou, pouco evoluiu e apenas se moldou a uma sonoridade atual, unido-se a outros estilos que a nossa comunidade consome, como o groove do funk, as percussões do samba e a energia da EDM. Até hoje, a música que consumimos segue essa linha, baseada em elementos clássicos e sobretudo nas divas e nos seus vocais.

Além do tribal, você usa elementos de outros gêneros, como o house, que é genuinamente LGBT. Como você vê a questão de um gênero que nasceu preto, gay, tornar-se algo das massas e perder um pouco da militância em cima da qual ele foi criado? Como você vê a importância de transmitir uma mensagem de liberdade de expressão através da música?

Las Bibas – Dentro da cena, meu som é um dos mais “diferentões”, pois eu tenho um compromisso social com a música. Eu gosto de levar mensagens subliminares, de resgatar o passado, repagina-lo e trazê-lo para as novas gerações. Talvez esta seja a minha militância: através da música.

Se tive a sorte de passear por diversas casas, gostar e tocar diversos gêneros musicais, eu me acho na obrigação de trazer essa diversidade musical para a minha pista, mas com as limitações, para não fugir do estilo preferido da nossa comunidade.

Hoje você é figurinha constante em diversas festas do Brasil e até do mundo. O que de mais diferente, culturalmente falando, você encontra nas diversas festas por onde vai? O que te surpreende e te incomoda mais nos hábitos regionais de cada lugar que você passa?

Las Bibas – A internet unificou o mundo. Hoje, o que se toca em Nova York, também toca no club mais longínquo de qualquer interior do brasil. O que me incomoda é que o som ficou mais “pop”, mais comercial e perdemos um pouco o espaço de podermos mostrar algo novo ou diferente, mesmo que seja um hit do passado reciclado.

O público tem sua parcela de culpa. basta vermos o charts das plataformas de streaming do Brasil, para termos uma noção do nível musical do país, mas os maiores culpados são os próprios DJs. A profissão ficou de fácil acesso a todos e hoje, temos muitos “influencers”, blogueiros, ou pessoas que apenas tem uma rede social bombada, mas que não possuem nenhuma bagagem musical e estão ocupando o lugar de verdadeiros profissionais.

Vários DJs incríveis do passado, hoje mal tocam ou são convidados, pois não se encaixam mais no perfil do “DJ superstar” ou não entram na sonoridade atual. Será que eles ficaram datados? Ou será que a musica de hoje é tão descartável, que fez esse desserviço a comunidade?

Você possui uma vasta carreira na produção musical. Seu último single, ‘The Art of Sampler 5: Octavia St Laurent’, ganhou as plataformas digitais recentemente. Conta pra gente a história por trás da track e seu processo criativo na construção dela.

Las Bibas – Estamos no mês do orgulho e eu queria lançar algo muito #pride neste mês. Esse meu projeto, chamado “The Art of Sampler“, começou como uma brincadeira-desafio, onde eu sampleio tudo da música (de músicas famosas inclusive) e tento recriar em algo novo. Passei a gostar tanto, que já vou pro quinto lançamento.

Octavia  St Laurent foi uma ativista transexual, drag, negra, latina da cidade de Nova Iorque e educadora sobre questões do HIV/AIDS. Ela está no famoso e indispensável documentário “Paris is Burning” e ainda atuou na linha de frente pela visibilidade da comunidade LGBTQIA+,  ou seja, a gata foi um ícone underground pouco reverenciada e conhecida dessa nova geração. Ela tem frases icônicas que eu usei na música, como por exemplo: “Gays têm direitos, lésbicas têm direitos, homens têm direitos, mulheres têm direitos, até animais têm direitos. Quantos de nós temos que morrer, antes que a comunidade reconheça que não somos dispensáveis?”

Essa track é um tributo a ela e uma militância sonora minha. Se algumas pessoas ouvirem, pesquisarem melhor sobre Octavia e descobrirem quem ela foi, minha missão foi bem sucedida.

E pra finalizar, que conselho você pode dar para seus fãs que almejam uma carreira musical?

Las Bibas – Você tem que amar a música, casar com ela, se dedicar e sobretudo, estudar, pesquisar o passado, para entender como chegamos nesse presente-futuro atual. Acho que isso serve pra qualquer profissão, né?

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