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Entrevista

Entrevistamos: Paulete Lindacelva

A artista que é sinônimo de diversidade, Paulete Lindacelva, acaba de entrar para o cast da SmartBiz e conversou com a gente. Confira!

Paulete Lindacelva

Foto: RECREIOclubber

por Rodrigo Airaf

Entre os nomes mais prolíficos da cena de São Paulo e que trilham também um caminho de consolidação a nível nacional, Paulete Lindacelva embarca em seu nono ano de carreira com uma novidade: é a nova integrante do cast da agência SmartBiz, posicionando-se entre artistas que são colegas dos movimentos independentes do qual faz parte, como Gezender, Valentina Luz e Nikkatze, e reforçando o propósito da agência de abraçar essas iniciativas e ampliar o espaço para esses artistas.

Paulete é natural de Recife e, tanto lá quanto após tomar base em SP, moldou para si uma carreira ativa no cenário. DJ residente de festas inconfundíveis, como Mamba Negra e Sangra Muta, seu repertório antenado, permeado pelo ecletismo e atuante como uma fusão de sons de techno, disco, brasilidades, dark disco, house, breakbeats e muito mais, já passou também por rolês como Virada Cultural, BLUM, Caracol Bar, Voodoohop, VGLNT, Caos, O/NDA e Festival No Ar Coquetel Molotov.

Multiartista, curadora independente e comunicadora, Paulete conduz o programa de rádio Mote, via Cereal Melodia, que recebe convidados do porte de Getúlio Abelha, Jup do Bairro e Badsista. Animados por este momento climático de Paulete e interessados em saber mais sobre sua música e suas ideias, conversamos com a própria.

Beat for Beat – Oi Paulete, tudo bem? Um prazer falar contigo. Conte-nos um pouco sobre sua base. O que te fez decidir pela música? Quais foram suas experiências, em qualquer momento da sua vida, mais marcantes até que decidisse seguir essa carreira?

Paulete Lindacelva – Olá, queridos, tudo ótimo. Grata pelo convite e feliz com a troca.

Minha base sonora tem uma ligação forte com a música negra e sua diáspora. Acho que parte da minha noção rítmica vem da minha vivência com a percussão dentro de alguns maracatus que passei na infância e adolescência nas periferias da Zona Norte do Recife.

Além disso, era uma frequentadora assídua dos cocos e afoxés. Partindo desses espaços, trazendo eles na mente e no corpo como um lugar de memória afetiva, tento pôr nas minhas seleções esses sentimentos e fazer com que os dançantes presentes sejam levados a esse lugar de memória afetiva ou criem esse momento ou sentimento afetivo daquele dance.

Sua trajetória curatorial permeou momentos diversos, seja abordando brasilidades e vertentes das diásporas afro, ou através das sonoridades clubber que consolidaram-se nas festas paulistanas. Como você define hoje, dentro de todos os adjetivos dos quais queira fazer uso, o seu som e o que pretende transmitir com suas escolhas musicais?

Paulete Lindacelva – Groove. Acho que o que permeia todos esses momentos da minha carreira é o swing e, sem dúvidas, como disse anteriormente, para mim a pista é um lugar de criar e rememorar afetos, ao mesmo tempo esquecer e fazer lembrar. Então acho que gosto de transmitir e criar memórias de afeto.

Você acaba de entrar no cast da Smartbiz, agência que vem acolhendo mais e mais as artes vindas de pessoas trans. Acredita que, a partir daqui, poderá perfurar mais e mais “bolhas”? A morte do preconceito é a convivência e a exposição?

Paulete Lindacelva – De certa forma é inegável que estar num lugar de visibilidade ajuda a criar imaginário e faz outras pessoas trans acreditarem nisso, mas também é importante pontuar que muitas outras pessoas trans já estavam nessa disputa de criar outras narrativas. Num todo, acho que o preconceito se faz por pura arrogância, principalmente dos frequentadores de festas, clubs e festivais.

Quem conhece a história, sabe como e onde as maiores vertentes da música eletrônica surgiram, sabe que foram nos guetos e que a presença de corpos trans não só eram maioria, como eram também os protagonistas, estando na vanguarda do movimento. Acho que a morte do preconceito não se dá pela exposição dos corpos trans, mas sim quando as pessaos cis buscam conhecimento, buscarem entender as questões de classe e raça e, aí sim, deixaremos de ser punidas pela falta de alcance e por suas ignorâncias.

Ainda sobre a sua entrada na agência, mais seis artistas da Mamba Negra entraram junto. O que representa, para você, o trabalho com a Mamba?

Paulete Lindacelva – Orgulho! A Mamba é uma coletiva construída por mulheres e muitas pessoas sexo-gênero dissidentes e desenvolve um trabalho lindo que busca e dá protagonismo a essas pessoas. É uma coletiva que está ativa nas atuais discussões e que ainda entrega experiências únicas em suas festas, fazendo valer o prêmio de melhor festa da cidade de São Paulo.

Você vislumbra, daqui pra frente, uma interconexão ainda maior entre suas personas artísticas (como comunicadora, como artista visual, etc) ou pretende levar adiante como prioridade o seu desenvolvimento na dance music?

Paulete Lindacelva – Não só pretendo, como tenho mantido essas interconexões. Acho que o que envolve todos os trabalhos que estou envolvida, seja como comunicadora, curadora de arte e DJ, é a vontade de reunir pessoas. A música, lógico, tem um lugarzinho especial no meu coração, mas uma coisa não anula a outra e todas podem acontecer ao mesmo tempo.

Artistas inspiram-se de várias maneiras, ouvindo sua intuição e respeitando seus sentimentos, cada indivíduo expressando-se dentro de suas inquietudes. Uma caminhada no parque, uma visita a uma galeria de arte, uma viagem, uma conversa com desconhecidos, uma recarga ou descarga de ideias, qualquer coisa vale. Conte-nos, Paulete, o que costuma te inspirar?

Paulete Lindacelva – Transitar na cidade, sentar num bar, conversar com os amigos, ver filmes… tudo isso me inspira muito, me toca e me faz criar afeto.

A história mostrou e ainda mostra uma configuração do mundo que cria, primariamente, espaços praticamente sob medida para maiorias que detêm privilégios sociais, culturais, econômicos e mais. Enquanto multiartista, como você busca inspirar as atuais e futuras gerações e como diria que elas podem, elas mesmas, inspirar também?

Paulete Lindacelva – Acho que estar viva e presente nesses espaços é uma boa forma de inspirar pessoas, tendo em vista todo o apagamento.

Paulete Lindacelva

Foto: @ivimaigabugrimenko

Seu programa “Mote” é um poderoso exercício de abordagem da resistência e das vivências de grupos desprivilegiados sem a menor burocracia, abordando os temas de maneira que reconheça-se o passado dos grupos periféricos e de dissidentes de gênero, trazendo à tona, com sensibilidade, mas com os olhares atentos para o futuro, as dores que permeiam essas vivências. Acredita que a voz e as mudanças partem daí, dessa abordagem destemida?

Paulete Lindacelva – Para mim desburocratizar a comunicação é quase um dever. Se afastar de um lugar classista na construção de conhecimento deveria ser de interesse público. Desmistificar uma ideia de merecimento e pertencimento a partir de um conhecimento formal e academicista nos limita e deslegitima outros saberes que não passam por esse espaço que, convenhamos, se dá com uma base extremamente elitista, classista e, consequentemente, higienista e racista. Se houvesse um compromisso público de refazer a comunicabilidade e seus meios, certamente o Brasil não estaria passando por esse momento crítico.

Por falar em abordagem destemida, além de você, quais são os principais artistas, coletivos e outros componentes da cena independente, que você gostaria de citar como referências desses movimentos de luta racial e transgênere, dentro desse modus de ocupação, a arte e os corpos como atos políticos e a transcendência das barreiras de opressão?

Paulete Lindacelva – São muitos, mas posso citar aqui a própria Mamba Negra, a Batekoo, a Coletiva Scapa, de Recife, Atrita, de Fortaleza, Turmalina, de Porto Alegre, Coletividade Marsha, de São Paulo, Coletivo Carni, enfim… São tantos que fazem um trabalho bonito, generoso e importante.

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