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Entrevista

Entrevistamos: Dre Guazzelli

Um dos artistas mais camaleônicos da cena eletrônica nacional, Dre Guazzelli, conversou com a gente sobre sua vida, seus projetos e muito mais. Confira!

Dre Guazzelli | Foto: @befazio

DJ, produtor musical, empresário, Dre Guazzelli é com toda certeza, um dos grandes nomes da cena eletrônica nacional. Dono de uma personalidade marcante e única, Dre cativa a todos e transmite uma paz gigante, seja durante seus sets ou quando compartilha com o mundo, sua vida pessoal e vivências e é essa paz e muito conhecimento, que ele divide com a gente nesse papo. Entrevistamos: Dre Guazzelli

Beat for Beat – Fala Dre! Que prazer te receber por aqui. Vamos começar falando um pouco sobre seu relacionamento com a música. Como você iniciou seu sonho? Quais memórias vem à sua mente quando você lembra do primeiro insight que você teve para se tornar o que é hoje?

Dre Guazzelli – Acho que meu sonho começou na primeira vez que pisei o pé numa balada e entendi aquela energia que rolava. Desde então o sonho foi sendo implantando, regado e ele se intensificou muito na primeira vez que fui pra um festival em Alto do Paraíso na Transcendence, isso entre 2003 e 2004, ou seja, são cerca de 17 anos de sonho, metade dos anos que estou vivo, já que tenho 35 anos. São 17 anos que eu tenho tocado e realizado sonhos constantemente, que foram se expandindo com o passar do tempo.

Quando fui na Transcendence e vi toda interação com a natureza, convivi com aquelas pessoas por vários dias no meio daquela terra mágica, eu voltei decidido, junto com dois amigos, a fazer um curso de DJ e iniciar a produção de uma festa e aqui estamos hoje, tocando, produzindo música, realizando sonho de ter um estúdio e mais do que nunca, produzindo conteúdo próprio. Hoje não é um sonho só meu, é um sonho que tenho junto com outras pessoas e isso é muito maravilhoso.

Com certeza suas turnês pelo mundo foram um ponto chave para você se tornar este grande profissional da nossa cena. O que você aprendeu viajando que pode compartilhar com os novos produtores e seu tão querido público?

Dre Guazzelli – Viajando eu aprendi ainda mais a gostar da música eletrônica como uma árvore e entender que ela tem muitos galhos, que representam os estilos musicais e que cada um o seu momento especial, desde um lounge a um deep house, até o techno e tech house. Eu fui saboreando e ao mesmo tempo pegando essa característica de pista, de ser camaleônico e se adaptar desde o pôr-do-sol até um set mais forte no meio da madrugada. Essas viagens me ajudaram a entender a diferença e quão rica a música eletrônica é, seja com sua diversidade de artistas ou os diferentes momentos para cada música.

É muito bom também visitar os lugares e poder pegar situações que no fim das contas eu poderia absorver e aplicar no Brasil, com o público brasileiro. O Sábado Dre Tarde veio dessa vontade de eu querer tocar um som que não poderia tocar numa balada de madrugada e poder criar uma festa no fim da tarde, coisa que em São Paulo ainda não existia. Eu juntei algumas coisas que eu via nas viagens, como por exemplo o Burning Man, onde já toquei 4 vezes, onde é comum você olhar a pessoa no olho, além de seguir regras básicas de convivência, que deveriam ser ideais para um mundo melhor e a Dre Tarde tem muito desse espírito. Tudo foi nascendo durante as minhas viagens e isso enrique ainda mais a alma, ver que aquilo que você tanto idealizava, é possível.

Dre Guazzelli no Burning Man

Você levou seu estilo de vida para dentro e também para fora das pistas, assumir esta identidade tão única te ajudou ou prejudicou? Como foi levar seu lado pessoal abertamente para o lado profissional?

Dre Guazzelli – Desde o inicio eu acabei seguindo um caminho de muita coragem, de agir com o coração, como por exemplo com relação a minha família, que nunca foi contra, mas que eu era o ponto de atenção para todos, já que não tenho histórico de músicos ou pessoas envolvidas com eventos. Era algo novo para todo mundo, incluindo para mim, mas eu nunca deixei de seguir aquela vontade interna de poder me expressar e ser o mais completo possível. Eu sempre quis ser o meu próprio laboratório e mostrar para as pessoas o que funciona e o que venho praticando, desde atividades de bem-estar, esportes, misturado com baladas, alimentação saudável e isso foi me moldando, o que resulta numa personalidade única e que, por mais que no começo parecesse confuso até para mim, eu tinha uma certeza interna de tudo.

Eu acho que nada me prejudicou em momento nenhum, mas eu percorri o caminho mais longo, porém o caminho verdadeiro de uma vida inteira. Não é o alto e o baixo do sucesso de uma música, é uma constante evolução de um ser humano que gostaria de ser exemplo para outras pessoas e mostrar que sim, existem muitas coisas de fora que a gente pode pegar como referência do que podemos ser, mas sem querer ser alguém que já exista. É se apropriar de qualidades, mas ao mesmo tempo moldar ao que chamamos de ser único. Mesmo com referências, precisamos escutar o coração para seguir um caminho único.

Vamos falar um pouco sobre seu novo projeto, a label ‘Never Stop Dreaming Records’. Como funcionará a escolha do seu time? Qual a principal mensagem que você quer passar com seu selo no mercado atual?

Dre Guazzelli – A Never Stop Dreaming segue a risca seu nome e é sobre nunca parar de sonhar e serve para mim mesmo como um aviso para ter uma certa agilidade na hora de lançar uma música e criar uma certa independência, assim como o Sábado Dre Tarde nasceu para que eu não dependesse de contratantes e tivesse minha própria festa para que eu tocar o que eu realmente sinto e gosto, a gravadora funciona bem nesse âmbito.

Na Never Stop Dreaming eu posso lançar com liberdade e poder conectar mais artistas. Ainda vou abrir para receber outros artistas, mas no começo eu quero fazer uma espécie de incubadora e trazer pra perto quem merece atenção, quem está disposto e está criando. Eu já tenho um sistema de festas para poder colocar um artista que eu eventualmente lance na gravadora, fazer uma collab, quero criar um imã para novos artistas e quando eu for lançar algo meu, linkar com um propósito ainda maior.

Quero poder destacar o artista que fizer a capa de um lançamento, como a Duca que fez a arte de ‘Sonhos‘, nosso primeiro lançamento. Eu também criei uma rifa que sorteou uma tela dela e todo o valor arrecadado foi enviado totalmente pra ela, que ajudou nesse momento que vivemos, que foi acentuado quando a filha dela ficou doente e o dinheiro foi de grande ajuda. São essas pequenas ações que quero fazer com cada uma das minhas músicas, desde a capa, ajudar um artista, uma ação social… teve também parceria com o Peninha, compositor da letra que já foi interpretada por tanta gente e a colaboração com a CARAIVANA, que representa minhas idas a Caraíva, na Bahia. Ter algo a mais com essas músicas me motiva a sempre fazer algo com personalidade e diferente.

O ‘Sábado Dre Tarde’ com certeza é um dos maiores projetos em sua carreira. Infelizmente estamos em isolamento, mas sabemos que em breve estaremos todos juntinhos para comemorar novamente sábados especiais. Existe algum momento dentro da sua festa que te marcou para sempre?

Dre Guazzelli – Eu acho que o Sábado Dre Tarde é um presente de mim pra mim mesmo, de ver que é possível realizar um sonho depois de tantos anos de carreira, afinal, eu tenho cerca de 17 anos de estrada e a festa nasceu depois de uma década tocando.

Com toda certeza a festa vai voltar. Eu tenho vontade de fazer uma tour por todo o Brasil e quando os eventos retornarem de fato, essa possibilidade será ainda maior do que antes, já que o artista dela sou eu, o que deixa a festa com custos bem menores do que aquelas que trazem nomes internacionais, por exemplo, já que envolve preço de dólar, agendas que, com toda certeza, estarão mais apertadas. Será mais fácil fazer um Dre Tarde ao redor do país e esse é um dos meus objetivos.

Já os momentos da festa são sempre muito únicos. Cada edição tem algo marcante, mas se tem algo que sempre se repete é a sensação de unidade com a pista, entre mim e todos que estão ali, criando uma espécie de universo paralelo, onde todos estão felizes, conectados, se sentindo bem e mais do que tudo, todos presentes naquele momento.

Dre Guazzelli no Sábado Dre Tarde | Foto: Sigma F

Por falarmos em pandemia, como está sua relação com o isolamento? O que você extrai deste momento tão incomum para todos nós? Obrigado!

Dre Guazzelli – A pandemia está servindo para reorganizar alguns pensamentos e sentimentos. Colocar alguns projetos em prática, como a Never Stop Dreaming e ela nos fez olhar pra dentro, para tentarmos achar certas respostas que vêm com as práticas e as boas práticas.

A gente entendeu que precisamos prestar atenção em coisas mais simples, como o fato de parar um pouco, respirar e a evolução disso seria a meditação. Eu intensifiquei a prática da yoga e tento mostrar isso pras pessoas, como a prática de um esporte diário, que é tão necessário ou uma alimentação balanceada, para que a gente consiga equalizar os pensamentos.

Por outro lado, a situação atual também me deu um pouco mais tempo para ficar em estúdio. Eu sempre sonhei em ter música própria, e por isso construí o estúdio a 2 anos, mas foi desde março eu tenho usado ele como nunca usei antes. Minha perspectiva de artista é passar de um DJ para um produtor com muita música própria. Eu comecei a explorar um universo que eu ainda não explorava antes.

Agora eu quero que minha música chegue a mais pessoas, que eu consiga conectar mais pessoas, artistas, principalmente aqueles que não são da música eletrônica e trazer para minha linguagem usando meu faro de DJ e eu só tenho agradecer esse momento que criei só pra mim, mesmo diante da situação como um todo. Esse é o único momento que nós temos hoje e que a vida apresentou assim, estou tentando extrair o melhor disso, para também ser um Dre melhor do que eu era e se todo mundo fizer isso, o mundo será melhor para todos nós.

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Entrevista

Entrevistamos: Deniz Koyu

Dono de grandes hits, que agitaram as pistas de todo o mundo, Deniz Koyu conversa com a gente e fala sobre seus últimos singles e novas sonoridades.

A música eletrônica passou por grandes transformações nos últimos anos, principalmente quando falamos sobre novos gêneros musicais e um dos grandes responsáveis por isso, com toda certeza foi Deniz Koyu. O DJ e produtor turco-alemão é dono de grandes hits daquilo que chamamos de “EDM”, termo que engloba big room, electro e progressive house mais comerciais. As energéticas ‘Tung’ e ‘Bong‘ são marcos da música eletrônica mainstream, que consagram Deniz no cenário mundial.

Hoje, explorando lados mais alternativos, mas sem perder sua personalidade, Deniz Koyu nos mostra que suas habilidades como produtor vão muito além daquele som que o fizeram conhecido em todo mundo e é sobre isso, que ele conversou com a gente. Confira agora nosso papo. Entrevistamos: Deniz Koyu!

Beat for BeatOlá Koyu! Obrigado por essa entrevista. Você possui uma nacionalidade meio turca e meio alemã, como que ambas culturas te influenciaram no ambiente musical? Quais foram suas primeiras inspirações?

Deniz Koyu – Lembro do meu primeiro álbum que ouvi, ‘Thriller’, do Michael Jackson, ainda em fita K7, quando eu tinha 7 ou 8 anos de idade e teve um grande impacto em mim. Eu nunca gostei da música tradicional turca que meus pais ouviam, no entanto, costumávamos fazer aquelas longas viagens pela Turquia durante as férias de verão na época, o que me deu muito tempo para ouvir todos os álbuns de Michael Jackson por incontáveis ​​horas.

Além dessas, sempre fui atraído por músicas que tinham sons e melodias interessantes de sintetizador, como Kraftwerk, Giorgio Moroder ou claro, Daft Punk.

Impossível te citar e não lembrar do sucesso ‘Tung’, um dos maiores clássicos da EDM. Como surgiu o insight em criar um sample tão poderoso quanto aquele?

Deniz Koyu -‘Tung‘ foi uma daquelas track que eu descreveria como um feliz acidente, algo que você não pode planejar. Lembro que tinha o riff principal com um som muito simples, que não me inspirou nada no início, mas depois coloquei acidentalmente um plug-in de vocoder naquilo, que o transformou no som de corneta exclusivo. Acabei de viciando nela e levei apenas dois dias para terminar a música completamente. O resultado todos nós conhecemos muito bem.

Você foi um dos pioneiros em trazer o electro e progressive para o house music nos anos 2010. Logo após o boom da EDM, o mercado hoje se reinventa de diversas maneiras, como é continuar fazendo seu som original depois de tantos anos?

Deniz Koyu – Não acho que, como artista, você deva se concentrar em seguir tendências, mas ao mesmo tempo, pode se tornar cansativo depois de um tempo fazer músicas com os mesmos sons e receita. É por isso que é importante continuar evoluindo constantemente, não para seguir tendências, mas para seguir sua paixão e ficar animado no estúdio. Porque, contanto que você escreva músicas com paixão, as pessoas podem sentir isso, e esse é o fator chave na minha opinião.

Você é um dos produtores mais convidado para trabalhar em feats. Você consegue escolher aquele feat mais marcante de sua carreira?

Deniz Koyu – Eu diria que minha colaboração favorita é meu remix de ‘I Wanna Know‘ junto com Alesso, porque aquele acabou sendo um verdadeiro clássico que nós dois ainda podemos tocar em nossos sets. Tenho ótimas lembranças de momentos em que o toquei em shows, o que o torna tão especial para mim.

‘Without You’ é seu 9º lançamento na Protocol Recordings, ao lado de outros sucessos como ‘Destiny‘ e ‘Paradise‘, parcerias com Nicky Romero. Como é trabalhar com Nicky e o time da Protocol?

Deniz Koyu – Trabalhar com Nicky e a equipe por trás de seu selo, Protocol Recordings, é sempre incrível. Todos eles parecem uma família para mim agora e eu amo o fato de que eles colocaram muito esforço em cada lançamento, dando ao artista bastante liberdade na direção que eles querem tomar para cada música, seja para uma colaboração com Nicky ou um single solo meu. É gratificante poder trabalhar com eles.

Ainda sobre ‘Without You’, ela é a 2ª track de um série dividida em 2 partes e que começou com ‘Next To You’. Como foi o processo criativo das tracks e a dificuldade em criar algo que foge um pouco da sua sonoridade tão característica?

Deniz Koyu – Eu sempre preferi colocar vocal nas canções mais voltadas para dance pop do que entre as gravações voltadas para clubs, aquele meu lado que a maioria das pessoas conhece. Nesse caso, eu havia recebido as demos vocais dessas duas músicas separadamente uma da outra, no início do ano e amei as duas instantaneamente. Foi coincidência que as letras das duas músicas pareciam ter uma conexão, então tive a ideia, junto com a gravadora Protocol Recordings, de transformá-la em uma história de duas partes, com dois videoclipes que contassem a história completa.

Embora essas músicas não sejam o meu som típico de pista, parecia muito natural para mim mergulhar nesses mundos, porque no final, como produtor, tenho minhas próprias técnicas de processamento de bateria, sintetizadores e vocais, o que faz uma grande parte do meu som característico também, independentemente dos BPMs e da energia de uma música.

E falando do momento atual em que vivemos, como foi seu processo criativo na quarentena? Mande um recado para seus fãs do Brasil. Obrigado pela entrevista!

Deniz Koyu – Certamente tem sido uma montanha-russa emocional nos últimos meses. Ter que lidar com todas as incertezas, esperando que as coisas melhorem. Tenho usado o tempo livre em casa para trabalhar duro no estúdio, desenvolver novas técnicas de produção e terminar muito mais músicas do que normalmente faço quando vivo em turnê, o que é uma coisa positiva.

Eu realmente espero que no próximo ano possamos voltar à vida normal. Até então, fiquem seguros e saudáveis ​​para todos, principalmente meus amigos do Brasil!

https://www.youtube.com/watch?v=WYda8kiW-3Q

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Mainstage

Beat for Beat é indicado ao Prêmio Dynamite 2020. Vote!

Idealizada pelo produtor cultural e DJ André Pomba, o Prêmio Dynamite enaltece diversos profissionais independentes da música brasileira.

O ano era 2016 e em pleno carnaval, o Beat for Beat era fundado. Criado pelos sócios Bruno Bellato e Viktor Raphael, o B4B veio com a intenção de democratizar a música eletrônica, abordando toda a diversidade que ela possui e o resultado de tanto trabalho, foi a sua primeira indicação a um troféu: o Prêmio Dynamite 2020.

Idealizado pelo DJ e Produtor Cultural André Pomba, um importante nome na cena de São Paulo, o prêmio celebra artistas e profissionais da música brasileira, principalmente os que trabalham ou fomentam a cena independente. Após um hiato que durou 3 anos, o prêmio retorna em 2020 e celebrará os vencedores em 19 categorias, com o B4B indicado em “Melhor revista, fanzine, site, blog ou coluna“.

Com votação aberta desde o dia 01 de setembro e com duração até o dia 30/09, o Prêmio Dynamite será agora, decidido pelo público e por isso, contamos com sua ajuda. Você pode votar em todas ou apenas naquelas que julgar melhor (só não esquece de votar na gente, hein? rs). O resultado da votação, junto com a entrega dos prêmios, acontecerá no dia 14 de outubro em São Paulo.

Contamos com a ajuda de todos vocês e muito obrigado por nos apoiarem. Foi somente por conta de vocês, que nos acompanham, que tal indicação foi possível. Obrigado!

Para votar no Beat for Beat, basta acessar o site oficial da votação clicando aqui ou pelo formulário abaixo, fazer um breve cadastro com nome e e-mail e então, descer até a nossa categoria

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Descubra

Descubra: JETS

Embalados por grandes clássicos dos anos 80 e 90, Marco Rangel e Davi Arnêz formam o duo Jets, que vocês Descobram nessa entrevista.

JETS | Foto: @fernando_sigma

A internet era discada e usar o telefone ao mesmo tempo era impossível, vídeo cassetes e disquetes eram super modernos, e claro, o grunge tocava por discmans, na sua rádio preferida ou na MTV, com a chegada da TV a cabo… qualquer “90’s kid”, ao relembrar estes frutos dos anos 90, já é preenchido pelo sentimento de nostalgia. É neste cenário que Marco Rangel e Davi Arnêz, dois amigos de Brasília, cresceram juntos e desenvolveram o amor pela música eletrônica, até formarem o duo JETS.

Com uma amizade que dura mais de 15 anos, Marco e Davi resolveram mesclar suas influências musicais e juntos, criarem um projeto que resgata essa memória afetiva tão grande em ambos, dos saudosos anos 80 e 90. Confira o nosso papo com a dupla e Descubra: JETS!

Beat for Beat – Olá meninos tudo bem? Pra começar, contem pra gente: como surgiu a amizade de vocês, como se conheceram e como decidiram fazer música juntos?

JETS – Olá, tudo ótimo! Nos conhecemos por volta de 2003/2004 em Brasília, nossa cidade natal. Naquela época a gente já curtia música eletrônica e frequentávamos as festas. Com o tempo decidimos começar a tocar e produzir, mas separadamente. Sempre fomos muito próximos, mas nunca havíamos pensado em fazer algo em conjunto. Ano passado começamos a fazer algumas produções juntos, curtimos o resultado e decidimos criar o JETS.

Sabemos que vocês dois captaram muitas referências dos anos 80,90, poderíamos nos citar uma memória marcante e quis fez importante papel na construção da dupla?

JETS – Sempre fomos ligados a música eletrônica, ouvíamos Depeche Mode, Justice e Chemical Brothers, mas também éramos antenados nas bandas da época dos anos 90 como Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Oasis… Começamos a ir em festas raves e na época o Wrecked Machines fez uma releitura da Enjoy the Silence do Depeche Mode, na qual nos marcou bastante. E é um hino até hoje!

Como que a música e a cultura destas décadas conseguiram afetar vocês em critérios técnicos? Como ela é inserida dentro do som do duo?

JETS – Temos vários artistas fazendo um som atual, mas que nos lembra bastante o som de décadas passadas. Gostamos bastante de melodias e trazemos muitas referências dos anos 80, 90 para aplicar nos timbres em nossas produções. Esse momento de pandemia, de reclusão, fez com que as pessoas procurassem um som mais “good vibes”, então apostamos nessa estética.

Vocês participaram da nova ‘Things’, em parceria com Wolf Player e Vintage Culture. Como foi o processo de produção com estes grandes produtores? Como surgiu a oportunidade?

JETS – Essa com certeza vai ser uma das músicas mais marcantes da nossa carreira, além de ser nosso primeiro lançament,o temos certeza que vai ser uma música que no futuro vamos escutar e ela vai nos trazer de volta no tempo, a hoje, no dia do pontapé inicial, onde tudo começou… por isso a música é algo tão especial. O Yan já é um amigo nosso de longa data e pra gente foi muito gratificante essa parceria com o Vintage.

A situação atual de pandemia no mundo tem nos afetado de diversas maneiras, como está funcionando a preparação de vocês para estrear nas pistas daqui um tempo?

JETS – Essa pandemia pegou todo mundo de surpresa, mas olhando pelo lado positivo tivemos mais tempo para elaborar o projeto por um todo, sabemos da importância da entrega nas pistas e estamos nos preparando e estudando muito para que a gente possa surpreender todos positivamente.

Para terminar, se vocês fossem descrever o projeto JETS em poucas palavras para nossos leitores, como fariam? Nos vemos nas pistas!

JETS – O futuro é agora!

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Entrevista

Entrevistamos: Bhaskar

Um dos grandes nomes da música eletrônica brasileira, Bhaskar contou pra gente sobre seu processo criativo durante a quarentena e sua estreia num drive-in.

Bhaskar

A quarentena afetou a todos nós, principalmente os profissionais dos setores de eventos, entre eles, nossos amados DJs. Buscando formas de entreter e claro, voltar a trabalhar, diversas produtoras apostaram em novos formatos, entre eles o de drive-ins e é em um deles que Bhaskar, um dos maiores nomes do cenário eletrônico mainstream nacional, se apresentará no próximo dia 21 de agosto, em São Paulo.

Assim como todos nós, Bhaskar também se viu isolado, precisando se adaptar pessoal e profissionalmente e foi durante a quarentena que ele colocou alguns projetos em prática, começou a explorar novos sons e agora, prepara-se para sua estreia num drive-on, o Go Dream. Às vésperas desse show, conversamos com ele num papo super descontraído e que você confere agora. Entrevistamos: Bhaskar!

Beat for Beat – Olá Bhaskar, tudo bem? É um prazer falar com você mais uma vez. O mundo como nós conhecíamos mudou. Hoje, todos nós precisamos nos readaptar, buscar alternativas e o setor de eventos encontrou nos drive-ins, uma válvula de escape. Como você vê esse novo movimento? 

Bhaskar – Isso foi uma saída que as produtoras encontraram pra trazer entretenimento para o público neste momento. Não é o ideal no quesito festa, afinal, a gente queria mesmo era poder se reunir da forma como sempre fizemos, mas essa é uma boa forma de nos consolarmos, por assim dizer e de trazer um pouco de alegria. Eu to me amarrando em poder fazer parte deste momento de adaptação.

Bhaskar no gramado que receberá seu show no Go Dream

Falando mais especificamente sobre o seu show de sexta, no Go Dream em São Paulo, como está a expectativa para seu primeiro show neste novo formato? Teremos novidades?

Bhaskar – Eu to muito animado pois, realmente, não sei o que esperar. Eu amo quando têm esses momentos de pista nova, de público novo. É diferente tocar numa festa “normal”, porque a gente consegue ver, claramente, a reação das pessoas a cada nova música e ali não vai ter esse cara a cara. Vou ter que ir muito pelo meu feeling, ir sentindo ali a vibe do momento.

E sim, tem bastante novidade. Eu estou a quase 6 meses sem tocar, então tem muita coisa nova pra mostrar pro público.

Você também usou este momento de quarentena para se reinventar e em junho, começou o projeto ‘Follow The Sun’ em formato live. Você acredita que mesmo após uma vacina e a liberação dos eventos, esse formato continuará e não limitando-se apenas aos grandes festivais? 

Bhaskar – Nós aprendemos muito com relação ao streaming e mesmo que as lives não continuem no mesmo ritmo que estão hoje, elas serão mais presentes do que antes da pandemia, isso com toda certeza. As festas presenciais, que antes não faziam as transmissões, vão aderir ao formato e as que já fazem, vão se aperfeiçoar ainda mais.

Bhaskar no Follow The Sun #2

Ainda sobre o ‘Follow The Sun’, no começo do mês você apresentou a primeira live do mundo à base de energia solar, o episódio 3, gravado no Chapadão da Praia de Pipa, RN. Como surgiu a ideia dessa apresentação e como foram os preparativos para ela?

Bhaskar – A história de usar a energia solar surgiu através de um amigo nosso da adolescência e que hoje, ele tem uma empresa que trabalha com esse tipo de energia renovável. Esse meu amigo estava acompanhando meu trabalho já a alguma tempo, até ele viu o projeto ‘Follow The Sun’, achou que tinha tudo a ver com o trabalho dele e se ofereceu para entrar no projeto, trazendo a energia, literalmente. Foi uma conexão muito bacana que surgiu, principalmente com relação a nossa amizade do passado.

Já a ideia de fazer em Pipa, foi justamente pra conseguir executar uma live que tivesse uma estrutura maneira, bem tecnológica, com uma cenografia legal e também conceitual, ao mesmo tempo que fosse funcional, que tivesse realmente gerando energia elétrica. Foi isso que nos propusemos a fazer e o resultado foi um ‘Follow The Sun’ muito legal.

Além das lives, o seu calendário de lançamentos também continuou a todo vapor e recentemente você lançou ‘Cortex’. Esse momento de isolamento social prejudicou, em algum aspecto, no seu processo criativo? Quais as suas táticas para não se deixar abalar por uma situação tão delicada?

Bhaskar – Pra mim, este momento de criação durante a quarentena foi muito bom. Eu consegui ser mais sincero comigo mesmo. Antes, por eu estar todo fim de semana tocando em algum lugar e com aquela responsabilidade de bombar a pista, eu acabava apelando um pouco e ficava sempre naquela de “isso vai funcionar e isso não vai” e isso acabava me restringindo um pouco no lado criativo.

Hoje, eu estou muito mais a vontade e eu vi que poder explorar outros campos foi a melhor coisa que eu fiz, pois o meu público também comprou essa ideia, de ouvir coisas diferentes vindas de mim. Eu estou num momento criativo muito bom.

Pra finalizar, quais os planos do Bhaskar para esse restinho do incerto 2020? Que mensagem de positividade e esperança você pode passar para seus fãs? Obrigado e nos vemos sexta!

Bhaskar – Eu tenho alguns lançamentos bem importantes vindo ainda este ano, sendo que ‘Stone Heart‘ é a próxima que sai no inicio de setembro, pela Armada e que eu estou apostando bastante nela. Tem também algumas collabs bem legais que eu fiz nesses últimos meses, que ainda não posso revelar, mas garanto que são tracks bem legais.

E pra todo mundo que está em casa, meio que de saco cheio de toda essa situação, eu peço pra gente segurar mais um pouquinho, é para o nosso bem! Vamos esperar a vacina sair pra poder nos aglomerar novamente e em breve, festejaremos em dobro tudo aquilo que nos festejamos em 2020. Cuidem-se!

Para mais informações sobre o show do Bhaskar no Go Dream em São Paulo, basta acessar o site oficial do evento, onde será possível também, comprar seu ingresso. Clique aqui e garanta já o seu.

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Entrevista

Entrevistamos: KASINO

Um dos projetos de música eletrônica mais famosos do Brasil nos anos 2000, o eterno projeto Kasino conversou com a gente sobre seu retorno.

Se você viveu os anos 2000 ou é antenado em memes, com toda certeza já esbarrou no “AEE KASINÃO, VAI DJ!”, protagonizado por Gilberto Barros em seu extinto programa Sabadaço, durante a apresentação de um ícone da música eletrônica nacional: o grupo KASINO.

Formado em 2005, o grupo ficou conhecido em todo o país por seus hits que viraram trilha sonora de novelas globais, entre elas ‘América’, ‘Sabor da Paixão’ e ‘Páginas da Vida’, além é claro, do meme que tomou conta do Brasil e do mundo. Após anunciar seu retorno, o grupo já voltou a atividade com o relançamento de algumas tracks e já planeja novidades. Confira o papo que tivemos o vocalista Fher Cassini. Entrevistamos: KASINO!

Beat for Beat – Fala pessoal, tudo bem? Pra começar, quero dizer que assim como muitas pessoas, estamos felizes com esse retorno. Como é pra vocês, fazer parte de uma memória tão afetiva, principalmente para aqueles que tiveram os primeiros contatos com a música eletrônica, através de suas músicas?

Kasino – Isso é muito gratificante. Vários DJs que estão hoje em alta hoje, vêm até mim falar que ouviam e tocavam muito nossas músicas quando estavam começando. O duo Dubdogz, por exemplo, falou que no início da suas carreiras, o Kasino era uma referência pra eles, que tocavam e ouviam muito o projeto. Depois que tive um contato mais próximo com eles, a música ‘Can’t Get Over’ é tocada em praticamente todas as lives deles.

https://open.spotify.com/track/5ohXIqvzErPFys4pnvpGSr?si=62KtzDi6RCGbtla8K4DLlQ

O passado sempre nos acompanhará, onde quer que a gente vá. Sabemos que por muito tempo, o episódio com Gilberto Barros foi motivo de chateação para vocês. O que aconteceu ali, naquele dia? Como vocês veem a repercussão disso até hoje, incluindo os memes?

Kasino – Ao contrário do que muitos pensam ou se fala, no dia não aconteceu nada de mais, foi mais um dia de gravação como outro qualquer. O que atrapalhou bastante, foi o fato do Gilberto interromper a nossa apresentação, falando bastante. No começo, eu achava que o meme era uma forma de depreciar nosso trabalho, mas hoje eu consigo entender que o que eu recebo é só carinho e admiração. Estou me divertindo com tudo isso e adorando os novos memes que estão surgindo depois que anunciamos a volta. O pessoal é muito criativo.

Recentemente vocês anunciaram o retorno, que inclusive noticiamos por aqui e as primeiras ações do grupo foram o relançamento de 3 grandes hits. Porque, depois de tanto tempo, colocar tais músicas nas plataformas digitais? Não era melhor, já de início, apostar em algo novo?

Kasino – Fiz isso para atender os pedidos que os fãs estavam fazendo, nas redes sociais, para colocamos as músicas nas plataformas de streaming. Queríamos. também, refrescar as músicas e o Kasino na memória das pessoas, para depois investir em algo inédito. A gente também entende que o single inédito tem que acontecer no momento certo e que as pessoas possam curtir não só em casa, mas nas festas, que por enquanto, não podem acontecer. Vamos torcer.

Falando em algo novo, já existe planos de tracks inéditas? Como está o planejamento de lançamentos de vocês?

Kasino – Já existe sim. Eu (Fher) e o Mister Jam já estamos conversando e com algumas ideias para o novo single. O planejamento de lançamento é entre setembro e outubro.

O grupo, que já teve 2 formações, hoje traz novamente Fher Cassini nos vocais. Além dele, quais membros permanecem ou entram para o grupo?

Kasino – Permanecem o Fábio Almeida (Mister Jam), que é o responsável pelo retorno e o Ian Duarte tem ajudado em algumas questões.

Mistem Jam, Fher Cassini e Ian Duarte

Fher, te acompanhando nas redes sociais, vimos que você é bem por dentro do mundo eletrônico e tem acompanhado a diversas lives, incluindo a super produção do Tomorrowland. Você acredita que tais transmissões, permanecerão mesmo após reabertura dos clubs e retorno das festas? Você acha que o público conseguiu suprir a saudade dos eventos, com essa interação online?

Kasino – Pode ser que aconteça uma ou outra, mas como a agenda é muito corrida pra maioria dos DJs e artistas, acho difícil conseguir conciliar as lives com as gigs. Eu acho que sim, pelo menos eu me diverti e me empolguei muito nas lives. Na do Tomorrowland mesmo, eu transformei minha casa numa verdadeira balada.

Há algum plano ou possibilidade de uma live de vocês?

Kasino – Estamos pensando, mas pelo fato de eu morar no Rio de Janeiro, e a Massiva, que é a gravadora que está a nossa frente hoje, estar em São Paulo, a logística está bem complicada, ainda mais pela atual situação que vivemos.

A quarentena tem sido produtiva para muitos artistas. Como vocês estão usando esse tempo, na carreira musical? Ficar em casa ajudou ou prejudicou no processo criativo de vocês?

Kasino – Ficar em casa nos dá a oportunidade de criarmos coisas novas com tranquilidade. Recentemente fizemos a produção do clipe de ‘Shake It’ com a participação de fãs do Kasino, que enviaram videos feitos através de celular e estamos editando. Queremos estar cada vez mais próximos de nossos fãs.

Pra finalizar, o que o grupo Kasino lá de 2006, diria para os integrantes nessa nova empreitada, em 2020? O que vocês querem levar para o futuro e o que querem deixar no passado? Obrigado!

Kasino – Uma coisa que o Kasino de 2006 diria, é que quando você está em alta muita, gente está perto, mas depois elas acabam sumido. O Kasino abriu portas para muita gente e alguns não são gratos, não reconhecem isso. No passado, quero deixar alguns erros que cometi, muitos deles por imaturidade. Hoje estou no melhor momento como artista e ser humano. Acho que tem tudo pra ser ainda melhor que 2006.

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Entrevista

Entrevistamos: Binaryh

Com novo EP lançado pela Prisma Techno, o duo Binaryh conversa com a gente numa entrevista exclusiva e nos revela detalhes sobre o material. Confira:

Binaryh

A união de duas forças, é a essência do Binaryh. Dupla nos palcos e na vida real, Camila e Rene são um dos casais mais amados da música eletrônica nacional. Seu live act impactante e músicas potentes, estão conquistando, cada vez mais, lugares importantes no cenário techno mundial, com suporte de nomes como Tale of Us, Adriatique, Bart Skills, entre outros.

Seu mais novo trabalho, o EP ‘Palladium‘, composto por 2 tracks, saiu pela prestigiada Prisma Techno e é sobre esse trabalho, que conversamos nesse papo exclusivo. Entrevistamos: Binaryh!

Beat for Beat – Camila, Rene! Tudo bem? Obrigado por topar essa entrevista com a gente. Vamos começar falando do novo lançamento? Ele representa bem a identidade do Binaryh, certo? Quais elementos vocês trouxeram que conecta a essa estética sonora do projeto?

Binaryh – Obrigado vocês pelo carinho de sempre! Nós não sabemos ao certo quais são esses elementos, mas eles sempre estão presentes. Acreditamos que a nossa sonoridade vem de uma base forte de techno com melodias profundas, sejam elas mais aparentes e dinâmicas ou apenas subentendidas, passando um outro tipo de mensagem.

Mais sobre Palladium: aqui estamos falando de um elemento químico, de uma fortaleza ou algum outro significado mais subjetivo? Como é o brainstorming na hora de batizar um trabalho?

Binaryh – Normalmente quando vamos escolher o nome das músicas, temos um planejamento anual de temas que queremos abordar, e tudo gira em torno de assuntos que gostamos. Já falamos sobre código binário, mitologia grega, e passamos por uma fase onde queríamos batizar as músicas com nomes de metais. Foi dessa fase que surgiu a Palladium, que é um metal que faz parte do grupo da platina.

Então, toda vez que o Rene finaliza uma música, eu (Camila) escuto ela inteira novamente e vou na lista referente ao tema que estamos abordando. Quando eu sinto que a música tem alguma conexão com o significado do que eu estou pesquisando, eu faço a escolha!

O lançamento marca o retorno à Prisma Techno, gravadora que vocês mantêm um relacionamento bem próximo desde 2018. Falem um pouco sobre essa identificação com o selo…

Binaryh – Lançar pelo Prisma é sempre especial. Sempre tivemos uma identificação com o label pela sonoridade e somos muito livres para criar quando pensamos no Prisma. Nos identificamos muito com o Thito Fabres e a Brenda por vermos como eles lideram o projeto, com seriedade e amor, do mesmo jeito que levamos o Binaryh. Por isso mantemos essa relação próxima com eles.

Vamos voltar no tempo um pouco e falar sobre o histórico de vocês. Quando se conheceram e o que culminou na formação do Binaryh? 

Binaryh – Foi um processo bem natural. Quando decidimos morar juntos, passamos a acompanhar mais de perto o trabalho um do outro e então, naturalmente, começamos a opinar no que fazíamos e percebemos que não só tínhamos uma boa relação como casal, mas também conseguíamos trabalhar juntos sem misturar as coisas. Claro que até termos uma total sintonia levou um tempo, mas é isso que faz o Binaryh ser tão especial: sabíamos que podíamos construir algo sólido com o que os dois poderiam agregar.

Binaryh no CAOS

Nessa trajetória vocês tiveram conquistas bem significativas. Algum em específico ajudou a catapultar a carreira de vocês no Brasil e internacionalmente?

Na verdade, nós achamos relevante todos os pequenos e grandes passos que demos e tiveram muitas pessoas que nos ajudaram a chegar onde chegamos, e não esquecemos de nada! Se não fosse pela BLANCAh, talvez teríamos levado mais tempo pra lançar nosso primeiro EP.

Se não fosse pelo Guss (da Festa Feira), talvez não tivéssemos feito nosso primeiro Live Act tão especial e não tivéssemos conseguido chamar a atenção do Renato Ratier e da equipe da D.Agency. Se não fosse nossa proatividade em mandar músicas pra outros artistas – sem enxergar eles como pessoas normais como nós – talvez o Tale of Us não tivesse notado nunca nosso trabalho. O importante é sempre agir, sem medo do não.

Sabemos que falar sobre planos é bastante difícil no momento, mas em quais projetos ou ideias vocês tem trabalhado atualmente para apresentar nos próximos meses? Valeu!

Binaryh – Estamos produzindo muito e temos vários lançamentos agendados até o final do ano. Também estamos focados no lançamento da nossa própria gravadora, a HIATO, que vamos abrir junto com a BLANCAh.

Aproveitamos esse momento difícil pra nos fortalecer e voltar com mais amor ao nosso trabalho como DJs.  Ainda temos outros trabalhos muito importantes que estão por vir, mas ainda não podemos falar muito sobre – logo mais vocês saberão! Obrigado e até breve.

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Entrevista

Entrevistamos: ROOFTIME

Com hits assinados ao lado de grandes nomes nacionais, o trio ROOFTIME bateu um papo com a gente e nos contou detalhes de suas produções. Confira:

ROOFTIME

Conhecidos na cena eletrônica desde 2018, o trio ROOFTIME, formado por Lisandro Carvalho, Gabriel Souza Pinto e Rodrigo Souza Pinto, já trilha uma história de sucesso. Seu primeiro single oficial foi lançado em parceria com um dos maiores DJs do Brasil atualmente, o que os permitiu collabs com outros grandes nomes da indústria nacional.

Acumulando milhões de plays no Spotify e usando o momento de quarentena para uma redescoberta, o trio conversou com a gente e contou um pouco sobre o processo criativo de seus maiores hits, além de dividir os sentimentos referentes ao isolamento social. Entrevistamos: ROOFTIME.

Beat for Beat – O trio todo se formou mesmo na faculdade e começarem a se reunir para fazerem música. Como foi o começo da história? 

ROOFTIME – Na verdade, a ideia do grupo surgiu da conversa entre o Lisandro e o Rodrigo na faculdade, mas só se formou quando se encontraram depois com o Gabriel. No começo, nos “apresentamos musicalmente” um aos outros, mostrando o que gostávamos de ouvir, tocar e o onde queríamos chegar com a música. Tínhamos referências diferentes, mas gostos compatíveis, então decidimos começar a esboçar as primeiras músicas que poderiam surgir dessa mistura. Depois de alguns projetos de teste, chegamos a primeira musica completa e foi aqui que achamos um caminho para a nossa identidade. Naquele momento, surgia o ROOFTIME.

‘I Will Find’ foi o primeiro sucesso do grupo, junto com Vintage Culture. como surgiu a oportunidade da colaboração? Como foi criada essa música tão renomada na Spinnin’ Records?

ROOFTIME – Sabe a música que citamos na pergunta anterior? Então… era a ‘I Will Find’. Obviamente ela não estava assim como está hoje. Na época que mostramos o som para o Lukas, ele se animou muito e entrou com a gente no projeto dela. Desde esse momento, até o lançamento pela Spinnin, passamos quase que um ano fazendo todo um planejamento, tanto para a música quanto para nós. No final, foi sensacional! Ainda dá arrepios só de pensar como essa música surgiu e até onde ela pode ir. É algo inestimável pra gente. Não poderíamos ter estreado de maneira melhor!

A constituição sonora do Rooftime apresenta elementos acústicos em suas elaboradas tracks e participações. Vocês traçam sempre um plano para a produção das faixas? Existe uma fluxo de criação entre vocês, para que o trabalho seja feito?

ROOFTIME – A ideia sempre foi deixar a produção o mais livre possível, então não existe um plano. Tentamos sempre fundar nossos caminhos de criação, pavimentando eles com referências e sem nenhuma necessidade sonora. A principal preocupação é sempre em sermos sinceros no momento que estamos produzindo, pois, se há sinceridade, a música sai naturalmente. Claro que você vai encontrar elementos semelhantes em todas nossas músicas, por que o que soa ali é exatamente o que somos e não o que procuramos ser. Mas de um forma geral, não existe regra no nosso fluxo produtivo, desde que ele tenha conteúdo sentimental e seja sincero.

‘Free My Mind’ foi outro grande sucesso de vocês em parceria com Alok e Dubdogz. Como foi trabalhar com outros dois grandes nomes da indústria eletrônica nacional?

ROOFTIME – Foi um grande projeto! Demoramos quase dois anos para chegar na versão final dela, mas que foram recompensados pelo resultado da música. Na época que começamos ela, ainda estava sem refrão e em uma estrutura bem diferente. Lembro que então mostramos a track para o Dubdogz e os caras curtiram demais o som. Fomos trabalhando até a música chegar no ouvido do Alok através de um stories no Instagram.

Assim que ele ouviu, entrou em contato com os Dubdogz e quis participar da musica também. Trabalhar com caras desse tamanho, em uma época que nosso projeto nem estava perto de ser consolidado, foi chocante, pois nunca imaginávamos que a escalada fosse acontecer assim. De repente, estávamos ao lado de Dubdogz e Alok, no estúdio dele, mexendo em uma música que tínhamos criado… cada segundo foi surreal!

Como surgiu a ideia de lançarem ‘Home’ pela Big Top Records? Como foi o processo de composição, produção e de lançamento do single durante o isolamento social?

ROOFTIME – Quando produzimos a ‘Home’, sabíamos que seria uma musica bem íntima e estávamos segurando ela pra soltar em um momento que já estivéssemos com esse tipo de conexão com o público. Até que chegamos nessa período chato de isolamento social e fomos obrigados a se instalar cada um em suas casas, dai sentimos o significado da música ganhou ainda mais força e que seria um momento único para lançarmos.

A Big Top Records entrou com a gente nessa ideia e apoiou a temática do som junto ao momento que estamos passamos. Com isso, conseguimos um alcance inédito do público europeu, além da nossa base nacional. Ou seja, não poderíamos estar mais contentes com todo apoio que estamos recebendo com a ‘Home‘!

Nem sempre conseguimos nos concentrar para produzir diante do isolamento social. Quais são as dicas do ROOFTIME para que produtores aproveitem este período de quarentena? Qual mensagem vocês passam para seus fãs e produtores que também almejam uma carreira de sucesso?

ROOFTIME – Nós enxergamos o isolamento como um convite para conhecer melhor a nós mesmos e estar ainda mais em contato com os nossos sentimentos. Esse cenário nos força a olhar para dentro de nós ainda mais, buscando algo novo, ou até ainda mais profundo do que estávamos explorando antes. Mas nada disso é possível se você estiver sem o equilíbrio e inconscientemente desconectado do seu som, por que, às vezes, deixamos que a obsessão por algo se torne um fardo pesado demais para se carregar e assim bloqueia qualquer tipo de momento criativo que você possa vir a ter.

Se pudéssemos passar uma mensagem a todos que nos acompanham nesse momento, é que nada na vida é por acaso: se você olhar bem fundo, toda dificuldade esconde uma oportunidade nessa vida. Aproveite-a sem medo, sem obsessão e com confiança. Mesmo se, às vezes, você se sentir com medo ou sozinho, insista! Porque, se você conseguir, terá provado a si mesmo que é capaz de chegar onde tanto sonha.

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Editorial

PITTA, o psytrance e a luta por liberdade em amar e se expressar

Pansexual, DJ e inserido na cena do psytrance, PITTA é um exemplo de que podemos ocupar todos os lugares, seja ele qual for. Acompanhe nossa entrevista.

PITTA

Um artista multifacetado. Jorge Pitta, ou só PITTA, começou frequentando a cena noturna LGBTQIA+, até que gradativamente, foi ocupando seu espaço de direito na cena do psytrance. Pansexual, ele representa o + da sigla e hoje, conversa com a gente num papo bem cabeça.

Confira nossa entrevista com PITTA, convidado da nossa #PrideWeek 2020

Beat for Beat – Pitta, muito obrigado por topar conversar com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, nos diga: como é ser uma pessoa LGTQIA+ dentro da cena trance? Você acha que ainda há resistência para que o público aceite alguém de nossa comunidade?

PITTA – Eu quem agradeço a oportunidade falar com vocês. É muito importante ter esse espaço pra gente. Muito preciso, na verdade.

Bom, a cena trance tem algumas subdivisões, ramificações de público, mas vou falar de uma maneira mais geral. Existe dentro da cena trance, um espaço pra pessoas LGBTQIA+. Existem projetos inclusivos muito importantes pra nós da comunidade, como o LGBTrance e o projeto Trance de Rua, mas este espaço é algo que precisa de mais visibilidade, mais atenção. Infelizmente, o ramo artístico rico que a cena psytrance possui, ainda é composto predominantemente por homens cisgêneros heterossexuais brancos. Consequentemente isso pesa e tendencia espaços disponibilizados aos LGBTQIA+ e mulheres, tanto aos artistas quanto ao próprio público.

Particularmente dizendo, ainda sinto resistência sim, tanto dos organizadores de eventos quanto do próprio público, em lidar com a presença de pessoas que fogem do padrão heteronormativo que é imposto a nós, não só nas festas, mas no nosso dia a dia.

PITTA no Luar Music Bar

E você já teve dificuldades em marcar uma gig, por ser uma pessoa LGTBQIA+? Sofreu preconceito, injúrias ou até mesmo agressões, enquanto tocava ou frequentava uma festa?

PITTA – Eu não me recordo de ter sofrido injúrias e agressões. Até porque as pessoas que frequentam e organizam a cena trance, costumam criar pra si uma postura inclusiva e “deboísta”, mas infelizmente as coisas não se dão dessa forma. A gente sabe que assim como no nosso cotidiano, o preconceito muitas vezes está presente de maneira velada. As pessoas têm atitudes preconceituosas, que às vezes nem se dão conta, ou fingem não se dar conta. Olhares, dizeres feitos, mas não diretamente a nós, são exemplos de coisas que eu já presenciei e vivi algumas vezes.

Mas na questão artística, é nítido como o preconceito aparece. Ele aparece quando nós olhamos os line ups das festas e nele predomina, ou é inteiramente composto por homens cis brancos heterossexuais, ou quando intervenções artísticas promovidas pela festa, se dão da mesma forma. Até mesmo na pista, quando pessoas que fogem dos padrões que a sociedade nos impõe, ocupam seus espaços somente pra curtirem seu momento, e se deparam com vários olhares de canto de olho, de reprovação, de pessoas apontando (como já vi acontecer). São atitudes disfarçadas, que as pessoas pensam que ninguém vai perceber, que acabam instaurando o medo e insegurança de pessoas como e, de  ocuparem seus lugares na cena.

Você se sente seguro? Confortável, frequentando um ambiente que não te aceita totalmente?

PITTA – Acho que desconfortável é a palavra. Não me sinto inseguro, porque acho que é meu papel resistir e ocupar esse espaço, para que outras pessoas como eu possam também estar ali. Pra que elas futuramente se sintam confiáveis de poder ocupar esse lugar comigo.

PITTA

Falando agora da sua carreira como DJ. Como foi que você saiu da pista e passou a ocupar um lugar no lineup das festas? Você lembra da sua primeira gig?

PITTA – É engraçado como a minha carreira como DJ andou de mãos dadas com minha aceitação e sexualidade. Meu interesse sobre a música eletrônica e mixagem foi despertado justamente quando comecei a frequentar as casas noturnas LGTBQIA+, então fui me aprofundar sobre o assunto. Aprendi as técnicas básicas de mixagem num curso na escola para djs da DJ Fabíola Sellan, que hoje é uma querida amiga.

Mais uma vez na noite LGBT, organizadores de festas que são grandes amigos meus como o DJ Edy Monster, me deram oportunidade de me lançar profissionalmente nesse ramo e me ajudaram bastante no meu aprofundamento como DJ. Com bastante treino, dedicação e ajuda de toda essa galera, incluindo o Viktor, editor do B4B, que me deu o empurrãozinho pra começar lá no início, na minha primeira gig, no Luar Music Bar, em São Paulo, consegui seguir a diante com esse trabalho artístico que é tão bonito e importante. Sou muito grato a toda essa história que construímos até aqui.

PITTA

E o trance? Como ele apareceu na sua vida? Como foi o processo da migração sonora para o que você toca hoje?

PITTA – Quando eu já tocava, comecei a querer ampliar meu repertório. Então comecei a descobrir outras vertentes diferentes das que eu já estava habituado a ouvir. Foi aí que conheci o psytrance. Foi amor a primeira ouvida (risos). Daí então comecei a frequentar festas com esse segmento, para que eu além de poder criar maior consciência sobre o som que eu queria então tocar, poder fazer o famoso network, pra poder começar alcançar novas oportunidades de apresentar meu trabalho e crescer com ele.

Quanto ao processo de migração sonora, a gente sempre aperfeiçoa né? Amplia o repertório, aprende mais um pouco. Quando ingressei na cena trance, eu mesclava entre o progressive e o fullon. Mas depois de um tempo resolvi focar apenas no fullon groove, que era mais a minha praia. Como disse antes, a cena trance se divide em ramificações, então, trabalhando no meio, desenvolvi gosto por outras vertentes e uma delas foi o Darkpsy. Foi aí que dá mesma forma que antes, trabalhei pra ampliar e aperfeiçoar meu repertório para poder atuar ali também.

Atualmente tenho 2 projetos: PITTA (fullon) e Cabron (Darkpsy). Eu resolvi trabalhar com mais de um projeto, porque acho que quando a gente se define muito, a gente acaba se limitando e fazendo as coisas de maneira organizada, acho que conseguimos explorar sempre mais um pouco de nós, artisticamente falando. Tocar uma vertente não pode ser impedimento da gente aprender mais um pouco sobre outra, não é mesmo?

PITTA e Edy Monster

E mesmo que todo o cenário atual seja incerto, quais são os planos pra sua carreira musical? Tem usado este momento de isolamento a favor da sua evolução como artista?

PITTA – O cenário atual deixa tudo meio incerto mesmo. Infelizmente estamos todos passando por tudo isso e é muito triste. Esse momento aconteceu sem a gente esperar, de maneira rápida. Me fez pensar muito sobre a minha vida, sobre tudo que eu queria pra mim, principalmente sobre minhas questões profissionais. Eu trabalho artisticamente não só como DJ, sou ator também. Toda a classe artística foi golpeada por essa situação. A partir daqui, a gente vai ter que se reinventar, assim como o mundo inteiro.

Eu utilizei esse momento de internalização para me aperfeiçoar profissionalmente sim. Pra estudar, pra ampliar horizontes, criar novas técnicas, projetos e planos, pra quando o novo normal se instalar, esses investimentos me prepararem pra integrar um novo mercado de trabalho, que a gente ainda desconhece. Mas que tenho esperança que depois desse tempo de reflexão, seja mais justo, igualitário e inclusivo a todos os profissionais do ramo artístico.

Pra finalizar, que mensagem você quer transmitir para o mundo, através da sua música? Que atitudes você deseja que o mundo adote, para que as diferenças sejam deixadas de lado? Obrigado!

PITTA – A música tocando numa pista não é só uma música. O dever da arte é comunicar. Acima de toda a técnica do DJ, existe alguém que quer, além de proporcionar momentos de alegria, passar uma mensagem. Então, entenda a mensagem, e principalmente: valorize isso.

Por trás de todo meu trabalho, exite alguém que é diferente, e que estando ali, quer mostrar que o diferente também é bom, e também merece ocupar seu espaço. A diferença não está aí pra ser exterminada, mas pra ser além de admirada, respeitada. Não tem problema ser diferente. O errado é tentar ser igual.

VALORIZE A ARTE, em especial, os artistas LGTQIA+ ❤

REBOOT. by DJ Pitta

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Divas por uma Diva: Ella De Vuono e o orgulho em forma de música

Mulher cis, lésbica, DJ, produtora e um verdadeiro ícone na comunidade LGBTQIA+ da música eletrônica. Veja nossa entrevista com Ella De Vuono.

Foto: RECREIOclubber

Uma grande amiga do Beat for Beat, Ella De Vuono dispensa imitações. Uma das grandes artistas LGBTQIA+ do Brasil, Ella contou pra gente um pouco sobre sua luta em nossa comunidade, falou sobre preconceito e aceitação, além de criar uma playlist super especial, que celebra a diversidade.

Confira agora nosso papo com Ella De Vuono, convidada da #PrideWeek 2020.

Beat for Beat – Oi Ella, muito obrigado por conversar com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, conta pra gente: você já sofreu algum preconceito ou dificuldade para agendar gigs, por conta da sua orientação sexual? 

Ella De Vuono – Oie, é sempre um prazer falar com vocês! Obrigada vocês por lembrarem de mim e darem visibilidade ao meu trabalho.

Olha, felizmente nunca sofri preconceito em gigs no meio da música eletrônica (clubs e festas), mas teve um job em especial, que era para tocar em um evento corporativo e o cachê era super bom, que fiquei sabendo que não me escolheram por ser lésbica. Segundo o responsável, ele tinha medo que eu desse em cima das mulheres no local. Acredito que esse julgamento dele, deve partir de suas próprias atitudes.

Ser uma mulher cis, lésbica, traz em sua essência a hiper sexualização do seu corpo e até das suas relações, visto que muitos homens ainda possuem fetiche em casais. Você já sofreu assédio ou passou por alguma situação desconfortável, por conta disso?

Ella – Essa é a minha vida. Posso contar no dedo quantas vezes sofri preconceito por ser lésbica, mas as vezes que fui assediada por conta disso, são incontáveis. Por isso que eu e minha namorada não “baixamos a guarda” para nenhum homem que se aproxime, não perdoamos nenhuma “brincadeirinha”, não deixamos passar nenhuma insinuação. A gente já corta no ato, porque simplesmente não toleramos.

Na grande maioria das vezes, um “elogio gentil” (entre muitas aspas) acabou sendo um assédio disfarçado e os homens queriam mesmo tentar alguma coisa. É complicado, pois se não damos moral, somos metidas e arrogantes. Se damos, é que estamos dando mole e queremos ir pra cama com o fulano. Então simplesmente não tem papo. Fez brincadeirinha, eu corto.

Ella De Vuono na Levels

Podemos dizer que assim como no futebol, a música eletrônica transformou-se num ambiente em que se assumir é algo raro e que muitos artistas têm medo do que pode acontecer após “saírem do armário”? Você acha que ainda é necessário se esconder tanto, em pleno 2020 e a que você atribui esse medo todo de dizer quem você realmente é?

Ella – Primeiramente, acho que não existe uma comparação plausível entre música eletrônica e futebol. A música eletrônica surgiu dos guetos, das minorias, dos negros, dos homossexuais, dos excluídos. Liberdade é a palavra de ordem em meio a música eletrônica. Se tem um lugar no mundo que eu nunca nem pensei duas vezes para ser quem eu sou, é em um club, em uma rave.

Lembro no começo, quando me entendi como lésbica (2005), eram nas raves que a gente podia se beijar em público, que a gente podia ser um casal sem medo, mas ainda assim rolavam assédios. Acho que só fui parar de ser assediada em festas como a Carlos Capslock, Gop Tun, Mamba Negra, etc.

Eu acho que nunca é necessário se esconder, nem em pleno 2020 e nem nunca. Acredito que o medo vem de diferentes lugares dependendo da história de vida de cada um, mas ao meu ver, se somos aceitos pela nossa família desde sempre, então esse medo é muito mais fácil de enfrentar em qualquer lugar.

Ella De Vuono na Carlos Capslock

Você é uma verdadeira militante da causa LGBTQIA+. Como DJ, você busca tocar artistas da nossa comunidade, dentro dos seus sets? Além de atos, como você passa a mensagem de respeito durante suas apresentações?

Ella – Sempre que eu posso, toco músicas de artistas que se enquadram nas “minorias”, mas isso não é um fator fundamental para mim. Pois na questão musical, eu levo em consideração a música e apenas ela, gênero, orientação sexual, etnia ou raça, não é determinante.

Minha mensagem é passada de diversas maneiras, visualmente na minha performance, roupa e maquiagem. E na minha música, tanto nas minhas produções que são carregadas de mensagens que trazem diversas questões sociais, quanto em acapellas aplicadas em cima de outras músicas, seja trecho de discursos, ou de entrevistas ou até mesmo de alguma outra música.

Foto: RECREIOclubber

Na playlist que você criou pra gente, você colocou grandes artistas LGBTQIA+, além é claro, das Divas supremas, como Madonna, Cher, Diana Ross. Qual o tamanho da influência dessas artistas no seu trabalho e como você tenta traduzir isso no techno?

Ella – Amo! A influência dessas mulheres é gigantesca na minha carreira, meu amor pela Madonna é super escancarado, todo mundo que me acompanha sabe. Para mim, essas mulheres e muitas outras como Nina Simone, Grace Jones, Rita Lee e Maria Bethânia por exemplo, são uma inspiração de que não se separa a artista da pessoa. Que ser uma figura como elas, está sim, em suas atitudes e valores. Que nossa arte tem que ir de encontro com nossos valores e posicionamento.

Eu sempre jogo uma acapella da Madonna, da Lady Gaga, Cher e até da Leandra Leal em cima de algum techno ou house. Além disso, tenho músicas autorais com trechos de entrevistas ou discursos delas também.

Podemos dizer que hoje, o techno é a cena mais inclusiva da música eletrônica. São cada vez mais comuns, festas em que os corpos são livres e podemos ser quem realmente somos. Qual a sensação de fazer parte de um coletivo que foi um dos grandes responsáveis por essa revolução de liberdade de expressão?

Ella – A sensação é de orgulho e pertencimento. Eu amo a Carlos Capslock e já amava sendo apenas frequentadora, depois que entrei para o coletivo como residente, eu pude ver que essa mensagem é realmente genuína, que eles realmente se importam com a cena, com os frequentadores e com todo o staff. Acho que um exemplo disso que estou falando, é a Vakinha que a Capslock está fazendo para conseguir alguma renda para todo o staff que ficou sem trabalho com o cancelamento de todas as festas deste ano.

Como eu já citei acima, nunca esqueço da sensação de alívio que tive de passar uma festa inteira curtindo numa boa sem ter sido assediada. E quem educa parte do público que não recebeu tal educação de berço, é a festa.

Pra finalizar, o que a Rafaella diz todos os dias, para a Ella De Vuono? O que move a sua luta diária, para mostrar para o mundo, que todos somos iguais? Obrigado!

Ella – Acho que a Rafa fala assim: Ella, beesha cê tá arrasando! Continue assim porque eu dependo da senhora pra viver!

O que me move é exatamente a inconformidade de ficar calada. Como me calar diante de tanto ódio? De tanto preconceito? Me manter neutra é ser conivente com tudo de ruim, é medíocre, é raso. Parafraseando Bob Marley: As pessoas pessoas que tentam tornar esse mundo pior não tiram um dia de folga. Como eu vou tirar?

Obrigada você pelo espaço, espero que gostem da playlist.

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Editorial

Etcetera, Pedro Gariani e a força da diversidade na WareHOUSE

Ela é uma drag não-binária e ele, um gay cis. Etcetera e Pedro Gariani formam a dupla de DJs residentes da WareHOUSE e hoje, conversam com a gente.

Pedro Gariani e Etcetera | Foto: FALZER – @philipfalzer

Resgatar a história da house music não é tarefa fácil, mas é isso que o coletivo WareHOUSE vem fazendo em cada uma de suas edições. Seus DJs residentes, Etcetera e Pedro Gariani, uma drag queen e um gay cis, são o retrato perfeito da diversidade e ambos têm muito orgulho disso.

Convidados da nossa #PrideWeek 2020, a dupla conversou com a gente, sobre as dificuldades na cena eletrônica, preconceito, aceitação e claro, house music. Confira nossa entrevista com Etcetera e Pedro Gariani, da WareHOUSE.

Beat for Beat – Oi meninxs, tudo bem? Obrigado por conversarem com a gente nessa semana tão especial. Pra começar, contem pra gente: como é serem artistas LGBTQIA+, dentro da cena eletrônica nacional? Já sofreram preconceito e/ou entraram dificuldades na hora de fechar uma gig?

Etcetera – Obrigada vocês pelo convite delicioso pra esse papo. Eu comecei tocando profissionalmente há 7 anos, quando ainda tocava Indie, mas logo migrei pra cena eletrônica, onde estou há 5 anos. Eu sempre trabalhei com festas voltadas ao publico LGBTQIA+, mas foi apenas nos últimos 2 anos que me libertei dos meus bloqueios e dei vida a Etcetera. A drag surgiu após eu ter conseguido um certo reconhecimento

Etcetera me abriu diversas novas portas. Hoje vivemos tempos muito bons para a arte drag. De uns anos para cá, deixamos de ser marginalizadas e finalmente somos vistas como as estrelas que realmente somos. Não que ainda não tenha muito o que evoluir em questão de respeito, mas é algo que vem caminhando a acontecer. É engraçado sentir e perceber a reação de surpresa das pessoas ao presenciarem uma drag tocando um house de respeito (risos).

Infelizmente já senti sim, alguma dificuldade em ter a atenção de algumas festas grandes e acredito que todo artista LGBTQIA+ já tenha passado por algo. Também já tive situações desagradáveis com público, diversas vezes, antes e depois do drag. Ofensas enquanto estou tocando, papos constrangedores com algum contratante mais “ignorante” ou até mesmo no meio da pista, mas eu sempre lidei muito bem com isso.

Pedro Gariani – Oi pessoal, obrigado pelo convite e por colocar este assunto, que é tão importante, em pauta. Eu amo ser um ser um artista LGBTQIA+ e tenho muito orgulho disso. Espero conseguir aumentar cada vez mais meu alcance para poder levar uma mensagem de amor e respeito às pessoas.

O mercado em geral é muito pautado por relacionamento e networking. Eu toco há aproximadamente 3 anos e foi um processo natural ir tocando nas festas e clubs de pessoas que estão próximas ao meu círculo de relacionamentos e estes eventos, em sua maioria, foram voltadas ao público LGBTQIA+, então nunca tive problemas relacionados a preconceito até então.

Mas ao mesmo tempo, à medida que eu olho para os meus objetivos futuros, sempre me questiono se produtores e contratantes de festas fora da cena LGBTQIA+ vão olhar para mim com os mesmos olhos que olham para outros artistas que não falam abertamente sobre diversidade.

Etcetera

Vocês fazem parte hoje, de uma crew que luta pela diversidade. Etcetera, como surgiu o convite pra fazer parte da WareHOUSE? E Pedro, como foi criar esse projeto? Qual a sensação em fazer parte de uma crew que valoriza a pessoa, independente do que ela é?

Etcetera– A WareHOUSE chegou na minha vida de surpresa e ganhou espaço cativo nas prioridades desde cedo. Pouco antes da segunda edição, minha amiga drag, Jade Odara, hostess da festa, indicou meu trabalho para o Pedro. Fui conhecer a festa, os organizadores e acabamos descobrindo muitos pontos em comum. Comentei da forte vontade que eu tinha, de fazer algo em prol da minha comunidade, de dividir meus privilégios, o que vai de encontro com o a filosofia da WareHOUSE

Quando o convite veio, não foi só pra ser DJ residente da festa, mas uma das pessoas responsáveis por fazer esse projeto existir. Logo na sequência, eu e o Pedro iniciamos nosso projeto em dupla, WareHOUSE DJ’s. Nós temos uma afinidade musical muito boa.

É uma honra imensa conseguir fazer o projeto acontecer e conquistar seu espaço. Sempre quis fazer uma festa onde realmente fosse respeitada a historia da house music, reviver as pistas onde todes se sentiam livres para ser quem quiser ser e curtir a noite toda sem medo de julgamentos.

Pedro – A WareHOUSE é um sonho que se tornou realidade. Um projeto concebido por mim e pelo Antônio, meu namorado, e que desde o princípio nasceu com a ideia de oferecermos um espaço totalmente democrático para o nosso público, onde todos pudessem ir e ser exatamente quem são ou quem quisessem ser naquela noite. Também sempre foi imperativo que o lineup e cast de artistas fosse marcado pela diversidade e representatividade, além de termos uma equipe (da produção à segurança, à limpeza, etc) que fosse majoritariamente composta por LGBTs, sendo pelo menos 50% de pessoas trans.

A realidade é que, quando olhamos para a história da House Music, vemos que ela surgiu dentro da cena underground, nas mãos de pretos, gays, latinos… e hoje, olhando para o cenário global e até mesmo nacional, onde estão essas pessoas em posição de destaque? Claro que temos alguns nomes, mas o mercado em si se apropriou de algo que surgiu na mão dessas pessoas e hoje as discrimina e não dá oportunidade.

Neste sentido, queremos com a WareHOUSE, resgatar estes valores de liberdade, inclusão e diversidade que sempre estiveram no DNA da House Music. Queremos dar suporte à nossa comunidade, além de dar destaque a essas pessoas. Temos uma preocupação muito grande em ter representatividade em todos os setores dos nossos eventos, da equipe de limpeza e seguranças aos DJs e Performers.

Também dentro dos nossos objetivos está levar a música e a profissionalização na área para quem não tem acesso. Por isso criamos o projeto WareHOUSE DJs, que visa oferecer formação de DJ a LGBTs de baixa renda. Devido ao coronavírus acabamos não conseguindo colocar de pé ainda, mas assim que tudo se resolver daremos continuidade.

Etcetera e Pedro Gariani

Etcetera, você é uma pessoa dentro da letra Q. Ser uma drag queen DJ, não-binária, fora do tradicional pop/tribal, já foi um problema na sua carreira profissional?

Etcetera – Infelizmente sim. Já houveram produtores de festa underground, que depois de receberem meu material, disseram que não imaginavam que eu era do house, que tinham certeza que eu tocava pop. As pessoas automaticamente associam a arte drag ao gênero pop ou tribal, o que atrapalhou sim um pouco para que eu conseguisse meu espaço e um certo respeito na cena eletrônica underground, mas vem acontecendo, graças a Deus. Eu amo ser uma das drags que vem quebrando esse padrão.

Pedro, você representa a letra G da sigla. Ser homem cis, torna sua vida como DJ mais fácil? Você acha que há mais oportunidades se comparada a outras letras da sigla?

Pedro – Em uma visão mais macro, acredito que o ser DJ LGBTQIA+ fora da nossa cena não é muito fácil. Como eu disse no começo, se trata mais dos relacionamentos que você constrói e quem você acessa. Falando pela minha carreira, eu ainda não tive nenhuma oportunidade para mostrar o meu trabalho fora da minha “bolha”, por exemplo.

Agora, quando olhamos para dentro da cena LGBTQIA+, vemos muito mais artistas gays cis do que do resto da sigla. Infelizmente não temos uma comunidade unida, ainda existe muito preconceito dos próprios gays, por exemplo, com o resto da comunidade e isso com certeza se reflete muito em como e para quem as oportunidades de fato chegam.

Pedro Gariani

A House Music é um dos pilares da música eletrônica e que foi criada em meio a comunidade preta e LGBT. Quando que vocês decidiram se dedicar a esse gênero tão clássico? Como foi é representar um gênero musical tão representativo para nossa causa?

Etcetera – Eu sou apaixonado por house desde muito novo, por influências do meu irmão que sempre ouviu bastante, mas eu acabei começando a carreira musical no indie pop. Depois de assistir alguns documentários, entre eles o Pump Up The Volume e ler bastante sobre a historia da House e Disco Music, eu me apaixonei ainda mais. O ritmo já contagia e conquista por si só e o quanto mais eu aprendia sobre, mais eu tinha certeza que era dessa história que eu queria fazer parte e ajudar a continuar escrevendo.

Eu fico completamente honrada em poder hoje ser alguém que representa essa história e eu quero poder ir muito mais além. Sonho em poder levar a voz da minha comunidade ao topo.

Pedro – Eu tive um processo de me descobrir durante estes anos, acho que o amadurecimento também foi me permitindo gostar de coisas novas. Eu sou muito eclético e gosto de muitos gêneros e subgêneros, mas a minha história com a criação da WareHOUSE me inspirou muito a me dedicar mais à House.

Eu fico muito orgulhoso de ver todas essas histórias lindas por trás da House Music, acho que decidi representar algo que eu realmente acredito e quero fazer a diferença.

É perceptível que hoje, o público LGBT esteja migrando, cada vez mais, para gêneros mais underground da música eletrônica, saindo do POP e Tribal tão característicos. Como vocês enxergam essa mudança de estilos, ambientes e o que achou que motivou isso?

Etcetera – A Historia da House music ganhou espaço na mídia. As pessoas passaram a conhecer mais as festas undergrounds e o burburinho foi acontecendo. Um grupo ia, se apaixonava e contava para outros grupos que também migraram e rapidamente, a cena foi ganhando visibilidade e cada dia mais publico. O ser humano é mutável, influenciável e a mídia é completamente responsável pelo que a massa consome.

Pedro – Essa movimentação foi um grande reflexo da popularização das festas fora de Clubs. Carlos Capslock, Mamba Negra, ODD, GopTun, Selvagem e muitas outras, foram grandes responsáveis por enriquecer a cena paulistana e dar opções mais diversas para um público que antes estava restrito a poucos clubs. Esse processo colaborou muito também para a diversificação dos ambientes, eu enxergo muita pluralidade no público destas festas.

Eu acho tudo isso incrível. Consegui acompanhar a mudança de comportamento dos meus amigos durante todo esse processo e fico muito feliz de ver tanta gente se abrindo para coisas novas!

Pedro na Tokka

O 2º semestre está começando e mesmo que o cenário ainda seja muito incerto, quais os planos de vocês para o restante do ano? O que buscam desenvolver em suas carreiras profissionais?

Etcetera – 2020 VOOU MENINE, SOCORRO! Esse ano esta sendo muito desafiador, estamos todes tendo que nos reinventar, buscar formas de mantermos nosso trabalho e sustentos em meio a tudo isso. Eu venho estudando formas de levar minha arte cada vez mais longe, no mundo virtual. Dei incio ao meu canal no Youtube e pretendo subir muito conteúdo musical e informativo por lá. Estou aproveitando o tempo para estudar e aperfeiçoar mais meu trabalho como DJ e performer.

Ah… Tem um projetinho no forno fora da música, mas é novidade pra um papo futuro. (risos)

Pedro – Eu estou com expectativas altas para o período pós pandemia. No momento, estou me dedicando à criação do meu primeiro EP. Quando tudo isso passar, eu quero deixar as pessoas felizes na pista, então estou dedicando o meu tempo a produzir coisas que possam deixar as pessoas assim.

Junto com este EP virão outras coisas legais, como o show visual que estou preparando e que deve ser lançado na WareHOUSE, assim que pudermos retomar a festa.

Pra finalizar, o que acham que falta, tanto para o público quanto para contratantes, que ainda são intolerantes, entenderem que a orientação sexual é um mero detalhe e que o que importa, é o talento do artista? 

Etcetera – Estamos vivendo momentos onde é extremamente necessário olhar para dentro. Todes temos a liberdade de sermos quem e como quisermos ser. Somos responsáveis por nossas vidas, histórias e não é a orientação sexual ou gênero que vai definir a capacidade das pessoas. Já passou da hora de entender a todes como seres humanos. Do lado de dentro, todo mundo é idêntico, todo mundo respira, come, pensa e SENTE.

Acho que o combo básico é EMPATIA E RESPEITO! Se todes seguirem com essas duas prioridades em frente as atitudes, vamos evoluir muito e quem sabe um dia, vivenciaremos um mundo bem diferente do que vivemo hoje. O talento do artista está do lado de dentro e como ele é por fora, não vai influenciar nisso! Um beijo muito especial e obrigada mais uma vez pelo convite.

Pedro – Acredito que muitas vezes, o preconceito está muito mais com o produtor/contratante do que de fato com o público. Quem realmente gosta de música, está no evento pelo trabalho do artista e a vida pessoal de quem está se apresentando não faz diferença. Grande prova disso é Honey Dijon e BLOND:ISH, por exemplo, que lotam shows, como aconteceu no Time Warp aqui em São Paulo ano passado. Muitas pessoas que estavam ali, não tinham nem ideia de que se tratava de uma artista trans e uma artista lésbica.

Para termos outros artistas neste patamar, precisamos dar oportunidade a todos e nos ater apenas ao trabalho que cada um está fazendo, independente de raça, gênero ou orientação sexual. Afinal, estamos todos envolvidos nesta indústria por amor à música e ao público, além do mais, no ano em que estamos não há mais espaço para preconceito e segregação.

Etcetera na WareHOUSE

Pedro, que mensagem você pode deixar para nossa comunidade, principalmente para os artistas que buscam seu lugar ao sol?

Pedro – Para os artistas que estão começando, o recado que eu dou, por mais que seja um clichê é: não desistam! A verdade que ninguém conta é que não é fácil ser um DJ e viver apenas disso, precisa batalhar muito e buscar a sua maneira de se destacar dentre as centenas de profissionais que estão no mercado. É uma batalha dia após dia, mas ver o sorriso das pessoas na pista de dança não tem preço, vale cada esforço!

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Editorial

Las Bibas from Vizcaya, a arte drag e o tribal como produto nacional

Ela começou tocando em Recife, até se transformar numa das pioneiras em levar a arte drag para as picapes. Leia nosso papo com Las Bibas From Vizcaya.

Las Bibas From Vizcaya | Foto: Renato Filho

Natural de Recife, Las Bibas from Vizcaya começou sua carreira ainda nos 80, atuando em clubs voltados a um público diferente daquele que a consagraria. Drag queen, DJ e produtora musical, ela carrega em suas músicas, a militância.

Representando a letra Q da sigla LGBTQIA+, confira agora a nossa entrevista com Las Bibas From Vizcaya para a #PrideWeek 2020 do Beat for Beat.

Beat for Beat – Olá Las Bibas, muito obrigado por conversar com a gente nessa semana tão importante para nós. Para começar, nos diga: como é ser uma DJ drag queen, na cena eletrônica nacional? Você ainda sofre muito preconceito ou resistência com relação a contratantes dentro e fora do mundo LGBTQIA+?

Las Bibas From Vizcaya – Dentro do mundo LGBTQI+ não mais, mas ate uns 3-4 anos atrás, alguns contratantes me olhavam atravessado, talvez por não pesquisarem sobre a minha trajetória ou o meu trabalho. Eu me aventuro em diversas aéreas: vídeo, podcast, na arte drag. Acredito que eles achavam que eu faria de tudo, menos tocar… bobinhos! (risos).

Fora do Universo LGBTQI+, quando eu tocava (hoje não mais), os contratantes eram mais antenados. Lembro de uma vez que toquei no  D-EDGE e o club fez uma mini matéria minha, na página deles, falando de mim e o meu trabalho como DJ.  Achei tão incrível que printei e guardo como um quadro de parede (risos).

Você é uma das pioneiras em levar a arte drag para as picapes, além de ser uma grande produtora musical. Você tem mais de 30 anos de estrada, já que começou em 1984. Como foi o começo da sua carreira, com relação a sua orientação sexual? Tem alguma coisa que você percebe que não mudou, mesmo depois de tantos anos?

Las Bibas – Eu comecei em clubs mais direcionadas ao público hétero, mas já estava fora do meu armário, porém  de maneira “discreta e no sigilo” (termo utilizado em apps de relacionamento). Eu não imagina que um dia, tocaria montado em drag e cá estou hoje.

Mesmo sendo gay, nunca tive problemas em casas/festas “ht”, mas resolvi migrar para os eventos LGBTQIA+ no início dos anos 90, ainda lá em Recife, minha cidade natal, quando a coisa começou a tomar mais forma. Pra vocês terem uma ideia, nos 80, em Recife, só existia praticamente 1 club LGBT e alguns bares, foi nos anos 90 que começaram a surgir vários clubs.

Mudou muita coisa de lá pra cá, mas algo que o público LGBT ainda tem, e que difere do público hétero, é fidelidade com um club, por exemplo. Nossa comunidade chegava a passar 5-10 anos na cena noturna e mesmo que hoje, gerações mudam a cada 3-2 anos, manter-se fiel a um local não mudou. Durante um mesmo ano, por exemplo, você consegue ver quase os mesmos rosto na pista, figurinhas carimbas e isso bom, pois você cria laços com o público e faz até amigos.

Las Bibas From Vizcaya na The Week

A comunidade LGBTQIA+ adotou o tribal como um dos seus gêneros preferidos e no Brasil, ele ganhou novas formas. Uma sonoridade diferente. Como é ser referencia na produção musical de um estilo que ganhou a cara brasileira e a que você atribui esse grande sucesso entre a nossa comunidade?

Las Bibas – A comunidade LGBTQIA+ sempre foi um gueto nos 70, 80 e 90, e sendo um gueto, a sonoridade sempre foi mais fechada e peculiar. Sendo assim esse som pouco mudou, pouco evoluiu e apenas se moldou a uma sonoridade atual, unido-se a outros estilos que a nossa comunidade consome, como o groove do funk, as percussões do samba e a energia da EDM. Até hoje, a música que consumimos segue essa linha, baseada em elementos clássicos e sobretudo nas divas e nos seus vocais.

Além do tribal, você usa elementos de outros gêneros, como o house, que é genuinamente LGBT. Como você vê a questão de um gênero que nasceu preto, gay, tornar-se algo das massas e perder um pouco da militância em cima da qual ele foi criado? Como você vê a importância de transmitir uma mensagem de liberdade de expressão através da música?

Las Bibas – Dentro da cena, meu som é um dos mais “diferentões”, pois eu tenho um compromisso social com a música. Eu gosto de levar mensagens subliminares, de resgatar o passado, repagina-lo e trazê-lo para as novas gerações. Talvez esta seja a minha militância: através da música.

Se tive a sorte de passear por diversas casas, gostar e tocar diversos gêneros musicais, eu me acho na obrigação de trazer essa diversidade musical para a minha pista, mas com as limitações, para não fugir do estilo preferido da nossa comunidade.

Hoje você é figurinha constante em diversas festas do Brasil e até do mundo. O que de mais diferente, culturalmente falando, você encontra nas diversas festas por onde vai? O que te surpreende e te incomoda mais nos hábitos regionais de cada lugar que você passa?

Las Bibas – A internet unificou o mundo. Hoje, o que se toca em Nova York, também toca no club mais longínquo de qualquer interior do brasil. O que me incomoda é que o som ficou mais “pop”, mais comercial e perdemos um pouco o espaço de podermos mostrar algo novo ou diferente, mesmo que seja um hit do passado reciclado.

O público tem sua parcela de culpa. basta vermos o charts das plataformas de streaming do Brasil, para termos uma noção do nível musical do país, mas os maiores culpados são os próprios DJs. A profissão ficou de fácil acesso a todos e hoje, temos muitos “influencers”, blogueiros, ou pessoas que apenas tem uma rede social bombada, mas que não possuem nenhuma bagagem musical e estão ocupando o lugar de verdadeiros profissionais.

Vários DJs incríveis do passado, hoje mal tocam ou são convidados, pois não se encaixam mais no perfil do “DJ superstar” ou não entram na sonoridade atual. Será que eles ficaram datados? Ou será que a musica de hoje é tão descartável, que fez esse desserviço a comunidade?

Você possui uma vasta carreira na produção musical. Seu último single, ‘The Art of Sampler 5: Octavia St Laurent’, ganhou as plataformas digitais recentemente. Conta pra gente a história por trás da track e seu processo criativo na construção dela.

Las Bibas – Estamos no mês do orgulho e eu queria lançar algo muito #pride neste mês. Esse meu projeto, chamado “The Art of Sampler“, começou como uma brincadeira-desafio, onde eu sampleio tudo da música (de músicas famosas inclusive) e tento recriar em algo novo. Passei a gostar tanto, que já vou pro quinto lançamento.

Octavia  St Laurent foi uma ativista transexual, drag, negra, latina da cidade de Nova Iorque e educadora sobre questões do HIV/AIDS. Ela está no famoso e indispensável documentário “Paris is Burning” e ainda atuou na linha de frente pela visibilidade da comunidade LGBTQIA+,  ou seja, a gata foi um ícone underground pouco reverenciada e conhecida dessa nova geração. Ela tem frases icônicas que eu usei na música, como por exemplo: “Gays têm direitos, lésbicas têm direitos, homens têm direitos, mulheres têm direitos, até animais têm direitos. Quantos de nós temos que morrer, antes que a comunidade reconheça que não somos dispensáveis?”

Essa track é um tributo a ela e uma militância sonora minha. Se algumas pessoas ouvirem, pesquisarem melhor sobre Octavia e descobrirem quem ela foi, minha missão foi bem sucedida.

E pra finalizar, que conselho você pode dar para seus fãs que almejam uma carreira musical?

Las Bibas – Você tem que amar a música, casar com ela, se dedicar e sobretudo, estudar, pesquisar o passado, para entender como chegamos nesse presente-futuro atual. Acho que isso serve pra qualquer profissão, né?

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