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Entrevista

Entrevistamos: Mamba Negra no The Town

Representando a mamba negra, uma das maiores festas undergrounds de São Paulo, Paulete Lindacelva e Valentina Luz brilharam no New Dance Order do The Town.

Valentina Luz e Paulete Lindacelva no The Town (I Hate Flash, 2023)

Corpos livres, união, respeito, admiração à música e um transe absoluto do tempo coloquial. Se você já foi até uma Mamba Negra com certeza já sentiu todo esse impacto bem próximo do seu estado de êxtase. O selo foi homenageado no palco New Dance Order, do The Town, maior festival de música de São Paulo, trazendo para o encerramento de palco Paulete Lindacelva e Valentina Luz, duas representações da comunidade LGBTQIAPN+, que abraçaram a identidade da Mamba, após o acolhimento que tiveram, tão próximas de sua liberdade.

Valentina Luz tem um repertório que inclui house music, techno ou até funk nacional. Paulete Lindacelva completou nove anos de carreira como exímia pesquisadora dos sons essenciais da house music, techno e outras vertentes. Ambas se encontraram nos palcos e também deram uma palavra conosco, para celebrar seus anos de Mamba:

Mamba Negra Showcase no The Town (I Hate Flash, 2023)

Beat for Beat – Olá, meninas, tudo bem? Preciso comentar que ambas, tanto Valentina quanto Paulete, foram duas de nossas entrevistas mais acessada do nosso site e vocês são sempre queridas por nossos leitores. Para começar, gostaria de saber como é para vocês representarem uma festa tão importante como Mamba Negra aqui no The Town e como foi criar e transcrever esse convite em um set.

Paulete – Ah, eu acho que foi uma delícia, foi gostoso. Óbvio, é uma honra, tá? Dividir no palco, já falei isso inúmeras vezes, com a cabeça da mama negra, Valentina Luz, que foi considerada a melhor deles no ano de 2021. Então, óbvio, eu repetir isso sempre, é uma honra pra mim, é uma delícia, é um deleite. Tantos outros coletivos que passaram neste palco e foi uma curadoria muito respeitosa em ceder espaço para quem de fato constrói a noite de São Paulo, com a essência underground, que remonta as geografias afetivas dessa cidade e do que é a essência da música, de que é a sonoridade paulistana real.

Valentina – É sempre uma honra fazer parte desse coletivo tão rico e que cede tantas oportunidades e que hoje pode dar essa oportunidade para nós, que já tínhamos essa vontade de tocar juntas, então amei muito. Eu sempre admiro muito o trabalho da minha amiga Paulete Então, acho que a gente até acabou trocando sobre isso, sabe? Somos corpos livres e hoje o nosso set também traz uma troca entre nós que já existia, construindo uma narrativa sob um DJ set que só o nome da Mamba traz. Durante muito tempo achei difícil disso acontecer, eu não esperava, mas está acontecendo.

 

Beat for Beat – Nós também ficamos muito emocionados em ver vocês celebrando juntas. É muito representativo para nós LGTQIAPN+. E a base do DJ set, você chegaram a construir juntas ou será na raça?

Valentina – Acho que a gente já se conhece bem, a “lete” já toca bem mais tempo que eu, nós até já tocamos algumas vezes, mas nada oficial como agora sabe. Então sempre teve essa vontade. Eu acredito que podemos ter uma liberdade criativa nesse back to back. Lógico que a gente conversou, a gente até queria se encontrar, mas eu acho que é a energia da banda mesmo, sabe? Que a gente tem que trazer na hora do show. Eu realmente levo meu free style e sempre dá bom.

Paulete – Pra mim também funciona da mesma maneira. A gente, inclusive, se ligou, trocou mensagem pra saber quais eram as expectativas sobre a noite e tal, mas enfim, né? Quem sabe faz ao vivo. Bora ver.

 

Beat for Beat – A Mamba é uma das principais representantes da cena underground de São Paulo. Como vocês analisam, não só a Mamba, mas a cena como um todo, comparada a outras cenas locais do mundo?

Valentina – Das trocas que tive acho que o Brasil é sem dúvida, único. O público é único e nós sim somos a crista da onde, as nossas sonoridades ocupam espaços, são até meio cooptadas, também temos pluralidade a nível musical, não só no Brasil, mas como em outros países da América Latina. Temos grandes produtores, grandes DJs e temos grandes surpresas como a retomada da importância do funk 150 bpm e suas novas experiências. Enfim, o Brasil é singular e único neste contexto.

Paulete – São Paulo é incrível. Tenho passado os últimos meses viajando muito e voltar para casa é sempre tão bom. De um barzinho que você consegue tocar para no máximo 50 pessoas e que em minutos tudo se torna um acontecimento, com todos dançando. As pessoas dançam. As pessoas daqui estão interessadas em conhecer o novo e eu sinto que meu trabalho é reconhecido aqui. Sempre tive muito medo de sair de casa, mas hoje me sinto segura aqui e nosso papel, meu e da Valentina é se levar esse pedacinho daqui para o resto do mundo. Levar essa energia contagiante para outros locais.

Mamba Negra Showcase (I Hate Flash, 2023)

Beat for Beat – Para finalizar nossa conversa, eu acho que vocês duas já pegaram muuuuuitas mambas, mas quando a gente fala sobre aquele momento que vocês viveram na mamba negra, o que vem à cabeça?

Valentina – A melhor mamba da minha vida foi a mamba com Fango. Foi uma das minhas primeiras, assim e era uma festa mais intimista, enfim, perto do que está hoje, mas eu lembro que eu não conseguia acreditar, estava amanhecendo, as performances acontecendo, a galera perfeita!

Paulete – A minha, com muita dor no coração, foi a “água de chuca”, dezembro de 2018. Queimei meu celular, dancei muito, me acabei muito, não estava trabalhando, no fim eu peguei minha bolsa e o celular queimado, depois de tanta água, uma loucura, uma delícia, apoteótica diria. Uma hecatombe de amor, foi maravilhoso!

Beat for Beat – Muito obrigado pela entrevista meninas!

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Entrevista

Entrevistamos: BATEKOO no The Town

Uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+, a BATEKOO conversou com a gente no The Town.

Edição: Carlos Vinicius

A BATEKOO é uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+ com foco nas juventudes urbanas. Muito além de uma festa, é um polo de conexão entre jovens inquietos, que buscam propor narrativas contra-hegemônicas e transformações sociais no cenário cultural brasileiro.

Foi durante mais um grande de feito do coletivo, sua apresentação no The Town, que conversamos com eles sobre a importância de corpos pretos ocuparem seus lugares que são de direito, em meio a cena musical eletrônica. Confira agora a entrevista:

Beat for Beat – Vamos falar um pouco sobre a história da BATEKOO. Vocês começaram lá na Bahia, em 2014 e de lá, foram para todo o Brasil. Como é para vocês, ocupar espaços que são seus por direito?

BATEKOO – Começar em Salvador pra gente foi algo bastante desafiador, porque é a cidade com o número de pessoas pretas fora da África, então percebemos uma desproporcionalidade muito grande de eventos, oportunidades de cultura e manifestações culturais voltadas a pessoas pretas e LGBTs pretas. Depois que a festa foi um sucesso em Salvador, percebemos que essa demanda, na real, não era algo exclusivo de Salvador.

Depois disso, a gente passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Santos, e agora chegamos em Lisboa. Com isso, conseguimos perceber que existe uma comunidade que necessita de uma atenção e que a gente consegue, de alguma forma, também, pensar com a cabeça dessas pessoas e propor espaços onde nos sentimos confortável para sermos nós mesmos e colocar essas pessoas também em destaque tão grande quanto os nossos, e isso é importantíssimo.

Ficamos muito felizes de poder, de alguma forma, criar esse intercâmbio, essa conexão da pista com o palco, porque não é só sobre a gente que tá ali em cima do palco, é também sobre as pessoas pretas que estavam no The Town, por mais que tenha sido uma minoria muito pequena. Sentimos que é um caminho que estamos construindo que é irreversível e que, em breve a gente vai conseguir mudar ainda mais as estruturas para que a gente não seja mais exceções e minorias

B4B – Quando vamos falar de ocupar espaço precisamos também falar da questão da música preta  A house music nasceu preta, o funk nasceu preto, o hip hop nasceu preto, mas embranqueceram. Como é o processo de reeducar as pessoas musicalmente, mostrando o contexto histórico dessas músicas?

BATEKOO – Esse resgate é uma luta muito antiga, de outras pessoas que vieram muito antes de nós, esse resgate de que a maioria dos ritmos criados são pretos. Muitos são invisibilizados, mas acho que ultimamente, principalmente no Brasil, de teve um crescimento muito grande principalmente da ballroom e da cena de vogue, isso deu uma popularizada muito grande em ritmos eletrônicos de dance music então, o house, para as pessoas entenderem que é um ritmo preto feito para pessoas pretas, num espaço preto.

Hoje em dia a gente vai percebendo, mesmo que aos poucos, que tá rolando esse movimento, inclusive, de afirmação que funk é música eletrônica, porque é isso, é uma música feita digitalmente então é música eletrônica, querendo ou não. Ainda precisamos de algumas afirmações de espaços grandes como, por exemplo o The Town, criar um palco de música eletrônica e colocar vários DJs, vários artistas e performers de funk e com isso vamos percebendo esse avanço nessa luta que a gente e quem veio antes, está fazendo há muito tempo, esse reconhecimento.

Inclusive, estamos destacando isso em todas as entrevistas que fazemos. Achamos que o The Town se propôs a fazer uma curadoria sobre a noite de São Paulo e fez isso com muita excelência. Estamos ao lado de vários artistas que encontramos semanalmente na noite da cidade, na base de quem tá construindo a cena, o que é muito importante, mas que é muito pouco visto e o The Town se propôs a dar esse destaque pra essas pessoas e tá sendo incrível ver pessoas  que a gente sabe que tá moldando muito a cultura brasileira, que tá construindo e virando tendência. Moldando o comportamento brasileiro a partir da música, tocando em um festival gigantesco como esse.

Até porque com essa globalização, principalmente que o Brasil tem dessa mistura de vários ritmos, do funk, do vogue, do house, nós temos várias propostas, então hoje ter um palco com vários produtores que trazem além dessa tendência, mas essa afirmação e essa  imersão com esses vários ritmos é muito prazeroso. 

Achamos que eles puxaram também para essa afrodiáspora, porque todos esses ritmos  que a gente toca, que vive nessa nossa cultura, eles também vêm dessa afrodiáspora, desse local do corpo preto, ser retirado das suas terras, ser dissipado ao redor  do mundo e cada região  trazer uma musicalidade, uma sonoridade, mas que no fim  elas se transpassam. Se eu escuto um funk e um vogue beat, o bouncing ele vai vir de um mesmo lugar, assim como um afro e as coisas se transpassam e é muito lindo ver isso também. A BATEKOO conta isso, esses encontros de ritmos, de ancestralidade e no The Town contamos ainda mais.

B4B – Vamos falar também sobre o festival de vocês. Qual é a sensação de sair de festas pequenas, para o The Town e seu próprio festival na Neo Química Arena?

BATEKOO – Fizemos nosso primeiro festival no ano passado, em dezembro e agora estamos indo pro segundo, que vai ser dia 7 de outubro na Neo Química Arena. Temos artistas como Grupo Revelação, Liniker, Gaby Amarantos, Sampa Crew, Tasha & Tracie, Kyan, Mu54O, A Dama, Shevchenko & Elloco, entre outros. O festival significou pra gente, na nossa trajetória, um grande passo, um marco na nossa história, porque no começo a Batekoo fazia evento em São Paulo para 300 pessoas no Morfeus e agora, a gente fazer um festival  para 12 mil pessoas, estar aqui  também no The Town, um festival para 100 mil pessoas é muito incrível, é muito gratificante, todo mundo aqui sabe o corre que foi pra chegar até aqui. É difícil, é complicado, tem aqueles percalços no caminho mas a criatividade da juventude negra tem feito acontecer e está fazendo as coisas virarem, independente dos desafios.

Para completá-lo, nós somos um dos poucos festivais brasileiros proposto por pessoas pretas, e isso já é uma coisa muito incrível de se destacar. O nosso propósito no ano passado, que foi o nosso primeiro festival, que era algo muito novo também, era propor um festival que a gente não se visse apenas no palco, mas também na pista pensando num festival que fosse majoritariamente negro, esse ano a gente vem com o big bang dos pretos.

Mesmo depois de tudo isso, conseguimos transformar a nossa vingança em felicidade, pensando muito que às vezes celebrar, dançar, estar com os nossos é a melhor  maneira da gente se vingar do racismo e de todas as violências que a gente sofre no nosso dia-a-dia. É um momento muito importante, também falar do festival da BATEKOO porque pra gente é a realização de um sonho, e a realização também da criação de um espaço que a gente sente que não existe e que é muito importante nós, cabeças pretas, estejamos pensando nesses espaços propostos para pessoas pretas, onde sabemos do que a gente gosta, não é algo fácil de se decifrar, e a publicidade nunca vai conseguir chegar lá sem a gente.

B4B – Obrigado, galera, muito obrigado!

BATEKOO – Obrigado!

Os últimos ingressos para o Festival Batekoo estão disponíveis e você pode comprar o seu clicando aqui.

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Entrevista

Entrevistamos: Diogo Strausz no The Town

Produtor musical, compositor e multi-instrumentista, Diogo Strausz é um artista completo e conversou com a gente durante o The Town. 

Edição: Carlos Vinicius

Diogo Strausz é produtor musical, compositor e multi-instrumentista. Crescendo no Rio de Janeiro, desde cedo demonstrou um talento pródigo para a composição, e essa mesma paixão por criar música ainda hoje inspira Diogo como produtor musical e remixer. Dividindo-se entre o Brasil e a França, o artista possui um currículo impressionante e que agora, conta também com uma apresentação no The Town.

Conversamos com Diogo durante o festival e o artista nos falou sobre a conexão Brasil x França, sua relação com a tecnologia, sua musicalidade, artistas com quem trabalhou e muito mais. Confira agora nosso papo na íntegra.

Beat for Beat – Estávamos vendo umas entrevistas suas antigas, lá para 2015 e você não tinha nem smartphone, você falava que não curtia tecnologia. Agora em 2023, cerca de 8 anos depois, como está a sua relação com a tecnologia, principalmente quanto à sua música?

Diogo Strausz – Está em uma relação de busca por algo que é saudável, e que não faça com que eu não perca o meu eixo, com tanto estímulo, com tanta informação que mexe com a nossa ansiedade, que mexe com as nossas inseguranças, mexe com as nossas questões. Então é difícil você achar um equilíbrio entre uma relação em que você usa o smartphone, mas o smartphone não te usa, mas eu me rendi nesse sentido, porque a gente precisa de alguma maneira estar inserido, se comunicando, trocando com as pessoas, então a relação está sendo ponderada, é uma relação de ponderação.

B4B – Hoje em dia a gente sabe que muitos artistas prezam por uma identidade virtual, como TikTok e dancinhas virais. Como é que você vê isso para a sua carreira ou você não vê isso para a sua carreira? 

Diogo Strausz – Cara, eu vejo. Eu vejo, tento falar a verdade, falar sobre como foi a minha semana, sobre o que eu estou trabalhando. Eu tento não contar uma história de algo que não aconteceu. tento me apropriar da minha vida, da minha carreira, do meu dia a dia enquanto artista e contar isso, dividir para as pessoas e estar aberto para que elas também respondam e a gente comece uma conversa a partir daí, mas a partir da realidade e não da virtualidade ou dessa hiper virtualidade.

B4B – Você se divide entre Brasil e França, principalmente. Como é que você vê a diferença de públicos?

Diogo Strausz – Vejo o público do Brasil para um live de dance music, um público mais curioso pelo formato. É um público que naturalmente é mais festeiro, mais animado, mais performático. 

Vejo na França um público mais acostumado com esse formato, mas que fica mais deslumbrado e impressionado com a novidade da cultura brasileira que está inserida no live, com as congas, com o remix de ‘Deixa a Gira Girar’ de Os Tincoãs, que inclusive eles conhecem a música original toda, a galera é fã, curte e conhece. Com a estética da língua portuguesa, que como é um live de dance music, o objetivo é que as pessoas dancem, se conectem com a nossa cultura, com os seus corpos, entre elas próprias, então vejo essa como a principal diferença.

B4B – E de uma maneira musical, o que você tenta levar do Brasil para a França e o que você tenta trazer da França para o Brasil?

Diogo Strausz – Eu tento trazer do Brasil aquilo que é essencial nosso, então a nossa musicalidade, a nossa junção antropofágica e multicultural e que criou uma identidade que é nossa, e que é única, em ritmos, em claves. Uma coisa que vem do samba, do choro, do Ijexá, do axé music, de como a gente reinterpretou também outros ritmos e gêneros internacionais. Busco trazer isso, essa nossa essência. 

E tento, de alguma maneira, pegar de lá o frescor. É uma maneira que eu acho interessante que eles têm de enxergar tudo, que é até um olhar que é deles. Acho que lá eles tentam se apropriar e, ao tentar se apropriar, eles acabam adicionando algum frescor. E eu acho que nós, que somos os detentores da versão original, precisamos ter também o cuidado de trazer frescor para aquilo que é nosso essencialmente. Então eu tento pegar isso deles, direcionar um olhar fresco para algo que é essencialmente nosso e que a gente já tá acostumado.

B4B – Quando falamos de artistas brasileiros que você já trabalhou, temos a Alice Caymmi, Bala Desejo, a Júlia Mestre, que tocou com você no The Town. Como é introduzir toda essa galera dentro da sua musicalidade? 

Diogo Strausz – Quando você trabalha com mais pessoas é sempre uma relação de diálogo, de troca, de escuta, e aí depende de que posição que a gente tá, se é uma posição de produtor musical do disco da pessoa ou uma posição de mais serventia. Acho que enquanto artista a gente também sempre precisa estar numa posição de serventia, mas aí não só mais ao nosso colaborador, mas também a nós, a quem a gente imagina que vai ser a audiência daquele som.

Acredito que no fim é um jogo de conciliar tantas coisas e ao mesmo tempo se manter criativo, se manter conectado com as suas ideias e no final das contas encontrar um resultado que seja completamente novo, completamente inesperado do que você acreditava quando você começou o processo. Você começa sabendo que você não sabe nada e você termina muito orgulhoso de que algo saiu daquele encontro.

B4B – Com quem você quer trabalhar que você ainda não teve a oportunidade? 

Diogo Strausz – Cara, eu queria trabalhar muito com Gilberto Gil, porque pra mim é um artista que fez isso na época dele, da maneira dele, com a tipografia dele, ele tem esse olhar que é global, que é antropofágico e que ele soube relacionar o frescor global com a essência da nossa música. 

B4B – Falando de sonoridade, como é trazer tudo isso pra dentro da música eletrônica? Nós vivemos num mundo hoje que o melódico tá em alta, o funk também, tem gente misturando samba com música eletrônica. Estão cada vez mais conseguindo explorar a música eletrônica e a música brasileira juntas. Como é pra você tentar se manter original?

Diogo Strausz -Acredito que seja justamente isso, essa pluralidade que você descreveu é um desafio que motiva todo mundo. Eu acho que inclusive cada vez mais pessoas vão enxergar a dance music como uma plataforma de exploração musical da nossa cultura e como uma possível plataforma pra gente explicar nossa cultura mundo afora, isso é muito atrativo. Como a dance music ela traça limites muito claros em relação ao que é possível e o que não é.

Dance Music, por exemplo, tem dance e tem music. Começa daí já, né? Você precisa manter uma audiência dançando, precisa de pulso, precisa estabelecer um andamento claro, até para definir um pouco dentro de algum tipo de gênero. Os timbres que você usa vão definir que tipo de gênero você está trabalhando. E é legal esse tipo de limitação porque elas mostram, que, aqui tá o zero e aqui tá o um. Entre o zero e o um você tá livre pra você fazer tudo o que você quiser, e isso expande a sua mente. Expande a sua percepção do que é possível e do que não é. Porque, contanto que eu esteja entre aqui e entre ali, o céu é o limite, então vamos abraçar isso.

B4B – E você como pessoa, o que você consome de música? 

Diogo Strausz – Nossa, eu consumo jazz, funk soul, disco music. Engraçado, eu consumo pouca música eletrônica no meu dia a dia. 

Às vezes também gosto muito de quando eu estou produzindo para algum artista, deixar que esse artista proponha uma playlist pra eu entrar no universo dessa pessoa, e aí ele sugere coisas que eu não pensaria normalmente. Mas eu tento sempre escutar música que desafia o ouvinte de alguma forma, mas ao mesmo tempo que também não seja só sobre desafiar o ouvinte de uma forma egocêntrica do artista. Gosto de música que é generosa, que é inclusiva, mas que ela sabe ser inclusiva, e te dar um puxão, e te desafiar, e falar, ó, eu consegui fazer isso que você achava que sabia e eu consegui fazer de uma maneira nova. Te fazer pensar, como é que você fez isso? Que legal, quero saber também.

B4B – Falando agora sobre o The Town, como foi a preparação pro seu show, para uma estreia de um festival tão grande quanto esse? 

Diogo Strausz – Tivemos a participação da Julia Mestre no show, e isso por si só já propõe várias novidades. Eu introduzi no live o remix que eu fiz pra uma música do Bala Desejo, que é um projeto do qual ela faz parte, e a gente também preparou um remix especial da música ‘Meu Paraíso’, que é uma música que ela lançou no disco dela. Então temos duas músicas que foram preparadas especialmente pra participação dela, para esse palco e para essa primeira edição histórica do festival.

B4B – 2023 está na sua reta final, alguns artistas estão desacelerando, outros não. Como você está para esse final de 2023? E já pensando no começo de 2024, o que você tem preparado para pós The Town?

Diogo Strausz – Para pós The Town, eu tenho algumas outras datas no Brasil, temos shows agora no Sul, em Porto Alegre, em Florianópolis; Estou fechando mais algumas outras datas aqui, Sul, Sudeste e Nordeste, o que é ótimo, ver o live circulando, ver o interesse crescendo. Eu tenho alguns lançamentos, vou lançar o meu próximo EP pela Crack Records da França, chamado ‘Samba From Outer Space’, aproveitando que você falou que o samba é um assunto, e a próxima turnê Europa marcada para março, e por enquanto é isso, e coisas ainda por vir, coisas sendo fechadas. 

B4B -Muito obrigado, Diogo! 

Diogo Strausz – Imagina, obrigado a vocês!

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Entrevista

Entrevistamos: L_cio no The Town

Após apresentar de forma brilhante seu álbum ‘Plants’ no The Town, L_cio recebeu nossa redação para um papo super descontraído. Confira.

Edição: Carlos Vinicius

L_cio é o homem da flauta transversal. Ele é instrumentista treinado e um performer ao vivo que também conhece seu caminho no estúdio. Com uma formação musical multifacetada, criar suas músicas com sintetizadores e outros meios de geração de som eletrônico foi mais uma questão de tempo do que de ambição.

Seu último álbum é, narrativamente, uma homenagem musical aos nossos maravilhosos parceiros neste planeta nas diversas fases de sua existência entre nós. Foi após apresentar seu álbum ‘Plants’ no The Town, que o artista conversou com a gente. Confira:

Beat for Beat – Sabemos que a flauta te acompanha há mais de 30 anos,  ,as se não fosse a flauta, tem algum outro instrumento que você também toca ou que têm alguma afinidade? O que você traria para o seu live se não fosse a flauta?

L_cio – Olha, a flauta é parte da minha história da infância, eu tocava na igreja, tocava com a minha mamãe, inclusive hoje foi especial tocar com ela. Mas eu fiz 10 anos de capoeira de angola, então eu imagino eu traria isso para a minha música. Acredito que se fosse um outro instrumento musical, seria o berimbau, por causa da capoeira. Inclusive fiz mestrado na área escolar e desenvolvi o método da capoeira na escola, faz bastante tempo, mas eu acho que seria o berimbau. E não deixa de ser uma possibilidade a gente fazer isso em breve, poderia ser bacana.

L_cio no The Town

B4B – Muita gente te coloca na “casinha” do techno, outras pessoas te colocam na “casinha” do house,  mas você não se coloca em “casinha”, você faz música boa.  Como é que você define o seu mood na hora de fazer música?

L_cio – Eu sempre tento fazer alguma coisa como se eu tivesse no espaço dos espectadores. Pra mim, que sempre fui clubber mesmo, eu senti e sinto muito que a música toca nas pessoas e eu tento transcender. Eu acho que a base pra mim é a questão da transcendência, então, esquecer por um momento, ou por um bom momento o nosso cotidiano. Esquecer que às vezes temos uma conta para pagar ou que tem algum problema familiar, ou esquecer que tá vivo e tá acabando. 

Eu acho que a música tem esse poder, então eu tento fazer isso com a música,  por isso que ela se torna tão genuína, autêntica. Ela não tenta realmente seguir uma coisa que seria mais mecânica ou de mercado. Mas também atende a isso, né? Espero que atenda porque eu vivo disso também.

B4B – E você também tem que pagar os boletos, né? (risos)

L_cio – Sim, sim, e tem bastante. Por isso que às vezes eu pego a música e esqueço dos boletos (risos).

B4B – Você falou da sua mãe e foi lindo você chamá-la mãe pro palco.  Qual foi a sensação de chamar sua mãe pro palco de um festival tão grande como o The Town?

L_cio – Foi uma coisa que eu nunca tinha feito na vida, então foram muitas coisas pela primeira vez na vida hoje.  Eu já tinha tocado com a minha mamãe, inclusive com orquestra, na Igreja Imaculada Conceição. Toquei com ela na Catedral da Sé, também.  mas hoje foi uma coisa muito diferente, que é uma composição dela, num espaço novo, com uma maturidade tanto minha quanto dela, de reconhecer esse processo tão bonito que depois de tantos anos foi se reencontram.

Acho que a última vez que a gente tocou junto, eu devia ser adolescente, com 14 ou 15 anos, e agora eu tô com 46, então é uma volta grande, mas que dá num lugar tão bonito como esse. Realmente foi emocionante. Fazia tempo que eu não chorava assim, por fora eu dei uma leve chorada, mas uma grande chorada por dentro.  Foi muito gostoso.

B4B – Nós ouvimos Florescimento durante seu show, que é o single atual do seu próximo álbum, ‘Plants’.  Como foi para você tocar o single e o álbum para a audiência do The Town?

L_cio – Assim como o primeiro álbum, eu acho que é um momento de expressão de um processo.  Depois do meu álbum foi 2018, tivemos 2019 e logo em seguida uma pandemia, que foi um processo onde todo mundo sofreu muito, e pra mim foi muito sofrido, onde eu quis desaguar em alguma coisa que fosse uma homenagem,  algo que sobreviveu assim como a gente, que são as plantas, que estão aí ainda e que a gente teima a lidar de uma forma desigual com elas.  

E pra mim também foi a possibilidade de me relacionar com pessoas que eu já tinha uma relação antiga ou intensa,  como a minha companheira Lina, minha mamãe, o Bica, que foi companheiro meu de Teto Preto, o Novíssimo Edgar, que é um querido, o Jon Dixon, que eu entreguei um pendrive pra ele em 2011 e em 2021 ele me aparece. 

É uma realização, e isso reflete nas pessoas que escutam, e pra mim é muito legal porque no show eu tive uma audiência que eu nem esperava,  que é uma audiência mesmo de som e não só de pista.  Eu espero que as pessoas que gostam do meu trabalho também se deleitem com esse álbum em casa ou mostrando pra toda família e amigos.  porque são músicas super bonitas e que eu acho que as pessoas podem gostar, que é o mais importante.

B4B – E quando a gente fala de audiência, The Town é um público completamente contrário ao que você está habituado a se apresentar. Você é residente da Capslock, por exemplo, além de ser uma figura super presente na cena underground. Como é preparar um show para um público que às vezes nem sabe quem é você?

L_cio – Exato, eu tive uma grande vantagem que foi de ter o planejamento desse álbum  pautado num show de estreia, e que felizmente casou o lançamento com o The Town, então foi uma preparação em que eu estava, obviamente, muito ansioso de apresentar o trabalho num festival em que tivemos, Maroon 5, Maria Rita, Ludmilla, entre outros. E eu também fico feliz pela realização de um álbum  que contemple diferentes sonoridades, não ficou só uma música que a gente costuma ouvir nessas festas que você citou,  mas também teve o hip hop, teve o funk, teve a música ambiente.  Eu fiquei muito contente mesmo, tô muito feliz pela realização desse show.

B4B – E claro que a gente tem um álbum que está por vir e 2023 ainda tá na reta final.  O que o L_cio nos prepara pros próximos meses?

L_cio – Bom, pros próximos meses tem alguns lançamentos além do álbum.  Deve sair um lançamento com o Robert Owens, que é uma lenda do house, um cantor impressionante, que tem uma música também com o Paulo Tessuto nesse EP.  Temos também muitas festas bacanas, como a própria Capslock, então fiquem atentos.

Então eu vou conseguir rodar bastante, e se preparem que o ano que vem esse show  estará em alguns festivais, espero eu, depois dessa realização tão bonita aqui.

B4B – Obrigado, L_cio.

L_cio – Obrigado!

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Entrevista

Entrevistamos: Kevin Saunderson no The Town

Kevin Saunderson nos mostra que todo o tempo que existe é precioso, ainda mais na house music. Leia a nossa entrevista no The Town.

Kevin Saunderson no The Town (I Hate Flash, 2023)

Todo gênero musical teve sua fase embrionária no mundo, seja a música clássica, criada reis e rainhas por volta dos anos 1500, seja pelo emblemático rock, que já se familiarizavam com a guitarra nos anos 40 e revelando artistas como Elvis Presley, B.B. King e Johnny Cash e Bob Dylan, até mesmo a house music, criada a partir de um movimento que invadia Chicago na década de 80 e que ganhava o apoio de potentes artistas como Frankie Knuckles, Marshal Jefferson e Kevin Saunderson.

O produtor ficou mundialmente famoso ao criar o grupo Inner City, que com sucessos como “Big Fun” e “Good Life” levou o house music e o techno de detroit para lugares inimagináveis a partir de 1994. Kevin se transformou de um artista emergente de um reduto marginalizado em uma das cidades mais industriais dos Estados Unidos, em um dos mais requisitados artistas underground da house music.

Desde o retorno do Inner City, apresentando seu filho, Dantiez Saunderson e a nova vocalista Steffanie Christi’an, Kevin atualizou seu feeling de pista e nos mostrou presencialmente no The Town, maior festival de música de São Paulo, porque a house music nunca pode nos abandonar. Leia nossa entrevista na íntegra:

B4B: Você é um dos pioneiros da house music desde 1994, desde a criação do Inner City até agora. Como você analisa a mudança no mundo daquele tempo até os dias atuais?

Kevin Saunderson: Musicalmente, com o passar do tempo, a visão era fazer as pessoas dançarem ao redor do mundo e fazer algo novo com o qual todos pudessem se conectar. Então essa foi a minha inspiração para espalhar meu talento pelo planeta. E aqui estamos, anos mais tarde e ainda continuamos fortes, assim como no começo.

B4B: Desde o tão aguardado retorno de Inner City, você tem trabalhado com seu filho Dantiez. Como é a relação entre pai e filho no trabalho? Vocês conseguem ter essa divisão entre ser família e colegas de trabalho?

Kevin Saunderson: Olha, temos um ótimo relacionamento. Quero dizer que ele já é um adulto, então não é tipo de relação que é necessário alguma imposição, ele não é mais muito jovem, tem 30 anos. Meu filho ama música, ele tem muita paixão e isso me ajuda, nos ajudamos na verdade. Temos uma conexão muito boa. Às vezes estou viajando pelo mundo como DJ e ele fica em casa, dou uma ideia e ele começa a trabalhar nela, então somos um bom time e isso é ótimo!

B4B: Ainda sobre a volta do Inner City, como você encontrou Steffanie e quais foram os critérios para integrá-la ao grupo?

Kevin Saunderson: Bem, o que aconteceu é que Dantiez e eu começamos a trabalhar juntos em uma faixa. E então pensei em comemorar o aniversário de 30 anos do grupo em um festival de Detroit e precisávamos de um cantor. Um amigo meu me apresentou a Stef, fiz um teste com ela e ela nos surpreendeu e ficou com a vaga. Depois disso, quando a vi pessoalmente se apresentando no palco, desenvolvemos um relacionamento ainda maior, principalmente para trabalharmos em apresentações ao vivo. Ela é muito talentosa, tem muito movimento e é excepcional.

Steffanie Christi’an no The Town (I Hate Flash, 2023)

B4B: Precisamos falar sobre o seu novo single, “Heavy”, que foi lançado recentemente. Com foi retornar aos lançamentos após o álbum de reestreia e como foi esse processo produtivo da nova faixa?

Kevin Saunderson: Realmente, temos um novo single lançado nesta última semana, chamado “Heavy”. É a mesma sensação de quando fizemos o álbum, foi apenas criar uma faixa que gostamos. O álbum veio em um momento pré-pandemia, Dantiez trabalhou muito no disco, Steffanie fez a maioria das músicas e tivemos outro cantor de Detroit fazendo a segunda voz, chamado Zebra. Mas sabe, estava apenas tentando voltar a fazer música e quanto ao futuro, agora temos um novo single, lançaremos outro single e continuamos a fazer música.

B4B: Por fim, que mensagem um dos padrinhos da house music deixa para os artistas que estão começando a carreira como produtores?

Kevin Saunderson: Você tem que perseguir sua paixão, seu sonho e você só precisa continuar assim, sempre. Todos nós temos um caminho diferente na vida, todos nós queremos coisas diferentes na vida, mas sabe, se você ama o que faz, continue assim, continue trabalhando duro e não deixe ninguém dizer que você não consegue.

B4B: Muito, muito obrigado Kevin!

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Entrevista

Entrevistamos: Kenya20hz no The Town

Apresentando seu projeto Chaos Sonora, Kenya20hz conversou conosco sobre seu início de carreira, análise ao cenário underground brasileiro e próximos passos de sua carreira. Leia na íntegra.

Kenya20hz no The Town (por I Hate Flash, 2023)

Quando falarmos sobre Kenya20hz, podemos encontrar qualquer sinônimo de artista. DJ, produtora musica, redatora, apresentadora e investigadora cultural, natural do Rio de Janeiro, Kenya iniciou sua carreira na Red Bull Music Academy e com sua sonoridade plural, atingiu diversas pistas no Brasil e no mundo todo. Figura presente nas maiores festas undergrounds de São Paulo, incluindo selos Gop Tun, Selvagem, Mamba Negra, Carlos Capslock e Cardume, Kenya atingiu sua melhor fase sem sua carreira, ao apresentar o projeto Chaos Sonora, no palco New Dance Order do The Town, maior festival de música de São Paulo.

Kenya retornou da Europa com uma bagagem expressiva em outras cenas underground, passando pelo Time Warp Brasil, Love Family Park, na Alemanha e também shows por outras capitais, como Londres. A carioca é símbolo de representatividade das mulheres pretas, na cena eletrônica brasileira, que sob resistência, ganha cada dia mais espaço em grandes palcos por nosso país. Leia a entrevista completa que fizemos com Kenya20hz no The Town:

 

Beat for Beat: Kenya, primeiramente é um prazer falar com você. Somos seus fãs, já vimos diversos de seus sets, em vários eventos espalhados por São Paulo e sabemos de toda a importância do seu trabalho para o circuito underground brasileiro. Para começar, sua carreira iniciou lá em meados de 2015,2016. Como aconteceu e quais foram suas principais influências, o que você levou daquela época até hoje?

Kenya20hz: Minhas principais influências na música eletrônica começaram quando saí do Rio de Janeiro e muito morar em Brasília, que tem uma cena underground muito sólida, mesmo que não tão grande. Ia para muitos festivais de dark psy, de hi-tech e aí eu pude conhecer tecnologias, gêneros e estilos que não conhecia no Rio. Passei a investigar mais sobre esses gênero e aí somando a isso, na época, havia uma crescente da cena dubstep na faculdade, onde eu estudava tinham várias festas clandestinas de dubstep e eu frequentava. Foi rápido para eu baixar o Virtual DJ, por mais clicê que pareça e seu sempre tive a curiosidade. Escutar uma música, ver um DJ tocando que nunca ouvi. Eu não sou o tipo de pessoa que pega o Shazam para saber que música é, eu gosto de pesquisar, encontrar caminhos que me levem até aquela sonoridade e nestes caminhos encontrar novas músicas, novos gêneros e subgêneros, se você for cavando a música eletrônica, você vai descobrir gêneros desconhecidos para a maioria das pessoas.

 

B4B: E quanto a Red Bull Music Academy? Como surgiu a ideia de se inscrever?

Kenya20hz: Eu estava curiosa e interessada em coisas que eu não sabia que iria encontrar na faculdade. E aí, somado a isso, o destino me fez passar numa residência na Red Bull Music Academy, então saí de Brasília e fui pro Rio de Janeiro, deixei a faculdade e comecei a estudar música integralmente e minha pesquisa sempre foi muito aceita por meus colegas e não só por eles, mas só por eles. Saí da baixada fluminense para Tocar num Time Warp, para tocar num Love Family Park Festival…

 

B4B: Você já passou nos principais festivais e festas underground do país. Praticamente a maioria, como você analisa a cena undeground hoje?

Kenya20hz: Temos uma magia muito forte na nossa cena sabia? Eu tive a oportunidade de ir pela primeira vez agora pra Europa e senti algo novo para mim, era minha primeira vez lá. Conheci cinco países diferentes e pude ver rapidamente a cena de cada lugar e suas particularidades. Em Londres você tem mais Garage, Dubstep, em Berlim você tem mais techno, mas o Brasil é diferente de tudo isso e o público ajuda muito na nossa cena, são tanto formatos de se pensar, que isso foi agregado na nossa cena. Se você for em uma festa como a Mamba Negra, você consegue sentir do primeiro ao último slot, várias sonoridades. E não digo só de São Paulo, cada capital diferente tem sua microcena, seu público que deixa tudo diferente e o que eu acho que falta ultimamente é mídia para registrar tudo o que está acontecendo, em seus determinados lugares de origem, a gente ia ver o quanto o Brasil é rico, especialmente a música eletrônica, a música contemporânea que o Brasil produz.

 

B4B: Falando um pouco sobre o Chaos Sonora, esse projeto lindo que você trouxe especialmente ao The Town, como surgiu o convite e a oportunidade de trabalhar com a Dharma Jhaz, cantora, rapper e performer sonora e o Bica, trombonista e percussionista?

Kenya20hz: Então, quando esse convite chegou para mim,  uma das propostas que me fizeram  era participar dessa programação,  mas trazendo algo totalmente inédito.  E aí eu falei,  tá, o que é que a gente vai fazer? E eu sou uma apreciadora de música instrumental. Eu amo música instrumental, não importa o gênero, queria muito poder agregar o trabalho de um instrumentista para o meu som. E logo que comecei a planejar isso, eu fiz o convite para o Bica que já conhecia o trabalho dele através da Teto Preto e a Dharma Jazz é uma figura que está sempre aqui em São Paulo. Ela é de Curitiba,  mas está sempre aqui em São Paulo, fazendo alguns shows e tal e deixei claro que estava com uma ideia maluca e o The Town e o New Dance Order adorou a ideia. E hoje eu pude experimentar, né?  Eu pude ver em primeira mão ali, que esse experimento deu muito certo. Eu quis colocar o DJ como um regente, mas não só de instrumentos analógicos, mas de uma plataforma digital e deu super certo. Fiquei muito feliz, espero expandir o Chaos Sonora para outros tipos de formato, com outros artistas e outros instrumentistas também.

Bica, instrumentista do projeto Chaos Sonora, no The Town (Por I Hate Flash, 2023)

B4B: Para finalizar, o que podemos esperar da Kenya20hz até o fim de 2023? Sabemos que você vai tocar no Tomorrowland.

Kenya20hz: Eu estou muito feliz por isso,  então esperem,  essa apresentação vai ser muito especial. Eu vou explorar muito da minha autoralidade . Eu trouxe algumas músicas minhas hoje para cá,  mas eu espero no Tomorrowland estar trazendo bem mais.  Sempre trazendo curadoria e autoralidade.  Para até o final do ano,  a gente vai viajar de novo para a Europa, então tem show em terras estrangeiras,  estou muito feliz sobre isso. E a gente está avançando,  arrumando lançamentos muito importantes e quero que vocês estejam cobrindo tudo isso também.

Chaos Sonora no The Town, 2023 (Por I Hate Flash)

B4B: Com certeza, por favor. Muito obrigado por esta entrevista maravilhosa Kenya. Mande um beijo para todos nossos leitores do B4B.

Kenya20hz: Um beijo para a galera do Beat for Beat.  Espero que vocês possam assistir o meu show, em vários tipos de oportunidades. Fico muito feliz em poder fazer o som que eu faço. Espero poder alcançar todos vocês. Até breve.

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Entrevista

Entrevistamos: Deekapz x VHOOR no The Town

Amigos de longa data, Deekapz e VHOOR uniram forças para transformar o New Dance Order no The Town num verdadeiro baile.

Foto: Bel

Deekapz é um duo de produtores do interior de São Paulo que busca combinar influências do global bass, com o background dos beats de funk brasileiros. VHOOR é um dos beatmakers mais originais do Brasil, misturando música eletrônica com elementos do funk e percussão afro-latina.

Os artistas, que fizeram um set original no The Town, que foi do baile funk ao trap, conversaram com a nossa redação. Confira agora nossa entrevista:

Beat for Beat – Olá pessoal, tudo bem? Para começar, é importante falarmos sobre a presença preta em festivais e eventos diversos. Como foi para vocês, tocar no primeiro dia de The Town, onde o New Dance Order foi totalmente tomado pela música preta?

Deekpaz x VHOOR – Pra gente é muito foda participar disso, principalmente por ser o primeiro The Town. É muito gratificante fazer isso, mas também, temos que lembrar de que precisamos de mais espaços assim nos festivais, de mais presença preta.

É importante pois para muita gente que estará ali, na pista, curtindo a experiência, nos seremos referências, poderão se espalhar na gente. As pessoas verão que elas podem e devem ocupar espaços, ter essa consciência. Queremos ser propagadores de ideias, influenciadores da música eletrônica popular brasileira,  periférica brasileira. É muito gratificante, mesmo, sermos essas pessoas e fazermos parte do New Dance Order.b4b

B4B – Seguindo essa ideia de propagar ideias, vocês também educam o público, afinal, é importante resgatar as raízes da música, pois muitos gêneros foram embranquecendo. Vocês acham que agem como educadores musicais?

Deekpaz x VHOOR – Eu acho que esse é o papel do DJ.  Nosso papel é realmente tocar, fazer essa cadência entre o que o público quer ouvir e o que a gente realmente quer que eles escutem. O DJ tem que ter essa ciência, ele tem que ter essa consciência que a gente tem esse papel de redisciplinar a pista.

É nesse momento que a gente usa o nosso espaço para tocar as músicas dos nossos amigos da periferia, tá ligado? Da onde a gente veio também,  influenciando outros artistas também, espalhando a palavra.

B4B – Agora falando de uma forma individual com cada um de vocês, Vhoor, você acabou de lançar o Maré, o EP. Como foi a construção do material?

VHOOR – O Maré foi muito importante pra mim,  porque ele fala um pouco sobre o outro lado meu,  que é de uma pessoa que mora em Minas Gerais e que tem esse aspecto interiorano, com a família de uma cidade no interior.  Então a gente acaba tendo essa vivência que é um pouco mais devagar,  de contar com a natureza.  O Maré também parte por poder falar um pouco sobre esse lado da minha vida.

B4B – Deekapz, vocês acabaram de fazer a segunda edição  do Deekapz Experience aqui em São Paulo. Como foi essa noite, que é tão especial para vocês?

Deekapz – Foi muito foda, principalmente por termos conseguido apresentar sets individuais nossos. Foi uma forma de nos aproximarmos ainda mais do nosso público, mas o Deekapz Experience é realmente uma experiência, como o próprio nome diz, onde a gente sempre traz um convidado.

Na primeira edição, o nosso convidado foi o Vhoor, coincidentemente. A ideia é realmente propagar essa comunidade do SoundCloud, a comunidade da música eletrônica underground, divulgando nossa sonoridade, espalhando a palavra, para então os grandes festivais, tour internacional. É muito louco isso,  pensar que nós estávamos, há 10 anos atrás, no nosso quarto,  produzindo, pensando no futuro e hoje, temos nossa própria experiência.

B4B – Falando sobre o The Town, como foi a construção para a apresentação de vocês?

Deekpaz x VHOOR – Tivemos bastante ensaio. A gente conversa há muito tempo, somos produtores que se conhecem há bastante tempo e isso facilitou um pouco o processo. Além dos ensaios, das conversas, sempre tem também o processo de sentir,  ler a pista e ver o que o público quer ouvir, junto com  as coisas que a gente queria apresentar e nós fizemos isso.

foto: Bel

B4B – A chuva não atrapalhou?

Deekpaz x VHOOR – A chuva foi praticamente um desafio, mas foi muito legal ver que o público continuou ali com a gente, até o final. É muito bom ver que dois projetos que estão em ascensão, poderem contar com a presença do público até durante um empecilho.

Nós conseguimos ressignificar a música eletrônica, trazendo o funk, miami bass, até no fim do set já partimos pra um funkão mesmo, mandelão, música de amigos, fazendo um verdadeiro baile. Muita gente que estava na pista, nunca teve a oportunidade de frequentar um baile de favela, de ir na comunidade e não sabem quais são as músicas que movimentam essa cena e não trouxemos isso, até debaixo de chuva.

B4B – Aproveitando que 2023 vai entrar na reta final, o que vocês têm preparado para o final deste ano?

Deekapz – Nós estamos trabalhando no nosso próximo disco, que deve sair ano que vem, não queremos prolongar tanto assim esse lançamento, já faz muito tempo desde nosso último álbum.

VHOOR – Eu estou finalizando alguns projetinhos, mais músicas, mais trampo. Fiquem ligados!

Vejam nossa cobertura do The Town no Instagram.

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Review

New Dance Order, o paraíso particular dentro do The Town

Com sons para todos os tipos de gostos, o New Dance Order desembarcou em São Paulo, para a estreia do The Town e nós estivemos lá.

Foto: RenanOlivetti

Pela primeira vez, o Autódromo de Interlagos ganhou novas cores e sons. Pela primeira vez, o palco Skyline erguia suas estruturas diante de nós. Pela primeira vez, o New Dance Order aterrissou em São Paulo. O The Town, finalmente, fez a sua edição inaugural na capital paulistana.

Falar de um festival tão diverso e com várias atrações, algumas até simultâneas, é uma tarefa difícil, mas quando voltamos nossas atenções para um dos palcos em especial, conseguimos dissertar com mais detalhes a experiência vívida, o que faremos nos próximos parágrafos.

Desde seu primeiro dia, o The Town apresentou uma curadoria impecável para o palco New Dance Order. Do funk ao techno, do experimental ao house, uma pluralidade de sons tomou conta de um dos cantos mais remotos do Autódromo. Foi ali, em nosso paraíso particular, que assistimos a shows inesquecíveis e muitas das vezes, com pouco público.

Kenya20hz | Foto: Paulo Oliveti

Logo no primeiro dia deixamos preconceitos de lado e abraçamos a música eletrônica popular brasileira, com um toque da Batekoo. Música preta e funk se entrelaçaram com trap, house e outros estilos, mostrando que a dance music vai além dos padrões. Reafirmando sua importância no cenário nacional, Tropkillaz apresentou um show digno de seus 10 anos, arrebatando nossos ouvidos e conquistando novos fãs.

Já o dia 2 de setembro, assinado pelo coletivo Carlos Capslock, trouxe a irreverência das noites undergrounds da cidade. Muita montação no palco e corpos dançantes na pista. Num dia em que sons mais clássicos tomaram conta do potente sistema de som, Paul Kalkbrenner fez um verdadeiro espetáculo, brindando um público seleto com um showcase quase particular. A excelência em forma musical.

Paul Kalkbrenner | Foto: Oliveti

O feriado de 7 de setembro amanheceu com o sol brilhando, pedindo por mais música. No New Dance Order, soul, house, sonoridades brasileiras e músicas que aquecem a alma ditaram o ritmo do dia. Ver L_cio tocando ao lado de sua mãe, Laura Schwantes, enquanto performavam a música ‘Florescimento’, nos fez sentir a música de uma forma nunca antes sentida. Era amor, traduzido em ondas sonoras.

Enquanto o público se preparava para o Foo Fighters em um ponto do festival, no outro a história da música eletrônica era vivida. Inner City e Kevin Saunderson resgataram as raízes de tudo o que conhecemos e nos apresentaram uma verdadeira aula musical. Badsista fez história ao receber Marina Lima no palco, enquanto a Mamba Negra era bem representada por Paulete Lindacelva, Valentina Luz e Cashu. A diversidade musical, explícita e exposta diante dos nossos olhos.

Inner City | Foto: RenanOlivetti

O último dia de New Dance Order fez o Autódromo ferver. Desde contatos de outro mundo, feitos por Paradise Guerrila ao encontro entre Boratto e Emerson em formato live, pudemos sentir nossos corpos sendo aquecidos e as almas preenchidas com o melhor do que pode existir na música eletrônica. O coletivo ODD, com Davis, Vermelho e Zopelar, encerrou de forma apoteótica uma maratona da mais altíssima qualidade.

Só é triste ver que um palco tão grande, em muitos momentos contou com um público bem pequeno. Ter um line-up divulgado após ingressos serem esgotados pode ter prejudicado fãs que adorariam estar ali ou quem sabe, uma logística que aproxime melhor o público geral da nossa pistinha tão amada.

De uma coisa temos certeza: cheio ou não, o New Dance Order fez da sua estreia em São Paulo, algo a ser lembrado para sempre. Te esperamos em 2025.

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Mainstage

Rock in Rio confirma datas para sua edição de 40 anos em 2024

O anúncio foi realizado durante o último dia do The Town e o Rock in Rio 40 anos acontecerá durante 7 dias em setembro de 2024.

Foto: Padilha

A festa não tem fim para a Rock World – empresa que organiza e produz o The Town e o Rock in Rio. Mal terminou a primeira e histórica edição do The Town, a marca já começa a se preparar para o ano de 2024 – em que vai celebrar as edições de 40 anos do Rock in Rio no Brasil e 20 anos do Rock in Rio Lisboa. Durante a coletiva de imprensa que aconteceu na Cidade da Música, os organizadores do The Town divulgaram um balanço do festival que teve meio milhão de ingressos esgotados, e reuniu milhares de pessoas durante estes cinco dias de magia, em mais de 235 horas de muita música, nos seis palcos do espaço. Na ocasião, Roberta Medina também confirmou a próxima edição do maior festival de São Paulo para 2025.

“Chegar em São Paulo é um marco. Nos inspiramos na Cidade e realizamos o maior evento já visto por aqui. Foi de fato emocionante ver tudo isso nascer e as pessoas vivenciarem tudo o que construímos. Como diz o Roberto, chegamos para ficar e em 2025 retornaremos com tudo para a segunda edição do The Town, trazendo um olhar especial para todos os aprendizados e como podemos trazer uma experiência ainda melhor para nossos fãs. O público mal pode esperar para o que estamos preparando” comentou Roberta Medina, vice-presidente de reputação de marca da Rock World, empresa que criou e organiza o The Town e o Rock in Rio e produz o Lollapalooza. Ela reforça ainda que “a partir de agora, todo ano teremos ao menos dois grandes festivais acontecendo pela Rock World. E o ano de 2024 promete muitas surpresas e novidades. Vamos celebrar marcos importantes: Rock in Rio Brasil e Rock in Rio Lisboa celebram 40 e 20 anos, respectivamente. Teremos muita história para construir e para contar”, comemora.

A primeira edição do maior festival de São Paulo terminou quase agora, mas a Rock World já está pensando nas próximas edições do Rock in Rio no Brasil e em Lisboa. Logo após o fechamento dos portões da Cidade da Música neste último dia do The Town, a chave já começa a virar para o próximo ano que será de grandes celebrações. Em 2024 serão celebrados os 40 anos do Rock in Rio, no Rio de Janeiro, e os 20 anos de sua versão em Lisboa. A organização confirmou as datas da próxima edição no Brasil nos dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro de 2024, no Rio de Janeiro, e reforçou as datas já anunciadas de Lisboa, que acontece nos dias 15, 16, 22 e 23 de junho de 2024.

“Se 2023 marcou a construção de uma nova história e vi ficar de pé meu novo sonho, o The Town, para 2024 vamos celebrar também em grande estilo os 40 anos do maior festival de música e entretenimento do mundo e será imperdível. Já temos data e já estamos debruçados na construção de tudo o que o público encontrará na Cidade do Rock. Podem se preparar. Será gigante”, afirmou Roberto Medina, criador e presidente da Rock World.

Rock in Rio confirma patrocinador Master: Itaú assinará o evento

Presente no Rock in Rio desde 2011 assinando o evento como patrocinador Master do festival, o Itaú mantém seu posto e, pela sétima edição consecutiva, segue de mãos dadas com a organização. Durante a coletiva, Rodrigo Montesano, superintendente de Brand Experience & Patrocínios do Itaú, celebrou mais um ano de parceria com o festival e lembrou que o trabalho para o próximo já começa. “Essa é uma edição especial para nós, pois, assim como o festival celebra os seus 40 anos, o Itaú comemora seu centenário”, conta. O festival é em setembro do ano que vem, mas a jornada começa antes, né? Já começa com a pré-venda. Então aqui, terminou o The Town, semana que vem a gente já começa o projeto Rock in Rio. É muito bom!”, conta.

Organização do Rock in Rio reforça Ludmila como primeiro nome anunciado do line up de 2024

O primeiro nome anunciado para se apresentar no festival carioca acabou de fazer um show arrebatador no The Town. Ludmilla irá se apresentar no Palco Mundo, na próxima edição do Rock in Rio, em 2024. A cantora, que também fez uma performance histórica no Rock in Rio em 2022 como headliner do Palco Sunset, conquistou a maior audiência do Multishow entre os nacionais daquela edição, além de ter dominado as redes sociais do festival, garantindo a maior repercussão em todos os pontos, seja maior audiência, menções, citações e ainda se tornou 1o lugar nos trending topics Brasil e mundo.

Ela promete agitar o público do Palco Mundo com os sucessos “Rainha da Favela”, “A Danada sou eu”, “Deixa de Onda”, “Invocada”, “Verdinha” e “Hoje”, entre outras faixas. Lud já foi indicada duas vezes ao Grammy Latino — vencendo uma, com seu quarto álbum de estúdio “Numanice 2” (2022) — seis vezes ao MTV Europe Music Award para Melhor Artista Brasileiro e diversas vezes ao Prêmio Multishow de Música Brasileira, saindo duplamente vitoriosa em 2019.

Confira nossa cobertura oficial no The Town 2024 no Instagram.

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Entrevista

Entrevistamos: Klean e kLap no The Town

De competidores em uma mesma batalha para o palco do The Town, conversamos com os talentosos Klean e kLap, atrações do New Dance Order.

Klean vs kLap | Foto: Padilha

DJ e produtor desde os 15 anos, kLap é um nome importante da cena bass music. Ele se destaca por misturar músicas eletrônicas de todo o mundo com a música brasileira. Klean, o DJ de apenas 21 anos que ganhou destaque internacional após seu remix ser apresentado por Rihanna no Super Bowl de 2023. Juntos, entregaram um set autoral de muito funk, house, afrobeat e todas as vertentes da bass music no The Town, onde conversaram com nosso time. Confira:

Beat for Beat – Vocês foram concorrentes da competição de beats organizada pelo Tropkillaz, onde empataram em primeiro lugar e hoje, estão trabalhando juntos no palco do The Town. Como foi o processo da evolução de competidores para amigos?

kLap – Na verdade, nunca existiu uma concorrência de fato. No nosso cenário, a gente  sempre vê o outro como um amigo, pois faz a mesma coisa que nós fazemos. Independente de quem ganhasse aquela competição, por exemplo, um ficaria feliz pelo outro. A conquista dos outros é uma conquista minha e esse sentimento é compartilhado. Mesmo que só um de nós estivéssemos aqui no The Town hoje, o sentimento de orgulho seria igual, mas justamente pelo fato de estarmos juntos aqui, transforma esse momento em algo mais especial ainda. Se estamos juntos, é pelo fato dessa mistura doida funcionar.

Klean – Na época da competição nós não nos conhecíamos ainda, mas como isso aconteceu durante a pandemia, isso fez com que nos aproximassemos ainda mais. Como ficávamos trancados em casa, produzindo sem parar, nos aproximamos bastante de forma online. Foi nesse meio tempo que começamos a trabalhar juntos, criar remixes juntos até que chegamos até aqui no palco do The Town.

B4B – E quando vocês falam de mistura, vocês são de cenas diferentes. Klean vem da Bahia, enquanto o kLap é de Brasília. Como é unificar dois cenários completamente opostos em uma coisa só?

kLap – Fazer isso é mostrar que a música eletrônica é diversa e possui várias possibilidades. Mesmo o Klean vindo da Bahia e eu do DF, duas cidades que não são tão vistas como polo da dance music, trazer essa mistura é conseguir mostrar que a música pode ser vista de várias maneiras.

Klean – Nós participamos de um nicho em comum no Soundcloud, onde nossos sons combinam muito e independente de estarmos em cidades tão diferentes, a nossa pegada sonora é muito parecida, o que torna esse processo de junção ainda mais fácil. Vocês puderam ouvir no nosso set que nosso som casa muito bem, inclusive tenho o próprio kLap como uma das minhas principais referências hoje.

B4B – Falando então da sonoridade, vocês trazem uma música eletrônica que tem bastante influência do Funk e do Trap, que mesmo sendo géneros de música eletrônica, não são tão consumidos pelo público clubber. O que vocês fazem para transmitir a mensagem de vocês para todos os públicos?

kLap – A grande questão aqui é que as pessoas ainda não veem o Funk como música eletrônica, mas sim, ele faz parte desse cenário. Nossa mistura bem para justamente mostrar que o funk, a música baiana, africana, a house… tudo faz parte da música eletrônica e essa diversidade de cultura, de gêneros, traz ainda mais possibilidades. É divertido poder ser diferente.

Klean – Eu digo que nossos sets podem ser uma porta de entrada para muita gente que ou não conhece a música eletrônica ou só consome o que é comercial, para que possam ver que existem muitas outras opções. Quando o público menos esperar, vamos misturar funk com trap e com house, tudo unificado de forma perfeita.

B4B – Agora vamos falar individualmente. kLap, você acabou de lançar um álbum, o ‘Mlk Nervoso’. Como é para você lançar um álbum completo?

kLap – Cara, ainda to tentando processar que lancei um álbum (risos). Eu passei muito tempo trabalhando para criar o material que vocês podem ouvir nas plataformas digitais e ver ele nas pistas, as pessoas ouvindo, é algo extremamente gratificante, ver como as pessoas se identificam com o trabalho.

Hoje em dia eu consigo ainda mais a importância de um artista lançar um álbum. É uma experiência incrível e vale muito a pena lançar um.

B4B – Klean, precisamos falar sobre Rihanna. Como você se sente ao ver seu remix de ‘Rude Boy’ sendo tocado no Super Bowl?

Klean – Isso tudo foi uma loucura. O remix foi criado há cerca de 3 anos atrás, postado nas redes sociais sem pretensão nenhuma de que chegasse até a cantora, eu queria só mostrar meu processo criativo. Três anos depois, a equipe da Rihanna conheceu o remix, me contataram e me pediram para usar a versão.

Até então eu não sabia onde o remix seria usado, mas eu especulava que fosse para o Super Bowl, já que ela estava confirmada. Assistir aquele show com o coração na mão, sem saber se iria acontecer ou não, até que o mundo todo ouviu e no final, deu tudo certo. Muita coisa aconteceu de lá pra cá.

B4B – Muita coisa aconteceu para ambos, até que chegamos ao The Town. Como foi a preparação para esse show? Como vocês estão se sentindo após essa apresentação?

kLap – O coração estava a mil. A ficha só caiu quando finalmente subimos no palco. Nós passamos muito tempo preparando esse show, querendo mostrar algo onde nós dois conseguíssemos nos identificar da mesma maneira. Nosso som combina muito e tentamos trazer uma proposta como se fosse uma batalha de DJs. Foi algo bem único e especial.

Klean – Nós pensamos em algo que funcionasse de algumas formas, seja nós dois de fato juntos, outras partes mais com a minha sonoridade, outras com a do kLap. Pensamos em algo que trouxesse uma estética um pouco diferente dos sets convencionais e que no fim, deu muito certo. Foi uma loucura.

Siga kLap no Instagram aqui e Klean aqui.

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Offtopic

Seara terá ambiente instagramável e lançamentos no The Town

Seara e Seara Gourmet terão espaços distintos no The Town, além de interação com o público, lançamentos exclusivos e ambientes instagramáveis.

A Seara, marca reconhecida pela inovação, sabor, qualidade e liderança em diversas categorias do mercado de alimentos, levará muito entretenimento, interação, diversão e sabor ao tão aguardado The Town 2023, o maior festival de música, cultura e arte de São Paulo. Durante os dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro, o público poderá vivenciar experiências únicas nos espaços Seara e Seara Gourmet.

Os lounges Seara e Seara Gourmet se destacam como verdadeiras experiências multissensoriais. Embalados por uma grandiosa iluminação em LED, os ambientes oferecem cenários únicos, onde tecnologias inovadoras ganham vida em ativações interativas com o público. Ambos os espaços são repletos de detalhes instagramáveis, convidando os visitantes a capturar momentos que transcendem o festival. As experiências nos lounges da marca se completam com mezaninos com vistas privilegiadas para o grande festival e palco The One, áreas vip e degustações oferecidas por chefs convidados, transformando cada receita em uma nota musical que se harmoniza com o ambiente festivo e vibrante, por conta dos DJs também convidados pela marca.

Seara

A presença da marca no Festival irá oferecer uma experiência única e engajadora. Durante os cinco dias de evento, o público poderá participar de duas ativações especiais dentro do espaço de Seara, Morda e Supreenda-se e o Crocantômetro, que destaca os produtos da nova linha de Frangos Crocantes, com muito sabor e crocância, feita com 100% peito de frango e cortes íntegros, como a coxinha empanada, em diferentes casquinhas

No Morda e Surpreenda-se Seara, o participante vai assumir sua veia rockstar e se surpreender com um ambiente cenográfico e muito digital. A mecânica da ativação é simples, a cada mordida nos Frangos Crocantes da Seara, o ambiente se transforma e revela surpresas, gerando vídeos e conteúdos artísticos, que os participantes poderão compartilhar nas redes sociais. Já o Crocantômetro a história é diferente, o público vai fazer da crocância Seara um grande som. Ao entrar no estúdio, o participante vai degustar a nova linha de Frangos Crocantes da marca e participar de uma gravação. A cada mordida, os microfones vão gravar o nível de crocância por meio de um medidor de decibéis, tornando-se uma verdadeira gravação de tecnologia ASMR, que amplia o impacto do áudio, com muita crocância dentro do The Town 2023!

Seara Gourmet

Para a primeira edição do festival, Seara Gourmet traz o espaço Bacon Hits Remix, com uma explosão de sabores e também de sons e ritmos, unindo o melhor da gastronomia e música. Os destaques deste espaço da Seara Gourmet são as ativações, Bacon Hits Remix e Bacon Hits Feats, além da degustação do menu Bacon Hits – que apresenta no The Town 2023, o bacon feito com 100% carne suína e cuidadosamente defumado, coberto com novos molhos, inspirados em receitas consagradas de São Paulo, “Bacon Hits SP Edition” e o “Bacon Hits Street Market”.

No Bacon Hits Remix, é possível criar uma trilha sonora gastronômica única combinando o sabor inigualável do Bacon Seara Gourmet com toppings diversos, resultando em um vídeo caleidoscópio para compartilhar nas redes sociais; já no Bacon Hits Feats, chefs renomados e DJs se unem para back to back (termo utilizado no mundo artístico quando dois “artistas” produzem som junto) em uma experiência ao vivo de degustação, onde pratos ganham vida ao ritmo da música.

“Estamos entusiasmados com a oportunidade de oferecer novos espaços com momentos surpreendentes e únicos das marcas Seara e Seara Gourmet para o cenário do The Town 2023, unindo os elementos de música e entretenimento com sabor e inovação. Essas experiências sensoriais fazem parte do nosso compromisso contínuo de criar momentos memoráveis e participar cada vez mais das conversas e vidas das pessoas. E vamos engajar não só quem está no festival, mas também quem está em casa, com diversas ativações digitais nas redes sociais”, diz Tannia Bruno, diretora de marketing da Seara.

Entregar experiências únicas e surpreendentes, e sabores memoráveis são um compromisso contínuo da Seara para criar laços profundos com seus consumidores, expandindo os limites da gastronomia e do entretenimento. Ao levar as duas marcas para o festival, a Seara reafirma sua posição como inovadora no universo de alimentos, convidando todos a se unirem a essa jornada única, onde música, sabor e descoberta se unem harmoniosamente.

Para mais informações, acesse o site oficial e também, siga a marca nas redes sociais.

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Mainstage

The Town anuncia novidades para o palco New Dance Order

Com performers e um balé com figurinos exclusivos, o New Dance Order do The Town se conectará com o público através de IA.

Falta pouco para a Cidade da Música abrir seus portões pela primeira vez, no próximo dia 2 de setembro. Daqui a 15 dias, o público poderá ver de perto as experiências memoráveis que o maior festival de São Paulo, o The Town, está preparando para esta edição histórica. Entre as novidades, um espaço que promete chamar atenção com muita música, luzes, shows imperdíveis e, agora, performances inéditas com bale próprio e um palco inteligente que interage com o público.

Assim é o New Dance Order, que desembarca em São Paulo com o The Town e vai colocar todo mundo para dançar, encantando os fãs com uma experiência interativa, sonora e visual, que vai além da música – é uma verdadeira celebração de tecnologia, luz, som e dança. A programação do palco dedicado à música de pista está repleta de grandes nomes do cenário eletrônico, aos quais se juntam 14 bailarinos residentes que vão tornar as performances mais exclusivas e especiais, assim como convidados vindos diretamente do futuro. São mais de uma centena de personagens criadas através de Inteligência Artificial combinada com o olhar de um artista e designer, trazendo um refinamento humano para o projeto. Durante todos os dias do festival, vão interagir com os fãs trazendo mensagens do futuro, instigando reflexões sobre um mundo melhor e criando uma conexão profunda entre passado, presente e futuro.

Além dos 30 shows já anunciados – onde se incluem nomes como Paul Kalkbrenner, Kerri Chandler, Inner City – o New Dance Order receberá em sua programação performances artísticas que vão torná-lo o palco mais dançante da Cidade da Música, numa experiência eletrônica eletrizante. O Espaço Tápias montou um elenco com 14 bailarinos residentes dos mais variados estilos de dança, entre os quais performers renomados da cena da capital paulista, com um figurino assinado pelos estilistas Felipe Fanaia e Rober Dognani e criado exclusivamente para o The Town.

O New Dance Order chega ao The Town ainda mais imponente, proporcionando uma experiência inédita e inovadora para o público do festival. O palco em si já é um verdadeiro show à parte com os leds que compõem toda a cenografia. Os visuais e o balé estarão em conexão com cada show do espaço, que além dos DJs também recebe muitas bandas e shows com instrumentistas, vocais e performances que integram as experiências para a pista de dança que se forma em frente ao palco. As pessoas vão se surpreender com a atmosfera que o New Dance Order trará para o The Town e com as reflexões sobre o futuro que serão propostas pela voz do palco. Será algo mágico e inesquecível“, comenta Claudio da Rocha Miranda Filho, Diretor Artístico do New Dance Order.

New Dance Order do Rock in Rio

Com 12.7m de altura, 64m de largura e uma boca de cena de 16m, o New Dance Order terá 350m² de painéis de led. São nestes painéis que, ao longo do dia, vão surgindo vários avatares humanos, desenvolvidos exclusivamente pela equipe criativa do festival, combinando Inteligência Artificial e design humano. O processo criativo e de desenvolvimento levou três meses e, para criar esta comunidade de avatares vindos do futuro, foram necessários cinco softwares de IA que permitiram criar os rostos e roupas das personagens, as vozes (conferindo-lhes a mesma personalidade que se identifica nas expressões faciais), os cenários de fundo, trilhas próprias (10 faixas de 11minutos criadas exclusivamente para o festival, recorrendo também a ferramentas IA) e, ainda, sincronizar todos os pontos. Entre as mais de cem personagens criadas está a host do palco, inspirada nos povos originários do Brasil, que abre a programação diariamente e anuncia todas as atrações.

Vindos do futuro, as personagens vão conversar com o público para reforçar o propósito do festival de construir Um Mundo Melhor: no cuidado com todo o ecossistema no qual o The Town está inserido, no olhar para o próximo, nas atitudes consciente e no entendimento da arte como um canal de mobilização. A narrativa traz mensagens que falam de pluralidade, respeito, harmonia com a natureza, a tecnologia e a humanidade – mostrando que a construção do futuro que queremos começa agora. Além disso, a ferramenta também será usada para dar ao público informações relevantes sobre o festival, como projetos sociais e serviços dos espaços, dicas de saúde, line-up e muito mais.

“A Inteligência Artificial é tudo, menos máquina. É memória humana. É memória do passado, do presente, e, neste agora, propõe uma reinvenção do campo do simbólico, fazendo novos registros de uma memória imaginada coletivamente, entre as inteligências naturais e artificiais. Nas mãos de artistas, designers e pesquisadores, tem o poder de converter imaginação em criação. É uma união poderosa, o início de uma nova era criativa”, acredita Indio San, diretor criativo e designer e desenvolveu as artes do NDO.

New Dance Order no Rock in Rio | Foto: Marcelo Paixão

Para acompanhar a música e toda tecnologia do New Dance Order, o palco terá um balé formado por artistas diversos que através de um direcional de movimento, deixarão o corpo experimentar e responder às batidas que prometem tirar o público do chão. Com o olhar sensível de Giselle e Flávia Tápias o elenco de dança do New Dance Order buscará convidar todos através de experiências visuais e de movimento para um momento único. O figurino será um show à parte, idealizado pelos estilistas Felipe Fanaia – que já vestiu celebridades como Anitta, Pabllo Vittar, Iza e Sam Smith – e Rober Dognani, que comemora 20 anos de carreira este ano e tem mais de 40 desfiles realizados, inúmeras publicações em veículos de moda e já vestiu personalidades de destaque como Gisele Bündchen, Naomi Campbell, Erykah Baduh e Lizzo.

O New Dance Order fez sua estreia no Rock in Rio 2019 e sua proposta diferenciada estabelece a conexão entre o ser humano e a música, a partir de sensações vividas neste ambiente. Em São Paulo, o palco chega ainda mais potente com uma nova estética musical, promovendo encontros inéditos e exclusivos para o festival, performances de DJs, bandas e artistas, além de fazer uma imersão nas festas que representam o zeitgeist paulistano.

Entre os destaques da programação estão a festa Batekoo Aka Freshprincedabahia, com Juju ZL, Kiara e Mirands fechando o primeiro dia. A segunda noite de festival terá Carlos Capslock Showcase Aka Belisa, com Stroka Live e Tessuto. Os headliners do terceiro dia são Gop Tun Vs 28Room e Diogo Strauzs live feat Julia Mestre. O quarto dia de The Twon segue com destaque para Mamba Negra Showcase feat Cashu = Paulete Lindacelva + Valentina Luz. Fechando a programação do New Dance Order, no dia 10 de setembro, se apresentam ODDS Aka Davis, Vermelho e Zopelar. Vários performers também se apresentam no New Dance Order, como Alma Negrot, no dia 10 de setembro, e Luane Lua Negra, no dia 3 de setembro. O palco funcionará diariamente, das 15h05 às 02h da manhã.

Os ingressos para os dias 02 e 07 de de setembro ainda estão disponíveis e você pode comprar o seu clicando aqui.

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