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Entrevista

Entrevistamos: Maz

Maz, o brasileiro que conquistou o mundo com os batuques do afro e do organic house, conversou com a gente sobre carreira, dawn patrol, coachella e inspirações.

Maz (Divulgação)

O carioca Maz tomou as pistas de todo o mundo quando o remix para “Banho de Folhas” de Luedji Luna explodiu com a ajuda do trio Keinemusik. Desde então Thomaz Prado tem dedicado boa parte de suas produções aos vocais em português, dos quais tinha até certo preconceito no início de sua carreira, mas que hoje virou peça-chave para emocionar gringos como Drake, em Saint Tropez ou até mesmo fazer um b2b recente com Black Coffee, no nordeste brasileiro neste início de 2024.

Prestes a desembarcar no Coachella, maior festival de música dos Estados Unidos, sendo o único brasileiro confirmado no line up deste ano, o DJ nos contou um pouco sobre seu início de carreira, preparativos para o festival e claro do Thomaz que é surfista e não vive sem o mar, presente na sua inspiração diária no estúdio.

 

 Beat for Beat: Lá no início da sua carreira você já tocou o tech house, depois você fez um deep, progressive e agora você tá no afro-house, como é que você encontrou o afro-house, como é que o batuque te encontrou no meio disso tudo, que fez dar tão certo?

Maz: Apesar de eu ter desenvolvido esse meu lado afro, percussivo, brasileiro, eu continuo tocando de tudo, saca? Não é porque, enfim, estamos lá vendendo muita música do gênero no beatport, que eu só produzo isso hoje em dia sabia. Esclarecendo, atualmente tem gente que pensa que eu por ter chego lá, só toco afro house, mas não é bem assim, me identifico muito com o gênero, a “Banho de Folhas” foi um marco pessoal e como produtor musical, ela me abriu um universo de possibilidades, porque antigamente tinha até certo preconceito com vocal em português e música eletrônica, achava que não combinavam e quando me permiti a fazer uma mistura de vocais nacionais com música eletrônica e nas tentativas de que se conversavam mais, era esse estilo mais orgânico, mais percussivo também e eu sempre gostei de afro-house também, é uma mistureba toda de que quando comecei a tocar, a galera toda entendia nada e outra galera ficava amarradona, mas, é isso, quando me permitir a tentar fazer uma coisa de diferente, com vocal em português deu certo e ainda abriu muita coisa para que eu possa explorar e sair da zona de conforto que tive antigamente.

Maz

Beat for Beat: Falando sobre prêmios, top 3 tracks top beatport , também top artist no beatport, 20 of 2024 da One World Radio do Tomorrowland, agora também teve o reconhecimento pelo 1001 tracklists, tem algum prêmio que você ainda mira?

Maz: Estou na cena desde 2015, comecei a estudar produção no fim de 2014 e comprei minhas paradas em 2015 e desde então entreguei tudo que eu tinha, todas as minhas energias e tempo na música. Sei lá, quase 8 anos depois, ver tudo acontecendo com minhas produções é muito gratificante, instiga né, é doido pensar que você via seus ídolos antigamente, frequentando os mesmos lugares que você está frequentando ou te contratando, fazendo questão da sua presença, é doideira e muito, muito gratificante mesmo. Quanto aos prêmios, o Grammy né, seria foda, vamos trabalhar para isso.

Maz b2b Antdot no Palco Core (Tomorrowland Brasil, 2023)

Beat for Beat: Seu b2b com o Antdot deu tão certo que se tornou uma label incrível e agora se tornando festa também. Como que nasceu a Dawn Patrol e como funcionam os trabalhos na gravadora? Vocês pensam em abrir para demos?

Maz: A gravadora criamos antes do Bruninho, criei como Fred e com o Gui, que também são meus managers, só que na época ainda não trabalhávamos juntos e estávamos pensando numa forma deles me ajudarem a lançar minhas tracks, porque eles tem a Braslive e eu não conseguia lançar minhas tracks direito e eu também não queria lançar em qualquer selo e aí tivemos a ideia de criar a Dawn Patrol justamente para eu ter essa liberdade de lançar o que quiser, quando quiser e eles já tinham todo o know how e então eles ficaram com essa técnica e eu entrei como A&R, como produtor e aí chegou o Bruninho, que sempre teve uma sinergia incrível comigo nas produções, nos sets e na vida e depois de um ano e pouco na gravadora ele integrou ao time e estamos testando bastante coisa nossa. No momento a Dawn Patrol ainda não está aberta a demos, porque temos que focar em toda a nossa carreira e também não queremos fazer algo que não seja significativo, mas quem sabe futuramente não podemos pensar nisso, muita gente me pede também.

Beat for Beat: Você acabou de ser confirmado no Coachella, maior festival de música dos estados unidos, tocando ao lado de grandes lendas e sendo o único DJ brasileiro a pisar por lá neste ano. Como você descobriu a notícia e como está a ansiedade?

Maz: Cara, eu estava na casa de um grande amigo meu, quando chegou um e-mail para mim, tive que sair do quarto, porque a galera estava conversando e li, reli o email, li umas três vezes e pensava comigo: Não é possível! Nossa meta era sei lá, 2025,2026, assim, só que acabou rolando antes, inexplicavelmente, não tenho muita ideia da magnitude do evento, sei um pouco, de longe, mas estou muito feliz!

 

Beat for Beat: Agora para finalizar uma pergunta mais pessoal. Você não se desgruda do mar, desde pequeno você tem o contato com surf e sempre foi um peixe. Como o mar te ajuda nas suas produções e composições em estúdio?

Maz: O Surf é a coisa que mais me inspira, de longe, de longe. O dia que eu pego boas ondas, eu vou para o estúdio e sei que o negócio vai fluir muito mais, sabe? Não é algo pensado, tipo “ah, quero transmitir a vibe do surf na música”, não é bem isso, mas é meio que como se fosse minha válvula de escape, que eu consigo me preencher de coisas boas para me esvaziar fazendo música. É uma relação quase que dependente, eu acho que eu não conseguiria viver num lugar que não tem onda, o meu nível de produtividade ia cair bastante!

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Entrevista

Entrevistamos: BATEKOO no The Town

Uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+, a BATEKOO conversou com a gente no The Town.

Edição: Carlos Vinicius

A BATEKOO é uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+ com foco nas juventudes urbanas. Muito além de uma festa, é um polo de conexão entre jovens inquietos, que buscam propor narrativas contra-hegemônicas e transformações sociais no cenário cultural brasileiro.

Foi durante mais um grande de feito do coletivo, sua apresentação no The Town, que conversamos com eles sobre a importância de corpos pretos ocuparem seus lugares que são de direito, em meio a cena musical eletrônica. Confira agora a entrevista:

Beat for Beat – Vamos falar um pouco sobre a história da BATEKOO. Vocês começaram lá na Bahia, em 2014 e de lá, foram para todo o Brasil. Como é para vocês, ocupar espaços que são seus por direito?

BATEKOO – Começar em Salvador pra gente foi algo bastante desafiador, porque é a cidade com o número de pessoas pretas fora da África, então percebemos uma desproporcionalidade muito grande de eventos, oportunidades de cultura e manifestações culturais voltadas a pessoas pretas e LGBTs pretas. Depois que a festa foi um sucesso em Salvador, percebemos que essa demanda, na real, não era algo exclusivo de Salvador.

Depois disso, a gente passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Santos, e agora chegamos em Lisboa. Com isso, conseguimos perceber que existe uma comunidade que necessita de uma atenção e que a gente consegue, de alguma forma, também, pensar com a cabeça dessas pessoas e propor espaços onde nos sentimos confortável para sermos nós mesmos e colocar essas pessoas também em destaque tão grande quanto os nossos, e isso é importantíssimo.

Ficamos muito felizes de poder, de alguma forma, criar esse intercâmbio, essa conexão da pista com o palco, porque não é só sobre a gente que tá ali em cima do palco, é também sobre as pessoas pretas que estavam no The Town, por mais que tenha sido uma minoria muito pequena. Sentimos que é um caminho que estamos construindo que é irreversível e que, em breve a gente vai conseguir mudar ainda mais as estruturas para que a gente não seja mais exceções e minorias

B4B – Quando vamos falar de ocupar espaço precisamos também falar da questão da música preta  A house music nasceu preta, o funk nasceu preto, o hip hop nasceu preto, mas embranqueceram. Como é o processo de reeducar as pessoas musicalmente, mostrando o contexto histórico dessas músicas?

BATEKOO – Esse resgate é uma luta muito antiga, de outras pessoas que vieram muito antes de nós, esse resgate de que a maioria dos ritmos criados são pretos. Muitos são invisibilizados, mas acho que ultimamente, principalmente no Brasil, de teve um crescimento muito grande principalmente da ballroom e da cena de vogue, isso deu uma popularizada muito grande em ritmos eletrônicos de dance music então, o house, para as pessoas entenderem que é um ritmo preto feito para pessoas pretas, num espaço preto.

Hoje em dia a gente vai percebendo, mesmo que aos poucos, que tá rolando esse movimento, inclusive, de afirmação que funk é música eletrônica, porque é isso, é uma música feita digitalmente então é música eletrônica, querendo ou não. Ainda precisamos de algumas afirmações de espaços grandes como, por exemplo o The Town, criar um palco de música eletrônica e colocar vários DJs, vários artistas e performers de funk e com isso vamos percebendo esse avanço nessa luta que a gente e quem veio antes, está fazendo há muito tempo, esse reconhecimento.

Inclusive, estamos destacando isso em todas as entrevistas que fazemos. Achamos que o The Town se propôs a fazer uma curadoria sobre a noite de São Paulo e fez isso com muita excelência. Estamos ao lado de vários artistas que encontramos semanalmente na noite da cidade, na base de quem tá construindo a cena, o que é muito importante, mas que é muito pouco visto e o The Town se propôs a dar esse destaque pra essas pessoas e tá sendo incrível ver pessoas  que a gente sabe que tá moldando muito a cultura brasileira, que tá construindo e virando tendência. Moldando o comportamento brasileiro a partir da música, tocando em um festival gigantesco como esse.

Até porque com essa globalização, principalmente que o Brasil tem dessa mistura de vários ritmos, do funk, do vogue, do house, nós temos várias propostas, então hoje ter um palco com vários produtores que trazem além dessa tendência, mas essa afirmação e essa  imersão com esses vários ritmos é muito prazeroso. 

Achamos que eles puxaram também para essa afrodiáspora, porque todos esses ritmos  que a gente toca, que vive nessa nossa cultura, eles também vêm dessa afrodiáspora, desse local do corpo preto, ser retirado das suas terras, ser dissipado ao redor  do mundo e cada região  trazer uma musicalidade, uma sonoridade, mas que no fim  elas se transpassam. Se eu escuto um funk e um vogue beat, o bouncing ele vai vir de um mesmo lugar, assim como um afro e as coisas se transpassam e é muito lindo ver isso também. A BATEKOO conta isso, esses encontros de ritmos, de ancestralidade e no The Town contamos ainda mais.

B4B – Vamos falar também sobre o festival de vocês. Qual é a sensação de sair de festas pequenas, para o The Town e seu próprio festival na Neo Química Arena?

BATEKOO – Fizemos nosso primeiro festival no ano passado, em dezembro e agora estamos indo pro segundo, que vai ser dia 7 de outubro na Neo Química Arena. Temos artistas como Grupo Revelação, Liniker, Gaby Amarantos, Sampa Crew, Tasha & Tracie, Kyan, Mu54O, A Dama, Shevchenko & Elloco, entre outros. O festival significou pra gente, na nossa trajetória, um grande passo, um marco na nossa história, porque no começo a Batekoo fazia evento em São Paulo para 300 pessoas no Morfeus e agora, a gente fazer um festival  para 12 mil pessoas, estar aqui  também no The Town, um festival para 100 mil pessoas é muito incrível, é muito gratificante, todo mundo aqui sabe o corre que foi pra chegar até aqui. É difícil, é complicado, tem aqueles percalços no caminho mas a criatividade da juventude negra tem feito acontecer e está fazendo as coisas virarem, independente dos desafios.

Para completá-lo, nós somos um dos poucos festivais brasileiros proposto por pessoas pretas, e isso já é uma coisa muito incrível de se destacar. O nosso propósito no ano passado, que foi o nosso primeiro festival, que era algo muito novo também, era propor um festival que a gente não se visse apenas no palco, mas também na pista pensando num festival que fosse majoritariamente negro, esse ano a gente vem com o big bang dos pretos.

Mesmo depois de tudo isso, conseguimos transformar a nossa vingança em felicidade, pensando muito que às vezes celebrar, dançar, estar com os nossos é a melhor  maneira da gente se vingar do racismo e de todas as violências que a gente sofre no nosso dia-a-dia. É um momento muito importante, também falar do festival da BATEKOO porque pra gente é a realização de um sonho, e a realização também da criação de um espaço que a gente sente que não existe e que é muito importante nós, cabeças pretas, estejamos pensando nesses espaços propostos para pessoas pretas, onde sabemos do que a gente gosta, não é algo fácil de se decifrar, e a publicidade nunca vai conseguir chegar lá sem a gente.

B4B – Obrigado, galera, muito obrigado!

BATEKOO – Obrigado!

Os últimos ingressos para o Festival Batekoo estão disponíveis e você pode comprar o seu clicando aqui.

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Entrevista

Entrevistamos: Diogo Strausz no The Town

Produtor musical, compositor e multi-instrumentista, Diogo Strausz é um artista completo e conversou com a gente durante o The Town. 

Edição: Carlos Vinicius

Diogo Strausz é produtor musical, compositor e multi-instrumentista. Crescendo no Rio de Janeiro, desde cedo demonstrou um talento pródigo para a composição, e essa mesma paixão por criar música ainda hoje inspira Diogo como produtor musical e remixer. Dividindo-se entre o Brasil e a França, o artista possui um currículo impressionante e que agora, conta também com uma apresentação no The Town.

Conversamos com Diogo durante o festival e o artista nos falou sobre a conexão Brasil x França, sua relação com a tecnologia, sua musicalidade, artistas com quem trabalhou e muito mais. Confira agora nosso papo na íntegra.

Beat for Beat – Estávamos vendo umas entrevistas suas antigas, lá para 2015 e você não tinha nem smartphone, você falava que não curtia tecnologia. Agora em 2023, cerca de 8 anos depois, como está a sua relação com a tecnologia, principalmente quanto à sua música?

Diogo Strausz – Está em uma relação de busca por algo que é saudável, e que não faça com que eu não perca o meu eixo, com tanto estímulo, com tanta informação que mexe com a nossa ansiedade, que mexe com as nossas inseguranças, mexe com as nossas questões. Então é difícil você achar um equilíbrio entre uma relação em que você usa o smartphone, mas o smartphone não te usa, mas eu me rendi nesse sentido, porque a gente precisa de alguma maneira estar inserido, se comunicando, trocando com as pessoas, então a relação está sendo ponderada, é uma relação de ponderação.

B4B – Hoje em dia a gente sabe que muitos artistas prezam por uma identidade virtual, como TikTok e dancinhas virais. Como é que você vê isso para a sua carreira ou você não vê isso para a sua carreira? 

Diogo Strausz – Cara, eu vejo. Eu vejo, tento falar a verdade, falar sobre como foi a minha semana, sobre o que eu estou trabalhando. Eu tento não contar uma história de algo que não aconteceu. tento me apropriar da minha vida, da minha carreira, do meu dia a dia enquanto artista e contar isso, dividir para as pessoas e estar aberto para que elas também respondam e a gente comece uma conversa a partir daí, mas a partir da realidade e não da virtualidade ou dessa hiper virtualidade.

B4B – Você se divide entre Brasil e França, principalmente. Como é que você vê a diferença de públicos?

Diogo Strausz – Vejo o público do Brasil para um live de dance music, um público mais curioso pelo formato. É um público que naturalmente é mais festeiro, mais animado, mais performático. 

Vejo na França um público mais acostumado com esse formato, mas que fica mais deslumbrado e impressionado com a novidade da cultura brasileira que está inserida no live, com as congas, com o remix de ‘Deixa a Gira Girar’ de Os Tincoãs, que inclusive eles conhecem a música original toda, a galera é fã, curte e conhece. Com a estética da língua portuguesa, que como é um live de dance music, o objetivo é que as pessoas dancem, se conectem com a nossa cultura, com os seus corpos, entre elas próprias, então vejo essa como a principal diferença.

B4B – E de uma maneira musical, o que você tenta levar do Brasil para a França e o que você tenta trazer da França para o Brasil?

Diogo Strausz – Eu tento trazer do Brasil aquilo que é essencial nosso, então a nossa musicalidade, a nossa junção antropofágica e multicultural e que criou uma identidade que é nossa, e que é única, em ritmos, em claves. Uma coisa que vem do samba, do choro, do Ijexá, do axé music, de como a gente reinterpretou também outros ritmos e gêneros internacionais. Busco trazer isso, essa nossa essência. 

E tento, de alguma maneira, pegar de lá o frescor. É uma maneira que eu acho interessante que eles têm de enxergar tudo, que é até um olhar que é deles. Acho que lá eles tentam se apropriar e, ao tentar se apropriar, eles acabam adicionando algum frescor. E eu acho que nós, que somos os detentores da versão original, precisamos ter também o cuidado de trazer frescor para aquilo que é nosso essencialmente. Então eu tento pegar isso deles, direcionar um olhar fresco para algo que é essencialmente nosso e que a gente já tá acostumado.

B4B – Quando falamos de artistas brasileiros que você já trabalhou, temos a Alice Caymmi, Bala Desejo, a Júlia Mestre, que tocou com você no The Town. Como é introduzir toda essa galera dentro da sua musicalidade? 

Diogo Strausz – Quando você trabalha com mais pessoas é sempre uma relação de diálogo, de troca, de escuta, e aí depende de que posição que a gente tá, se é uma posição de produtor musical do disco da pessoa ou uma posição de mais serventia. Acho que enquanto artista a gente também sempre precisa estar numa posição de serventia, mas aí não só mais ao nosso colaborador, mas também a nós, a quem a gente imagina que vai ser a audiência daquele som.

Acredito que no fim é um jogo de conciliar tantas coisas e ao mesmo tempo se manter criativo, se manter conectado com as suas ideias e no final das contas encontrar um resultado que seja completamente novo, completamente inesperado do que você acreditava quando você começou o processo. Você começa sabendo que você não sabe nada e você termina muito orgulhoso de que algo saiu daquele encontro.

B4B – Com quem você quer trabalhar que você ainda não teve a oportunidade? 

Diogo Strausz – Cara, eu queria trabalhar muito com Gilberto Gil, porque pra mim é um artista que fez isso na época dele, da maneira dele, com a tipografia dele, ele tem esse olhar que é global, que é antropofágico e que ele soube relacionar o frescor global com a essência da nossa música. 

B4B – Falando de sonoridade, como é trazer tudo isso pra dentro da música eletrônica? Nós vivemos num mundo hoje que o melódico tá em alta, o funk também, tem gente misturando samba com música eletrônica. Estão cada vez mais conseguindo explorar a música eletrônica e a música brasileira juntas. Como é pra você tentar se manter original?

Diogo Strausz -Acredito que seja justamente isso, essa pluralidade que você descreveu é um desafio que motiva todo mundo. Eu acho que inclusive cada vez mais pessoas vão enxergar a dance music como uma plataforma de exploração musical da nossa cultura e como uma possível plataforma pra gente explicar nossa cultura mundo afora, isso é muito atrativo. Como a dance music ela traça limites muito claros em relação ao que é possível e o que não é.

Dance Music, por exemplo, tem dance e tem music. Começa daí já, né? Você precisa manter uma audiência dançando, precisa de pulso, precisa estabelecer um andamento claro, até para definir um pouco dentro de algum tipo de gênero. Os timbres que você usa vão definir que tipo de gênero você está trabalhando. E é legal esse tipo de limitação porque elas mostram, que, aqui tá o zero e aqui tá o um. Entre o zero e o um você tá livre pra você fazer tudo o que você quiser, e isso expande a sua mente. Expande a sua percepção do que é possível e do que não é. Porque, contanto que eu esteja entre aqui e entre ali, o céu é o limite, então vamos abraçar isso.

B4B – E você como pessoa, o que você consome de música? 

Diogo Strausz – Nossa, eu consumo jazz, funk soul, disco music. Engraçado, eu consumo pouca música eletrônica no meu dia a dia. 

Às vezes também gosto muito de quando eu estou produzindo para algum artista, deixar que esse artista proponha uma playlist pra eu entrar no universo dessa pessoa, e aí ele sugere coisas que eu não pensaria normalmente. Mas eu tento sempre escutar música que desafia o ouvinte de alguma forma, mas ao mesmo tempo que também não seja só sobre desafiar o ouvinte de uma forma egocêntrica do artista. Gosto de música que é generosa, que é inclusiva, mas que ela sabe ser inclusiva, e te dar um puxão, e te desafiar, e falar, ó, eu consegui fazer isso que você achava que sabia e eu consegui fazer de uma maneira nova. Te fazer pensar, como é que você fez isso? Que legal, quero saber também.

B4B – Falando agora sobre o The Town, como foi a preparação pro seu show, para uma estreia de um festival tão grande quanto esse? 

Diogo Strausz – Tivemos a participação da Julia Mestre no show, e isso por si só já propõe várias novidades. Eu introduzi no live o remix que eu fiz pra uma música do Bala Desejo, que é um projeto do qual ela faz parte, e a gente também preparou um remix especial da música ‘Meu Paraíso’, que é uma música que ela lançou no disco dela. Então temos duas músicas que foram preparadas especialmente pra participação dela, para esse palco e para essa primeira edição histórica do festival.

B4B – 2023 está na sua reta final, alguns artistas estão desacelerando, outros não. Como você está para esse final de 2023? E já pensando no começo de 2024, o que você tem preparado para pós The Town?

Diogo Strausz – Para pós The Town, eu tenho algumas outras datas no Brasil, temos shows agora no Sul, em Porto Alegre, em Florianópolis; Estou fechando mais algumas outras datas aqui, Sul, Sudeste e Nordeste, o que é ótimo, ver o live circulando, ver o interesse crescendo. Eu tenho alguns lançamentos, vou lançar o meu próximo EP pela Crack Records da França, chamado ‘Samba From Outer Space’, aproveitando que você falou que o samba é um assunto, e a próxima turnê Europa marcada para março, e por enquanto é isso, e coisas ainda por vir, coisas sendo fechadas. 

B4B -Muito obrigado, Diogo! 

Diogo Strausz – Imagina, obrigado a vocês!

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Entrevista

Entrevistamos: L_cio no The Town

Após apresentar de forma brilhante seu álbum ‘Plants’ no The Town, L_cio recebeu nossa redação para um papo super descontraído. Confira.

Edição: Carlos Vinicius

L_cio é o homem da flauta transversal. Ele é instrumentista treinado e um performer ao vivo que também conhece seu caminho no estúdio. Com uma formação musical multifacetada, criar suas músicas com sintetizadores e outros meios de geração de som eletrônico foi mais uma questão de tempo do que de ambição.

Seu último álbum é, narrativamente, uma homenagem musical aos nossos maravilhosos parceiros neste planeta nas diversas fases de sua existência entre nós. Foi após apresentar seu álbum ‘Plants’ no The Town, que o artista conversou com a gente. Confira:

Beat for Beat – Sabemos que a flauta te acompanha há mais de 30 anos,  ,as se não fosse a flauta, tem algum outro instrumento que você também toca ou que têm alguma afinidade? O que você traria para o seu live se não fosse a flauta?

L_cio – Olha, a flauta é parte da minha história da infância, eu tocava na igreja, tocava com a minha mamãe, inclusive hoje foi especial tocar com ela. Mas eu fiz 10 anos de capoeira de angola, então eu imagino eu traria isso para a minha música. Acredito que se fosse um outro instrumento musical, seria o berimbau, por causa da capoeira. Inclusive fiz mestrado na área escolar e desenvolvi o método da capoeira na escola, faz bastante tempo, mas eu acho que seria o berimbau. E não deixa de ser uma possibilidade a gente fazer isso em breve, poderia ser bacana.

L_cio no The Town

B4B – Muita gente te coloca na “casinha” do techno, outras pessoas te colocam na “casinha” do house,  mas você não se coloca em “casinha”, você faz música boa.  Como é que você define o seu mood na hora de fazer música?

L_cio – Eu sempre tento fazer alguma coisa como se eu tivesse no espaço dos espectadores. Pra mim, que sempre fui clubber mesmo, eu senti e sinto muito que a música toca nas pessoas e eu tento transcender. Eu acho que a base pra mim é a questão da transcendência, então, esquecer por um momento, ou por um bom momento o nosso cotidiano. Esquecer que às vezes temos uma conta para pagar ou que tem algum problema familiar, ou esquecer que tá vivo e tá acabando. 

Eu acho que a música tem esse poder, então eu tento fazer isso com a música,  por isso que ela se torna tão genuína, autêntica. Ela não tenta realmente seguir uma coisa que seria mais mecânica ou de mercado. Mas também atende a isso, né? Espero que atenda porque eu vivo disso também.

B4B – E você também tem que pagar os boletos, né? (risos)

L_cio – Sim, sim, e tem bastante. Por isso que às vezes eu pego a música e esqueço dos boletos (risos).

B4B – Você falou da sua mãe e foi lindo você chamá-la mãe pro palco.  Qual foi a sensação de chamar sua mãe pro palco de um festival tão grande como o The Town?

L_cio – Foi uma coisa que eu nunca tinha feito na vida, então foram muitas coisas pela primeira vez na vida hoje.  Eu já tinha tocado com a minha mamãe, inclusive com orquestra, na Igreja Imaculada Conceição. Toquei com ela na Catedral da Sé, também.  mas hoje foi uma coisa muito diferente, que é uma composição dela, num espaço novo, com uma maturidade tanto minha quanto dela, de reconhecer esse processo tão bonito que depois de tantos anos foi se reencontram.

Acho que a última vez que a gente tocou junto, eu devia ser adolescente, com 14 ou 15 anos, e agora eu tô com 46, então é uma volta grande, mas que dá num lugar tão bonito como esse. Realmente foi emocionante. Fazia tempo que eu não chorava assim, por fora eu dei uma leve chorada, mas uma grande chorada por dentro.  Foi muito gostoso.

B4B – Nós ouvimos Florescimento durante seu show, que é o single atual do seu próximo álbum, ‘Plants’.  Como foi para você tocar o single e o álbum para a audiência do The Town?

L_cio – Assim como o primeiro álbum, eu acho que é um momento de expressão de um processo.  Depois do meu álbum foi 2018, tivemos 2019 e logo em seguida uma pandemia, que foi um processo onde todo mundo sofreu muito, e pra mim foi muito sofrido, onde eu quis desaguar em alguma coisa que fosse uma homenagem,  algo que sobreviveu assim como a gente, que são as plantas, que estão aí ainda e que a gente teima a lidar de uma forma desigual com elas.  

E pra mim também foi a possibilidade de me relacionar com pessoas que eu já tinha uma relação antiga ou intensa,  como a minha companheira Lina, minha mamãe, o Bica, que foi companheiro meu de Teto Preto, o Novíssimo Edgar, que é um querido, o Jon Dixon, que eu entreguei um pendrive pra ele em 2011 e em 2021 ele me aparece. 

É uma realização, e isso reflete nas pessoas que escutam, e pra mim é muito legal porque no show eu tive uma audiência que eu nem esperava,  que é uma audiência mesmo de som e não só de pista.  Eu espero que as pessoas que gostam do meu trabalho também se deleitem com esse álbum em casa ou mostrando pra toda família e amigos.  porque são músicas super bonitas e que eu acho que as pessoas podem gostar, que é o mais importante.

B4B – E quando a gente fala de audiência, The Town é um público completamente contrário ao que você está habituado a se apresentar. Você é residente da Capslock, por exemplo, além de ser uma figura super presente na cena underground. Como é preparar um show para um público que às vezes nem sabe quem é você?

L_cio – Exato, eu tive uma grande vantagem que foi de ter o planejamento desse álbum  pautado num show de estreia, e que felizmente casou o lançamento com o The Town, então foi uma preparação em que eu estava, obviamente, muito ansioso de apresentar o trabalho num festival em que tivemos, Maroon 5, Maria Rita, Ludmilla, entre outros. E eu também fico feliz pela realização de um álbum  que contemple diferentes sonoridades, não ficou só uma música que a gente costuma ouvir nessas festas que você citou,  mas também teve o hip hop, teve o funk, teve a música ambiente.  Eu fiquei muito contente mesmo, tô muito feliz pela realização desse show.

B4B – E claro que a gente tem um álbum que está por vir e 2023 ainda tá na reta final.  O que o L_cio nos prepara pros próximos meses?

L_cio – Bom, pros próximos meses tem alguns lançamentos além do álbum.  Deve sair um lançamento com o Robert Owens, que é uma lenda do house, um cantor impressionante, que tem uma música também com o Paulo Tessuto nesse EP.  Temos também muitas festas bacanas, como a própria Capslock, então fiquem atentos.

Então eu vou conseguir rodar bastante, e se preparem que o ano que vem esse show  estará em alguns festivais, espero eu, depois dessa realização tão bonita aqui.

B4B – Obrigado, L_cio.

L_cio – Obrigado!

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Entrevista

Entrevistamos: Kenya20hz no The Town

Apresentando seu projeto Chaos Sonora, Kenya20hz conversou conosco sobre seu início de carreira, análise ao cenário underground brasileiro e próximos passos de sua carreira. Leia na íntegra.

Kenya20hz no The Town (por I Hate Flash, 2023)

Quando falarmos sobre Kenya20hz, podemos encontrar qualquer sinônimo de artista. DJ, produtora musica, redatora, apresentadora e investigadora cultural, natural do Rio de Janeiro, Kenya iniciou sua carreira na Red Bull Music Academy e com sua sonoridade plural, atingiu diversas pistas no Brasil e no mundo todo. Figura presente nas maiores festas undergrounds de São Paulo, incluindo selos Gop Tun, Selvagem, Mamba Negra, Carlos Capslock e Cardume, Kenya atingiu sua melhor fase sem sua carreira, ao apresentar o projeto Chaos Sonora, no palco New Dance Order do The Town, maior festival de música de São Paulo.

Kenya retornou da Europa com uma bagagem expressiva em outras cenas underground, passando pelo Time Warp Brasil, Love Family Park, na Alemanha e também shows por outras capitais, como Londres. A carioca é símbolo de representatividade das mulheres pretas, na cena eletrônica brasileira, que sob resistência, ganha cada dia mais espaço em grandes palcos por nosso país. Leia a entrevista completa que fizemos com Kenya20hz no The Town:

 

Beat for Beat: Kenya, primeiramente é um prazer falar com você. Somos seus fãs, já vimos diversos de seus sets, em vários eventos espalhados por São Paulo e sabemos de toda a importância do seu trabalho para o circuito underground brasileiro. Para começar, sua carreira iniciou lá em meados de 2015,2016. Como aconteceu e quais foram suas principais influências, o que você levou daquela época até hoje?

Kenya20hz: Minhas principais influências na música eletrônica começaram quando saí do Rio de Janeiro e muito morar em Brasília, que tem uma cena underground muito sólida, mesmo que não tão grande. Ia para muitos festivais de dark psy, de hi-tech e aí eu pude conhecer tecnologias, gêneros e estilos que não conhecia no Rio. Passei a investigar mais sobre esses gênero e aí somando a isso, na época, havia uma crescente da cena dubstep na faculdade, onde eu estudava tinham várias festas clandestinas de dubstep e eu frequentava. Foi rápido para eu baixar o Virtual DJ, por mais clicê que pareça e seu sempre tive a curiosidade. Escutar uma música, ver um DJ tocando que nunca ouvi. Eu não sou o tipo de pessoa que pega o Shazam para saber que música é, eu gosto de pesquisar, encontrar caminhos que me levem até aquela sonoridade e nestes caminhos encontrar novas músicas, novos gêneros e subgêneros, se você for cavando a música eletrônica, você vai descobrir gêneros desconhecidos para a maioria das pessoas.

 

B4B: E quanto a Red Bull Music Academy? Como surgiu a ideia de se inscrever?

Kenya20hz: Eu estava curiosa e interessada em coisas que eu não sabia que iria encontrar na faculdade. E aí, somado a isso, o destino me fez passar numa residência na Red Bull Music Academy, então saí de Brasília e fui pro Rio de Janeiro, deixei a faculdade e comecei a estudar música integralmente e minha pesquisa sempre foi muito aceita por meus colegas e não só por eles, mas só por eles. Saí da baixada fluminense para Tocar num Time Warp, para tocar num Love Family Park Festival…

 

B4B: Você já passou nos principais festivais e festas underground do país. Praticamente a maioria, como você analisa a cena undeground hoje?

Kenya20hz: Temos uma magia muito forte na nossa cena sabia? Eu tive a oportunidade de ir pela primeira vez agora pra Europa e senti algo novo para mim, era minha primeira vez lá. Conheci cinco países diferentes e pude ver rapidamente a cena de cada lugar e suas particularidades. Em Londres você tem mais Garage, Dubstep, em Berlim você tem mais techno, mas o Brasil é diferente de tudo isso e o público ajuda muito na nossa cena, são tanto formatos de se pensar, que isso foi agregado na nossa cena. Se você for em uma festa como a Mamba Negra, você consegue sentir do primeiro ao último slot, várias sonoridades. E não digo só de São Paulo, cada capital diferente tem sua microcena, seu público que deixa tudo diferente e o que eu acho que falta ultimamente é mídia para registrar tudo o que está acontecendo, em seus determinados lugares de origem, a gente ia ver o quanto o Brasil é rico, especialmente a música eletrônica, a música contemporânea que o Brasil produz.

 

B4B: Falando um pouco sobre o Chaos Sonora, esse projeto lindo que você trouxe especialmente ao The Town, como surgiu o convite e a oportunidade de trabalhar com a Dharma Jhaz, cantora, rapper e performer sonora e o Bica, trombonista e percussionista?

Kenya20hz: Então, quando esse convite chegou para mim,  uma das propostas que me fizeram  era participar dessa programação,  mas trazendo algo totalmente inédito.  E aí eu falei,  tá, o que é que a gente vai fazer? E eu sou uma apreciadora de música instrumental. Eu amo música instrumental, não importa o gênero, queria muito poder agregar o trabalho de um instrumentista para o meu som. E logo que comecei a planejar isso, eu fiz o convite para o Bica que já conhecia o trabalho dele através da Teto Preto e a Dharma Jazz é uma figura que está sempre aqui em São Paulo. Ela é de Curitiba,  mas está sempre aqui em São Paulo, fazendo alguns shows e tal e deixei claro que estava com uma ideia maluca e o The Town e o New Dance Order adorou a ideia. E hoje eu pude experimentar, né?  Eu pude ver em primeira mão ali, que esse experimento deu muito certo. Eu quis colocar o DJ como um regente, mas não só de instrumentos analógicos, mas de uma plataforma digital e deu super certo. Fiquei muito feliz, espero expandir o Chaos Sonora para outros tipos de formato, com outros artistas e outros instrumentistas também.

Bica, instrumentista do projeto Chaos Sonora, no The Town (Por I Hate Flash, 2023)

B4B: Para finalizar, o que podemos esperar da Kenya20hz até o fim de 2023? Sabemos que você vai tocar no Tomorrowland.

Kenya20hz: Eu estou muito feliz por isso,  então esperem,  essa apresentação vai ser muito especial. Eu vou explorar muito da minha autoralidade . Eu trouxe algumas músicas minhas hoje para cá,  mas eu espero no Tomorrowland estar trazendo bem mais.  Sempre trazendo curadoria e autoralidade.  Para até o final do ano,  a gente vai viajar de novo para a Europa, então tem show em terras estrangeiras,  estou muito feliz sobre isso. E a gente está avançando,  arrumando lançamentos muito importantes e quero que vocês estejam cobrindo tudo isso também.

Chaos Sonora no The Town, 2023 (Por I Hate Flash)

B4B: Com certeza, por favor. Muito obrigado por esta entrevista maravilhosa Kenya. Mande um beijo para todos nossos leitores do B4B.

Kenya20hz: Um beijo para a galera do Beat for Beat.  Espero que vocês possam assistir o meu show, em vários tipos de oportunidades. Fico muito feliz em poder fazer o som que eu faço. Espero poder alcançar todos vocês. Até breve.

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Entrevista

Entrevistamos: Deekapz x VHOOR no The Town

Amigos de longa data, Deekapz e VHOOR uniram forças para transformar o New Dance Order no The Town num verdadeiro baile.

Foto: Bel

Deekapz é um duo de produtores do interior de São Paulo que busca combinar influências do global bass, com o background dos beats de funk brasileiros. VHOOR é um dos beatmakers mais originais do Brasil, misturando música eletrônica com elementos do funk e percussão afro-latina.

Os artistas, que fizeram um set original no The Town, que foi do baile funk ao trap, conversaram com a nossa redação. Confira agora nossa entrevista:

Beat for Beat – Olá pessoal, tudo bem? Para começar, é importante falarmos sobre a presença preta em festivais e eventos diversos. Como foi para vocês, tocar no primeiro dia de The Town, onde o New Dance Order foi totalmente tomado pela música preta?

Deekpaz x VHOOR – Pra gente é muito foda participar disso, principalmente por ser o primeiro The Town. É muito gratificante fazer isso, mas também, temos que lembrar de que precisamos de mais espaços assim nos festivais, de mais presença preta.

É importante pois para muita gente que estará ali, na pista, curtindo a experiência, nos seremos referências, poderão se espalhar na gente. As pessoas verão que elas podem e devem ocupar espaços, ter essa consciência. Queremos ser propagadores de ideias, influenciadores da música eletrônica popular brasileira,  periférica brasileira. É muito gratificante, mesmo, sermos essas pessoas e fazermos parte do New Dance Order.b4b

B4B – Seguindo essa ideia de propagar ideias, vocês também educam o público, afinal, é importante resgatar as raízes da música, pois muitos gêneros foram embranquecendo. Vocês acham que agem como educadores musicais?

Deekpaz x VHOOR – Eu acho que esse é o papel do DJ.  Nosso papel é realmente tocar, fazer essa cadência entre o que o público quer ouvir e o que a gente realmente quer que eles escutem. O DJ tem que ter essa ciência, ele tem que ter essa consciência que a gente tem esse papel de redisciplinar a pista.

É nesse momento que a gente usa o nosso espaço para tocar as músicas dos nossos amigos da periferia, tá ligado? Da onde a gente veio também,  influenciando outros artistas também, espalhando a palavra.

B4B – Agora falando de uma forma individual com cada um de vocês, Vhoor, você acabou de lançar o Maré, o EP. Como foi a construção do material?

VHOOR – O Maré foi muito importante pra mim,  porque ele fala um pouco sobre o outro lado meu,  que é de uma pessoa que mora em Minas Gerais e que tem esse aspecto interiorano, com a família de uma cidade no interior.  Então a gente acaba tendo essa vivência que é um pouco mais devagar,  de contar com a natureza.  O Maré também parte por poder falar um pouco sobre esse lado da minha vida.

B4B – Deekapz, vocês acabaram de fazer a segunda edição  do Deekapz Experience aqui em São Paulo. Como foi essa noite, que é tão especial para vocês?

Deekapz – Foi muito foda, principalmente por termos conseguido apresentar sets individuais nossos. Foi uma forma de nos aproximarmos ainda mais do nosso público, mas o Deekapz Experience é realmente uma experiência, como o próprio nome diz, onde a gente sempre traz um convidado.

Na primeira edição, o nosso convidado foi o Vhoor, coincidentemente. A ideia é realmente propagar essa comunidade do SoundCloud, a comunidade da música eletrônica underground, divulgando nossa sonoridade, espalhando a palavra, para então os grandes festivais, tour internacional. É muito louco isso,  pensar que nós estávamos, há 10 anos atrás, no nosso quarto,  produzindo, pensando no futuro e hoje, temos nossa própria experiência.

B4B – Falando sobre o The Town, como foi a construção para a apresentação de vocês?

Deekpaz x VHOOR – Tivemos bastante ensaio. A gente conversa há muito tempo, somos produtores que se conhecem há bastante tempo e isso facilitou um pouco o processo. Além dos ensaios, das conversas, sempre tem também o processo de sentir,  ler a pista e ver o que o público quer ouvir, junto com  as coisas que a gente queria apresentar e nós fizemos isso.

foto: Bel

B4B – A chuva não atrapalhou?

Deekpaz x VHOOR – A chuva foi praticamente um desafio, mas foi muito legal ver que o público continuou ali com a gente, até o final. É muito bom ver que dois projetos que estão em ascensão, poderem contar com a presença do público até durante um empecilho.

Nós conseguimos ressignificar a música eletrônica, trazendo o funk, miami bass, até no fim do set já partimos pra um funkão mesmo, mandelão, música de amigos, fazendo um verdadeiro baile. Muita gente que estava na pista, nunca teve a oportunidade de frequentar um baile de favela, de ir na comunidade e não sabem quais são as músicas que movimentam essa cena e não trouxemos isso, até debaixo de chuva.

B4B – Aproveitando que 2023 vai entrar na reta final, o que vocês têm preparado para o final deste ano?

Deekapz – Nós estamos trabalhando no nosso próximo disco, que deve sair ano que vem, não queremos prolongar tanto assim esse lançamento, já faz muito tempo desde nosso último álbum.

VHOOR – Eu estou finalizando alguns projetinhos, mais músicas, mais trampo. Fiquem ligados!

Vejam nossa cobertura do The Town no Instagram.

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Entrevista

Entrevistamos: Klean e kLap no The Town

De competidores em uma mesma batalha para o palco do The Town, conversamos com os talentosos Klean e kLap, atrações do New Dance Order.

Klean vs kLap | Foto: Padilha

DJ e produtor desde os 15 anos, kLap é um nome importante da cena bass music. Ele se destaca por misturar músicas eletrônicas de todo o mundo com a música brasileira. Klean, o DJ de apenas 21 anos que ganhou destaque internacional após seu remix ser apresentado por Rihanna no Super Bowl de 2023. Juntos, entregaram um set autoral de muito funk, house, afrobeat e todas as vertentes da bass music no The Town, onde conversaram com nosso time. Confira:

Beat for Beat – Vocês foram concorrentes da competição de beats organizada pelo Tropkillaz, onde empataram em primeiro lugar e hoje, estão trabalhando juntos no palco do The Town. Como foi o processo da evolução de competidores para amigos?

kLap – Na verdade, nunca existiu uma concorrência de fato. No nosso cenário, a gente  sempre vê o outro como um amigo, pois faz a mesma coisa que nós fazemos. Independente de quem ganhasse aquela competição, por exemplo, um ficaria feliz pelo outro. A conquista dos outros é uma conquista minha e esse sentimento é compartilhado. Mesmo que só um de nós estivéssemos aqui no The Town hoje, o sentimento de orgulho seria igual, mas justamente pelo fato de estarmos juntos aqui, transforma esse momento em algo mais especial ainda. Se estamos juntos, é pelo fato dessa mistura doida funcionar.

Klean – Na época da competição nós não nos conhecíamos ainda, mas como isso aconteceu durante a pandemia, isso fez com que nos aproximassemos ainda mais. Como ficávamos trancados em casa, produzindo sem parar, nos aproximamos bastante de forma online. Foi nesse meio tempo que começamos a trabalhar juntos, criar remixes juntos até que chegamos até aqui no palco do The Town.

B4B – E quando vocês falam de mistura, vocês são de cenas diferentes. Klean vem da Bahia, enquanto o kLap é de Brasília. Como é unificar dois cenários completamente opostos em uma coisa só?

kLap – Fazer isso é mostrar que a música eletrônica é diversa e possui várias possibilidades. Mesmo o Klean vindo da Bahia e eu do DF, duas cidades que não são tão vistas como polo da dance music, trazer essa mistura é conseguir mostrar que a música pode ser vista de várias maneiras.

Klean – Nós participamos de um nicho em comum no Soundcloud, onde nossos sons combinam muito e independente de estarmos em cidades tão diferentes, a nossa pegada sonora é muito parecida, o que torna esse processo de junção ainda mais fácil. Vocês puderam ouvir no nosso set que nosso som casa muito bem, inclusive tenho o próprio kLap como uma das minhas principais referências hoje.

B4B – Falando então da sonoridade, vocês trazem uma música eletrônica que tem bastante influência do Funk e do Trap, que mesmo sendo géneros de música eletrônica, não são tão consumidos pelo público clubber. O que vocês fazem para transmitir a mensagem de vocês para todos os públicos?

kLap – A grande questão aqui é que as pessoas ainda não veem o Funk como música eletrônica, mas sim, ele faz parte desse cenário. Nossa mistura bem para justamente mostrar que o funk, a música baiana, africana, a house… tudo faz parte da música eletrônica e essa diversidade de cultura, de gêneros, traz ainda mais possibilidades. É divertido poder ser diferente.

Klean – Eu digo que nossos sets podem ser uma porta de entrada para muita gente que ou não conhece a música eletrônica ou só consome o que é comercial, para que possam ver que existem muitas outras opções. Quando o público menos esperar, vamos misturar funk com trap e com house, tudo unificado de forma perfeita.

B4B – Agora vamos falar individualmente. kLap, você acabou de lançar um álbum, o ‘Mlk Nervoso’. Como é para você lançar um álbum completo?

kLap – Cara, ainda to tentando processar que lancei um álbum (risos). Eu passei muito tempo trabalhando para criar o material que vocês podem ouvir nas plataformas digitais e ver ele nas pistas, as pessoas ouvindo, é algo extremamente gratificante, ver como as pessoas se identificam com o trabalho.

Hoje em dia eu consigo ainda mais a importância de um artista lançar um álbum. É uma experiência incrível e vale muito a pena lançar um.

B4B – Klean, precisamos falar sobre Rihanna. Como você se sente ao ver seu remix de ‘Rude Boy’ sendo tocado no Super Bowl?

Klean – Isso tudo foi uma loucura. O remix foi criado há cerca de 3 anos atrás, postado nas redes sociais sem pretensão nenhuma de que chegasse até a cantora, eu queria só mostrar meu processo criativo. Três anos depois, a equipe da Rihanna conheceu o remix, me contataram e me pediram para usar a versão.

Até então eu não sabia onde o remix seria usado, mas eu especulava que fosse para o Super Bowl, já que ela estava confirmada. Assistir aquele show com o coração na mão, sem saber se iria acontecer ou não, até que o mundo todo ouviu e no final, deu tudo certo. Muita coisa aconteceu de lá pra cá.

B4B – Muita coisa aconteceu para ambos, até que chegamos ao The Town. Como foi a preparação para esse show? Como vocês estão se sentindo após essa apresentação?

kLap – O coração estava a mil. A ficha só caiu quando finalmente subimos no palco. Nós passamos muito tempo preparando esse show, querendo mostrar algo onde nós dois conseguíssemos nos identificar da mesma maneira. Nosso som combina muito e tentamos trazer uma proposta como se fosse uma batalha de DJs. Foi algo bem único e especial.

Klean – Nós pensamos em algo que funcionasse de algumas formas, seja nós dois de fato juntos, outras partes mais com a minha sonoridade, outras com a do kLap. Pensamos em algo que trouxesse uma estética um pouco diferente dos sets convencionais e que no fim, deu muito certo. Foi uma loucura.

Siga kLap no Instagram aqui e Klean aqui.

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Descubra

Descubra: Koanda Effect

Apostando no Melodic e Progressive House, o duo Koanda Effect, formado por Jéssica e Bruno, de Goiânia, participará da nossa coluna Descubra.

Juntos na vida pessoal e na profissional, foi como um casal que Jéssica e Bruno deram vida ao projeto Koanda Effect. De passados que iam do Psytrance ao Electro, foi no Melodic House que a dupla encontrou sua verdadeira identidade. Com mentoria de nomes importantes da cena, como o duo Binaryh e Andre Salata, o duo chamou nossa atenção com a música ‘Emerald’ e por isso, convidamos a fazerem parte em nossa coluna Descubra. Confira o papo:

Beat for Beat – Olá, Jéssica e Bruno, tudo bem? Obrigado por conversarem com a gente. Para começarmos, gostamos de voltar lá atrás e saber como vocês se conheceram. Como foi o primeiro encontro? A música eletrônica já foi assunto logo de cara?

Koanda Effect – Primeiramente queremos dizer que ficamos muito felizes com o convite. É um prazer participar desta entrevista.

Nos conhecemos na pandemia, em uma resenha na casa de amigos. O que nos fez olhar um para o outro, por incrível que seja, foi a música eletrônica. Eu, Jéssica, pedi para colocar uma música que eu gostava muito naquele momento, que era ‘Innerbloom’. O Bruno achou o máximo saber que eu gostava tanto de música eletrônica, veio puxando assunto e me pediu para mostrar uma outra versão. Dali em diante não paramos mais de conversar e aqui estamos hoje.

B4B – Após quanto tempo de relacionamento, vocês decidiram formar uma dupla? Como surgiu a ideia? Quem sugeriu isso para o outro?

Koanda Effect – A ideia do duo surgiu depois de um ano de relacionamento. Eu, Bruno, toco desde meus dezesseis anos e produzo há três. Fiquei afastado da cena alguns anos e durante a pandemia resolvi voltar a trabalhar com o que mais amo na vida, incialmente tocando e curtindo em nossas reuniões e resenhas com amigos, e aos poucos tudo começou a criar um aspecto mais profissional.

A Jéssica sempre teve um feeling sensacional e também gostava de opinar nos sets, até que certo dia consegui convencê-la a aprender a tocar e aí não parou mais. Então, regado a taças e taças de vinhos, começamos a nos divertir bastante em casa, só nós dois, tocando até altas horas. Como a energia era incrível, decidi propor a ideia do duo. Deu muito certo!

B4B – Vocês hoje, trabalham as vertentes do Melodic e Progressive House. Esses eram os planos iniciais da dupla ou passaram por outras sonoridades? Como vocês definiram o mood da produção de vocês?

Jéssica – Eu, como ouvinte, vim do psytrance, sempre amei e amo. Já tive a oportunidade de ir em duas edições do Universo Paralello (dentre outras festas e festivais do gênero), curto demais um som “pegado” e grooveado, mas hoje amo demais dançar e tocar um Melodic e Progressive. Tenho como referências musicais Miss Monique, Artbat, Ben Bohmer e Camelphat. Música pra mim tem que ser capaz de te fazer transcender, nem que seja por alguns instantes, de te libertar dos seus problemas e encher seu coração de amor.

Bruno – Lá em meados de 2004 a 2006, eu tinha forte influência do Electro, Tech & Deep House. Com meu par de CDJ-100S e mixer VMX-300, me apresentava em bares e festas de Goiânia. A ideia do projeto Koanda Effect surgiu pouco depois disto, mas somente quando decidi colocar em prática seu sonho antigo de ser tornar Produtor Musical aliado à minha paixão pelo Melodic Techno é que ele foi efetivamente criado.

B4B – Vocês possuem como tutores o Renê do Binaryh, assim como André Salata. Como é para vocês, receberem suporte de dois grandes produtores da cena nacional? O que isso impactou e impacta na carreira de vocês, seja musicalmente falando ou no gerenciamento de suas carreiras?

Koanda Effect – Com a ideia de nos tornarmos produtores musicais, fizemos uma grande pesquisa de mercado e sem dúvidas podemos garantir que escolhemos o melhor lugar para iniciar e manter o projeto. A comunidade de áudio do Salata é literalmente um playground de adultos para produtores, se você tem dedicação e ama a música eletrônica, você não consegue ficar um dia sem participar.

É inegável que a tutoria do Renê Castanho tem uma influência fortíssima no nosso projeto. As aulas da Camila também são essenciais para um bom gerenciamento da carreira. Atualmente estamos fazendo consultoria individual com o Salata, cada encontro é uma evolução de anos, os feedbacks que recebemos lá (pesaaaados) são cruciais para a melhoria constante. Só temos a agradecer a eles pela paciência e empenho em nos dar estes conhecimentos tão valiosos.

Recentemente, lançamos o EP ‘GEMSTONES‘ com três tracks pela gravadora de Techno italiana Aryacuna, fica aqui o nosso agradecimento, gratidão e principalmente reconhecimento de que eles tiveram um papel crucial na realização deste sonho.

B4B – Vocês são de uma região que é muito conhecida pelo sertanejo, mas que também já conta com nomes gigantes na música eletrônica brasileira, como é o caso do Illusionize. Como é para vocês, ter que se destacar num local que não conversa tanto com a música eletrônica, mas que em contra partida, tem um grande expoente da dance music logo ao lado?

Koanda Effect – O público goiano é sensacional, eles amam uma festa, amam um entretenimento. Já tivemos grandes palcos da cena eletrônica em Goiânia como a Mega Pulse, GMS dentre outros grandes festivais. Como bem dito, nomes goianos como illusionize, Vitor Lou, dentre outros, são artistas de grande capacidade e que fizeram história criando músicas boas, e assim conseguiram conquistar seu espaço. Acreditamos no poder da nossa música e temos certeza que muito em breve o público goiano também acreditará.

B4B – Vocês dizem que fazem uma mistura do orgânico com o digital. Como isso se reflete em suas produções? Como é o processo criativo de suas músicas e como definem esses processos? Cada um tem uma função ou juntos, literalmente, dão vida as suas faixas?

Koanda Effect – É exatamente isto, vivemos em uma região muito rica, amamos conhecer a natureza do nosso estado como a Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis etc, e sempre buscamos essa conexão do real com o virtual. É comum usarmos elementos orgânicos nos projetos, acreditamos que isto trás conexão e equilíbrio com o eletrônico/digital.

Nosso último EP foi uma homenagem à Chapada e sua riqueza de cristais e pedras, por isto o nome GEMSTONES, com as tracks ‘Ônix‘, ‘Amethyst’ e ‘Emerald’. Nossa inspiração é variada, temos divisões de função no projeto, mas a decisão final sobre as músicas produzidas é sempre dos dois, ambos têm que concordar com o resultado, ou seja, no nosso processo criativo existe tanto uma combinação de elementos nas tracks quanto uma mescla de ideias e inspirações.

B4B – Também queremos saber: como é ter que separar a vida profissional da pessoal? A carreira, em algum momento, conflitou com o relacionamento de vocês?

Koanda Effect – Fazemos tudo juntos, tanto no projeto quanto na vida pessoal, estamos acostumados com a convivência. Temos uma satisfação muito grande em poder compartilhar nossos sonhos. Sempre rolas as “tretinhas” saudáveis de casal na hora do set, mas a gente sempre se acerta.

B4B – E para finalizar, quais são os planos do Koanda Effect para este 2º semestre de 2023? Obrigado!

Koanda Effect – O ano de 2023 tem sido muito generoso com a gente. Só temos a agradecer, sabemos que a caminhada é longa, mas também temos confiança no trabalho constante. Já estamos em contato com algumas gravadoras e nosso projeto principal é o lançamento de um novo EP no segundo semestre. E claro, tocar muuuuuito!

Nós agradecemos imensamente a vocês pelo carinho e atenção. É muito gratificante conceder esta entrevista e poder contar um pouco da nossa história. Todos nós compartilhamos da mesma paixão, a música eletrônica.

Siga Koanda Effect no Instagram.

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Entrevista

Entrevistamos: ZOMERO

De residência em festas digitais a uma gig no Warung, o Templo da música eletrônica. Hoje, conversamos com o DJ e Produtor ZOMERO. Confira!

Foto: Fernando Sigma

Ele começou sua carreira em meio ao caos da pandemia, foi residente de festas digitais, participou do Warung School, tocou no Templo da música eletrônica, além de já ter transitado entre diversos gêneros musicais, até encontrar o seu. ZOMERO é um daqueles artistas que traz em sua essência, a vontade de vencer, sem deixar de lado seu orgulho, que ele traz para mais uma entrevista especial do Pride Month. Entrevistamos: ZOMERO

Beat for Beat – Obrigado por conversar com a gente! Você é um arquiteto que em 2019, realizou seu sonho de 20 anos. O que causou essa mudança de chave depois de tanto tempo? O que impedia que o ZOMERO de surgir?

ZOMERO – Primeiramente, eu quem agradeço o convite ! Acredito que um pouco de auto-confiança/conhecimento, e pessoas próximas apoiando uma mudança grande na vida. Em 2019 comecei um novo ciclo que queria tudo novo para minha vida e isso incluía começar uma carreira de DJ que sempre tinha imaginado. Naquele momento, por mais que eu frequentasse diversas festas e festivais, eu mal sabia as nuances do mercado musical. Hoje tenho diversas pessoas ao meu lado me apoiando e a cada dia aprendendo e trabalhando para a cena.

B4B – Você fala sobre um sonho antigo. Lembra como esse sonho começou? Quais suas primeiras lembranças quando falamos de música eletrônica?

ZOMERO – Por volta dos ano 2000, assim que entrei no colégio comecei a ouvir música eletrônica. Na época o que tocava na rádio e em diversos lugares eram as músicas – DJ Sammy – ‘Heaven’, Gigi D´Agostini – ‘L’Amour Toujours’, Square Heads – ‘Happy’, e Lasgo. Já dá para entender qual era o cenário na epóca. A partir deste ponto, comecei a ouvir muito mais, incluindo na faculdade, a partir de 2003, onde também um pouco do Drum’n’Bass já fazia parte da cena brasileira. Lembro dos festivais “Skol Beats” no Anhembi, e hoje conheço diversos daqueles DJs que se apresentaram, que na época eram desconhecidos para mim. Fico feliz de saber que a maioria continua com uma carreria sólida e que já troquei ideias com alguns deles.

 B4B – Você também é um artista que viu o começo da carreira afetado pela pandemia? Como foi para você, tentar reconhecimento num momento em que as pistas estavam fechadas? Quais foram suas táticas usadas durante a pandemia, para ter seu nome conhecido?

Durante a pandemia aproveitei o isolamento, e a falta de projetos de arquitetura, para focar na carreira. Transmiti diversas lives na Twitch, onde conheci diversos artistas e amigos, aprendi muito sobre tecnologia, pesquisa musical e sem dúvida me ajudou na desenvoltura em apresentações. Ganhei residência em festas digitais do Núcleo Big Fish do Ilan Kriger e promovia entrevistas e apresentações de outros DJs pela Cultura Cosmo. Neste momento também ingressei em cursos de Planejamento e Marketing pela Boreal Agency e também no Warung School onde consegui profissionalizar minha carreira.

B4B –  Suas produções transitam entre alguns gêneros. Você já lançou deep house e nu disco, house e tech house, assim como melodic house. Como é o seu processo criativo na hora de produzir e como determina que estilo irá seguir no próximo single? Como isso se reflete em seus djs set?

As produções transitaram entre gêneros pois eu estava me encontrando, onde de fato queria focar na produção e em qual gênero tocar. Hoje em dia minha pesquisa e produção está focada na House Music, e ela serve tanto para a criação dos meus DJs sets – descobrindo novos artistas e gravadoras – assim como usar algumas músicas de referência na minha produção – seja um timbre ou o arranjo.

B4B – Você já tocou naquele que é o templo da música eletrônica, o Warung. Conta pra gente como foi a sensação de estrear em um dos maiores clubs do mundo. Como surgiu o convite?

Foi um conjunto de emoções desde o anúncio até o fim daquele dia. Eu ingressei no Warung School e cada masterclass possuia um desafio, e os ganhadores tinham a possibilidade de lançar uma track, ou  tocar no templo. Eu ganhei um dos concursos e fiz uma apresentação B2B com a Dani Ebner, também ganhadora. Foi incrível mesmo, e ainda toquei uma track autoral, que será lançada pelo próprio selo do clube! Arrepio só de lembrar quando vi meu nome no flyer, e dos sentimentos ao subir no ‘inside’. Essas emoções aumentam ao lembrar do acidente que o clube sofreu esse ano, mas com confiança que o Templo logo retornará. E em toda essa emoção também está o cuidado e carinho de toda a equipe do clube, do começo ao fim.

O seu projeto, Zomero & Friends, está ganhando cada vez mais destaque. Quais são os próximos passos do projeto? O que pode nos adiantar entre atrações, locais e datas? 

A produção para a quarta edição da Z&F já começou. Estou muito feliz com este projeto que tem como objetivo unir amigos, amigos dos amigos, ouvindo muita música e aproveitando o espaço, mostrando que música eletrônica não precisar ser consumida apenas em grandes clubs ou festivais. O que posso adiantar para a próxima edição é que estou procurando um lugar para uma “sunset”, seguindo o pedido do público que quer aproveitar um pouco mais do dia para se divertir. A previsão é para o mês de setembro, então fiquem ligados nas redes sociais.

ZOMERO no Warung

Recentemente vimos uma publicação sua, demonstrando amor ao seu parceiro, no dia dos namorados. Você se sente confortável em falar sobre um relacionamento homo afetivo? Já sentiu alguma forma de preconceito, por ser um artista gay? 

Por ele ser muito companheiro e apoiar toda minha trajetória, me sinto confortável sim e diretamente nunca senti algum preconceito, mas sabemos infelizmente que ele existe. É triste ver na cena eletrônica que surgiu entre a população queer, preta, latina. Não entra na minha cabeça o porquê de uma pessoa se preocupar com a a orientação sexual da outra, a ponto de cometer atos terríveis. 2023 ainda temos muito que conversar e ensinar sobre respeito, mas não podemos parar nem desistir.

– Para finalizar, o segundo semestre está começando. O que o ZOMERO tem preparado para o restante de 2023? Músicas? Gigs importantes? Obrigado

Estou planejando diversas novidades para o segundo semestre e que não poderei dar o spoiler agora, mas posso garantir que o foco na produção musical trará muita música para vocês. Um pequeno spoiler é que estou finalizando uma track, com a mixagem e masterização por Dudu Marote, com vocal autoral onde a mensagem diz muito sobre o meu projeto e minha forma de ver a vida. Muito obrigado pelo papo e nos vemos nas pistas!

Siga ZOMERO no Instagram.

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Via UnderGROUND

Desthen: buscando novos objetivos e sonhos; falamos com o duo

Formado por Antônio e Caique, amigos se conheceram no Tomorrowland e firmaram um projeto para a vida, o Desthen, que conversou com a gente.

Desthen | Foto: Fernando Sigma

Quase um ano atrás, o duo de Melodic Techno Desthen aparecia por aqui dando algumas dicas de criação de ambiências com pads em nossa coluna Tech. O tempo passou, novas conquistas foram alcançadas e novos objetivos também foram traçados. Hoje, Antônio e Caique — que se conheceram logo após uma edição do Tomorrowland — estão bem mais maduros do que quando iniciaram o projeto, por volta de 2016/17, então os convidamos para um bate-papo com o objetivo de inspirar tanto novos artistas, como também apresentá-los para os amantes do Techno Melódico e Progressivo.

Beat for Beat – Olá, dupla! Tudo bem? Vocês já estão com pouco mais de 5 anos de projeto, como tem sido essa trajetória até aqui? O que tem sido mais desafiador para vocês dois?

Desthen – Oi, pessoal! Tudo ótimo aqui. Então, tem sido uma trajetória muito desafiadora e cheia de surpresas. Alcançamos alguns objetivos além do que esperávamos desses 5 anos de carreira, e foi muito gratificante. Manter a perseverança nos momentos difíceis certamente é o mais desafiador. Lidar com a falta de gigs em certas fases e encontrar um bom posicionamento no mercado… Quando se encontra o caminho, é mais tranquilo passar por isso de forma resiliente.

B4B – Ambos ainda levam a música de forma paralela, certo? Quais as ocupações de cada um no dia a dia? Como buscam organizar a rotina para dividir o tempo com o projeto? 

Desthen – O Antônio trabalha no departamento pessoal de uma agência de empregos e eu, Caique, sou gerente de uma Funilaria e Pintura. É bem complicado conciliar ambos dentro do dia a dia, pois nos sobra pouco tempo durante o horário comercial. É pela noite em que colocamos praticamente tudo em prática, conseguimos focar na média de 5h por dia, nos dividindo entre os dias de produção, aprendizado, mercado e as gigs claro.

B4B – As referências de vocês sempre foram as mesmas desde o início? Considerando o Techno Melódico e o Progressive House como base da identidade sonora atual de vocês, quais nomes são as grandes inspirações de cada um? 

De início não era muito não (risos). Hoje está bem mais semelhante, apesar de termos nossos gostos particulares, é bem ajustado. Para sermos sinceros hoje o progressive não nos atrai muito como era no início do projeto, mas temos as seguintes referências:

Caique – Progressivo: Guy J e Melodic:  Argy

Antônio – Progressive: Hernan Cattaneo e Melodic: Dahu

B4B – Quais foram os objetivos que vocês traçaram e conquistaram até aqui? E aqueles que ainda estão no plano para serem alcançados, a médio e longo prazo?

Desthen – Já alcançamos alguns objetivos que foram bem significativos para nossa carreira como o Ame Laroc Festival estreando a ‘Bass Bike’, D.Edge e alguns lançamentos em gravadoras como Prototype e Deep Tales que teve uma grande relevância no exterior alcançando boas colocações no Beatport. Porém, é claro, ainda tem uma longa caminhada até outros clubes no Brasil e no exterior. Estamos trabalhando pra isso!

B4B – A gig no Ame Laroc Festival realmente deve ter sido especial… quais outros clubs e festivais vocês almejam tocar pela frente? 

Desthen – Foi extremamente especial e gratificante, sem palavras. Temos muitos, tanto no Brasil quanto no exterior hahaha, mas podemos citar o Próprio Ame Club, Caos, Green Valley, Warung, Ressonância. No exterior podemos citar Crobar, The Loft, Hi Ibiza, Ushuaia, Burning Man, Tomorrowland, Kappa, Afterlife, Time Warp, Awakinings, Untold e todos os outros que todo artista da vertente almeja hahahahaha.

B4B – E como vão os trabalhos de estúdio? Os últimos lançamentos já fazem alguns meses… o que está engatilhado para vir a seguir? 

Desthen – Estão indo bem, está dando para focar bem ultimamente. Temos algumas tracks prontas para serem lançadas logo mais em uma gravadora brasileira pela qual temos uma grande admiração e outras tracks prontas para serem enviadas, então nos próximos meses esperamos compartilhar com vocês essas novidades!

B4B – Inclusive, o Free Download do edit para ‘Empire Of The Sun’ bateu a marca de 5k plays no Soundcloud… vocês pensam em seguir promovendo música nesse formato? 

Desthen – Ficamos extremamente surpresos com esse Edit e a marca de plays que ele atingiu tivemos bons feedbacks nele, foi um lançamento de muita relevância e importância.

Pensamos sim, tendo em vista que a galera abraçou super bem, pretendemos esporadicamente lançar conteúdos como esse, inclusive estamos trabalhando em um!

B4B – Nas plataformas digitais, vocês também têm atraído alguns novos ouvintes e fãs com o trabalho de vocês. O que vocês acham que é necessário para se diferenciar de tantos outros projetos que surgem na cena? 

Desthen – Sim, aos poucos nossos ouvintes vem crescendo e estamos muito felizes com esses resultados. Estamos focando ao máximo em consolidar nossa sonoridade e cada vez mais fugir de produções óbvias e buscando passar ao máximo nosso propósito e verdade.

B4B – Para finalizar, um bate-bola rápido: b2b dos sonhos?

Desthen – Fideles

B4B – Uma track atemporal…

Desthen – Café Del Mar (Tale Of Us Remix)

B4B – O que nunca falta em um set do Desthen? Obrigado!

Desthen – Pesquisa Musical para ter novidades fora da caixa!

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Entrevista

Entrevistamos: FUGAZ

Eles começaram o projeto durante a pandemia e hoje viajam o país levando sua sonoridade plural. Conversamos com o duo Fugaz.

De frequentadores do Club 88 a parceiros da vida pessoal e profissional. De performes de festas digitais na pandemia, a uma agenda com tour passando por diversas cidades do Brasil. Rafael e Rica são as pessoas por trás do projeto Fugaz. Com sua sonoridade passeando por diversas vertentes e carregando a imagem queer com muito orgulho, conversamos com a dupla de Campinas, que alcança cada vez mais, lugares de destaque na cena underground.

Beat for Beat – Olá, meninos, tudo bem? Obrigado por conversarem com a gente. Para começar, queremos saber: como vocês se conheceram? Sabemos que foi no Club 88, mas como foi o primeiro encontro? Quem deu o primeiro passo? Nos deem detalhes sórdidos.

Rafael – Em 2018, a gente trocou olhares no Club 88, nos apresentamos por meio de amigos e ficou por isso mesmo. Na época, eu namorava. Daí depois, a gente se encontrou no Carnaval em São Paulo e acabou dando um beijo triplo no bloquinho com meu ex. Mais sórdido que isso? Impossível! (risos).

Rica – Um tempo depois, o Rafa terminou o namoro e eu mandei mensagem assim que fiquei sabendo. Daí, a gente começou a sair, mas acabamos ficando amigos por um tempão ainda. Só começamos a namorar mesmo no final de 2020. O engraçado é que o ex dele, o Pedro Camargo, hoje em dia é nosso melhor amigo e já curtiu a maioria das gigs do Fugaz com a gente. Ele até aprendeu a tocar com a gente nesse meio tempo!

B4B – Vocês iniciaram a carreira em meio ao caos de 2020 e a pandemia. Como fizeram para serem vistos, num momento de isolamento total? Como era tentar fazer todos entenderem, apenas de forma virtual, a ideia que queriam transmitir?

Rafael – Na minha opinião, se não fosse a pandemia, o Fugaz não existiria. Foi nesse momento de isolamento que a gente se pegou pensando: meu Deus, o que estou fazendo da minha vida? A gente saiu do automático ali. A pandemia despertou uma necessidade tremenda da gente se comunicar com o mundo e levar nossa mensagem de liberdade, amor, pertencimento e poder de diversidade para a nossa comunidade. A gente começou a fazer fotografias, vídeos artísticos, crônicas e até podcasts nas nossas redes.

Rica – Depois, tivemos a oportunidade de expressar nossa visão artística durante o auge das festas virtuais. Nosso maior parceiro criativo, o Fujimiro, observou nosso movimento nas redes sociais e nos convidou para performar na festa virtual do Club 88. Investimos muita energia neste projeto, criando apresentações que mesclavam figurinos marcantes com projeções criativas sob uma seleção de músicas emocionantes pra gente. Depois disso, o projeto só cresceu: começamos a estudar discotecagem, produção musical, performance e a produzir novos tipos de conteúdos para as redes sociais.

Rafael – E se você parar para pensar: a gente apenas continuou a fazer tudo isso até hoje.

B4B – Vocês citam um estilo que incorpora diversos gêneros, como disco, acid, house e suas nuances. Como funciona o processo criativo de vocês na hora de construir um set? Como vocês definem o mood que dará o tom das suas apresentações?

Rafael – A gente busca visitar uma série de referências nossas, tanto do passado quanto do presente. Fazemos muitas temporadas de pesquisas nos estilos em que queremos trabalhar, principalmente diante de gigs importantes. Depois, apresentamos essas pesquisas um para o outro e decidimos o que faz sentido ou o que ficará para uma próxima. A gente gosta de levar mais de 300 tracks por gig e construímos essa apresentação para o público numa progressão melódica com mixagem harmônica iniciando em Abm e terminando em E.

Rica – O clima das apresentações varia de acordo com as circunstâncias da pista e as propostas espontâneas de cada evento, mas sempre preservamos nossa essência como prioridade.

B4B – Outra coisa que vocês carregam, é a identidade queer. Sendo um casal de homens gays, isso já dificultou que fossem contratados por alguma festa, causou desconforto ou até mesmo preconceito na nossa cena?

Rafael – Diretamente, não. Indiretamente, sim, principalmente quando pensamos em diversidade na música eletrônica e do que realmente é urgente. Muitos produtores são excludentes ao determinar os line ups. Não se importam com a composição final. Infelizmente, é comum nos depararmos com line ups 100% brancos, ou 100% masculino, ou 100% cis, ou 100% hétero, principalmente em eventos mainstream.

Rica – É muito contraditória essa situação de desigualdade nos line ups já que a história da música eletrônica sempre foi pautada na diversidade. Este espaço nasceu na comunidade LGBTQIAP+, na comunidade preta e na resistência dos corpos positivos.

Queremos ver mais artistas como estes explodindo, tendo sucesso, alcançando espaços cada vez maiores na cena que sempre pertenceu a eles/elas/elus.

B4B – Vocês já passaram por diversas cidades do país, o que para uma carreira tão nova, é algo louvável. Vocês esperavam que tudo acontecesse de forma tão rápida? Como vocês fazem para manter a cabeça no lugar e não se deixarem levar por esse momento de ascensão? 

Rafael – Só de ler essa pergunta minha cabeça já saiu do lugar (risos). São quase 3 anos em que nos dedicamos todos os dias para o Fugaz. Nossas conquistas são frutos disso. A gente perdeu um pouco a dimensão do que é rápido ou devagar, principalmente numa cultura imediatista como a que vivemos hoje. Pensamos que estamos no tempo certo. E tomamos muito cuidado para não dar o passo maior que a perna.

Rica – Queremos entrar nas festas que estamos prontos para participar. Não queremos tocar num lugar apenas para contar a história. Queremos tocar nos lugares para voltar para eles e tocar lá muitas vezes. Esse sim é o maior indicador de sucesso pra gente, ser convidado novamente é a maior métrica de que estamos no caminho certo. A consistência do nosso projeto e a satisfação do público é a nossa maior motivação.

Rafael – E ah, para manter a cabeça no lugar: terapia, exercícios físicos e cuidados com a saúde são prioridades na nossa rotina.

B4B – Vocês recentemente começaram a trilhar o caminho da produção musical e em seu EP ‘Me Gusta’, possuem um remix de L_cio e Érica. Contem pra gente um pouco do processo criativo desse material e o motivo da escolha desses dois nomes para fazerem suas versões para ‘Morfina’.

Rica – O EP nasceu em uma fase em que eu estava surtado com meu trabalho formal. Eu me sentia preso, tendo que me encaixar num espaço em que eu não cabia, extremamente retrógrado e conservador. A única forma de me tirar daquele estresse era produzir no Ableton, criar as tracks. Foi aí que uma das tracks do EP Calabouço ganhou força e nasceu então a Morfina. Esse nome nasce como válvula de escape para “esquecer” as dores e ansiedades geradas pelo sistema capitalista, em que o lucro está acima da vida.

Rafael – Conhecemos o L_cio num dia incrível: foi no boiler room da Valentina Luz. A gente comentou com ele que ele era uma baita referência para nossas produções e ele ficou mega curioso para escutar nosso projeto. Naturalmente a coisa fluiu: ele animou de fazer um remix pra gente e deu a ideia da Érica compor os vocais. A gente já tocava as músicas dela e adoramos a ideia. E o resultado tá aí nas pistas!

B4B – Vocês estão preparando o lançamento de ‘Suit Vit’, que celebrará a individualidade, diversidade e o poder de se expressar por meio da arte. O que podemos esperar da sonoridade dessa música? Como foi todo o processo de criação?

Rica – A sonoridade dessa faixa é uma fusão de elementos de techno, electro house e tribal house dos anos 90. Ela busca recriar a atmosfera musical daquela época a partir do ponto de vista do pioneiro produtor musical londrino Tony de Vit.

Rafael – Nós escolhemos retratar a visão dele pois ele simboliza muito para nós, com seu estilo de house reto e marcante, Tony foi um representante da comunidade Queer que lutou contra o vírus do HIV e acabou falecendo devido à complicações da Aids. Nossa música tem a missão de tornar o espírito de Tony vivo até hoje, como um necessário símbolo de resistência artística na nossa comunidade, principalmente nas pistas de dança.

B4B – Além de um duo no palco, vocês são um casal na vida real. Como é viver ao lado da pessoa que também é seu companheiro de trabalho? Vocês divergem muito na hora de produzir e pensar no projeto? Como separam a vida profissional da pessoal?

Rica – Buscamos ter nosso momento de casal, mas as vezes é inevitável. O curtir um festival, por exemplo, de repente vira um trabalho: quando você percebe já está encontrando vários colegas de trabalho e até conversando a respeito. Vivenciamos outras atividades e ambientes, como viajar, sair para jantar, beber vinho com os amigos, conhecer novas pessoas, novos boys, por aí vai… Fugaz faz parte do nosso romance e afinal, ele está com a gente sempre, a todo o momento.

Rafael – A noite mudou para sempre pra gente. Sair para relaxar é uma coisa de outra vida, parece. É difícil fazer estas distinções todas porque somos um todo. Hoje em dia temos sempre uma pressão para se relacionar ou para demonstrar uma imagem positiva. Nesse sentido, é ótimo ter alguém ao lado para compartilhar tudo isso pois a gente se ajuda muito com essas responsabilidades (e nos ajudamos quando precisamos ser irresponsáveis também)! Inclusive, esta parceria reverbera muito nas nossas decisões artísticas: a gente costuma concordar em boa parte do direcionamento do nosso projeto.

B4B – Por fim, queremos saber do futuro. Além do single que já está encaminhado, o que vocês possuem na manga do FUGAZ? Que surpresas podem nos adiantar? Obrigado pela entrevista!

Fugaz – A gente pode revelar pouquíssima coisa por enquanto! Mas podemos adiantar: datas em festas incríveis e que amamos no Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba. E também nossas curadorias em Campinas estão finalmente pegando fogo. Quem estiver por perto, verá!

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Descubra: Izzz

Uma das 100 DJs do ranking DJane Mag de 2022, Izzz é uma artista que aposta numa sonoridade mais hard e que você descobre agora!

Um dos grandes prazeres desta coluna, é apresentar artistas novos e que genuinamente bebem da sua arte e Izzz é uma delas. Mulher, uma das 100 DJs do ranking DJane Mag, ela foi na contramão de tantas outras e apostou num gênero não tão difundido de música eletrônica, o Hard. Com o objetivo de crescer como profissional e fomentar cada vez mais a cena dos hardbeats nacional, a artista conversou com a gente num papo bem profissional.

Descubra, Izzz:

Beat for Beat – Quero começar falando sobre seu passado com a dance music. Como você veio parar na música eletrônica, no sentido geral? Lembra quais foram seus primeiros contatos e lembranças?

Izzz – A música eletrônica esteve presente em minha vida desde uns 10 anos de idade, quando eu ouvia ‘Summer Eletrohits’ no meu toca-discos, que na época era meu maior xodó. Eu nem sequer sabia que isso se configurava como música eletrônica, acreditava ser algum tipo de música pop, só depois de mais velha que fui perceber há quanto tempo esse estilo já existia no meu repertório.

Já no meu período de adolescência eu conheci o Skrillex, que hoje ainda é uma das minhas maiores referências artísticas. Eu me recordo de ter mergulhado em toda uma nova onda musical na época, onde o dubstep e o drum’n’bass se tornaram muito marcados na minha biblioteca pessoal. Em 2017 eu frequentei a minha primeira rave de psytrance e foi aí que um leque de possibilidades se abriu.

no início eu era voltada aos estilos do progressive e full on, e depois de viajar por diversos tipos de festas, eu comecei a ter mais frequência em eventos da cena underground, que tocavam hitech, darkpsy e psycore, descobrindo então novas possibilidades.

B4B – E a vontade de começar a tocar, surgiu em que momento? Tem algum fato que desencadeou a vontade ainda mais?

Izzz – A vontade de começar a tocar surgiu quando eu comecei a frequentar eventos de psytrance e me via cada vez mais rodeada de amigos e amigas que eram DJs e produtores, e eles sempre me incentivaram muito a fazer algo com esse desejo. Porém, eu era uma pessoa que tinha muito medo de errar, principalmente em frente a outras pessoas, e isso por muito tempo me impediu de dar meus primeiros passos, porque eu olhava os equipamentos e pensava: “Isso deve ser muito difícil! Então nem vou tentar…”.

Eu também creio que parte dessa resistência acontecia porque eu não havia encontrado, de fato, o estilo de música eletrônica que me tocava fundo o suficiente para dar esse start… até conhecer o hardbeats. Esse encontro aconteceu em uma festa de psytrance da virada do ano de 2018 para 2019, quando eu escutei Pharmacy Kids Story, o pioneiro da cena hard aqui no Brasil, e eu não fazia ideia do que era aquele som, mas eu tinha certeza de que se um dia eu fosse tocar, seria aquilo. Depois de ficar dias embasbacada com a apresentação, eu comecei a pesquisar loucamente pelo gênero e lembro claramente de ter pensado: “É isso que eu quero tocar!”

B4B – Hoje, você toca vertentes da cena hard. Como foi parar num cenário que não é tão difundido no Brasil? Isso dificultou seu começo de carreira como DJ?

Izzz – No início foi um pouco mais difícil porque eu tive que entender todas as configurações dessa cena sozinha, eu não conhecia ninguém para me ajudar a adentrar esse universo, então foi um período que eu “comi” muita referência e informação. Depois de um tempo eu fui encontrando coletivos e pessoas que já estavam se movimentando aqui no Brasil, e aí foi quando eu me toquei da magnitude do que eu estava me envolvendo… percebi que não seria só sobre subir no palco e mandar um som, mas também sobre fazer parte do crescimento e de toda a manutenção de uma cena que ainda está em crescimento no nosso país.

Então eu tornei o meu objetivo maior do que só a minha carreira, mas também em ser uma pessoa ativa na ascendência do hard brasileiro, que não só tem muito potencial, como também muitas pessoas com fome de um cenário bem difundido. No começo da minha carreira, estar em uma cena pouco conhecida não foi um fator decisivo para que eu tivesse oportunidades, creio que eu encontrei as pessoas certas nos momentos certos, então isso me abriu portas, o mais complicado foi sentir como se eu estivesse sozinha nesse meio (o que pouco tempo depois, como já comentado, eu descobri que não era bem verdade).

B4B –  Além de fazer parte de uma cena não tão grande, você ainda é uma mulher. Como você vê a questão da barreira do gênero, tanto na cena hard, quanto na música eletrônica como um todo?

Izzz – Não é segredo para ninguém que a sociedade em que vivemos atualmente é fundamentalmente machista, então não só na música eletrônica, mas também em tantos outros meios profissionais, isso atravessa as nossas ações. Na cena do hard dance music a grande maioria são homens, não só aqui no nosso país, mas também fora, porém eu não acredito que isso aconteça porque menos mulheres estão tocando, como já escutei como argumento por aí… tanto que cada vez mais conheço mulheres ativas nessa cena e ansiando por destaque.

Na música eletrônica como um todo o caminho segue similar, e as oportunidades para esse público acabam por serem escassas e muitas vezes pautadas em questões que nada tem a ver com o talento da mulher, como a aparência, por exemplo. Além disso, é constante o debate do quanto as mulheres precisam desempenhar o triplo para estar no mesmo lugar, por isso acabam se profissionalizando mais, engajando mais nas mídias sociais e investindo muito mais tempo. Infelizmente é uma realidade que precisamos debater mais sobre e também promover ações que realmente transformem esse cenário.

B4B –  Ano passado você figurou entre as 100 melhores DJanes do Brasil, segundo a revista DJane Mag. Como é para você, receber tal título, coisa que algumas DJanes do Brasil, mesmo com anos de carreira, ainda não conseguiram tal feito?

Izzz – Foi uma loucura total! Eu me lembro que no dia que fui nomeada eu chorei horrores. Isso não representou somente a mim, mas também a minha cena, porque eu fui a primeira DJane de hard a estrelar no ranking, então isso mostra o quanto não era só da minha cabeça a capacidade que nós temos de crescer aqui no Brasil. Eu trabalhei muito para chegar nesse lugar e apesar de ter sido muito surpreendente no dia, eu não vi como uma total surpresa porque eu sabia que era possível depois de tanto empenho que eu coloquei para conquistar isso. É muito gratificante ter sido reconhecida por eles como alguém com potencial, e querendo ou não isso nos faz querer ainda mais!

B4B – Quais são seus próximos passos na carreira? Quais maiores ambições, tanto mais do presente, quanto do futuro distante?

Izzz – Meu próximo passo com certeza é a produção musical. Atualmente eu estou trabalhando na minha primeira música autoral, que virá com uma identidade única dentro da cena do hard e eu espero quebrar algumas barreiras com isso. No presente, minha maior vontade é ampliar essa cena e realmente criar um público que seja fiel a esse movimento aqui, e eu já estou fazendo isso acontecer com tantos outros coletivos como a Tropicore, que produz eventos focados somente no hardbeats e, claro, continuar com as produções, lançando inclusive um álbum ano que vem ou no próximo.

Pro futuro distante é conseguir me apresentar mais vezes fora do estado de São Paulo, mas também fora do país, levando algo que seja genuinamente brasileiro e fazendo os gringos remexerem o quadril como nunca antes!

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