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Entrevista

Entrevistamos: Mamba Negra no The Town

Representando a mamba negra, uma das maiores festas undergrounds de São Paulo, Paulete Lindacelva e Valentina Luz brilharam no New Dance Order do The Town.

Valentina Luz e Paulete Lindacelva no The Town (I Hate Flash, 2023)

Corpos livres, união, respeito, admiração à música e um transe absoluto do tempo coloquial. Se você já foi até uma Mamba Negra com certeza já sentiu todo esse impacto bem próximo do seu estado de êxtase. O selo foi homenageado no palco New Dance Order, do The Town, maior festival de música de São Paulo, trazendo para o encerramento de palco Paulete Lindacelva e Valentina Luz, duas representações da comunidade LGBTQIAPN+, que abraçaram a identidade da Mamba, após o acolhimento que tiveram, tão próximas de sua liberdade.

Valentina Luz tem um repertório que inclui house music, techno ou até funk nacional. Paulete Lindacelva completou nove anos de carreira como exímia pesquisadora dos sons essenciais da house music, techno e outras vertentes. Ambas se encontraram nos palcos e também deram uma palavra conosco, para celebrar seus anos de Mamba:

Mamba Negra Showcase no The Town (I Hate Flash, 2023)

Beat for Beat – Olá, meninas, tudo bem? Preciso comentar que ambas, tanto Valentina quanto Paulete, foram duas de nossas entrevistas mais acessada do nosso site e vocês são sempre queridas por nossos leitores. Para começar, gostaria de saber como é para vocês representarem uma festa tão importante como Mamba Negra aqui no The Town e como foi criar e transcrever esse convite em um set.

Paulete – Ah, eu acho que foi uma delícia, foi gostoso. Óbvio, é uma honra, tá? Dividir no palco, já falei isso inúmeras vezes, com a cabeça da mama negra, Valentina Luz, que foi considerada a melhor deles no ano de 2021. Então, óbvio, eu repetir isso sempre, é uma honra pra mim, é uma delícia, é um deleite. Tantos outros coletivos que passaram neste palco e foi uma curadoria muito respeitosa em ceder espaço para quem de fato constrói a noite de São Paulo, com a essência underground, que remonta as geografias afetivas dessa cidade e do que é a essência da música, de que é a sonoridade paulistana real.

Valentina – É sempre uma honra fazer parte desse coletivo tão rico e que cede tantas oportunidades e que hoje pode dar essa oportunidade para nós, que já tínhamos essa vontade de tocar juntas, então amei muito. Eu sempre admiro muito o trabalho da minha amiga Paulete Então, acho que a gente até acabou trocando sobre isso, sabe? Somos corpos livres e hoje o nosso set também traz uma troca entre nós que já existia, construindo uma narrativa sob um DJ set que só o nome da Mamba traz. Durante muito tempo achei difícil disso acontecer, eu não esperava, mas está acontecendo.

 

Beat for Beat – Nós também ficamos muito emocionados em ver vocês celebrando juntas. É muito representativo para nós LGTQIAPN+. E a base do DJ set, você chegaram a construir juntas ou será na raça?

Valentina – Acho que a gente já se conhece bem, a “lete” já toca bem mais tempo que eu, nós até já tocamos algumas vezes, mas nada oficial como agora sabe. Então sempre teve essa vontade. Eu acredito que podemos ter uma liberdade criativa nesse back to back. Lógico que a gente conversou, a gente até queria se encontrar, mas eu acho que é a energia da banda mesmo, sabe? Que a gente tem que trazer na hora do show. Eu realmente levo meu free style e sempre dá bom.

Paulete – Pra mim também funciona da mesma maneira. A gente, inclusive, se ligou, trocou mensagem pra saber quais eram as expectativas sobre a noite e tal, mas enfim, né? Quem sabe faz ao vivo. Bora ver.

 

Beat for Beat – A Mamba é uma das principais representantes da cena underground de São Paulo. Como vocês analisam, não só a Mamba, mas a cena como um todo, comparada a outras cenas locais do mundo?

Valentina – Das trocas que tive acho que o Brasil é sem dúvida, único. O público é único e nós sim somos a crista da onde, as nossas sonoridades ocupam espaços, são até meio cooptadas, também temos pluralidade a nível musical, não só no Brasil, mas como em outros países da América Latina. Temos grandes produtores, grandes DJs e temos grandes surpresas como a retomada da importância do funk 150 bpm e suas novas experiências. Enfim, o Brasil é singular e único neste contexto.

Paulete – São Paulo é incrível. Tenho passado os últimos meses viajando muito e voltar para casa é sempre tão bom. De um barzinho que você consegue tocar para no máximo 50 pessoas e que em minutos tudo se torna um acontecimento, com todos dançando. As pessoas dançam. As pessoas daqui estão interessadas em conhecer o novo e eu sinto que meu trabalho é reconhecido aqui. Sempre tive muito medo de sair de casa, mas hoje me sinto segura aqui e nosso papel, meu e da Valentina é se levar esse pedacinho daqui para o resto do mundo. Levar essa energia contagiante para outros locais.

Mamba Negra Showcase (I Hate Flash, 2023)

Beat for Beat – Para finalizar nossa conversa, eu acho que vocês duas já pegaram muuuuuitas mambas, mas quando a gente fala sobre aquele momento que vocês viveram na mamba negra, o que vem à cabeça?

Valentina – A melhor mamba da minha vida foi a mamba com Fango. Foi uma das minhas primeiras, assim e era uma festa mais intimista, enfim, perto do que está hoje, mas eu lembro que eu não conseguia acreditar, estava amanhecendo, as performances acontecendo, a galera perfeita!

Paulete – A minha, com muita dor no coração, foi a “água de chuca”, dezembro de 2018. Queimei meu celular, dancei muito, me acabei muito, não estava trabalhando, no fim eu peguei minha bolsa e o celular queimado, depois de tanta água, uma loucura, uma delícia, apoteótica diria. Uma hecatombe de amor, foi maravilhoso!

Beat for Beat – Muito obrigado pela entrevista meninas!

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Entrevista

Entrevistamos: Kenya20hz no The Town

Apresentando seu projeto Chaos Sonora, Kenya20hz conversou conosco sobre seu início de carreira, análise ao cenário underground brasileiro e próximos passos de sua carreira. Leia na íntegra.

Kenya20hz no The Town (por I Hate Flash, 2023)

Quando falarmos sobre Kenya20hz, podemos encontrar qualquer sinônimo de artista. DJ, produtora musica, redatora, apresentadora e investigadora cultural, natural do Rio de Janeiro, Kenya iniciou sua carreira na Red Bull Music Academy e com sua sonoridade plural, atingiu diversas pistas no Brasil e no mundo todo. Figura presente nas maiores festas undergrounds de São Paulo, incluindo selos Gop Tun, Selvagem, Mamba Negra, Carlos Capslock e Cardume, Kenya atingiu sua melhor fase sem sua carreira, ao apresentar o projeto Chaos Sonora, no palco New Dance Order do The Town, maior festival de música de São Paulo.

Kenya retornou da Europa com uma bagagem expressiva em outras cenas underground, passando pelo Time Warp Brasil, Love Family Park, na Alemanha e também shows por outras capitais, como Londres. A carioca é símbolo de representatividade das mulheres pretas, na cena eletrônica brasileira, que sob resistência, ganha cada dia mais espaço em grandes palcos por nosso país. Leia a entrevista completa que fizemos com Kenya20hz no The Town:

 

Beat for Beat: Kenya, primeiramente é um prazer falar com você. Somos seus fãs, já vimos diversos de seus sets, em vários eventos espalhados por São Paulo e sabemos de toda a importância do seu trabalho para o circuito underground brasileiro. Para começar, sua carreira iniciou lá em meados de 2015,2016. Como aconteceu e quais foram suas principais influências, o que você levou daquela época até hoje?

Kenya20hz: Minhas principais influências na música eletrônica começaram quando saí do Rio de Janeiro e muito morar em Brasília, que tem uma cena underground muito sólida, mesmo que não tão grande. Ia para muitos festivais de dark psy, de hi-tech e aí eu pude conhecer tecnologias, gêneros e estilos que não conhecia no Rio. Passei a investigar mais sobre esses gênero e aí somando a isso, na época, havia uma crescente da cena dubstep na faculdade, onde eu estudava tinham várias festas clandestinas de dubstep e eu frequentava. Foi rápido para eu baixar o Virtual DJ, por mais clicê que pareça e seu sempre tive a curiosidade. Escutar uma música, ver um DJ tocando que nunca ouvi. Eu não sou o tipo de pessoa que pega o Shazam para saber que música é, eu gosto de pesquisar, encontrar caminhos que me levem até aquela sonoridade e nestes caminhos encontrar novas músicas, novos gêneros e subgêneros, se você for cavando a música eletrônica, você vai descobrir gêneros desconhecidos para a maioria das pessoas.

 

B4B: E quanto a Red Bull Music Academy? Como surgiu a ideia de se inscrever?

Kenya20hz: Eu estava curiosa e interessada em coisas que eu não sabia que iria encontrar na faculdade. E aí, somado a isso, o destino me fez passar numa residência na Red Bull Music Academy, então saí de Brasília e fui pro Rio de Janeiro, deixei a faculdade e comecei a estudar música integralmente e minha pesquisa sempre foi muito aceita por meus colegas e não só por eles, mas só por eles. Saí da baixada fluminense para Tocar num Time Warp, para tocar num Love Family Park Festival…

 

B4B: Você já passou nos principais festivais e festas underground do país. Praticamente a maioria, como você analisa a cena undeground hoje?

Kenya20hz: Temos uma magia muito forte na nossa cena sabia? Eu tive a oportunidade de ir pela primeira vez agora pra Europa e senti algo novo para mim, era minha primeira vez lá. Conheci cinco países diferentes e pude ver rapidamente a cena de cada lugar e suas particularidades. Em Londres você tem mais Garage, Dubstep, em Berlim você tem mais techno, mas o Brasil é diferente de tudo isso e o público ajuda muito na nossa cena, são tanto formatos de se pensar, que isso foi agregado na nossa cena. Se você for em uma festa como a Mamba Negra, você consegue sentir do primeiro ao último slot, várias sonoridades. E não digo só de São Paulo, cada capital diferente tem sua microcena, seu público que deixa tudo diferente e o que eu acho que falta ultimamente é mídia para registrar tudo o que está acontecendo, em seus determinados lugares de origem, a gente ia ver o quanto o Brasil é rico, especialmente a música eletrônica, a música contemporânea que o Brasil produz.

 

B4B: Falando um pouco sobre o Chaos Sonora, esse projeto lindo que você trouxe especialmente ao The Town, como surgiu o convite e a oportunidade de trabalhar com a Dharma Jhaz, cantora, rapper e performer sonora e o Bica, trombonista e percussionista?

Kenya20hz: Então, quando esse convite chegou para mim,  uma das propostas que me fizeram  era participar dessa programação,  mas trazendo algo totalmente inédito.  E aí eu falei,  tá, o que é que a gente vai fazer? E eu sou uma apreciadora de música instrumental. Eu amo música instrumental, não importa o gênero, queria muito poder agregar o trabalho de um instrumentista para o meu som. E logo que comecei a planejar isso, eu fiz o convite para o Bica que já conhecia o trabalho dele através da Teto Preto e a Dharma Jazz é uma figura que está sempre aqui em São Paulo. Ela é de Curitiba,  mas está sempre aqui em São Paulo, fazendo alguns shows e tal e deixei claro que estava com uma ideia maluca e o The Town e o New Dance Order adorou a ideia. E hoje eu pude experimentar, né?  Eu pude ver em primeira mão ali, que esse experimento deu muito certo. Eu quis colocar o DJ como um regente, mas não só de instrumentos analógicos, mas de uma plataforma digital e deu super certo. Fiquei muito feliz, espero expandir o Chaos Sonora para outros tipos de formato, com outros artistas e outros instrumentistas também.

Bica, instrumentista do projeto Chaos Sonora, no The Town (Por I Hate Flash, 2023)

B4B: Para finalizar, o que podemos esperar da Kenya20hz até o fim de 2023? Sabemos que você vai tocar no Tomorrowland.

Kenya20hz: Eu estou muito feliz por isso,  então esperem,  essa apresentação vai ser muito especial. Eu vou explorar muito da minha autoralidade . Eu trouxe algumas músicas minhas hoje para cá,  mas eu espero no Tomorrowland estar trazendo bem mais.  Sempre trazendo curadoria e autoralidade.  Para até o final do ano,  a gente vai viajar de novo para a Europa, então tem show em terras estrangeiras,  estou muito feliz sobre isso. E a gente está avançando,  arrumando lançamentos muito importantes e quero que vocês estejam cobrindo tudo isso também.

Chaos Sonora no The Town, 2023 (Por I Hate Flash)

B4B: Com certeza, por favor. Muito obrigado por esta entrevista maravilhosa Kenya. Mande um beijo para todos nossos leitores do B4B.

Kenya20hz: Um beijo para a galera do Beat for Beat.  Espero que vocês possam assistir o meu show, em vários tipos de oportunidades. Fico muito feliz em poder fazer o som que eu faço. Espero poder alcançar todos vocês. Até breve.

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Review

New Dance Order, o paraíso particular dentro do The Town

Com sons para todos os tipos de gostos, o New Dance Order desembarcou em São Paulo, para a estreia do The Town e nós estivemos lá.

Foto: RenanOlivetti

Pela primeira vez, o Autódromo de Interlagos ganhou novas cores e sons. Pela primeira vez, o palco Skyline erguia suas estruturas diante de nós. Pela primeira vez, o New Dance Order aterrissou em São Paulo. O The Town, finalmente, fez a sua edição inaugural na capital paulistana.

Falar de um festival tão diverso e com várias atrações, algumas até simultâneas, é uma tarefa difícil, mas quando voltamos nossas atenções para um dos palcos em especial, conseguimos dissertar com mais detalhes a experiência vívida, o que faremos nos próximos parágrafos.

Desde seu primeiro dia, o The Town apresentou uma curadoria impecável para o palco New Dance Order. Do funk ao techno, do experimental ao house, uma pluralidade de sons tomou conta de um dos cantos mais remotos do Autódromo. Foi ali, em nosso paraíso particular, que assistimos a shows inesquecíveis e muitas das vezes, com pouco público.

Kenya20hz | Foto: Paulo Oliveti

Logo no primeiro dia deixamos preconceitos de lado e abraçamos a música eletrônica popular brasileira, com um toque da Batekoo. Música preta e funk se entrelaçaram com trap, house e outros estilos, mostrando que a dance music vai além dos padrões. Reafirmando sua importância no cenário nacional, Tropkillaz apresentou um show digno de seus 10 anos, arrebatando nossos ouvidos e conquistando novos fãs.

Já o dia 2 de setembro, assinado pelo coletivo Carlos Capslock, trouxe a irreverência das noites undergrounds da cidade. Muita montação no palco e corpos dançantes na pista. Num dia em que sons mais clássicos tomaram conta do potente sistema de som, Paul Kalkbrenner fez um verdadeiro espetáculo, brindando um público seleto com um showcase quase particular. A excelência em forma musical.

Paul Kalkbrenner | Foto: Oliveti

O feriado de 7 de setembro amanheceu com o sol brilhando, pedindo por mais música. No New Dance Order, soul, house, sonoridades brasileiras e músicas que aquecem a alma ditaram o ritmo do dia. Ver L_cio tocando ao lado de sua mãe, Laura Schwantes, enquanto performavam a música ‘Florescimento’, nos fez sentir a música de uma forma nunca antes sentida. Era amor, traduzido em ondas sonoras.

Enquanto o público se preparava para o Foo Fighters em um ponto do festival, no outro a história da música eletrônica era vivida. Inner City e Kevin Saunderson resgataram as raízes de tudo o que conhecemos e nos apresentaram uma verdadeira aula musical. Badsista fez história ao receber Marina Lima no palco, enquanto a Mamba Negra era bem representada por Paulete Lindacelva, Valentina Luz e Cashu. A diversidade musical, explícita e exposta diante dos nossos olhos.

Inner City | Foto: RenanOlivetti

O último dia de New Dance Order fez o Autódromo ferver. Desde contatos de outro mundo, feitos por Paradise Guerrila ao encontro entre Boratto e Emerson em formato live, pudemos sentir nossos corpos sendo aquecidos e as almas preenchidas com o melhor do que pode existir na música eletrônica. O coletivo ODD, com Davis, Vermelho e Zopelar, encerrou de forma apoteótica uma maratona da mais altíssima qualidade.

Só é triste ver que um palco tão grande, em muitos momentos contou com um público bem pequeno. Ter um line-up divulgado após ingressos serem esgotados pode ter prejudicado fãs que adorariam estar ali ou quem sabe, uma logística que aproxime melhor o público geral da nossa pistinha tão amada.

De uma coisa temos certeza: cheio ou não, o New Dance Order fez da sua estreia em São Paulo, algo a ser lembrado para sempre. Te esperamos em 2025.

Confira nossa cobertura completa no Instagram.

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Editorial

Mamba Negra e Inner City, pluralidade e história no palco do NDO

Mostrando toda a sua pluralidade com força total, o NDO do The Town receberá o coletivo Mamba Negra e o lendário grupo Inner City.

O segundo sábado do The Town promete grandes emoções para os fãs da música eletrônica. No New Dance Order, assistiremos artistas que possuem uma grande representatividade na cena LGBTQIA+ paulistana, além de vivenciarmos uma verdadeira aula de história musical, que provará o quão sofisticada está a curadoria do palco, com nomes grandiosos e trarão ainda mais imponência para um line-up estrelado.

09 de setembro, a música eletrônica plural

Que a house music nasceu preta e LGBTQIA+, todos deveriam saber e vai ser nesse estilo de resgatar as raízes do que é nosso por direito, que o NDO apresentará os artistas do dia 09/09. KENYA20HZ, Aerea e Renato Cohen, o primeiro grande brasileiro a emplacar um hit de techno mundialmente, estarão ao lado do lendário grupo Inner City, com set especial de Kevin Saunderson, enquanto Badsista se une a Malka, Vênus e Marina Lima. O coletivo Mamba Negra encerra o dia com Cashu, Paulete Lindacelva e Valentina Luz.

KENYA20HZ, através da construção de narrativas sonoras potentes e imprevisíveis, vai trazer ao palco um encontro entre DJ set e live performance inédito. A fusão entre sons orgânicos de instrumentos de percussão e de sopro mixados, representam os barulhos da cidade. A artista convida para participar do seu show 2 multi-instrumentistas: Dharma Jhaz, cantora, rapper e performer sonora; e Bica, trombonista e percussionista desde 1999. A formação será inédita e exclusiva para o festival!

Como um fio que liga os sentimentos mais profundos e a forma como se expressam, trazendo para a superfície o que está escondido. Assim podemos definir a música do AEREA, fruto de uma parceria do casal espanhol Al’ e Caar. A capacidade de confundir os limites dos subgêneros, transformando cada faixa e set em uma experiência altamente estimulante são as características mais marcantes na música do AEREA.

Renato Cohen, o primeiro brasileiro nos charts eletrônicos

Com quase 30 anos de carreira, Renato Cohen é um ícone da música eletrônica nacional. Com seu super hit “Pontapé”, lançado em 2002, o artista colocou a dance music brasileira em um novo patamar. Experimentando os mais diferentes tipos de sons e culturas, Cohen desenvolveu uma identidade sonora marcante que transita entre techno, house e disco.

Renato Cohen

Innet City e a história sendo contada ao vivo

Inner City foi formado em 1987 pelo produtor musical e DJ Kevin Saunderson e a cantora Paris Grey, seus primeiros singles “Big Fun” e “Good Life” alcançaram o topo da Billboard dos EUA. Depois de três década de carreira, Dantiez, filho de Kevin Sauderson, passa a integrar o grupo. O primeiro single da nova formação é “Good Luck”, lançado em 14 de abril de 2017.

Badsista e seu Ghetto Elegance

Badsista é uma das produtoras musicais brasileiras de maior projeção no Brasil e no mundo. Marina Lima é cantora e compositora e soma mais de 20 álbuns e dezenas de hits como “Pra Começar”, “À Francesa”, “Fullgás”, “Virgem”, “Uma Noite e ½”, “Pessoa” e “Me Chama”. Elas estarão em cima do palco com as instrumentalistas Malka Julieta e Vênus Garland e a percussionista Dominique Vieira. Uma formação inédita, exclusiva para o The Town.

Mamba Negra e a força LGTBQIA+

Mamba Negra é uma festa independente que alinha arte, protagonismo feminino e LGBTQ+. Uma manifestação física da alma da cidade, a sintonia perfeita com The Town.

Valentina Luz, Paulete Lindacelva e Cashu serão as residentes que vão representar no NDO. Valentina tem um repertório que inclui house music, techno ou até funk nacional.  Paulete Lindacelva completa nove anos de carreira como exímia pesquisadora dos sons essenciais da house music, techno e outras vertentes.  Cashu é dj e uma das peças-chave da cena queer underground eletrônica da cidade de São Paulo.

Os ingressos para o dia 09 estão esgotados, mas ainda existem alguns disponíveis para os dias 02 e 07, que você pode comprar o seu clicando aqui.

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Via UnderGROUND

Mamba Negra anuncia Festival para seu aniversário de 10 anos

Uma das festas mais icônicas da cena underground paulistana, a Mamba Negra ganha seu próprio festival de 10 anos.

Foto: @ivimaigabugrimenko

A cena eletrônica underground paulistana é algo completamente único. Com um ecossistema próprio, que vive e resiste em meio ao caos, a cena busca ser plural e totalmente contra preconceitos, criando espaços seguros e inclusivos. Com festas para todos os tipos e gostos, desde as menores até as que ocupam grandes galpões, algumas destacam-se por sua história e uma delas, com certeza é a Mamba Negra.

Completando 10 ANNNUX em 2023, a festa que é uma das mais importantes e consolidadas da cidade de São Paulo, dará um grande passo em sua trajetória e realizará no dia 27 de maio, seu primeiro Festival, em comemoração a sua primeira década de vida. Com novas atividades, experiências, encontros e articulações, o Mamba Negra Festival será um marco no cenário underground.

Sem atrações confirmadas e o local ainda secreto, mas que promete ser inédito, o Mamba Negra Festival trará artistas icônicos, nacionais e internacionais, seguindo o padrão Mamba de ser. Como a descrição do evento diz, será uma “celebração de uma década de perturbação das maiores e mais venenosas kokobras do Brasil”. Alguém tem dúvidas de que será algo histórico?

Os ingressos para o Mamba Negra Festival já estão disponíveis. Você pode clicar aqui e acessar a plataforma Shotgun para garantir o seu. Não deixe de seguir o evento no Instagram e fique pode dentro das novidades, que também postaremos por aqui.

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Entrevista

Entrevistamos: Paulete Lindacelva

A artista que é sinônimo de diversidade, Paulete Lindacelva, acaba de entrar para o cast da SmartBiz e conversou com a gente. Confira!

Foto: RECREIOclubber

por Rodrigo Airaf

Entre os nomes mais prolíficos da cena de São Paulo e que trilham também um caminho de consolidação a nível nacional, Paulete Lindacelva embarca em seu nono ano de carreira com uma novidade: é a nova integrante do cast da agência SmartBiz, posicionando-se entre artistas que são colegas dos movimentos independentes do qual faz parte, como Gezender, Valentina Luz e Nikkatze, e reforçando o propósito da agência de abraçar essas iniciativas e ampliar o espaço para esses artistas.

Paulete é natural de Recife e, tanto lá quanto após tomar base em SP, moldou para si uma carreira ativa no cenário. DJ residente de festas inconfundíveis, como Mamba Negra e Sangra Muta, seu repertório antenado, permeado pelo ecletismo e atuante como uma fusão de sons de techno, disco, brasilidades, dark disco, house, breakbeats e muito mais, já passou também por rolês como Virada Cultural, BLUM, Caracol Bar, Voodoohop, VGLNT, Caos, O/NDA e Festival No Ar Coquetel Molotov.

Multiartista, curadora independente e comunicadora, Paulete conduz o programa de rádio Mote, via Cereal Melodia, que recebe convidados do porte de Getúlio Abelha, Jup do Bairro e Badsista. Animados por este momento climático de Paulete e interessados em saber mais sobre sua música e suas ideias, conversamos com a própria.

Beat for Beat – Oi Paulete, tudo bem? Um prazer falar contigo. Conte-nos um pouco sobre sua base. O que te fez decidir pela música? Quais foram suas experiências, em qualquer momento da sua vida, mais marcantes até que decidisse seguir essa carreira?

Paulete Lindacelva – Olá, queridos, tudo ótimo. Grata pelo convite e feliz com a troca.

Minha base sonora tem uma ligação forte com a música negra e sua diáspora. Acho que parte da minha noção rítmica vem da minha vivência com a percussão dentro de alguns maracatus que passei na infância e adolescência nas periferias da Zona Norte do Recife.

Além disso, era uma frequentadora assídua dos cocos e afoxés. Partindo desses espaços, trazendo eles na mente e no corpo como um lugar de memória afetiva, tento pôr nas minhas seleções esses sentimentos e fazer com que os dançantes presentes sejam levados a esse lugar de memória afetiva ou criem esse momento ou sentimento afetivo daquele dance.

Sua trajetória curatorial permeou momentos diversos, seja abordando brasilidades e vertentes das diásporas afro, ou através das sonoridades clubber que consolidaram-se nas festas paulistanas. Como você define hoje, dentro de todos os adjetivos dos quais queira fazer uso, o seu som e o que pretende transmitir com suas escolhas musicais?

Paulete Lindacelva – Groove. Acho que o que permeia todos esses momentos da minha carreira é o swing e, sem dúvidas, como disse anteriormente, para mim a pista é um lugar de criar e rememorar afetos, ao mesmo tempo esquecer e fazer lembrar. Então acho que gosto de transmitir e criar memórias de afeto.

Você acaba de entrar no cast da Smartbiz, agência que vem acolhendo mais e mais as artes vindas de pessoas trans. Acredita que, a partir daqui, poderá perfurar mais e mais “bolhas”? A morte do preconceito é a convivência e a exposição?

Paulete Lindacelva – De certa forma é inegável que estar num lugar de visibilidade ajuda a criar imaginário e faz outras pessoas trans acreditarem nisso, mas também é importante pontuar que muitas outras pessoas trans já estavam nessa disputa de criar outras narrativas. Num todo, acho que o preconceito se faz por pura arrogância, principalmente dos frequentadores de festas, clubs e festivais.

Quem conhece a história, sabe como e onde as maiores vertentes da música eletrônica surgiram, sabe que foram nos guetos e que a presença de corpos trans não só eram maioria, como eram também os protagonistas, estando na vanguarda do movimento. Acho que a morte do preconceito não se dá pela exposição dos corpos trans, mas sim quando as pessaos cis buscam conhecimento, buscarem entender as questões de classe e raça e, aí sim, deixaremos de ser punidas pela falta de alcance e por suas ignorâncias.

Ainda sobre a sua entrada na agência, mais seis artistas da Mamba Negra entraram junto. O que representa, para você, o trabalho com a Mamba?

Paulete Lindacelva – Orgulho! A Mamba é uma coletiva construída por mulheres e muitas pessoas sexo-gênero dissidentes e desenvolve um trabalho lindo que busca e dá protagonismo a essas pessoas. É uma coletiva que está ativa nas atuais discussões e que ainda entrega experiências únicas em suas festas, fazendo valer o prêmio de melhor festa da cidade de São Paulo.

Você vislumbra, daqui pra frente, uma interconexão ainda maior entre suas personas artísticas (como comunicadora, como artista visual, etc) ou pretende levar adiante como prioridade o seu desenvolvimento na dance music?

Paulete Lindacelva – Não só pretendo, como tenho mantido essas interconexões. Acho que o que envolve todos os trabalhos que estou envolvida, seja como comunicadora, curadora de arte e DJ, é a vontade de reunir pessoas. A música, lógico, tem um lugarzinho especial no meu coração, mas uma coisa não anula a outra e todas podem acontecer ao mesmo tempo.

Artistas inspiram-se de várias maneiras, ouvindo sua intuição e respeitando seus sentimentos, cada indivíduo expressando-se dentro de suas inquietudes. Uma caminhada no parque, uma visita a uma galeria de arte, uma viagem, uma conversa com desconhecidos, uma recarga ou descarga de ideias, qualquer coisa vale. Conte-nos, Paulete, o que costuma te inspirar?

Paulete Lindacelva – Transitar na cidade, sentar num bar, conversar com os amigos, ver filmes… tudo isso me inspira muito, me toca e me faz criar afeto.

A história mostrou e ainda mostra uma configuração do mundo que cria, primariamente, espaços praticamente sob medida para maiorias que detêm privilégios sociais, culturais, econômicos e mais. Enquanto multiartista, como você busca inspirar as atuais e futuras gerações e como diria que elas podem, elas mesmas, inspirar também?

Paulete Lindacelva – Acho que estar viva e presente nesses espaços é uma boa forma de inspirar pessoas, tendo em vista todo o apagamento.

Foto: @ivimaigabugrimenko

Seu programa “Mote” é um poderoso exercício de abordagem da resistência e das vivências de grupos desprivilegiados sem a menor burocracia, abordando os temas de maneira que reconheça-se o passado dos grupos periféricos e de dissidentes de gênero, trazendo à tona, com sensibilidade, mas com os olhares atentos para o futuro, as dores que permeiam essas vivências. Acredita que a voz e as mudanças partem daí, dessa abordagem destemida?

Paulete Lindacelva – Para mim desburocratizar a comunicação é quase um dever. Se afastar de um lugar classista na construção de conhecimento deveria ser de interesse público. Desmistificar uma ideia de merecimento e pertencimento a partir de um conhecimento formal e academicista nos limita e deslegitima outros saberes que não passam por esse espaço que, convenhamos, se dá com uma base extremamente elitista, classista e, consequentemente, higienista e racista. Se houvesse um compromisso público de refazer a comunicabilidade e seus meios, certamente o Brasil não estaria passando por esse momento crítico.

Por falar em abordagem destemida, além de você, quais são os principais artistas, coletivos e outros componentes da cena independente, que você gostaria de citar como referências desses movimentos de luta racial e transgênere, dentro desse modus de ocupação, a arte e os corpos como atos políticos e a transcendência das barreiras de opressão?

Paulete Lindacelva – São muitos, mas posso citar aqui a própria Mamba Negra, a Batekoo, a Coletiva Scapa, de Recife, Atrita, de Fortaleza, Turmalina, de Porto Alegre, Coletividade Marsha, de São Paulo, Coletivo Carni, enfim… São tantos que fazem um trabalho bonito, generoso e importante.

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Editorial

Visibilidade Trans e a Dance Music: artistas que precisamos abordar

No Dia da Visibilidade Trans, selecionamos 3 artistas para representar a letra T da nossa sigla, que carregam o DNA da música eletrônica.

Podíamos abordar esse assunto durante nossa Pride Week (assim como também faremos); podíamos colocar esses artistas entre alguns cis, sem distinção de identidade de gênero (assim como fazemos sempre e continuaremos fazendo), mas hoje, resolvemos voltar nossos olhos para a letra T da sigla que nos representa.

Neste dia 29 de janeiro, Dia da Visibilidade Trans, Queremos destacar aquelas pessoas que são agredidas, mortas, por simplesmente existirem. Queremos dar voz para as pessoas trans e travestis, que tanto fazem e fizeram pela nossa comunidade eletrônica, representadas por 3 artistas excepcionais.

Fernando Ribeiro

Fernando no Club Jerome

Sem um novo nome artístico (seu antigo era DJ Fox), visto que seu antigo alter ego não corresponde mais ao que o artista procura, Fernando Ribeiro é um homem trans da periferia de São Paulo. Nascido e criado em Parelheiros, foi ouvindo Energia 97 que ele encontrou seu caminho na música eletrônica. Residindo hoje em Santos, Fernando busca dar voz a comunidade trans masculina, que ainda é deixada muito de lado.

Em 2018, Fernando viu a oportunidade de tornar-se DJ, paixão que ele teve desde sempre, mas a falta de recursos não permitia que o sonho fosse alcançado. Foi então que o Zig Club, casa de Rafa Maia, entrou na sua vida, onde aconteceu um curso de discotecagem voltada para pessoas trans e pretas. Ali, Fernando começou a olhar para a pista e entender o seu destino.

Após iniciar seu relacionamento com a DJ Ms Pythia, uma travesti, Fernando começou a ocupar outros espaços, como a Mamba Negra, coletivo que o abraçou. Mais do que um frequentador, Fernando tornou-se o responsável pela lista trans da festa. Ainda buscando encontrar sua verdadeira identidade como artista, ele espera aprender e desenvolver seu eu artístico cada vez mais.

Michelle aka Transvegana

Natural do Rio de Janeiro, mas paulistana de coração, Michelle, travesti, artista multifacetada, que além de expressar-se através da música como a DJ Transvegana, é fundadora e professora na Botão de Flor, projeto socioambiental de inserção social para travestis e mulheres transgênero em situação de vulnerabilidade social, com ações que visam minimizar os impactos negativos causados pela indústria têxtil no Brasil.

Vivendo na terra da garoa desde 2013, foi na cidade que escolheu chamar de casa, que a artista resolveu se aprofundar no mundo da moda, até que a música entrou em seu caminho. Apaixonada pela house music, Michelle viu nos seus sets uma forma de expressão. Sua transição de gênero, que aconteceu durante a pandemia, trouxe um novo olhar, sensações e sentimentos para suas apresentações.

Com passagens por festas como Blum, vglnt, Jerome, Úmida, Cremme, além do coletivo Caldo, onde tudo começou, Transvegana busca inspirar-se em vocais femininos, sempre com muito groove e percussões intensas. Das primeiras montações até olhar-se para o espelho e desabrochar como travesti, Michelle carrega a essência da música eletrônica em sua musicalidade e forma de viver.

Valentina Luz

Modelo, performer e DJ, Valentina compreendeu sua sexualidade ainda na infância e desde muito cedo, teve o apoio da sua família na transição de gênero. Residente da festa Mamba Negra, que abraça totalmente a comunidade trans, a artista experimentou todo tipo de preconceito, seja por ser uma mulher trans ou preta e combater a transfobia é um dos seus objetivos de vida. (Fonte: Alataj)

Carregando a boa e velha house music como forma de expressão, Valentina vem ocupando cada vez mais espaços, que são seus por direito e mostrando que o talento deve romper qualquer tipo de barreira. Com passagem por clubs como Caos e D-EDGE, além de dividir o palco com Solomun no Autódromo de Interlagos, a artista que saiu do Paraná para São Paulo, está indo em direção ao mundo todo.

Valentina é o perfeito exemplo de que pessoas trans podem e devem ter locais de destaque, seja na moda, mercado onde ela também está inserida ou na música. Nossa dance music, que nasceu preta e queer, tem por obrigação enaltecer corpos que foram e são o motivo da nossa cena existir e poder ver uma artista como Valentina, levantando essa bandeira, é muito significativo para todos nós e deve ser reverenciado.

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Valentina Luz é a convidada especial da AFAIR em São Paulo

DJ, performer e residente da festa Mamba Negra, Valentina Luz fará um set especial, de 3 horas, na festa AFAIR, na Barra Funda em São Paulo.

Nas últimas semanas, festas em formato bar estão dando uma nova cara para a cena noturna nacional, em especial a de São Paulo, conhecida por toda sua efervescência. Mesmo sem poder ter uma pista de dança, os clubs estão se adaptando e entregando novas experiências, como é o caso do Espaço Barra Funda, que entre suas festas, possui uma para os clubbers de plantão: a AFAIR.

Dedicada ao House e Techno, gêneros que fazem parte dos pilares da música eletrônica, a festa recebe ravers da capital paulista para uma noite especial, com muita música, álcool em gel, mascaras de proteção, distanciamento social e respeito aos protocolos sanitários. O melhor dia da semana, é claro, precisa ser com dance music e a diversão é garantida.

Para sua próxima edição, que acontece na sexta-feira (17), a AFAIR receberá a incrível Valentina Luz. Autodidata e que mergulha em si através da arte, Valentina é DJ, performer e uma das residentes do conceituado coletivo Mamba Negra. Com colaborações para o Beatport e o festival Terminal V, Valentina promete uma surra de música boa, acompanhada pelos DJs CRSSFIRE, Ake, Ndr e Macrodose.

A festa começa às 22h, com o valor de R$15, com mudança de valor para R$20 após 0h e vai até às 04h30. Chegue cedo e aproveite o cardápio promocional até às 22h30. Clique aqui e confirme presença oficial no evento.

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Mamba Negra apresenta ‘O-KULTO DE 8 ANNUX’ online e gratuito

O evento, online e gratuito, da MAMBA NEGRA, acontece no dia 7 de agosto e apresenta shows, DJ sets, artes visuais e performances.

Alma Negrot | Foto: @RECREIOclubber

A icônica festa do underground paulistano, MAMBA NEGRA, comemora 8 anos de quebra do status quo através da música, arte, moda e comportamento. No próximo dia 7 de agosto, a MAMBA NEGRA apresenta para o público a festa  “O-KULTO DE 8 ANNUX”. Para a comemoração, convocou nomes de peso da cena como a banda TETO PRETO, a cantora Jup do Bairro, a drag queen Kitty Kawakubo, a multiartista Alma Negrot, a DJ Cashu. e muitos outros. As apresentações serão transmitidas no site oficial da festa.

Representamos um espaço para produção mista entre música eletrônica e orgânica, das bandas, artistas visuais e performatives independentes. Nossa prioridade é construir condições para a produção, o que escapa ao circuito do entretenimento: liberdade para produzir um novo tipo de som/corpes/imagens e(m) movimento”, explica Cashu.

Durante sete horas de evento, além dos shows, os DJs sets e as performances acontecem simultaneamente no palco principal. Em um segundo palco, se apresentam o grupo MEXA e a banda SYNTO. Assinando os visual sets, temos Luzco na luz, Estúdio Margem nos artworks, vídeo arte por Guzafatia e RECREIOclubber e fotografia por Ivi Maiga Bugrimenko, além do patrocínio da Beck’s.

PROGRAMAÇÃO
Apresentação: Paulete Lindacelva

PALCO 1

18h: Irmãs de Pau
19h: N.I.N.A
20h: KONTRONATURA com performance de Kitty Kawakubo
21h: Jup do Bairro
22h: Miss Tacacá com performance de Juana Chi
23h: TETO PRETO
00h: Cashu & Kakubo com performance de Trinitas
1h: BLACKAT DJ com performance de A TRANSÄLIEN
2h: Caroll Mattos b2b Nikkatze com performance de Alma Negrot

PALCO 2

20h: grupo MEXA
22h: SYNTO

Serviço @ O-KULTO DE 8 ANNUX

Data: 7 de agosto
Horário: 18h às 3h
Local: site oficial da MAMBA Negra.

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Virada Cultural de SP apresenta o Clube em Casa com lives especiais

Buscando uma alternativa neste ano caótico, a Virada Cultural de São Paulo 2020 apresenta o Clube em Casa, um projeto de lives especiais.

Festa MEL

Em 2020 fomos surpreendidos por uma pandemia que exige como medida preventiva o distanciamento físico entre as pessoas e as consequências disso têm sido expressivas para a economia criativa – em especial para a área de música. O impacto tem sido ainda pior para festas, artistas, casas de shows e clubes que precisam do movimento presencial para acontecer e onde a aglomeração é inevitável.

Os clubes e casas de shows são espaços importantes de difusão cultural. Sem contar que o fechamento desses locais paralisa o exercício da produção de músicos, fornecedores de equipamentos de som e diversos outros agentes que fazem parte da economia da cultura.“, afirma Karen Cunha, curadora e gestora cultural.

Em São Paulo, o recente decreto de retorno à fase amarela deixa mais evidente a necessidade dos cuidados e reforça ainda mais um movimento de ressignificação por parte dos espaços, como é o caso do Boteco Prato do Dia. “Estamos correndo atrás de auxílios e editais públicos, pensando em novos formatos para continuar fomentando a cultura da discotecagem e contando com as colaborações junto ao nosso público frequentador da casa.”  Diante de inúmeros pedidos para o retorno das atividades seguindo todas as normas de segurança, o bar entende que ainda não é o momento de abrir as portas. “As lives se apresentam como uma das alternativas para continuarmos ativos e ajuda a manter as boas lembranças da pista.

Prato do Dia

Pensando em como oferecer acesso democrático e em como conectar clubes, artistas e trabalhadores da área com o público geral, em 2020, a Virada Cultural, que é realizada anualmente, se desloca das ruas da cidade para dentro das casas, promovendo o Clube em Casa.

O Clube em Casa é a união dos principais DJs e festas da cidade em uma série de apresentações musicais online, utilizando como cenário casas de show e clubes renomados da capital – que atualmente se encontram fechados por conta da pandemia.

Totalizando 18 horas de programação, oito casas se unem para a transmissão ao vivo de performances e shows: Casa do Mancha, Aparelha Luzia, Boteco Prato do Dia, Casa da Luz, Mundo Pensante, Tokyo, Fatiado Discos e CARACOL abrem seus espaços para artistas que contemplam diferentes públicos e festas criadas a partir de diversas vertentes como MEL, Discopédia, Mamba Negra, Batekoo, Gop Tun, ODD, Pilantragi, KLJay, Calefação Tropicaos, Desculpa Qualquer Coisa, entre outros.

Akin Deckard

Do ponto de vista artístico, para alguns profissionais da cena, os novos formatos de festas, pautadas pelas normas de segurança e restrições não devem ser vistas como reflexo de impossibilidades. “É importante lembrar que em tempos de pandemia se faz necessário festejarmos o que ainda nos cabe: celebrar a vida através da música e se deixar mover para além do que nos impede.” Lembra o DJ Akin Deckard, que participa do Clube em Casa com um set completo a partir do canal online do CARACOL. “Já que não podemos ir até as festas, que elas venham até nós, como uma janela de escapismo onde se conectar ainda se faz possível.

Realizado nos dias 12 e 13 de dezembro, o Clube em Casa terá transmissão ao vivo pelo Twitch da Flerte e pelo site da Secretaria Municipal de Cultura. O evento será transmitido sábado, a partir das 18h, e domingo, a partir das 13h.

SERVIÇO:

Clube em Casa
Data: 12 e 13 de dezembro de 2020
Local: Transmissão no Twitch da Flerte e site da Secretaria Municipal de Cultura
Horários: à partir das 18h no dia 12 e às 13h no dia 13
Link de transmissão: https://www.twitch.tv/flerte

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Editorial

Divas por uma Diva: Ella De Vuono e o orgulho em forma de música

Mulher cis, lésbica, DJ, produtora e um verdadeiro ícone na comunidade LGBTQIA+ da música eletrônica. Veja nossa entrevista com Ella De Vuono.

Foto: RECREIOclubber

Uma grande amiga do Beat for Beat, Ella De Vuono dispensa imitações. Uma das grandes artistas LGBTQIA+ do Brasil, Ella contou pra gente um pouco sobre sua luta em nossa comunidade, falou sobre preconceito e aceitação, além de criar uma playlist super especial, que celebra a diversidade.

Confira agora nosso papo com Ella De Vuono, convidada da #PrideWeek 2020.

Beat for Beat – Oi Ella, muito obrigado por conversar com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, conta pra gente: você já sofreu algum preconceito ou dificuldade para agendar gigs, por conta da sua orientação sexual? 

Ella De Vuono – Oie, é sempre um prazer falar com vocês! Obrigada vocês por lembrarem de mim e darem visibilidade ao meu trabalho.

Olha, felizmente nunca sofri preconceito em gigs no meio da música eletrônica (clubs e festas), mas teve um job em especial, que era para tocar em um evento corporativo e o cachê era super bom, que fiquei sabendo que não me escolheram por ser lésbica. Segundo o responsável, ele tinha medo que eu desse em cima das mulheres no local. Acredito que esse julgamento dele, deve partir de suas próprias atitudes.

Ser uma mulher cis, lésbica, traz em sua essência a hiper sexualização do seu corpo e até das suas relações, visto que muitos homens ainda possuem fetiche em casais. Você já sofreu assédio ou passou por alguma situação desconfortável, por conta disso?

Ella – Essa é a minha vida. Posso contar no dedo quantas vezes sofri preconceito por ser lésbica, mas as vezes que fui assediada por conta disso, são incontáveis. Por isso que eu e minha namorada não “baixamos a guarda” para nenhum homem que se aproxime, não perdoamos nenhuma “brincadeirinha”, não deixamos passar nenhuma insinuação. A gente já corta no ato, porque simplesmente não toleramos.

Na grande maioria das vezes, um “elogio gentil” (entre muitas aspas) acabou sendo um assédio disfarçado e os homens queriam mesmo tentar alguma coisa. É complicado, pois se não damos moral, somos metidas e arrogantes. Se damos, é que estamos dando mole e queremos ir pra cama com o fulano. Então simplesmente não tem papo. Fez brincadeirinha, eu corto.

Ella De Vuono na Levels

Podemos dizer que assim como no futebol, a música eletrônica transformou-se num ambiente em que se assumir é algo raro e que muitos artistas têm medo do que pode acontecer após “saírem do armário”? Você acha que ainda é necessário se esconder tanto, em pleno 2020 e a que você atribui esse medo todo de dizer quem você realmente é?

Ella – Primeiramente, acho que não existe uma comparação plausível entre música eletrônica e futebol. A música eletrônica surgiu dos guetos, das minorias, dos negros, dos homossexuais, dos excluídos. Liberdade é a palavra de ordem em meio a música eletrônica. Se tem um lugar no mundo que eu nunca nem pensei duas vezes para ser quem eu sou, é em um club, em uma rave.

Lembro no começo, quando me entendi como lésbica (2005), eram nas raves que a gente podia se beijar em público, que a gente podia ser um casal sem medo, mas ainda assim rolavam assédios. Acho que só fui parar de ser assediada em festas como a Carlos Capslock, Gop Tun, Mamba Negra, etc.

Eu acho que nunca é necessário se esconder, nem em pleno 2020 e nem nunca. Acredito que o medo vem de diferentes lugares dependendo da história de vida de cada um, mas ao meu ver, se somos aceitos pela nossa família desde sempre, então esse medo é muito mais fácil de enfrentar em qualquer lugar.

Ella De Vuono na Carlos Capslock

Você é uma verdadeira militante da causa LGBTQIA+. Como DJ, você busca tocar artistas da nossa comunidade, dentro dos seus sets? Além de atos, como você passa a mensagem de respeito durante suas apresentações?

Ella – Sempre que eu posso, toco músicas de artistas que se enquadram nas “minorias”, mas isso não é um fator fundamental para mim. Pois na questão musical, eu levo em consideração a música e apenas ela, gênero, orientação sexual, etnia ou raça, não é determinante.

Minha mensagem é passada de diversas maneiras, visualmente na minha performance, roupa e maquiagem. E na minha música, tanto nas minhas produções que são carregadas de mensagens que trazem diversas questões sociais, quanto em acapellas aplicadas em cima de outras músicas, seja trecho de discursos, ou de entrevistas ou até mesmo de alguma outra música.

Foto: RECREIOclubber

Na playlist que você criou pra gente, você colocou grandes artistas LGBTQIA+, além é claro, das Divas supremas, como Madonna, Cher, Diana Ross. Qual o tamanho da influência dessas artistas no seu trabalho e como você tenta traduzir isso no techno?

Ella – Amo! A influência dessas mulheres é gigantesca na minha carreira, meu amor pela Madonna é super escancarado, todo mundo que me acompanha sabe. Para mim, essas mulheres e muitas outras como Nina Simone, Grace Jones, Rita Lee e Maria Bethânia por exemplo, são uma inspiração de que não se separa a artista da pessoa. Que ser uma figura como elas, está sim, em suas atitudes e valores. Que nossa arte tem que ir de encontro com nossos valores e posicionamento.

Eu sempre jogo uma acapella da Madonna, da Lady Gaga, Cher e até da Leandra Leal em cima de algum techno ou house. Além disso, tenho músicas autorais com trechos de entrevistas ou discursos delas também.

Podemos dizer que hoje, o techno é a cena mais inclusiva da música eletrônica. São cada vez mais comuns, festas em que os corpos são livres e podemos ser quem realmente somos. Qual a sensação de fazer parte de um coletivo que foi um dos grandes responsáveis por essa revolução de liberdade de expressão?

Ella – A sensação é de orgulho e pertencimento. Eu amo a Carlos Capslock e já amava sendo apenas frequentadora, depois que entrei para o coletivo como residente, eu pude ver que essa mensagem é realmente genuína, que eles realmente se importam com a cena, com os frequentadores e com todo o staff. Acho que um exemplo disso que estou falando, é a Vakinha que a Capslock está fazendo para conseguir alguma renda para todo o staff que ficou sem trabalho com o cancelamento de todas as festas deste ano.

Como eu já citei acima, nunca esqueço da sensação de alívio que tive de passar uma festa inteira curtindo numa boa sem ter sido assediada. E quem educa parte do público que não recebeu tal educação de berço, é a festa.

Pra finalizar, o que a Rafaella diz todos os dias, para a Ella De Vuono? O que move a sua luta diária, para mostrar para o mundo, que todos somos iguais? Obrigado!

Ella – Acho que a Rafa fala assim: Ella, beesha cê tá arrasando! Continue assim porque eu dependo da senhora pra viver!

O que me move é exatamente a inconformidade de ficar calada. Como me calar diante de tanto ódio? De tanto preconceito? Me manter neutra é ser conivente com tudo de ruim, é medíocre, é raso. Parafraseando Bob Marley: As pessoas pessoas que tentam tornar esse mundo pior não tiram um dia de folga. Como eu vou tirar?

Obrigada você pelo espaço, espero que gostem da playlist.

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Editorial

Etcetera, Pedro Gariani e a força da diversidade na WareHOUSE

Ela é uma drag não-binária e ele, um gay cis. Etcetera e Pedro Gariani formam a dupla de DJs residentes da WareHOUSE e hoje, conversam com a gente.

Pedro Gariani e Etcetera | Foto: FALZER – @philipfalzer

Resgatar a história da house music não é tarefa fácil, mas é isso que o coletivo WareHOUSE vem fazendo em cada uma de suas edições. Seus DJs residentes, Etcetera e Pedro Gariani, uma drag queen e um gay cis, são o retrato perfeito da diversidade e ambos têm muito orgulho disso.

Convidados da nossa #PrideWeek 2020, a dupla conversou com a gente, sobre as dificuldades na cena eletrônica, preconceito, aceitação e claro, house music. Confira nossa entrevista com Etcetera e Pedro Gariani, da WareHOUSE.

Beat for Beat – Oi meninxs, tudo bem? Obrigado por conversarem com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, contem pra gente: como é serem artistas LGBTQIA+, dentro da cena eletrônica nacional? Já sofreram preconceito e/ou entraram dificuldades na hora de fechar uma gig?

Etcetera – Obrigada vocês pelo convite delicioso pra esse papo. Eu comecei tocando profissionalmente há 7 anos, quando ainda tocava Indie, mas logo migrei pra cena eletrônica, onde estou há 5 anos. Eu sempre trabalhei com festas voltadas ao publico LGBTQIA+, mas foi apenas nos últimos 2 anos que me libertei dos meus bloqueios e dei vida a Etcetera. A drag surgiu após eu ter conseguido um certo reconhecimento

Etcetera me abriu diversas novas portas. Hoje vivemos tempos muito bons para a arte drag. De uns anos para cá, deixamos de ser marginalizadas e finalmente somos vistas como as estrelas que realmente somos. Não que ainda não tenha muito o que evoluir em questão de respeito, mas é algo que vem caminhando a acontecer. É engraçado sentir e perceber a reação de surpresa das pessoas ao presenciarem uma drag tocando um house de respeito (risos).

Infelizmente já senti sim, alguma dificuldade em ter a atenção de algumas festas grandes e acredito que todo artista LGBTQIA+ já tenha passado por algo. Também já tive situações desagradáveis com público, diversas vezes, antes e depois do drag. Ofensas enquanto estou tocando, papos constrangedores com algum contratante mais “ignorante” ou até mesmo no meio da pista, mas eu sempre lidei muito bem com isso.

Pedro Gariani – Oi pessoal, obrigado pelo convite e por colocar este assunto, que é tão importante, em pauta. Eu amo ser um ser um artista LGBTQIA+ e tenho muito orgulho disso. Espero conseguir aumentar cada vez mais meu alcance para poder levar uma mensagem de amor e respeito às pessoas.

O mercado em geral é muito pautado por relacionamento e networking. Eu toco há aproximadamente 3 anos e foi um processo natural ir tocando nas festas e clubs de pessoas que estão próximas ao meu círculo de relacionamentos e estes eventos, em sua maioria, foram voltadas ao público LGBTQIA+, então nunca tive problemas relacionados a preconceito até então.

Mas ao mesmo tempo, à medida que eu olho para os meus objetivos futuros, sempre me questiono se produtores e contratantes de festas fora da cena LGBTQIA+ vão olhar para mim com os mesmos olhos que olham para outros artistas que não falam abertamente sobre diversidade.

Etcetera

Vocês fazem parte hoje, de uma crew que luta pela diversidade. Etcetera, como surgiu o convite pra fazer parte da WareHOUSE? E Pedro, como foi criar esse projeto? Qual a sensação em fazer parte de uma crew que valoriza a pessoa, independente do que ela é?

Etcetera– A WareHOUSE chegou na minha vida de surpresa e ganhou espaço cativo nas prioridades desde cedo. Pouco antes da segunda edição, minha amiga drag, Jade Odara, hostess da festa, indicou meu trabalho para o Pedro. Fui conhecer a festa, os organizadores e acabamos descobrindo muitos pontos em comum. Comentei da forte vontade que eu tinha, de fazer algo em prol da minha comunidade, de dividir meus privilégios, o que vai de encontro com o a filosofia da WareHOUSE

Quando o convite veio, não foi só pra ser DJ residente da festa, mas uma das pessoas responsáveis por fazer esse projeto existir. Logo na sequência, eu e o Pedro iniciamos nosso projeto em dupla, WareHOUSE DJ’s. Nós temos uma afinidade musical muito boa.

É uma honra imensa conseguir fazer o projeto acontecer e conquistar seu espaço. Sempre quis fazer uma festa onde realmente fosse respeitada a historia da house music, reviver as pistas onde todes se sentiam livres para ser quem quiser ser e curtir a noite toda sem medo de julgamentos.

Pedro – A WareHOUSE é um sonho que se tornou realidade. Um projeto concebido por mim e pelo Antônio, meu namorado, e que desde o princípio nasceu com a ideia de oferecermos um espaço totalmente democrático para o nosso público, onde todos pudessem ir e ser exatamente quem são ou quem quisessem ser naquela noite. Também sempre foi imperativo que o lineup e cast de artistas fosse marcado pela diversidade e representatividade, além de termos uma equipe (da produção à segurança, à limpeza, etc) que fosse majoritariamente composta por LGBTs, sendo pelo menos 50% de pessoas trans.

A realidade é que, quando olhamos para a história da House Music, vemos que ela surgiu dentro da cena underground, nas mãos de pretos, gays, latinos… e hoje, olhando para o cenário global e até mesmo nacional, onde estão essas pessoas em posição de destaque? Claro que temos alguns nomes, mas o mercado em si se apropriou de algo que surgiu na mão dessas pessoas e hoje as discrimina e não dá oportunidade.

Neste sentido, queremos com a WareHOUSE, resgatar estes valores de liberdade, inclusão e diversidade que sempre estiveram no DNA da House Music. Queremos dar suporte à nossa comunidade, além de dar destaque a essas pessoas. Temos uma preocupação muito grande em ter representatividade em todos os setores dos nossos eventos, da equipe de limpeza e seguranças aos DJs e Performers.

Também dentro dos nossos objetivos está levar a música e a profissionalização na área para quem não tem acesso. Por isso criamos o projeto WareHOUSE DJs, que visa oferecer formação de DJ a LGBTs de baixa renda. Devido ao coronavírus acabamos não conseguindo colocar de pé ainda, mas assim que tudo se resolver daremos continuidade.

Etcetera e Pedro Gariani

Etcetera, você é uma pessoa dentro da letra Q. Ser uma drag queen DJ, não-binária, fora do tradicional pop/tribal, já foi um problema na sua carreira profissional?

Etcetera – Infelizmente sim. Já houveram produtores de festa underground, que depois de receberem meu material, disseram que não imaginavam que eu era do house, que tinham certeza que eu tocava pop. As pessoas automaticamente associam a arte drag ao gênero pop ou tribal, o que atrapalhou sim um pouco para que eu conseguisse meu espaço e um certo respeito na cena eletrônica underground, mas vem acontecendo, graças a Deus. Eu amo ser uma das drags que vem quebrando esse padrão.

Pedro, você representa a letra G da sigla. Ser homem cis, torna sua vida como DJ mais fácil? Você acha que há mais oportunidades se comparada a outras letras da sigla?

Pedro – Em uma visão mais macro, acredito que o ser DJ LGBTQIA+ fora da nossa cena não é muito fácil. Como eu disse no começo, se trata mais dos relacionamentos que você constrói e quem você acessa. Falando pela minha carreira, eu ainda não tive nenhuma oportunidade para mostrar o meu trabalho fora da minha “bolha”, por exemplo.

Agora, quando olhamos para dentro da cena LGBTQIA+, vemos muito mais artistas gays cis do que do resto da sigla. Infelizmente não temos uma comunidade unida, ainda existe muito preconceito dos próprios gays, por exemplo, com o resto da comunidade e isso com certeza se reflete muito em como e para quem as oportunidades de fato chegam.

Pedro Gariani

A House Music é um dos pilares da música eletrônica e que foi criada em meio a comunidade preta e LGBT. Quando que vocês decidiram se dedicar a esse gênero tão clássico? Como foi é representar um gênero musical tão representativo para nossa causa?

Etcetera – Eu sou apaixonado por house desde muito novo, por influências do meu irmão que sempre ouviu bastante, mas eu acabei começando a carreira musical no indie pop. Depois de assistir alguns documentários, entre eles o Pump Up The Volume e ler bastante sobre a historia da House e Disco Music, eu me apaixonei ainda mais. O ritmo já contagia e conquista por si só e o quanto mais eu aprendia sobre, mais eu tinha certeza que era dessa história que eu queria fazer parte e ajudar a continuar escrevendo.

Eu fico completamente honrada em poder hoje ser alguém que representa essa história e eu quero poder ir muito mais além. Sonho em poder levar a voz da minha comunidade ao topo.

Pedro – Eu tive um processo de me descobrir durante estes anos, acho que o amadurecimento também foi me permitindo gostar de coisas novas. Eu sou muito eclético e gosto de muitos gêneros e subgêneros, mas a minha história com a criação da WareHOUSE me inspirou muito a me dedicar mais à House.

Eu fico muito orgulhoso de ver todas essas histórias lindas por trás da House Music, acho que decidi representar algo que eu realmente acredito e quero fazer a diferença.

É perceptível que hoje, o público LGBT esteja migrando, cada vez mais, para gêneros mais underground da música eletrônica, saindo do POP e Tribal tão característicos. Como vocês enxergam essa mudança de estilos, ambientes e o que achou que motivou isso?

Etcetera – A Historia da House music ganhou espaço na mídia. As pessoas passaram a conhecer mais as festas undergrounds e o burburinho foi acontecendo. Um grupo ia, se apaixonava e contava para outros grupos que também migraram e rapidamente, a cena foi ganhando visibilidade e cada dia mais publico. O ser humano é mutável, influenciável e a mídia é completamente responsável pelo que a massa consome.

Pedro – Essa movimentação foi um grande reflexo da popularização das festas fora de Clubs. Carlos Capslock, Mamba Negra, ODD, GopTun, Selvagem e muitas outras, foram grandes responsáveis por enriquecer a cena paulistana e dar opções mais diversas para um público que antes estava restrito a poucos clubs. Esse processo colaborou muito também para a diversificação dos ambientes, eu enxergo muita pluralidade no público destas festas.

Eu acho tudo isso incrível. Consegui acompanhar a mudança de comportamento dos meus amigos durante todo esse processo e fico muito feliz de ver tanta gente se abrindo para coisas novas!

Pedro na Tokka

O 2º semestre está começando e mesmo que o cenário ainda seja muito incerto, quais os planos de vocês para o restante do ano? O que buscam desenvolver em suas carreiras profissionais?

Etcetera – 2020 VOOU MENINE, SOCORRO! Esse ano esta sendo muito desafiador, estamos todes tendo que nos reinventar, buscar formas de mantermos nosso trabalho e sustentos em meio a tudo isso. Eu venho estudando formas de levar minha arte cada vez mais longe, no mundo virtual. Dei incio ao meu canal no Youtube e pretendo subir muito conteúdo musical e informativo por lá. Estou aproveitando o tempo para estudar e aperfeiçoar mais meu trabalho como DJ e performer.

Ah… Tem um projetinho no forno fora da música, mas é novidade pra um papo futuro. (risos)

Pedro – Eu estou com expectativas altas para o período pós pandemia. No momento, estou me dedicando à criação do meu primeiro EP. Quando tudo isso passar, eu quero deixar as pessoas felizes na pista, então estou dedicando o meu tempo a produzir coisas que possam deixar as pessoas assim.

Junto com este EP virão outras coisas legais, como o show visual que estou preparando e que deve ser lançado na WareHOUSE, assim que pudermos retomar a festa.

Pra finalizar, o que acham que falta, tanto para o público quanto para contratantes, que ainda são intolerantes, entenderem que a orientação sexual é um mero detalhe e que o que importa, é o talento do artista? 

Etcetera – Estamos vivendo momentos onde é extremamente necessário olhar para dentro. Todes temos a liberdade de sermos quem e como quisermos ser. Somos responsáveis por nossas vidas, histórias e não é a orientação sexual ou gênero que vai definir a capacidade das pessoas. Já passou da hora de entender a todes como seres humanos. Do lado de dentro, todo mundo é idêntico, todo mundo respira, come, pensa e SENTE.

Acho que o combo básico é EMPATIA E RESPEITO! Se todes seguirem com essas duas prioridades em frente as atitudes, vamos evoluir muito e quem sabe um dia, vivenciaremos um mundo bem diferente do que vivemo hoje. O talento do artista está do lado de dentro e como ele é por fora, não vai influenciar nisso! Um beijo muito especial e obrigada mais uma vez pelo convite.

Pedro – Acredito que muitas vezes, o preconceito está muito mais com o produtor/contratante do que de fato com o público. Quem realmente gosta de música, está no evento pelo trabalho do artista e a vida pessoal de quem está se apresentando não faz diferença. Grande prova disso é Honey Dijon e BLOND:ISH, por exemplo, que lotam shows, como aconteceu no Time Warp aqui em São Paulo ano passado. Muitas pessoas que estavam ali, não tinham nem ideia de que se tratava de uma artista trans e uma artista lésbica.

Para termos outros artistas neste patamar, precisamos dar oportunidade a todos e nos ater apenas ao trabalho que cada um está fazendo, independente de raça, gênero ou orientação sexual. Afinal, estamos todos envolvidos nesta indústria por amor à música e ao público, além do mais, no ano em que estamos não há mais espaço para preconceito e segregação.

Etcetera na WareHOUSE

Pedro, que mensagem você pode deixar para nossa comunidade, principalmente para os artistas que buscam seu lugar ao sol?

Pedro – Para os artistas que estão começando, o recado que eu dou, por mais que seja um clichê é: não desistam! A verdade que ninguém conta é que não é fácil ser um DJ e viver apenas disso, precisa batalhar muito e buscar a sua maneira de se destacar dentre as centenas de profissionais que estão no mercado. É uma batalha dia após dia, mas ver o sorriso das pessoas na pista de dança não tem preço, vale cada esforço!

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