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Tebetê #03 – Tiësto in Concert 2003 [Vídeo]

O primeiro grande show solo de um DJ na história da música eletrônica, o Tiësto in Concert, registrado em vídeo. Reviva este momento com a gente.

Palco do Tiësto in Concert

Nos dias de hoje, é comum que artistas eletrônicos façam grandes shows solo, com grandiosas produções dignas de festival, mas o que poucas pessoas sabem é quem foi o grande pioneiro neste formato de apresentação. Numa época em que DJs ainda carregavam cases gigantes de CDs, caixas e mais caixas de vinil e tecnologia de certa forma, limitada, um artista holandês revolucionou o cenário da dance music: Tiësto.

O dia 10 de maio de 2003 ficará para sempre marcado na história da música eletrônica com o Tiësto in Concert.  Pela primeira vez, um DJ, sozinho, tocando “apenas nas CDJs”, fez um show para 25 mil pessoas. Não era um festival, não haviam outros DJs, era Tijs Michiel Verwest na frente daquela multidão de gente, que esgotou os ingressos do Estádio GelreDome, na Holanda.

Foram mais de 3h de set, com músicas que hoje, são grandes hinos na carreira de Tiësto, entre elas ‘Adagio For Strings‘, ‘Traffic‘, ‘Lethal Industry‘, isso só para citar algumas. Numa época em que Tiësto ainda era do Trance, foi possível ouvir grandes outros clássicos do gênero, além de uma performance completamente diferente daquela que estamos habituados hoje. O vídeo é uma verdadeira viagem no tempo, perfeita para (re)descobrimos outra faceta de um grande artista.

Considerado o DJ #1 do Top 100 DJ Mag por 3 vezes consecutivas, ele elevou as apresentações de um DJ, levando-as a patamares nunca antes vistos. Tiësto é considerado por muitos, como o primeiro DJ superstar da música eletrônica, tanto que em 2004, foi convidado para se apresentar nas Olimpíadas de Atenas, levantando ainda mais a bandeira da dance music. Um verdadeiro ícone, que celebraremos hoje em nosso Tebetê!

https://www.youtube.com/watch?v=E1J7alwShPg&t=3537s

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Techno Bunker #02: Raxon

Continuando com nossa missão de explorar o mundo do techno, vamos para o enigmático Egito, terra natal do DJ e Produtor Raxon.

Raxon

A música eletrônica não tem fronteiras e é isso que queremos provar, cada vez mais, com nossa coluna Techno Bunker. Em sua primeira parada, visitamos a Eslovênia de UMEK e agora, partiremos para o Oriente Médio, visitaremos as Piramides do Egito, país do DJ e Produtor Raxon.

Ahmed Raxon é um daqueles artistas que possuem muitos anos de uma carreira próspera, mas que para chegar até onde está, precisou batalhar bastante. Sua infância foi em Abu Dhabi, numa época em que não haviam lojas especializadas em música eletrônica. Ele cresceu ouvido bandas como Nirvana ou Metallica, discos que conseguia comprar em mídia física e seu contato com a dance music era apenas por uma estação de rádio, a Radio One.

Assim como muitas pessoas dos anos 90, foi através de programas como o LimeWere e Napster que Raxon começou a ter acesso a suas primeiras tracks, além de ter herdade de suas irmãs alguns CDs de house music. Foram esses álbuns e as músicas ripadas da internet, que serviram como base para as primeiras house parties de Raxon, até que em 2003, ele foi apresentado para sons de artistas como Hernan Cattaneo e Tiësto, o que mudou seu conceito musical e de discotecagem.

Raxon da Festa R A I O

Em 2004 foi quando Raxon ingressou na carreira de produtor musical, e sua primeira demo foi entregue para um grande nome local da época, Afroboogie, mas foi apenas em 2010 que ele decidiu se dedicar exclusivamente para sua carreira musical. Arquiteto de formação desde 2009, foi em Dubai que Ahmed tomou a decisão de ser um artista em tempo integral, tanto que em 2014 ele resolveu se mudar para Barcelona, onde vive até hoje.

Com uma sonoridade que transita entre house e techno, Raxon destacou-se no Oriente Médio ao vencer o remix contest de Nicky Curly para a track ‘Underground‘, promovida pela gravadora Cecille e nos anos de 2013 e 2014, foi votado como o Melhor DJ de Dubai, pela revista Time Out. Desde então, ele trabalhou com grandes labels, entre elas  Ellum de Maceo Plex, Diynamic de Solomun e Noir Music.

Raxon carrega em sua essência sons que o acompanham desde os anos 90. Rock, hip-hop, trance, house e sci-fi são elementos que podemos sentir em suas diversas tracks, que já foram tocadas em grandes palcos, incluindo Off Sonar, ADE, BPM Festival, DGTL Festival e mais recentemente a festa R A I O em São Paulo e o Warung Beach Club, de Santa Catarina. Foi em 2016 que ele teve sua residência na aclamada Mosaic de Plex , além de ser figurinha constante em clubs como Watergate e Pacha Ibiza.

Com uma discografia impecável, Raxon acumula milhares de plays no Spotify e seu último release, o EP ‘Orbit Connection‘, mostra bem a evolução musical do artista, que vem se moldando cada vez mais ao techno melódico, tanto que foi lançada por uma das gravadoras que é referência no gênero, a Drumcode, de Adam Beyer.

Por enquanto, nossa viagem para por aqui, mas em breve seremos transportados para outro país e traremos um artista para nosso Techno Bunker.

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DCR517 – Drumcode Radio Live – Raxon Studio Mix recorded in Barcelona by adambeyer

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Tebetê #02: Daft Punk no Vegoose Festival 2007 [Vídeo]

Um dos maiores duos da música eletrônica, Daft Punk, num set especial feito em Las Vegas no Vegoose Festival, em 2007. Vamos de Tebetê!

Daft Punk no Vegoose 2007 | Foto: Ryan Olbrysh

Muitos artistas da cena eletrônica, conseguem atingir patamares de superstars, mas são poucos os nomes que transformam-se em verdadeiras lendas e o duo Daft Punk é um deles. A dupla, formada por Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter, é conhecida por seus icônicos capacetes e acumula feitos em toda a sua história, dando-os o status de legendários.

Com hits que atravessam gerações, Daft Punk é um daqueles projetos que são o sonho de consumo de qualquer raver. Suas apresentações, completamente tecnológicas, são marcos na cena da música eletrônica, assim como a sonoridade própria, tão característica da dupla e é uma dessas apresentações, que reviveremos hoje.

O Vegoose Festival foi um evento de Halloween que aconteceu entre os anos de 2005, 2006 e 2007 em Las Vegas. Grandes nomes da música mundial como Rage Against the Machine, Muse, The Killers e Queens of the Stone Age passaram pelo evento, que em 2007, recebeu nossa dupla de robôs favoritas.

Num set de um pouco de 1h, o Daft Punk tocou tracks que são conhecidas até hoje, em mashups incríveis. ‘Around The World‘ com ‘Harder, Better, Faster, Stronger‘ e ‘One More Time‘ com ‘Aerodynamic‘ foram algumas das misturas, que você confere agora com a gente, nessa viagem ao passado. Hoje, o Tebetê é com Daft Punk!

https://www.youtube.com/watch?v=sQVqHD4L2tw

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2020 Parte 2: Novos trabalhos e novas tendências para o semestre

Confira uma análise de possíveis tendências da dance music, descritas por hypes de novos álbuns, que possivelmente chegarão até o fim de 2020.

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Tebetê #01: Swedish House Mafia no Madison Square Garden 2011 [Vídeo]

Iniciando a nova coluna do B4B, relembramos o icônico set do trio Swedish House Mafia numa das arenas mais incríveis do mundo.

Swedish House Mafia no Madison Square Garden

Revisitar o passado é sempre muito bom, ainda mais quando as lembranças são shows grandiosos e é isso que iremos resgatar na nossa nova coluna, a Tebetê. Todas as quintas, traremos um show marcante de algum artista da música eletrônica e pra começar, nada melhor do que o trio mais famosos da EDM: Swedish House Mafia.

Formado por Axwell, Sebastian Ingrosso e Steve Angello, o trio mudou os rumos da nova EDM. Seus hits ganharam o mundo e sua fama atravessou os continentes. Com shows esgotados em todos os 4 cantos do planeta, foi em 2011 que o Swedish House Mafia lotou uma das arenas mais incríveis e desejadas: o Madison Square Garden, em Nova York.

A arena, que já foi palco para nomes como Elvis Presley, Madonna, Elton John, John Lennon, entre outros gigantes da música mundial, recebia pela primeira vez, no dia 16 de dezembro de 2011, uma atração eletrônica como a principal da noite. Nas palavras de Steve Angello: “Nós colocamos um club dentro do Madison Square Garden“.

A noite que teve todos os ingressos esgotados, contou com grandes tracks do trio até aquela data. ‘Antidote‘, ‘Save The World‘, ‘One‘ e ‘Leave The World Behind‘ foram alguns dos clássicos, entre outros hits como ‘One Last Ride‘ de John Dahlback e ‘Tung‘ de Deniz Koyu.

São 2 horas de pura nostalgia e ótimas lembranças, que você revive abaixo. Vem de #Tebetê com a gente!

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PITTA, o psytrance e a luta por liberdade em amar e se expressar

Pansexual, DJ e inserido na cena do psytrance, PITTA é um exemplo de que podemos ocupar todos os lugares, seja ele qual for. Acompanhe nossa entrevista.

PITTA

Um artista multifacetado. Jorge Pitta, ou só PITTA, começou frequentando a cena noturna LGBTQIA+, até que gradativamente, foi ocupando seu espaço de direito na cena do psytrance. Pansexual, ele representa o + da sigla e hoje, conversa com a gente num papo bem cabeça.

Confira nossa entrevista com PITTA, convidado da nossa #PrideWeek 2020

Beat for Beat – Pitta, muito obrigado por topar conversar com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, nos diga: como é ser uma pessoa LGTQIA+ dentro da cena trance? Você acha que ainda há resistência para que o público aceite alguém de nossa comunidade?

PITTA – Eu quem agradeço a oportunidade falar com vocês. É muito importante ter esse espaço pra gente. Muito preciso, na verdade.

Bom, a cena trance tem algumas subdivisões, ramificações de público, mas vou falar de uma maneira mais geral. Existe dentro da cena trance, um espaço pra pessoas LGBTQIA+. Existem projetos inclusivos muito importantes pra nós da comunidade, como o LGBTrance e o projeto Trance de Rua, mas este espaço é algo que precisa de mais visibilidade, mais atenção. Infelizmente, o ramo artístico rico que a cena psytrance possui, ainda é composto predominantemente por homens cisgêneros heterossexuais brancos. Consequentemente isso pesa e tendencia espaços disponibilizados aos LGBTQIA+ e mulheres, tanto aos artistas quanto ao próprio público.

Particularmente dizendo, ainda sinto resistência sim, tanto dos organizadores de eventos quanto do próprio público, em lidar com a presença de pessoas que fogem do padrão heteronormativo que é imposto a nós, não só nas festas, mas no nosso dia a dia.

PITTA no Luar Music Bar

E você já teve dificuldades em marcar uma gig, por ser uma pessoa LGTBQIA+? Sofreu preconceito, injúrias ou até mesmo agressões, enquanto tocava ou frequentava uma festa?

PITTA – Eu não me recordo de ter sofrido injúrias e agressões. Até porque as pessoas que frequentam e organizam a cena trance, costumam criar pra si uma postura inclusiva e “deboísta”, mas infelizmente as coisas não se dão dessa forma. A gente sabe que assim como no nosso cotidiano, o preconceito muitas vezes está presente de maneira velada. As pessoas têm atitudes preconceituosas, que às vezes nem se dão conta, ou fingem não se dar conta. Olhares, dizeres feitos, mas não diretamente a nós, são exemplos de coisas que eu já presenciei e vivi algumas vezes.

Mas na questão artística, é nítido como o preconceito aparece. Ele aparece quando nós olhamos os line ups das festas e nele predomina, ou é inteiramente composto por homens cis brancos heterossexuais, ou quando intervenções artísticas promovidas pela festa, se dão da mesma forma. Até mesmo na pista, quando pessoas que fogem dos padrões que a sociedade nos impõe, ocupam seus espaços somente pra curtirem seu momento, e se deparam com vários olhares de canto de olho, de reprovação, de pessoas apontando (como já vi acontecer). São atitudes disfarçadas, que as pessoas pensam que ninguém vai perceber, que acabam instaurando o medo e insegurança de pessoas como e, de  ocuparem seus lugares na cena.

Você se sente seguro? Confortável, frequentando um ambiente que não te aceita totalmente?

PITTA – Acho que desconfortável é a palavra. Não me sinto inseguro, porque acho que é meu papel resistir e ocupar esse espaço, para que outras pessoas como eu possam também estar ali. Pra que elas futuramente se sintam confiáveis de poder ocupar esse lugar comigo.

PITTA

Falando agora da sua carreira como DJ. Como foi que você saiu da pista e passou a ocupar um lugar no lineup das festas? Você lembra da sua primeira gig?

PITTA – É engraçado como a minha carreira como DJ andou de mãos dadas com minha aceitação e sexualidade. Meu interesse sobre a música eletrônica e mixagem foi despertado justamente quando comecei a frequentar as casas noturnas LGTBQIA+, então fui me aprofundar sobre o assunto. Aprendi as técnicas básicas de mixagem num curso na escola para djs da DJ Fabíola Sellan, que hoje é uma querida amiga.

Mais uma vez na noite LGBT, organizadores de festas que são grandes amigos meus como o DJ Edy Monster, me deram oportunidade de me lançar profissionalmente nesse ramo e me ajudaram bastante no meu aprofundamento como DJ. Com bastante treino, dedicação e ajuda de toda essa galera, incluindo o Viktor, editor do B4B, que me deu o empurrãozinho pra começar lá no início, na minha primeira gig, no Luar Music Bar, em São Paulo, consegui seguir a diante com esse trabalho artístico que é tão bonito e importante. Sou muito grato a toda essa história que construímos até aqui.

PITTA

E o trance? Como ele apareceu na sua vida? Como foi o processo da migração sonora para o que você toca hoje?

PITTA – Quando eu já tocava, comecei a querer ampliar meu repertório. Então comecei a descobrir outras vertentes diferentes das que eu já estava habituado a ouvir. Foi aí que conheci o psytrance. Foi amor a primeira ouvida (risos). Daí então comecei a frequentar festas com esse segmento, para que eu além de poder criar maior consciência sobre o som que eu queria então tocar, poder fazer o famoso network, pra poder começar alcançar novas oportunidades de apresentar meu trabalho e crescer com ele.

Quanto ao processo de migração sonora, a gente sempre aperfeiçoa né? Amplia o repertório, aprende mais um pouco. Quando ingressei na cena trance, eu mesclava entre o progressive e o fullon. Mas depois de um tempo resolvi focar apenas no fullon groove, que era mais a minha praia. Como disse antes, a cena trance se divide em ramificações, então, trabalhando no meio, desenvolvi gosto por outras vertentes e uma delas foi o Darkpsy. Foi aí que dá mesma forma que antes, trabalhei pra ampliar e aperfeiçoar meu repertório para poder atuar ali também.

Atualmente tenho 2 projetos: PITTA (fullon) e Cabron (Darkpsy). Eu resolvi trabalhar com mais de um projeto, porque acho que quando a gente se define muito, a gente acaba se limitando e fazendo as coisas de maneira organizada, acho que conseguimos explorar sempre mais um pouco de nós, artisticamente falando. Tocar uma vertente não pode ser impedimento da gente aprender mais um pouco sobre outra, não é mesmo?

PITTA e Edy Monster

E mesmo que todo o cenário atual seja incerto, quais são os planos pra sua carreira musical? Tem usado este momento de isolamento a favor da sua evolução como artista?

PITTA – O cenário atual deixa tudo meio incerto mesmo. Infelizmente estamos todos passando por tudo isso e é muito triste. Esse momento aconteceu sem a gente esperar, de maneira rápida. Me fez pensar muito sobre a minha vida, sobre tudo que eu queria pra mim, principalmente sobre minhas questões profissionais. Eu trabalho artisticamente não só como DJ, sou ator também. Toda a classe artística foi golpeada por essa situação. A partir daqui, a gente vai ter que se reinventar, assim como o mundo inteiro.

Eu utilizei esse momento de internalização para me aperfeiçoar profissionalmente sim. Pra estudar, pra ampliar horizontes, criar novas técnicas, projetos e planos, pra quando o novo normal se instalar, esses investimentos me prepararem pra integrar um novo mercado de trabalho, que a gente ainda desconhece. Mas que tenho esperança que depois desse tempo de reflexão, seja mais justo, igualitário e inclusivo a todos os profissionais do ramo artístico.

Pra finalizar, que mensagem você quer transmitir para o mundo, através da sua música? Que atitudes você deseja que o mundo adote, para que as diferenças sejam deixadas de lado? Obrigado!

PITTA – A música tocando numa pista não é só uma música. O dever da arte é comunicar. Acima de toda a técnica do DJ, existe alguém que quer, além de proporcionar momentos de alegria, passar uma mensagem. Então, entenda a mensagem, e principalmente: valorize isso.

Por trás de todo meu trabalho, exite alguém que é diferente, e que estando ali, quer mostrar que o diferente também é bom, e também merece ocupar seu espaço. A diferença não está aí pra ser exterminada, mas pra ser além de admirada, respeitada. Não tem problema ser diferente. O errado é tentar ser igual.

VALORIZE A ARTE, em especial, os artistas LGTQIA+ ❤

REBOOT. by DJ Pitta

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Divas por uma Diva: Ella De Vuono e o orgulho em forma de música

Mulher cis, lésbica, DJ, produtora e um verdadeiro ícone na comunidade LGBTQIA+ da música eletrônica. Veja nossa entrevista com Ella De Vuono.

Foto: RECREIOclubber

Uma grande amiga do Beat for Beat, Ella De Vuono dispensa imitações. Uma das grandes artistas LGBTQIA+ do Brasil, Ella contou pra gente um pouco sobre sua luta em nossa comunidade, falou sobre preconceito e aceitação, além de criar uma playlist super especial, que celebra a diversidade.

Confira agora nosso papo com Ella De Vuono, convidada da #PrideWeek 2020.

Beat for Beat – Oi Ella, muito obrigado por conversar com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, conta pra gente: você já sofreu algum preconceito ou dificuldade para agendar gigs, por conta da sua orientação sexual? 

Ella De Vuono – Oie, é sempre um prazer falar com vocês! Obrigada vocês por lembrarem de mim e darem visibilidade ao meu trabalho.

Olha, felizmente nunca sofri preconceito em gigs no meio da música eletrônica (clubs e festas), mas teve um job em especial, que era para tocar em um evento corporativo e o cachê era super bom, que fiquei sabendo que não me escolheram por ser lésbica. Segundo o responsável, ele tinha medo que eu desse em cima das mulheres no local. Acredito que esse julgamento dele, deve partir de suas próprias atitudes.

Ser uma mulher cis, lésbica, traz em sua essência a hiper sexualização do seu corpo e até das suas relações, visto que muitos homens ainda possuem fetiche em casais. Você já sofreu assédio ou passou por alguma situação desconfortável, por conta disso?

Ella – Essa é a minha vida. Posso contar no dedo quantas vezes sofri preconceito por ser lésbica, mas as vezes que fui assediada por conta disso, são incontáveis. Por isso que eu e minha namorada não “baixamos a guarda” para nenhum homem que se aproxime, não perdoamos nenhuma “brincadeirinha”, não deixamos passar nenhuma insinuação. A gente já corta no ato, porque simplesmente não toleramos.

Na grande maioria das vezes, um “elogio gentil” (entre muitas aspas) acabou sendo um assédio disfarçado e os homens queriam mesmo tentar alguma coisa. É complicado, pois se não damos moral, somos metidas e arrogantes. Se damos, é que estamos dando mole e queremos ir pra cama com o fulano. Então simplesmente não tem papo. Fez brincadeirinha, eu corto.

Ella De Vuono na Levels

Podemos dizer que assim como no futebol, a música eletrônica transformou-se num ambiente em que se assumir é algo raro e que muitos artistas têm medo do que pode acontecer após “saírem do armário”? Você acha que ainda é necessário se esconder tanto, em pleno 2020 e a que você atribui esse medo todo de dizer quem você realmente é?

Ella – Primeiramente, acho que não existe uma comparação plausível entre música eletrônica e futebol. A música eletrônica surgiu dos guetos, das minorias, dos negros, dos homossexuais, dos excluídos. Liberdade é a palavra de ordem em meio a música eletrônica. Se tem um lugar no mundo que eu nunca nem pensei duas vezes para ser quem eu sou, é em um club, em uma rave.

Lembro no começo, quando me entendi como lésbica (2005), eram nas raves que a gente podia se beijar em público, que a gente podia ser um casal sem medo, mas ainda assim rolavam assédios. Acho que só fui parar de ser assediada em festas como a Carlos Capslock, Gop Tun, Mamba Negra, etc.

Eu acho que nunca é necessário se esconder, nem em pleno 2020 e nem nunca. Acredito que o medo vem de diferentes lugares dependendo da história de vida de cada um, mas ao meu ver, se somos aceitos pela nossa família desde sempre, então esse medo é muito mais fácil de enfrentar em qualquer lugar.

Ella De Vuono na Carlos Capslock

Você é uma verdadeira militante da causa LGBTQIA+. Como DJ, você busca tocar artistas da nossa comunidade, dentro dos seus sets? Além de atos, como você passa a mensagem de respeito durante suas apresentações?

Ella – Sempre que eu posso, toco músicas de artistas que se enquadram nas “minorias”, mas isso não é um fator fundamental para mim. Pois na questão musical, eu levo em consideração a música e apenas ela, gênero, orientação sexual, etnia ou raça, não é determinante.

Minha mensagem é passada de diversas maneiras, visualmente na minha performance, roupa e maquiagem. E na minha música, tanto nas minhas produções que são carregadas de mensagens que trazem diversas questões sociais, quanto em acapellas aplicadas em cima de outras músicas, seja trecho de discursos, ou de entrevistas ou até mesmo de alguma outra música.

Foto: RECREIOclubber

Na playlist que você criou pra gente, você colocou grandes artistas LGBTQIA+, além é claro, das Divas supremas, como Madonna, Cher, Diana Ross. Qual o tamanho da influência dessas artistas no seu trabalho e como você tenta traduzir isso no techno?

Ella – Amo! A influência dessas mulheres é gigantesca na minha carreira, meu amor pela Madonna é super escancarado, todo mundo que me acompanha sabe. Para mim, essas mulheres e muitas outras como Nina Simone, Grace Jones, Rita Lee e Maria Bethânia por exemplo, são uma inspiração de que não se separa a artista da pessoa. Que ser uma figura como elas, está sim, em suas atitudes e valores. Que nossa arte tem que ir de encontro com nossos valores e posicionamento.

Eu sempre jogo uma acapella da Madonna, da Lady Gaga, Cher e até da Leandra Leal em cima de algum techno ou house. Além disso, tenho músicas autorais com trechos de entrevistas ou discursos delas também.

Podemos dizer que hoje, o techno é a cena mais inclusiva da música eletrônica. São cada vez mais comuns, festas em que os corpos são livres e podemos ser quem realmente somos. Qual a sensação de fazer parte de um coletivo que foi um dos grandes responsáveis por essa revolução de liberdade de expressão?

Ella – A sensação é de orgulho e pertencimento. Eu amo a Carlos Capslock e já amava sendo apenas frequentadora, depois que entrei para o coletivo como residente, eu pude ver que essa mensagem é realmente genuína, que eles realmente se importam com a cena, com os frequentadores e com todo o staff. Acho que um exemplo disso que estou falando, é a Vakinha que a Capslock está fazendo para conseguir alguma renda para todo o staff que ficou sem trabalho com o cancelamento de todas as festas deste ano.

Como eu já citei acima, nunca esqueço da sensação de alívio que tive de passar uma festa inteira curtindo numa boa sem ter sido assediada. E quem educa parte do público que não recebeu tal educação de berço, é a festa.

Pra finalizar, o que a Rafaella diz todos os dias, para a Ella De Vuono? O que move a sua luta diária, para mostrar para o mundo, que todos somos iguais? Obrigado!

Ella – Acho que a Rafa fala assim: Ella, beesha cê tá arrasando! Continue assim porque eu dependo da senhora pra viver!

O que me move é exatamente a inconformidade de ficar calada. Como me calar diante de tanto ódio? De tanto preconceito? Me manter neutra é ser conivente com tudo de ruim, é medíocre, é raso. Parafraseando Bob Marley: As pessoas pessoas que tentam tornar esse mundo pior não tiram um dia de folga. Como eu vou tirar?

Obrigada você pelo espaço, espero que gostem da playlist.

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Etcetera, Pedro Gariani e a força da diversidade na WareHOUSE

Ela é uma drag não-binária e ele, um gay cis. Etcetera e Pedro Gariani formam a dupla de DJs residentes da WareHOUSE e hoje, conversam com a gente.

Pedro Gariani e Etcetera | Foto: FALZER – @philipfalzer

Resgatar a história da house music não é tarefa fácil, mas é isso que o coletivo WareHOUSE vem fazendo em cada uma de suas edições. Seus DJs residentes, Etcetera e Pedro Gariani, uma drag queen e um gay cis, são o retrato perfeito da diversidade e ambos têm muito orgulho disso.

Convidados da nossa #PrideWeek 2020, a dupla conversou com a gente, sobre as dificuldades na cena eletrônica, preconceito, aceitação e claro, house music. Confira nossa entrevista com Etcetera e Pedro Gariani, da WareHOUSE.

Beat for Beat – Oi meninxs, tudo bem? Obrigado por conversarem com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, contem pra gente: como é serem artistas LGBTQIA+, dentro da cena eletrônica nacional? Já sofreram preconceito e/ou entraram dificuldades na hora de fechar uma gig?

Etcetera – Obrigada vocês pelo convite delicioso pra esse papo. Eu comecei tocando profissionalmente há 7 anos, quando ainda tocava Indie, mas logo migrei pra cena eletrônica, onde estou há 5 anos. Eu sempre trabalhei com festas voltadas ao publico LGBTQIA+, mas foi apenas nos últimos 2 anos que me libertei dos meus bloqueios e dei vida a Etcetera. A drag surgiu após eu ter conseguido um certo reconhecimento

Etcetera me abriu diversas novas portas. Hoje vivemos tempos muito bons para a arte drag. De uns anos para cá, deixamos de ser marginalizadas e finalmente somos vistas como as estrelas que realmente somos. Não que ainda não tenha muito o que evoluir em questão de respeito, mas é algo que vem caminhando a acontecer. É engraçado sentir e perceber a reação de surpresa das pessoas ao presenciarem uma drag tocando um house de respeito (risos).

Infelizmente já senti sim, alguma dificuldade em ter a atenção de algumas festas grandes e acredito que todo artista LGBTQIA+ já tenha passado por algo. Também já tive situações desagradáveis com público, diversas vezes, antes e depois do drag. Ofensas enquanto estou tocando, papos constrangedores com algum contratante mais “ignorante” ou até mesmo no meio da pista, mas eu sempre lidei muito bem com isso.

Pedro Gariani – Oi pessoal, obrigado pelo convite e por colocar este assunto, que é tão importante, em pauta. Eu amo ser um ser um artista LGBTQIA+ e tenho muito orgulho disso. Espero conseguir aumentar cada vez mais meu alcance para poder levar uma mensagem de amor e respeito às pessoas.

O mercado em geral é muito pautado por relacionamento e networking. Eu toco há aproximadamente 3 anos e foi um processo natural ir tocando nas festas e clubs de pessoas que estão próximas ao meu círculo de relacionamentos e estes eventos, em sua maioria, foram voltadas ao público LGBTQIA+, então nunca tive problemas relacionados a preconceito até então.

Mas ao mesmo tempo, à medida que eu olho para os meus objetivos futuros, sempre me questiono se produtores e contratantes de festas fora da cena LGBTQIA+ vão olhar para mim com os mesmos olhos que olham para outros artistas que não falam abertamente sobre diversidade.

Etcetera

Vocês fazem parte hoje, de uma crew que luta pela diversidade. Etcetera, como surgiu o convite pra fazer parte da WareHOUSE? E Pedro, como foi criar esse projeto? Qual a sensação em fazer parte de uma crew que valoriza a pessoa, independente do que ela é?

Etcetera– A WareHOUSE chegou na minha vida de surpresa e ganhou espaço cativo nas prioridades desde cedo. Pouco antes da segunda edição, minha amiga drag, Jade Odara, hostess da festa, indicou meu trabalho para o Pedro. Fui conhecer a festa, os organizadores e acabamos descobrindo muitos pontos em comum. Comentei da forte vontade que eu tinha, de fazer algo em prol da minha comunidade, de dividir meus privilégios, o que vai de encontro com o a filosofia da WareHOUSE

Quando o convite veio, não foi só pra ser DJ residente da festa, mas uma das pessoas responsáveis por fazer esse projeto existir. Logo na sequência, eu e o Pedro iniciamos nosso projeto em dupla, WareHOUSE DJ’s. Nós temos uma afinidade musical muito boa.

É uma honra imensa conseguir fazer o projeto acontecer e conquistar seu espaço. Sempre quis fazer uma festa onde realmente fosse respeitada a historia da house music, reviver as pistas onde todes se sentiam livres para ser quem quiser ser e curtir a noite toda sem medo de julgamentos.

Pedro – A WareHOUSE é um sonho que se tornou realidade. Um projeto concebido por mim e pelo Antônio, meu namorado, e que desde o princípio nasceu com a ideia de oferecermos um espaço totalmente democrático para o nosso público, onde todos pudessem ir e ser exatamente quem são ou quem quisessem ser naquela noite. Também sempre foi imperativo que o lineup e cast de artistas fosse marcado pela diversidade e representatividade, além de termos uma equipe (da produção à segurança, à limpeza, etc) que fosse majoritariamente composta por LGBTs, sendo pelo menos 50% de pessoas trans.

A realidade é que, quando olhamos para a história da House Music, vemos que ela surgiu dentro da cena underground, nas mãos de pretos, gays, latinos… e hoje, olhando para o cenário global e até mesmo nacional, onde estão essas pessoas em posição de destaque? Claro que temos alguns nomes, mas o mercado em si se apropriou de algo que surgiu na mão dessas pessoas e hoje as discrimina e não dá oportunidade.

Neste sentido, queremos com a WareHOUSE, resgatar estes valores de liberdade, inclusão e diversidade que sempre estiveram no DNA da House Music. Queremos dar suporte à nossa comunidade, além de dar destaque a essas pessoas. Temos uma preocupação muito grande em ter representatividade em todos os setores dos nossos eventos, da equipe de limpeza e seguranças aos DJs e Performers.

Também dentro dos nossos objetivos está levar a música e a profissionalização na área para quem não tem acesso. Por isso criamos o projeto WareHOUSE DJs, que visa oferecer formação de DJ a LGBTs de baixa renda. Devido ao coronavírus acabamos não conseguindo colocar de pé ainda, mas assim que tudo se resolver daremos continuidade.

Etcetera e Pedro Gariani

Etcetera, você é uma pessoa dentro da letra Q. Ser uma drag queen DJ, não-binária, fora do tradicional pop/tribal, já foi um problema na sua carreira profissional?

Etcetera – Infelizmente sim. Já houveram produtores de festa underground, que depois de receberem meu material, disseram que não imaginavam que eu era do house, que tinham certeza que eu tocava pop. As pessoas automaticamente associam a arte drag ao gênero pop ou tribal, o que atrapalhou sim um pouco para que eu conseguisse meu espaço e um certo respeito na cena eletrônica underground, mas vem acontecendo, graças a Deus. Eu amo ser uma das drags que vem quebrando esse padrão.

Pedro, você representa a letra G da sigla. Ser homem cis, torna sua vida como DJ mais fácil? Você acha que há mais oportunidades se comparada a outras letras da sigla?

Pedro – Em uma visão mais macro, acredito que o ser DJ LGBTQIA+ fora da nossa cena não é muito fácil. Como eu disse no começo, se trata mais dos relacionamentos que você constrói e quem você acessa. Falando pela minha carreira, eu ainda não tive nenhuma oportunidade para mostrar o meu trabalho fora da minha “bolha”, por exemplo.

Agora, quando olhamos para dentro da cena LGBTQIA+, vemos muito mais artistas gays cis do que do resto da sigla. Infelizmente não temos uma comunidade unida, ainda existe muito preconceito dos próprios gays, por exemplo, com o resto da comunidade e isso com certeza se reflete muito em como e para quem as oportunidades de fato chegam.

Pedro Gariani

A House Music é um dos pilares da música eletrônica e que foi criada em meio a comunidade preta e LGBT. Quando que vocês decidiram se dedicar a esse gênero tão clássico? Como foi é representar um gênero musical tão representativo para nossa causa?

Etcetera – Eu sou apaixonado por house desde muito novo, por influências do meu irmão que sempre ouviu bastante, mas eu acabei começando a carreira musical no indie pop. Depois de assistir alguns documentários, entre eles o Pump Up The Volume e ler bastante sobre a historia da House e Disco Music, eu me apaixonei ainda mais. O ritmo já contagia e conquista por si só e o quanto mais eu aprendia sobre, mais eu tinha certeza que era dessa história que eu queria fazer parte e ajudar a continuar escrevendo.

Eu fico completamente honrada em poder hoje ser alguém que representa essa história e eu quero poder ir muito mais além. Sonho em poder levar a voz da minha comunidade ao topo.

Pedro – Eu tive um processo de me descobrir durante estes anos, acho que o amadurecimento também foi me permitindo gostar de coisas novas. Eu sou muito eclético e gosto de muitos gêneros e subgêneros, mas a minha história com a criação da WareHOUSE me inspirou muito a me dedicar mais à House.

Eu fico muito orgulhoso de ver todas essas histórias lindas por trás da House Music, acho que decidi representar algo que eu realmente acredito e quero fazer a diferença.

É perceptível que hoje, o público LGBT esteja migrando, cada vez mais, para gêneros mais underground da música eletrônica, saindo do POP e Tribal tão característicos. Como vocês enxergam essa mudança de estilos, ambientes e o que achou que motivou isso?

Etcetera – A Historia da House music ganhou espaço na mídia. As pessoas passaram a conhecer mais as festas undergrounds e o burburinho foi acontecendo. Um grupo ia, se apaixonava e contava para outros grupos que também migraram e rapidamente, a cena foi ganhando visibilidade e cada dia mais publico. O ser humano é mutável, influenciável e a mídia é completamente responsável pelo que a massa consome.

Pedro – Essa movimentação foi um grande reflexo da popularização das festas fora de Clubs. Carlos Capslock, Mamba Negra, ODD, GopTun, Selvagem e muitas outras, foram grandes responsáveis por enriquecer a cena paulistana e dar opções mais diversas para um público que antes estava restrito a poucos clubs. Esse processo colaborou muito também para a diversificação dos ambientes, eu enxergo muita pluralidade no público destas festas.

Eu acho tudo isso incrível. Consegui acompanhar a mudança de comportamento dos meus amigos durante todo esse processo e fico muito feliz de ver tanta gente se abrindo para coisas novas!

Pedro na Tokka

O 2º semestre está começando e mesmo que o cenário ainda seja muito incerto, quais os planos de vocês para o restante do ano? O que buscam desenvolver em suas carreiras profissionais?

Etcetera – 2020 VOOU MENINE, SOCORRO! Esse ano esta sendo muito desafiador, estamos todes tendo que nos reinventar, buscar formas de mantermos nosso trabalho e sustentos em meio a tudo isso. Eu venho estudando formas de levar minha arte cada vez mais longe, no mundo virtual. Dei incio ao meu canal no Youtube e pretendo subir muito conteúdo musical e informativo por lá. Estou aproveitando o tempo para estudar e aperfeiçoar mais meu trabalho como DJ e performer.

Ah… Tem um projetinho no forno fora da música, mas é novidade pra um papo futuro. (risos)

Pedro – Eu estou com expectativas altas para o período pós pandemia. No momento, estou me dedicando à criação do meu primeiro EP. Quando tudo isso passar, eu quero deixar as pessoas felizes na pista, então estou dedicando o meu tempo a produzir coisas que possam deixar as pessoas assim.

Junto com este EP virão outras coisas legais, como o show visual que estou preparando e que deve ser lançado na WareHOUSE, assim que pudermos retomar a festa.

Pra finalizar, o que acham que falta, tanto para o público quanto para contratantes, que ainda são intolerantes, entenderem que a orientação sexual é um mero detalhe e que o que importa, é o talento do artista? 

Etcetera – Estamos vivendo momentos onde é extremamente necessário olhar para dentro. Todes temos a liberdade de sermos quem e como quisermos ser. Somos responsáveis por nossas vidas, histórias e não é a orientação sexual ou gênero que vai definir a capacidade das pessoas. Já passou da hora de entender a todes como seres humanos. Do lado de dentro, todo mundo é idêntico, todo mundo respira, come, pensa e SENTE.

Acho que o combo básico é EMPATIA E RESPEITO! Se todes seguirem com essas duas prioridades em frente as atitudes, vamos evoluir muito e quem sabe um dia, vivenciaremos um mundo bem diferente do que vivemo hoje. O talento do artista está do lado de dentro e como ele é por fora, não vai influenciar nisso! Um beijo muito especial e obrigada mais uma vez pelo convite.

Pedro – Acredito que muitas vezes, o preconceito está muito mais com o produtor/contratante do que de fato com o público. Quem realmente gosta de música, está no evento pelo trabalho do artista e a vida pessoal de quem está se apresentando não faz diferença. Grande prova disso é Honey Dijon e BLOND:ISH, por exemplo, que lotam shows, como aconteceu no Time Warp aqui em São Paulo ano passado. Muitas pessoas que estavam ali, não tinham nem ideia de que se tratava de uma artista trans e uma artista lésbica.

Para termos outros artistas neste patamar, precisamos dar oportunidade a todos e nos ater apenas ao trabalho que cada um está fazendo, independente de raça, gênero ou orientação sexual. Afinal, estamos todos envolvidos nesta indústria por amor à música e ao público, além do mais, no ano em que estamos não há mais espaço para preconceito e segregação.

Etcetera na WareHOUSE

Pedro, que mensagem você pode deixar para nossa comunidade, principalmente para os artistas que buscam seu lugar ao sol?

Pedro – Para os artistas que estão começando, o recado que eu dou, por mais que seja um clichê é: não desistam! A verdade que ninguém conta é que não é fácil ser um DJ e viver apenas disso, precisa batalhar muito e buscar a sua maneira de se destacar dentre as centenas de profissionais que estão no mercado. É uma batalha dia após dia, mas ver o sorriso das pessoas na pista de dança não tem preço, vale cada esforço!

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Las Bibas from Vizcaya, a arte drag e o tribal como produto nacional

Ela começou tocando em Recife, até se transformar numa das pioneiras em levar a arte drag para as picapes. Leia nosso papo com Las Bibas From Vizcaya.

Las Bibas From Vizcaya | Foto: Renato Filho

Natural de Recife, Las Bibas from Vizcaya começou sua carreira ainda nos 80, atuando em clubs voltados a um público diferente daquele que a consagraria. Drag queen, DJ e produtora musical, ela carrega em suas músicas, a militância.

Representando a letra Q da sigla LGBTQIA+, confira agora a nossa entrevista com Las Bibas From Vizcaya para a #PrideWeek 2020 do Beat for Beat.

Beat for Beat – Olá Las Bibas, muito obrigado por conversar com a gente nessa semana tão importante para nós. Para começar, nos diga: como é ser uma DJ drag queen, na cena eletrônica nacional? Você ainda sofre muito preconceito ou resistência com relação a contratantes dentro e fora do mundo LGBTQIA+?

Las Bibas From Vizcaya – Dentro do mundo LGBTQI+ não mais, mas ate uns 3-4 anos atrás, alguns contratantes me olhavam atravessado, talvez por não pesquisarem sobre a minha trajetória ou o meu trabalho. Eu me aventuro em diversas aéreas: vídeo, podcast, na arte drag. Acredito que eles achavam que eu faria de tudo, menos tocar… bobinhos! (risos).

Fora do Universo LGBTQI+, quando eu tocava (hoje não mais), os contratantes eram mais antenados. Lembro de uma vez que toquei no  D-EDGE e o club fez uma mini matéria minha, na página deles, falando de mim e o meu trabalho como DJ.  Achei tão incrível que printei e guardo como um quadro de parede (risos).

Você é uma das pioneiras em levar a arte drag para as picapes, além de ser uma grande produtora musical. Você tem mais de 30 anos de estrada, já que começou em 1984. Como foi o começo da sua carreira, com relação a sua orientação sexual? Tem alguma coisa que você percebe que não mudou, mesmo depois de tantos anos?

Las Bibas – Eu comecei em clubs mais direcionadas ao público hétero, mas já estava fora do meu armário, porém  de maneira “discreta e no sigilo” (termo utilizado em apps de relacionamento). Eu não imagina que um dia, tocaria montado em drag e cá estou hoje.

Mesmo sendo gay, nunca tive problemas em casas/festas “ht”, mas resolvi migrar para os eventos LGBTQIA+ no início dos anos 90, ainda lá em Recife, minha cidade natal, quando a coisa começou a tomar mais forma. Pra vocês terem uma ideia, nos 80, em Recife, só existia praticamente 1 club LGBT e alguns bares, foi nos anos 90 que começaram a surgir vários clubs.

Mudou muita coisa de lá pra cá, mas algo que o público LGBT ainda tem, e que difere do público hétero, é fidelidade com um club, por exemplo. Nossa comunidade chegava a passar 5-10 anos na cena noturna e mesmo que hoje, gerações mudam a cada 3-2 anos, manter-se fiel a um local não mudou. Durante um mesmo ano, por exemplo, você consegue ver quase os mesmos rosto na pista, figurinhas carimbas e isso bom, pois você cria laços com o público e faz até amigos.

Las Bibas From Vizcaya na The Week

A comunidade LGBTQIA+ adotou o tribal como um dos seus gêneros preferidos e no Brasil, ele ganhou novas formas. Uma sonoridade diferente. Como é ser referencia na produção musical de um estilo que ganhou a cara brasileira e a que você atribui esse grande sucesso entre a nossa comunidade?

Las Bibas – A comunidade LGBTQIA+ sempre foi um gueto nos 70, 80 e 90, e sendo um gueto, a sonoridade sempre foi mais fechada e peculiar. Sendo assim esse som pouco mudou, pouco evoluiu e apenas se moldou a uma sonoridade atual, unido-se a outros estilos que a nossa comunidade consome, como o groove do funk, as percussões do samba e a energia da EDM. Até hoje, a música que consumimos segue essa linha, baseada em elementos clássicos e sobretudo nas divas e nos seus vocais.

Além do tribal, você usa elementos de outros gêneros, como o house, que é genuinamente LGBT. Como você vê a questão de um gênero que nasceu preto, gay, tornar-se algo das massas e perder um pouco da militância em cima da qual ele foi criado? Como você vê a importância de transmitir uma mensagem de liberdade de expressão através da música?

Las Bibas – Dentro da cena, meu som é um dos mais “diferentões”, pois eu tenho um compromisso social com a música. Eu gosto de levar mensagens subliminares, de resgatar o passado, repagina-lo e trazê-lo para as novas gerações. Talvez esta seja a minha militância: através da música.

Se tive a sorte de passear por diversas casas, gostar e tocar diversos gêneros musicais, eu me acho na obrigação de trazer essa diversidade musical para a minha pista, mas com as limitações, para não fugir do estilo preferido da nossa comunidade.

Hoje você é figurinha constante em diversas festas do Brasil e até do mundo. O que de mais diferente, culturalmente falando, você encontra nas diversas festas por onde vai? O que te surpreende e te incomoda mais nos hábitos regionais de cada lugar que você passa?

Las Bibas – A internet unificou o mundo. Hoje, o que se toca em Nova York, também toca no club mais longínquo de qualquer interior do brasil. O que me incomoda é que o som ficou mais “pop”, mais comercial e perdemos um pouco o espaço de podermos mostrar algo novo ou diferente, mesmo que seja um hit do passado reciclado.

O público tem sua parcela de culpa. basta vermos o charts das plataformas de streaming do Brasil, para termos uma noção do nível musical do país, mas os maiores culpados são os próprios DJs. A profissão ficou de fácil acesso a todos e hoje, temos muitos “influencers”, blogueiros, ou pessoas que apenas tem uma rede social bombada, mas que não possuem nenhuma bagagem musical e estão ocupando o lugar de verdadeiros profissionais.

Vários DJs incríveis do passado, hoje mal tocam ou são convidados, pois não se encaixam mais no perfil do “DJ superstar” ou não entram na sonoridade atual. Será que eles ficaram datados? Ou será que a musica de hoje é tão descartável, que fez esse desserviço a comunidade?

Você possui uma vasta carreira na produção musical. Seu último single, ‘The Art of Sampler 5: Octavia St Laurent’, ganhou as plataformas digitais recentemente. Conta pra gente a história por trás da track e seu processo criativo na construção dela.

Las Bibas – Estamos no mês do orgulho e eu queria lançar algo muito #pride neste mês. Esse meu projeto, chamado “The Art of Sampler“, começou como uma brincadeira-desafio, onde eu sampleio tudo da música (de músicas famosas inclusive) e tento recriar em algo novo. Passei a gostar tanto, que já vou pro quinto lançamento.

Octavia  St Laurent foi uma ativista transexual, drag, negra, latina da cidade de Nova Iorque e educadora sobre questões do HIV/AIDS. Ela está no famoso e indispensável documentário “Paris is Burning” e ainda atuou na linha de frente pela visibilidade da comunidade LGBTQIA+,  ou seja, a gata foi um ícone underground pouco reverenciada e conhecida dessa nova geração. Ela tem frases icônicas que eu usei na música, como por exemplo: “Gays têm direitos, lésbicas têm direitos, homens têm direitos, mulheres têm direitos, até animais têm direitos. Quantos de nós temos que morrer, antes que a comunidade reconheça que não somos dispensáveis?”

Essa track é um tributo a ela e uma militância sonora minha. Se algumas pessoas ouvirem, pesquisarem melhor sobre Octavia e descobrirem quem ela foi, minha missão foi bem sucedida.

E pra finalizar, que conselho você pode dar para seus fãs que almejam uma carreira musical?

Las Bibas – Você tem que amar a música, casar com ela, se dedicar e sobretudo, estudar, pesquisar o passado, para entender como chegamos nesse presente-futuro atual. Acho que isso serve pra qualquer profissão, né?

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Ariele Quaresma, a bissexualidade e a dualidade da disco com funk

Bissexual assumida, Ariele Quaresma luta contra o preconceito, machismo e traz em sua essência, misturas inusitadas na pista.

Ariele Quaresma

Perante a música, somos todos igual e é isso que queremos mostrar em nossa #PrideWeek. A tradicional semana do B4B, voltada a comunidade LGBT, abre seus trabalhos com a Ariele Quaresma, uma artista que, além de enfrentar o machismo tão intrínseco na nossa sociedade, ainda precisa enfrentar a bifobia e o preconceito musical, por conta de suas escolhas sonoras.

Com uma carreira fomentada num dos maiores centros noturnos de São Paulo, a Rua Augusta, Ariele precisou batalhar bastante para conseguir o destaque no circuito Baixo Augusta, passando por algumas situações e aprendizados, que ela compartilhou com a gente na entrevista abaixo. Confira nosso papo com Ariele Quaresma na Pride Week.

Beat for Beat – Ariele, obrigado por conversar com a gente, ainda mais nessa semana tão especial. Pra começar, conta pra gente: como é representar a letra B, as vezes tão esquecida na sigla LGBT?

Ariele Quaresma – Oi pessoal. É um prazer conversar com vocês. Como DJ, mulher, bissexual, periférica, descendente de nordestinos, eu sou uma pessoa completamente fora dos padrões que a sociedade impõe. Eu sou tudo aquilo que queriam que eu não fosse. Representar a letra B da sigla traz o stigma da hiper sexualização, de ser objetificada, já que a sociedade e até mesmo nossa comunidade, não enxergam o bissexual como alguém que sente atração por ambos os gêneros. Nós não somos vistos, de fato, como realmente somos.

Muitas pessoas, principalmente casais, às vezes esquecem que somos pessoas que possuímos sentimentos. Acham que por sermos bissexuais, não podemos nos apaixonar por alguém, por não ter uma preferência e não é bem por ai. Não somos pessoas promíscuas e que só queremos sexos. Além disso, existe ainda a ideia de que uma mulher bissexual, por exemplo, ao se relacionar com uma mulher, passa automática a ser lésbica ou se for namorar um homem, transforma-se numa pessoa heterossexual e não é assim. Eu posso continuo sentindo atração por ambos. As pessoas precisam levar um pouco mais a sério as escolhas das outras e parar de coloca-las em caixas.

Esse “esquecimento” que as vezes sofremos, é porque as pessoas nunca nos veem como realmente somos, mas sim, como elas pensam que a gente seja.

Quando você fala na hiper sexualização, isso já aconteceu também na cena noturna? Você já sofreu algum preconceito ou resistência por sua orientação, na hora de ser contratada pra uma gig ou fazer um evento?

Ariele Quaresma – Pra minha sorte, eu nunca deixei de ser contratada por conta da minha orientação, mas já senti sim, assédio por parte de alguns contratantes. Não posso afirmar que ser bissexual tenha causado tais assédios, mas há uma grande chance, uma vez que sou assumida abertamente. Minha família, amigos e consequentemente, contratantes, sabem da minha orientação.

Já aconteceu de pessoas fazerem brincadeiras sexualizadas comigo. De homens casados acabarem passando a mão, só pelo fato de eu estar com um vestido. Situações que, infelizmente, a mulher sofre pelo simples fato de ser mulher, vai além da orientação sexual. O homem cis hetero precisa entender que ele não tem poder sobre o corpo do outro.

Em toda a minha vida, eu tive que falar um pouco mais alto que os outros, pra ser ouvida, então de certa forma, a vida me preparou para esse tipo de situação. Eu não fico mais calada e ninguém jamais me calará. Hoje, já não trabalho mais com pessoas que me submeteram a tais situações.

Ariele Quaresma na Selva | Foto: FALZER

E partindo então agora pro seu trabalho. Você é uma DJ que aborda um gênero não tão executado mais, que a disco. Como você chegou num dos estilos eletrônicos mais clássicos?

Ariele Quaresma – Minha carreira começou no circuito do Baixo Augusta e eu acaba tocando aquilo que precisava ser tocada, o que era pedido. Conforme eu fui ganhando experiência, autonomia e reconhecimento, comecei a explorar gêneros musicais que já faziam parte da minha vida e a disco music é um desses estilos.

Desde muito cedo, sempre fui influenciada pela minha mãe. Tenho memórias da minha infância, quando no fim de semana, durante nosso único tempo livre juntas, ela colocava aqueles CDs de flashback e isso me marcou. Além disso, após ler o livro “Todo DJ Já Sambou”, potencializei uma paixão que já existia dentro de mim e quanto mais eu pesquisava, mais eu queria tocar aquilo. Foi um efeito de dentro pra fora. Quando eu me encontrei musicalmente falando, tudo fluiu melhor.

Além de se especializar na disco, você trouxe novos elementos pra sua apresentação, misturando ele com funk, como no seu último set. Como surgiu a ideia dessa mistura tão inusitada e como foi a aceitação do público?

Ariele Quaresma – A minha carreira começou na Augusta e lá, o público é muito jovem e o estilo mais difundido entre eles, é o funk. Tem até uma brincadeira entre os DJs que basta a gente chegar na cabine, que alguém vai perguntar que horas vai começar o funk. É inevitável.

Além de existir a demanda pelo gênero,o funk faz parte de mim. Eu sou da periferia de São Paulo e o funk é uma das minhas realidades. Eu gosto de funk. Eu acredito que ele precisa ser reconhecido como um sub gênero da música eletrônica, já que todos os beats e samples são criados eletronicamente. O funk não é orgânico. Eu mesmo gosto muito de usar parte de uma música para criar outra. O funk combina sim com a música eletrônica, além de ser um estilo genuinamente brasileiro e eu tenho orgulho disso.

E fazer essa mistura, fez com que o seu público buscasse conhecer mais sobre música eletrônica? Você sente que conseguiu cumprir seu papel de educadora musical?

Ariele Quaresma – Eu vejo que meu trabalho, funciona como uma fusão entre os dois mundos. O público da música eletrônica passou a ter um contato maior com o funk, que ainda é muito marginalizado e vice-versa. Acredito que sim, consegui cumprir com meu papel de educadora musical e não só isso, em todas as festas que eu toco, eu tenho um olhar mais politico na hora de fazer essa fusão, pra juntar o melhor dos dois universos de forma coerente. Acho que a missão foi cumprida.

Falando também na questão politica, você tenta transmitir uma mensagem de liberdade de expressão, de enaltecer a cultura e artistas LGBT dentro dos seus sets? 

Ariele Quaresma – Assim como o meme fala, eu sempre tento “trazer um pouco de cultura pra esse povo”. Artistas LGBT são 60% do meu set. Eu sempre tento levar representatividade para as minhas apresentações. Hoje, já existem alguns funks de boa qualidade surgindo, nesse movimento de tech-funk, que são tracks de fato, misturando os dois estilos e que conversam com tanto com a comunidade LGBT quanto com o universo cis hetero. Eu consigo deixar meu trabalho bem balanceado.

Ariele Quaresma no Sputnik Bar | Foto: Bruno Carmo

Quais são os planos pra sua carreira musical?

Ariele Quaresma – Hoje, é continuar com a ascensão. Quero visitar lugares novos, ir para outros estados além de São Paulo e Minas Gerais. Quero melhor ainda mais o trabalho que venho fazendo, expandindo minhas pesquisas, meus estilos musicais. Quanto mais eu conhecer, maiores são as experiências que posso proporcionar. Imagine levar o disco-fluxo para outros países? Seria incrível.

Pra finalizar, que atitudes você acha que a sociedade precisa mudar, urgentemente, com relação a comunidade LGBT? O que você acha que podemos fazer pra mudar, nem que seja de forma pequena, o mundo em que vivemos?

Ariele Quaresma – Eu sou uma pessoa que tem muita fé, mesmo não seguindo mais a crença cristã que eu já tive. Hoje, vivemos num país quem a maioria é cristã e por isso, quero direcionar um recado para eles, que são as pessoas que mais precisam ouvir: precisamos pregar uma coisa que Jesus mesmo dizia, o amor ao próximo. Ame o  próximo como a ti mesmo.

As pessoas ainda estão em lugares de julgamento, achando que são melhores que as outras por conta de suas crenças, suas opiniões travestidas de preconceito e não é bem por ai. O respeito é o mais importante. Eu amar uma mulher ou um homem, não define quem eu sou. A minha condição sexual não define quem eu sou. As pessoas precisam ter mais amor pela vida alheia. É isso que falta para que possamos viver de forma mais saudável em comunidade.

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Direto do Gueto: a música eletrônica nasceu preta!

Os anos podem se passar, mas a música eletrônica, principalmente o house e techno, jamais deixarão de abandonar sua essência, que é preta!

Há pouco mais de uma semana, o mundo voltou suas atenções para a onda de manifestações e atos antirracistas que tomou conta de diversas cidades norte-americanas e que aos poucos, têm se espalhado pelo mundo. Tudo começou na segunda-feira (25/5), após o ex-segurança negro George Floyd ser cruelmente morto por um policial branco, sem motivos.

Desde então, estamos presenciando uma série de manifestos, entre eles o que aconteceu no último dia 02, que ficou conhecido como #BlackoutTuesday. O movimento, que nasceu entre gravadoras e diversos artistas da indústria musical se espalhou pelo mundo todo, entre diversas categorias, que interromperam suas atividades em solidariedade aos protestos. No entanto, não é de hoje que artistas, principalmente os norte-americanos, utilizam a música como forma de se manifestar e resistir.

Jeff Mills, um dos criadores da UR

Sim, toda forma de arte pode ser um instrumento para se expressar, protestar e resistir. Não podemos esquecer que o Jazz, Soul, Funk, Disco, Hip-Hop, R&B, Rock, Blues e nossos amados House e Techno são gêneros musicais de origem negra. Focando mais na música eletrônica, quando tudo começou, na década de 80, House e Techno eram sons da periferia, músicas de preto, LGBT, e foram fortemente marginalizadas.

Em Detroit, no ano de 1989, Jeff Mills, Robert Hood e Mike Banks criaram o projeto que talvez seja o maior símbolo de resistência relacionado a música eletrônica, o “Underground Resistance”. Detroit passava por uma má fase política, social e econômica, baseados nisso o UR utilizavam o Techno como ferramenta para conscientizar e inspirar os jovens afro-americanos a quebrarem os padrões sociais existentes na cidade. A música eletrônica era política!

Membros da Underground Resistance

Muitos anos se passaram e muita coisa mudou, a música eletrônica ganhou o mundo, mas, também embranqueceu. Não vemos mais tantos DJ’s pretos em uma posição de protagonismo. Diversos line ups, desde festas independentes aos grandes festivais, sem nenhum representante preto entre as atrações principais. Sem dúvidas, essa falta de representatividade reflete no baixo número de pretos presentes nas pistas de dança. Basta olhar pro lado e reparar.

Não podemos deixar de lado as origens. Ainda hoje, vemos pessoas dizendo que música eletrônica nada tem a ver com política ou resistência. Será mesmo? Basta ver o que Mills, Hood e Banks fizeram e isso é apenas um exemplo, dentre tantos que poderíamos citar. A intenção desse texto, acima de tudo, é para lembra-los de onde tudo veio.

Então, se você diz ser amante de House Music, Techno ou qualquer outro estilo criado pelo povo preto, e ainda assim não é a favor de todas as manifestações antirracistas que estão rolando nos EUA e no mundo, talvez seja hora de você repensar se essa cena é pra você. A música eletrônica pode ser para todos, mas, nem todos são para a música eletrônica.

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Techno Bunker #01: UMEK

Pioneiro em se país de origem e responsável por elevar o nome da Eslovênia no cenário eletrônica, UMEK é o primeiro personagem da nossa coluna Techno Bunker.

Umek

É muito comum você ouvir que Alemanha, Itália, Holanda e Espanha são terras detentoras de grandes artistas da cena underground, principalmente quando falamos no Techno, mas é da Eslovênia, no Leste Europeu, que resolvemos trazer o primeiro personagem desta coluna: Uros Umek.

Para você que acompanha os rankings do Beatport ou simplesmente é um amante do Techno, é praticamente impossível você nunca ter ouvido ou lido este nome, afinal, no momento em que estamos escrevendo essa matéria, UMEK está com 6 músicas entre as Top100 no chart de Techno. Um verdadeiro track-seller — existe essa expressão? Destaque para ‘Predator’, faixa lançada no início de maio que ocupa atualmente a segunda posição do ranking.

Uma curiosidade bem interessante sobre UMEK é que ele foi o grande responsável por dar o pontapé inicial na cena de música eletrônica em seu país, organizando raves ilegais, até se tornar um dos produtos mais procurados da Eslovênia — sem contar as dezenas (ou centenas?) de gigs que ele estava realizando por ano, antes do coronavírus interrompê-lo. Dos clubs mais undergrounds do planeta a grandes festivais, UMEK é  sinônimo de força, energia e intensidade.

Por pessoas mais próximas e outros artistas, ele é freqüentemente chamado de “Fotr”, que na tradução significa “O Pai”. E por pouco ele deixou de virar um renomado DJ e produtor de Techno, porque há 25 anos atrás, antes de mergulhar na música, ele — com seus dois metros de altura — decidiu largar a escola e sua promissora carreira no basquete para fazer cestas de três pontos na indústria da música. A faixa ‘Can You Party‘, de 1988, de Todd Terry, foi a que o fez entrar e acreditar numa carreira dentro da cena eletrônica.

E sabe aquelas seis faixas que estavam no top100? Todas foram lançadas por sua própria gravadora, 1605, selo com mais de 10 anos de estrada e que já conta com quase 250 releases — por lá já lançaram outras estrelas e promessas do Techno, como Teenage Mutants, Mark Knight, Cosmic Boys, D-Unity e por aí vai.

Atualmente, além de continuar alimentando a cena com seu estilo impetuoso, ele decidiu usar sua experiência e habilidade no mundo empresarial. Ao lado de outras pessoas, fundou uma startup de tecnologia da música batizada de Viberate, projeto ambicioso que pretendem transformar na maior plataforma de música do mundo, hoje avaliada em mais de 40 milhões  de dólares e empregando mais de 120 pessoas ao redor do globo — é a prova de que quando você acha que já está no topo, pode chegar ainda mais longe.

Hoje paramos por aqui, mas saiba que todo início de mês você poderá conhecer mais a fundo a história e a carreira de alguns dos principais nomes do Techno. 

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