Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Tugen

Com uma criação livre, Tugen vem construindo uma sequência de lançamentos que dialogam com o cenário comercial do Progressive e Deep House.

Existem muitas fases e facetas dentro de um único artista. Reconhecer novos caminhos e ter humildade para recalcular a rota nem sempre é algo fácil de fazer. Tugen se permitiu viver dois anos explorando seu lado comercial com toques de underground, sem se prender a gêneros na hora de produzir. Um processo livre, mas agora pede um novo olhar.

Com experiência como DJ, produtor, compositor e cantor, o artista incorpora um pouco de cada habilidade em suas produções, incluindo a voz. Ele compôs as letras de Fallin’, ‘Find Your Love’, ‘Moonlight’ e Waiting For The Sun’, nas quais também assume os vocais. Seu último lançamento, ‘Tomorrow Brings Me Hope’, pela sua própria gravadora, Alterego, marca o encerramento de uma fase e abre portas para um novo momento.

Representando o desfecho de uma história verdadeira e significativa, a ideia é explorar o lado mais dark side daqui em diante, além de buscar visibilidade internacional. Falamos com ele sobre essa mudança:

B4B – Olá! Agradecemos por aceitar conversar com a gente! Você atua como produtor e DJ há quatro anos, e nos últimos dois anos, tem se dedicado ao projeto TUGEN. Como tudo isso começou?

Tugen – Desde pequeno sou apaixonado por música, já toquei bateria, violão e sempre quis fazer algo que fosse relacionado a isso. Cursei duas faculdades mas a vontade de entrar de cabeça no mundo da música falava mais alto do que tudo, e foi em 2020 que comecei os estudos de produção e DJ.

B4B – Observando seus últimos lançamentos, todos trabalham muito bem a ideia entre arranjos e letras. É como se as duas coisas se tornassem uma só. Pode nos falar sobre a importância de verbalizar em suas músicas? Sua ideia inicial parte de qual dos dois lugares: sentimento ou experimentação?

Tugen – Gosto de criar vocais que expressem o que está passando na minha vida naquele momento e o que estou sentindo na hora de produzir. Eu diria que minha ideia inicial na produção musical depende muito do “mood” que eu estou na hora, às vezes já tenho na cabeça um tema que quero falar sobre ou uma melodia vocal, e outras vezes vou por experimentação mesmo. Depende muito do dia.

B4B – Você acabou de se apresentar na primeira edição de duas festas: Fuzuê e Théâtre. Pode nos falar sobre essas experiências?

Tugen – Foram dois eventos maravilhosos e muito bem organizados, onde pude mostrar nos sets um pouco do meu lado mais “comercial” e melódico e também um pouco do meu outro lado, que considero um pouco mais “livre” e “underground”.

B4B – Além de lançar na sua própria gravadora Alterego, você já lançou pela Alphabeat e Deep Bear. Existe a possibilidade da sua label expandir? Em quais gravadoras você imagina lançar seus futuros trabalhos?

Tugen – O objetivo por enquanto é continuar lançando apenas as minhas tracks por lá e mais pra frente abrir para outros artistas poderem lançar suas músicas também. Além de uma label, estou com alguns projetos para expandir a marca que irei divulgar logo logo… No momento, continuarei lançando músicas pela Alterego Records, porém tenho em mente para futuros lançamentos gravadoras como Hub Records, Solid Grooves, Armada, La Zic Records, Knee Deep In Sound, Controversia e outras de diferentes estilos musicais.

B4B – ‘Tomorrow Bring Me Hope’ marca o fim de uma fase para você. Uma música que passa uma sensação tranquila, com a mensagem de um amanhã melhor. É assim que você enxerga essa transição?

Tugen – É exatamente assim que eu enxergo essa transição, pois foi uma fase de muito autoconhecimento e aprendizado. A partir de agora, começarei a lançar músicas que não sigam necessariamente um gênero musical ou um nicho específico, e sim tracks mais livres e, principalmente, focadas para a pista, mas mantendo a minha identidade nelas.

B4B – Já existe uma previsão para o lançamento que marca a nova fase de TUGEN? O que podemos esperar? Algum gênero será predominante ou você continuará navegando entre estilos?

Tugen – O próximo lançamento ainda não tem data marcada, mas com certeza está bem perto de acontecer. Pretendo lançar várias músicas esse ano ainda. Podem esperar um estilo mais dançante, groovado e com bastante ideias novas. Sobre estilo, continuarei navegando entre os gêneros que gosto mais gosto e escuto, e ao mesmo tempo usando elementos em comum entre as músicas.

B4B – Por fim, estamos chegando à metade do ano. O que o público pode esperar para os próximos meses? Quais são seus planos?

Tugen – Para os próximos meses o público pode esperar muita música boa, gigs e novos projetos bem legais que irei divulgar logo logo, como mencionei acima.

Siga Tugen no Instagram.

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Maz

Maz, o brasileiro que conquistou o mundo com os batuques do afro e do organic house, conversou com a gente sobre carreira, dawn patrol, coachella e inspirações.

Maz (Divulgação)

O carioca Maz tomou as pistas de todo o mundo quando o remix para “Banho de Folhas” de Luedji Luna explodiu com a ajuda do trio Keinemusik. Desde então Thomaz Prado tem dedicado boa parte de suas produções aos vocais em português, dos quais tinha até certo preconceito no início de sua carreira, mas que hoje virou peça-chave para emocionar gringos como Drake, em Saint Tropez ou até mesmo fazer um b2b recente com Black Coffee, no nordeste brasileiro neste início de 2024.

Prestes a desembarcar no Coachella, maior festival de música dos Estados Unidos, sendo o único brasileiro confirmado no line up deste ano, o DJ nos contou um pouco sobre seu início de carreira, preparativos para o festival e claro do Thomaz que é surfista e não vive sem o mar, presente na sua inspiração diária no estúdio.

 

 Beat for Beat: Lá no início da sua carreira você já tocou o tech house, depois você fez um deep, progressive e agora você tá no afro-house, como é que você encontrou o afro-house, como é que o batuque te encontrou no meio disso tudo, que fez dar tão certo?

Maz: Apesar de eu ter desenvolvido esse meu lado afro, percussivo, brasileiro, eu continuo tocando de tudo, saca? Não é porque, enfim, estamos lá vendendo muita música do gênero no beatport, que eu só produzo isso hoje em dia sabia. Esclarecendo, atualmente tem gente que pensa que eu por ter chego lá, só toco afro house, mas não é bem assim, me identifico muito com o gênero, a “Banho de Folhas” foi um marco pessoal e como produtor musical, ela me abriu um universo de possibilidades, porque antigamente tinha até certo preconceito com vocal em português e música eletrônica, achava que não combinavam e quando me permiti a fazer uma mistura de vocais nacionais com música eletrônica e nas tentativas de que se conversavam mais, era esse estilo mais orgânico, mais percussivo também e eu sempre gostei de afro-house também, é uma mistureba toda de que quando comecei a tocar, a galera toda entendia nada e outra galera ficava amarradona, mas, é isso, quando me permitir a tentar fazer uma coisa de diferente, com vocal em português deu certo e ainda abriu muita coisa para que eu possa explorar e sair da zona de conforto que tive antigamente.

Maz

Beat for Beat: Falando sobre prêmios, top 3 tracks top beatport , também top artist no beatport, 20 of 2024 da One World Radio do Tomorrowland, agora também teve o reconhecimento pelo 1001 tracklists, tem algum prêmio que você ainda mira?

Maz: Estou na cena desde 2015, comecei a estudar produção no fim de 2014 e comprei minhas paradas em 2015 e desde então entreguei tudo que eu tinha, todas as minhas energias e tempo na música. Sei lá, quase 8 anos depois, ver tudo acontecendo com minhas produções é muito gratificante, instiga né, é doido pensar que você via seus ídolos antigamente, frequentando os mesmos lugares que você está frequentando ou te contratando, fazendo questão da sua presença, é doideira e muito, muito gratificante mesmo. Quanto aos prêmios, o Grammy né, seria foda, vamos trabalhar para isso.

Maz b2b Antdot no Palco Core (Tomorrowland Brasil, 2023)

Beat for Beat: Seu b2b com o Antdot deu tão certo que se tornou uma label incrível e agora se tornando festa também. Como que nasceu a Dawn Patrol e como funcionam os trabalhos na gravadora? Vocês pensam em abrir para demos?

Maz: A gravadora criamos antes do Bruninho, criei como Fred e com o Gui, que também são meus managers, só que na época ainda não trabalhávamos juntos e estávamos pensando numa forma deles me ajudarem a lançar minhas tracks, porque eles tem a Braslive e eu não conseguia lançar minhas tracks direito e eu também não queria lançar em qualquer selo e aí tivemos a ideia de criar a Dawn Patrol justamente para eu ter essa liberdade de lançar o que quiser, quando quiser e eles já tinham todo o know how e então eles ficaram com essa técnica e eu entrei como A&R, como produtor e aí chegou o Bruninho, que sempre teve uma sinergia incrível comigo nas produções, nos sets e na vida e depois de um ano e pouco na gravadora ele integrou ao time e estamos testando bastante coisa nossa. No momento a Dawn Patrol ainda não está aberta a demos, porque temos que focar em toda a nossa carreira e também não queremos fazer algo que não seja significativo, mas quem sabe futuramente não podemos pensar nisso, muita gente me pede também.

Beat for Beat: Você acabou de ser confirmado no Coachella, maior festival de música dos estados unidos, tocando ao lado de grandes lendas e sendo o único DJ brasileiro a pisar por lá neste ano. Como você descobriu a notícia e como está a ansiedade?

Maz: Cara, eu estava na casa de um grande amigo meu, quando chegou um e-mail para mim, tive que sair do quarto, porque a galera estava conversando e li, reli o email, li umas três vezes e pensava comigo: Não é possível! Nossa meta era sei lá, 2025,2026, assim, só que acabou rolando antes, inexplicavelmente, não tenho muita ideia da magnitude do evento, sei um pouco, de longe, mas estou muito feliz!

 

Beat for Beat: Agora para finalizar uma pergunta mais pessoal. Você não se desgruda do mar, desde pequeno você tem o contato com surf e sempre foi um peixe. Como o mar te ajuda nas suas produções e composições em estúdio?

Maz: O Surf é a coisa que mais me inspira, de longe, de longe. O dia que eu pego boas ondas, eu vou para o estúdio e sei que o negócio vai fluir muito mais, sabe? Não é algo pensado, tipo “ah, quero transmitir a vibe do surf na música”, não é bem isso, mas é meio que como se fosse minha válvula de escape, que eu consigo me preencher de coisas boas para me esvaziar fazendo música. É uma relação quase que dependente, eu acho que eu não conseguiria viver num lugar que não tem onda, o meu nível de produtividade ia cair bastante!

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Mamba Negra no The Town

Representando a mamba negra, uma das maiores festas undergrounds de São Paulo, Paulete Lindacelva e Valentina Luz brilharam no New Dance Order do The Town.

Valentina Luz e Paulete Lindacelva no The Town (I Hate Flash, 2023)

Corpos livres, união, respeito, admiração à música e um transe absoluto do tempo coloquial. Se você já foi até uma Mamba Negra com certeza já sentiu todo esse impacto bem próximo do seu estado de êxtase. O selo foi homenageado no palco New Dance Order, do The Town, maior festival de música de São Paulo, trazendo para o encerramento de palco Paulete Lindacelva e Valentina Luz, duas representações da comunidade LGBTQIAPN+, que abraçaram a identidade da Mamba, após o acolhimento que tiveram, tão próximas de sua liberdade.

Valentina Luz tem um repertório que inclui house music, techno ou até funk nacional. Paulete Lindacelva completou nove anos de carreira como exímia pesquisadora dos sons essenciais da house music, techno e outras vertentes. Ambas se encontraram nos palcos e também deram uma palavra conosco, para celebrar seus anos de Mamba:

Mamba Negra Showcase no The Town (I Hate Flash, 2023)

Beat for Beat – Olá, meninas, tudo bem? Preciso comentar que ambas, tanto Valentina quanto Paulete, foram duas de nossas entrevistas mais acessada do nosso site e vocês são sempre queridas por nossos leitores. Para começar, gostaria de saber como é para vocês representarem uma festa tão importante como Mamba Negra aqui no The Town e como foi criar e transcrever esse convite em um set.

Paulete – Ah, eu acho que foi uma delícia, foi gostoso. Óbvio, é uma honra, tá? Dividir no palco, já falei isso inúmeras vezes, com a cabeça da mama negra, Valentina Luz, que foi considerada a melhor deles no ano de 2021. Então, óbvio, eu repetir isso sempre, é uma honra pra mim, é uma delícia, é um deleite. Tantos outros coletivos que passaram neste palco e foi uma curadoria muito respeitosa em ceder espaço para quem de fato constrói a noite de São Paulo, com a essência underground, que remonta as geografias afetivas dessa cidade e do que é a essência da música, de que é a sonoridade paulistana real.

Valentina – É sempre uma honra fazer parte desse coletivo tão rico e que cede tantas oportunidades e que hoje pode dar essa oportunidade para nós, que já tínhamos essa vontade de tocar juntas, então amei muito. Eu sempre admiro muito o trabalho da minha amiga Paulete Então, acho que a gente até acabou trocando sobre isso, sabe? Somos corpos livres e hoje o nosso set também traz uma troca entre nós que já existia, construindo uma narrativa sob um DJ set que só o nome da Mamba traz. Durante muito tempo achei difícil disso acontecer, eu não esperava, mas está acontecendo.

 

Beat for Beat – Nós também ficamos muito emocionados em ver vocês celebrando juntas. É muito representativo para nós LGTQIAPN+. E a base do DJ set, você chegaram a construir juntas ou será na raça?

Valentina – Acho que a gente já se conhece bem, a “lete” já toca bem mais tempo que eu, nós até já tocamos algumas vezes, mas nada oficial como agora sabe. Então sempre teve essa vontade. Eu acredito que podemos ter uma liberdade criativa nesse back to back. Lógico que a gente conversou, a gente até queria se encontrar, mas eu acho que é a energia da banda mesmo, sabe? Que a gente tem que trazer na hora do show. Eu realmente levo meu free style e sempre dá bom.

Paulete – Pra mim também funciona da mesma maneira. A gente, inclusive, se ligou, trocou mensagem pra saber quais eram as expectativas sobre a noite e tal, mas enfim, né? Quem sabe faz ao vivo. Bora ver.

 

Beat for Beat – A Mamba é uma das principais representantes da cena underground de São Paulo. Como vocês analisam, não só a Mamba, mas a cena como um todo, comparada a outras cenas locais do mundo?

Valentina – Das trocas que tive acho que o Brasil é sem dúvida, único. O público é único e nós sim somos a crista da onde, as nossas sonoridades ocupam espaços, são até meio cooptadas, também temos pluralidade a nível musical, não só no Brasil, mas como em outros países da América Latina. Temos grandes produtores, grandes DJs e temos grandes surpresas como a retomada da importância do funk 150 bpm e suas novas experiências. Enfim, o Brasil é singular e único neste contexto.

Paulete – São Paulo é incrível. Tenho passado os últimos meses viajando muito e voltar para casa é sempre tão bom. De um barzinho que você consegue tocar para no máximo 50 pessoas e que em minutos tudo se torna um acontecimento, com todos dançando. As pessoas dançam. As pessoas daqui estão interessadas em conhecer o novo e eu sinto que meu trabalho é reconhecido aqui. Sempre tive muito medo de sair de casa, mas hoje me sinto segura aqui e nosso papel, meu e da Valentina é se levar esse pedacinho daqui para o resto do mundo. Levar essa energia contagiante para outros locais.

Mamba Negra Showcase (I Hate Flash, 2023)

Beat for Beat – Para finalizar nossa conversa, eu acho que vocês duas já pegaram muuuuuitas mambas, mas quando a gente fala sobre aquele momento que vocês viveram na mamba negra, o que vem à cabeça?

Valentina – A melhor mamba da minha vida foi a mamba com Fango. Foi uma das minhas primeiras, assim e era uma festa mais intimista, enfim, perto do que está hoje, mas eu lembro que eu não conseguia acreditar, estava amanhecendo, as performances acontecendo, a galera perfeita!

Paulete – A minha, com muita dor no coração, foi a “água de chuca”, dezembro de 2018. Queimei meu celular, dancei muito, me acabei muito, não estava trabalhando, no fim eu peguei minha bolsa e o celular queimado, depois de tanta água, uma loucura, uma delícia, apoteótica diria. Uma hecatombe de amor, foi maravilhoso!

Beat for Beat – Muito obrigado pela entrevista meninas!

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Mau Mau e Etcetera no The Town

Mau Mau e Etecetera uniram-se a um tributo à house music paulistana no último dia de The Town. Confira nossa entrevista na íntegra.

Mau Mau e Etcetera no The Town (Por I Hate Flash, 2023)

A cena underground de São Paulo sempre se destacou mundialmente por sua familiarizada mistura de essências, classes, povos, raças e também de gerações. Não seria diferente na house music, pelo envolvimento de grandes artistas brasileiros desde sua criação. Na primeira edição do The Town, maior festival de música de São Paulo, o gênero foi reverenciado através do palco New Dance Order, recebendo em seu último duas pontas: Mau Mau, um dos pioneiros da house music do circuito underground de São Paulo e Etcetera, atual revelação do house music que já caminha pelos rumos de uma grande artista.

Mau Mau, com uma bagagem de exatos 36 anos de carreira, iniciou sua experiência na mixagem no Madame Satã, lendário club da cena paulistana que acoplava o melhor da música nos anos 80. De turnês mundiais, passando pelos principais países europeus e americanos, tocando nos maiores eventos dedicados ao house pelo planeta, Mau Mau fez a história para que a jovem Etcetera pudesse caminhar com seus brilhantes passos.

Etcetera despontou no underground brasileiro com uma pesquisa de House e Disco e nos looks fabulosos da sua arte drag. Seu extenso e respeitado repertório no gênero lhe cedeu espaço para gigs nas principais festas LGBTQIAPN+ na maior cidade do país, Tantsa, Cardume, Kevin, Tokka, apenas para citar algumas.

Conversamos com ambos sobre suas principais trocas em uma homenagem do festival à house music de São Paulo:

Mau Mau e Etcetera (Por I Hate Flash)

Beat for Beat – Primeiro, para começar, gostaríamos de saber como é que surgiu o convite e a oportunidade de tocar no The Town e fazer esse back-to-back incrível?

Mau Mau – Bom, no meu caso foi através da agência mesmo. Nós fazemos parte da mesma agência, que é a SmartBiz, e o Fernando Moreno, que é quem cuida da nossa agenda, me fez o convite, falou que tava pensando em fazer umas coisas diferentes e falou da Etcetera. que eu não conhecia, aí fui atrás pra pesquisar e conhecer.

Etcetera – Pra mim foi da mesma forma, pela agência, através do Fê. E foi uma surpresa muito boa ser um back-to-back com o Mau, acho que ficou muito legal, assim como, o encontro de gerações, ele representa tudo que eu quero carregar hoje junto, sempre acompanhei, então deixou tudo mais forte, mais impactante.

 

B4B – Vocês até citaram agora o encontro de gerações, vocês dois são mestres da discotecagem, curadores da house music, e são de gerações diferentes. E como é que foi esse encontro no b2b também? Vocês prepararam alguma coisa antes do set? Vocês vieram mais de uma forma mais leve, sem muito planejamento?

Mau Mau – Inicialmente a gente teve o encontro para conversar um pouco, discutir justamente isso, e na verdade a é música tão universal, tão globalizada, que não teve grandes problemas. Porque a gente já tinha uma noção de que, o que eu passei na reunião que a gente teve, que é um warm-up, as pessoas estão chegando na festa, então vamos fazer um som mais house, uma coisa mais para ir esquentando. Claro que depois a gente deu uma subidinha, porque já tinha mais pessoas,  mas foi bem tranquilo.

Etcetera – É, eu acho que inclusive o que mais a gente tentou combinar dentro de horários e tudo, foi o que não aconteceu. Foi muito no feeling dos dois. Eu amei que no nosso primeiro papo eu falei: “eu tenho mania de levar, três vezes mais em tempo o número de músicas do que daria pra tocar e ir se guiando” e ele faz da mesma forma, porque quando a gente se encontrou era pra entender se ele desenhava mais o set. Eu acho que isso facilitou, porque os dois seguem o feeling da pista e o que quer tocar, e foi maravilhoso, acho que saiu muito melhor do que se a gente tivesse planejado mais.

Mau Mau – É, eu sempre prefiro fazer set assim, vendo o que está acontecendo na hora e desenvolvendo.

Etcetera – Foi mara que ele me passou muito essa noção de lembrar: “Etcetera, a gente toca às três da tarde” porque senão eu já tinha chegado na bicuda.

Mau Mau – É, chegando lá, chutando tudo.  Foi só o briefing que eu fiz, porque como as pessoas estão chegando, acho que é melhor começar com uma coisa mais calma, tanto é que a primeira música que eu coloquei era um som quase ambiente, não tinha batidão, para, ir criando um clima e, de repente, a introdução chegar.

Etcetera – E um briefing desse jeito de Mau Mau, né? A gente segue (risos)

Mau Mau – E foi ótima a experiência, foi muito bacana.

Etcetera no The Town (I Hate Flash, 2023)

B4BAinda falando sobre essas duas gerações, vocês dois são da cena underground de São Paulo, que hoje é uma das maiores do mundo e está sendo homenageada nesse festival de uma forma linda, que é o palco NDO (New Dance Order). E como é que vocês analisam, tanto você, MauMau, que está há anos na cena, quanto você Etcetera, que está começando agora, como é que vocês fazem essa análise da cena underground paulistana?

Etcetera – Nossa, eu fico muito feliz de estar vivendo esse momento. Eu sempre falei, a minha paixão com house é muito do clássico, ali, 90. Tinha muito costume de falar que eu queria ter a idade de hoje ali em 95, 97. Mas pensar em tudo que eu consigo acessar hoje,  que muito provavelmente a minha forma não acessaria lá atrás, é muito incrível, porque, de fato, eu consigo ver a história do house concretizada em representatividade. Óbvio que é um caminho muito árduo a seguir ainda, a gente tem muito o que desconstruir nas pessoas e tudo mais, mas está incrível, sério. É muito maravilhoso você ver a diversidade presente em tudo, na pista, no palco, está muito foda.

Mau Mau – Quando eu comecei, era completamente diferente do que é hoje, em todos os sentidos, desde a pesquisa musical, a maneira de tocar, o equipamento, o comportamento das pessoas, os guetos, que antigamente eram muito mais guetos do que hoje. E essa revolução toda, todo esse momento que foi se transformando até chegar no que está hoje, e poder ter acompanhado isso, é muito interessante para mim, é uma experiência de vida incrível, para ver todo o procedimento, tudo o que aconteceu, e, de repente, a gente está no The Town. Depois de anos, a gente está aqui nesse festival gigante, já considerado um dos maiores de São Paulo, e fazer parte de tudo isso, depois de tanto tempo de profissão, para mim é super gratificante, porque você conseguir chegar em uma posição de destaque é difícil, mas você se manter nela é muito mais difícil. Então eu só tenho a agradecer, porque até hoje eu sempre trabalhei com o que gosto, e isso é um privilégio, não é qualquer um que pode trabalhar com o que gosta, acaba não sendo nem um trabalho, é uma diversão. E estar aqui do lado de um jovem talento que está começando, e a gente se introduz super bem, é isso, é a música, é a música que faz isso, é a união das pessoas, e é para isso que a gente toca, para unir, para juntar todo mundo.

B4B- Obrigado pela entrevista gente!

Mau Mau e Etcetera (I Hate Flash, 2023)
Categorias
Entrevista

Entrevistamos: BATEKOO no The Town

Uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+, a BATEKOO conversou com a gente no The Town.

Edição: Carlos Vinicius

A BATEKOO é uma plataforma de entretenimento, empreendedorismo e culturas negras, periféricas e LGBTI+ com foco nas juventudes urbanas. Muito além de uma festa, é um polo de conexão entre jovens inquietos, que buscam propor narrativas contra-hegemônicas e transformações sociais no cenário cultural brasileiro.

Foi durante mais um grande de feito do coletivo, sua apresentação no The Town, que conversamos com eles sobre a importância de corpos pretos ocuparem seus lugares que são de direito, em meio a cena musical eletrônica. Confira agora a entrevista:

Beat for Beat – Vamos falar um pouco sobre a história da BATEKOO. Vocês começaram lá na Bahia, em 2014 e de lá, foram para todo o Brasil. Como é para vocês, ocupar espaços que são seus por direito?

BATEKOO – Começar em Salvador pra gente foi algo bastante desafiador, porque é a cidade com o número de pessoas pretas fora da África, então percebemos uma desproporcionalidade muito grande de eventos, oportunidades de cultura e manifestações culturais voltadas a pessoas pretas e LGBTs pretas. Depois que a festa foi um sucesso em Salvador, percebemos que essa demanda, na real, não era algo exclusivo de Salvador.

Depois disso, a gente passou por São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Santos, e agora chegamos em Lisboa. Com isso, conseguimos perceber que existe uma comunidade que necessita de uma atenção e que a gente consegue, de alguma forma, também, pensar com a cabeça dessas pessoas e propor espaços onde nos sentimos confortável para sermos nós mesmos e colocar essas pessoas também em destaque tão grande quanto os nossos, e isso é importantíssimo.

Ficamos muito felizes de poder, de alguma forma, criar esse intercâmbio, essa conexão da pista com o palco, porque não é só sobre a gente que tá ali em cima do palco, é também sobre as pessoas pretas que estavam no The Town, por mais que tenha sido uma minoria muito pequena. Sentimos que é um caminho que estamos construindo que é irreversível e que, em breve a gente vai conseguir mudar ainda mais as estruturas para que a gente não seja mais exceções e minorias

B4B – Quando vamos falar de ocupar espaço precisamos também falar da questão da música preta  A house music nasceu preta, o funk nasceu preto, o hip hop nasceu preto, mas embranqueceram. Como é o processo de reeducar as pessoas musicalmente, mostrando o contexto histórico dessas músicas?

BATEKOO – Esse resgate é uma luta muito antiga, de outras pessoas que vieram muito antes de nós, esse resgate de que a maioria dos ritmos criados são pretos. Muitos são invisibilizados, mas acho que ultimamente, principalmente no Brasil, de teve um crescimento muito grande principalmente da ballroom e da cena de vogue, isso deu uma popularizada muito grande em ritmos eletrônicos de dance music então, o house, para as pessoas entenderem que é um ritmo preto feito para pessoas pretas, num espaço preto.

Hoje em dia a gente vai percebendo, mesmo que aos poucos, que tá rolando esse movimento, inclusive, de afirmação que funk é música eletrônica, porque é isso, é uma música feita digitalmente então é música eletrônica, querendo ou não. Ainda precisamos de algumas afirmações de espaços grandes como, por exemplo o The Town, criar um palco de música eletrônica e colocar vários DJs, vários artistas e performers de funk e com isso vamos percebendo esse avanço nessa luta que a gente e quem veio antes, está fazendo há muito tempo, esse reconhecimento.

Inclusive, estamos destacando isso em todas as entrevistas que fazemos. Achamos que o The Town se propôs a fazer uma curadoria sobre a noite de São Paulo e fez isso com muita excelência. Estamos ao lado de vários artistas que encontramos semanalmente na noite da cidade, na base de quem tá construindo a cena, o que é muito importante, mas que é muito pouco visto e o The Town se propôs a dar esse destaque pra essas pessoas e tá sendo incrível ver pessoas  que a gente sabe que tá moldando muito a cultura brasileira, que tá construindo e virando tendência. Moldando o comportamento brasileiro a partir da música, tocando em um festival gigantesco como esse.

Até porque com essa globalização, principalmente que o Brasil tem dessa mistura de vários ritmos, do funk, do vogue, do house, nós temos várias propostas, então hoje ter um palco com vários produtores que trazem além dessa tendência, mas essa afirmação e essa  imersão com esses vários ritmos é muito prazeroso. 

Achamos que eles puxaram também para essa afrodiáspora, porque todos esses ritmos  que a gente toca, que vive nessa nossa cultura, eles também vêm dessa afrodiáspora, desse local do corpo preto, ser retirado das suas terras, ser dissipado ao redor  do mundo e cada região  trazer uma musicalidade, uma sonoridade, mas que no fim  elas se transpassam. Se eu escuto um funk e um vogue beat, o bouncing ele vai vir de um mesmo lugar, assim como um afro e as coisas se transpassam e é muito lindo ver isso também. A BATEKOO conta isso, esses encontros de ritmos, de ancestralidade e no The Town contamos ainda mais.

B4B – Vamos falar também sobre o festival de vocês. Qual é a sensação de sair de festas pequenas, para o The Town e seu próprio festival na Neo Química Arena?

BATEKOO – Fizemos nosso primeiro festival no ano passado, em dezembro e agora estamos indo pro segundo, que vai ser dia 7 de outubro na Neo Química Arena. Temos artistas como Grupo Revelação, Liniker, Gaby Amarantos, Sampa Crew, Tasha & Tracie, Kyan, Mu54O, A Dama, Shevchenko & Elloco, entre outros. O festival significou pra gente, na nossa trajetória, um grande passo, um marco na nossa história, porque no começo a Batekoo fazia evento em São Paulo para 300 pessoas no Morfeus e agora, a gente fazer um festival  para 12 mil pessoas, estar aqui  também no The Town, um festival para 100 mil pessoas é muito incrível, é muito gratificante, todo mundo aqui sabe o corre que foi pra chegar até aqui. É difícil, é complicado, tem aqueles percalços no caminho mas a criatividade da juventude negra tem feito acontecer e está fazendo as coisas virarem, independente dos desafios.

Para completá-lo, nós somos um dos poucos festivais brasileiros proposto por pessoas pretas, e isso já é uma coisa muito incrível de se destacar. O nosso propósito no ano passado, que foi o nosso primeiro festival, que era algo muito novo também, era propor um festival que a gente não se visse apenas no palco, mas também na pista pensando num festival que fosse majoritariamente negro, esse ano a gente vem com o big bang dos pretos.

Mesmo depois de tudo isso, conseguimos transformar a nossa vingança em felicidade, pensando muito que às vezes celebrar, dançar, estar com os nossos é a melhor  maneira da gente se vingar do racismo e de todas as violências que a gente sofre no nosso dia-a-dia. É um momento muito importante, também falar do festival da BATEKOO porque pra gente é a realização de um sonho, e a realização também da criação de um espaço que a gente sente que não existe e que é muito importante nós, cabeças pretas, estejamos pensando nesses espaços propostos para pessoas pretas, onde sabemos do que a gente gosta, não é algo fácil de se decifrar, e a publicidade nunca vai conseguir chegar lá sem a gente.

B4B – Obrigado, galera, muito obrigado!

BATEKOO – Obrigado!

Os últimos ingressos para o Festival Batekoo estão disponíveis e você pode comprar o seu clicando aqui.

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Diogo Strausz no The Town

Produtor musical, compositor e multi-instrumentista, Diogo Strausz é um artista completo e conversou com a gente durante o The Town. 

Edição: Carlos Vinicius

Diogo Strausz é produtor musical, compositor e multi-instrumentista. Crescendo no Rio de Janeiro, desde cedo demonstrou um talento pródigo para a composição, e essa mesma paixão por criar música ainda hoje inspira Diogo como produtor musical e remixer. Dividindo-se entre o Brasil e a França, o artista possui um currículo impressionante e que agora, conta também com uma apresentação no The Town.

Conversamos com Diogo durante o festival e o artista nos falou sobre a conexão Brasil x França, sua relação com a tecnologia, sua musicalidade, artistas com quem trabalhou e muito mais. Confira agora nosso papo na íntegra.

Beat for Beat – Estávamos vendo umas entrevistas suas antigas, lá para 2015 e você não tinha nem smartphone, você falava que não curtia tecnologia. Agora em 2023, cerca de 8 anos depois, como está a sua relação com a tecnologia, principalmente quanto à sua música?

Diogo Strausz – Está em uma relação de busca por algo que é saudável, e que não faça com que eu não perca o meu eixo, com tanto estímulo, com tanta informação que mexe com a nossa ansiedade, que mexe com as nossas inseguranças, mexe com as nossas questões. Então é difícil você achar um equilíbrio entre uma relação em que você usa o smartphone, mas o smartphone não te usa, mas eu me rendi nesse sentido, porque a gente precisa de alguma maneira estar inserido, se comunicando, trocando com as pessoas, então a relação está sendo ponderada, é uma relação de ponderação.

B4B – Hoje em dia a gente sabe que muitos artistas prezam por uma identidade virtual, como TikTok e dancinhas virais. Como é que você vê isso para a sua carreira ou você não vê isso para a sua carreira? 

Diogo Strausz – Cara, eu vejo. Eu vejo, tento falar a verdade, falar sobre como foi a minha semana, sobre o que eu estou trabalhando. Eu tento não contar uma história de algo que não aconteceu. tento me apropriar da minha vida, da minha carreira, do meu dia a dia enquanto artista e contar isso, dividir para as pessoas e estar aberto para que elas também respondam e a gente comece uma conversa a partir daí, mas a partir da realidade e não da virtualidade ou dessa hiper virtualidade.

B4B – Você se divide entre Brasil e França, principalmente. Como é que você vê a diferença de públicos?

Diogo Strausz – Vejo o público do Brasil para um live de dance music, um público mais curioso pelo formato. É um público que naturalmente é mais festeiro, mais animado, mais performático. 

Vejo na França um público mais acostumado com esse formato, mas que fica mais deslumbrado e impressionado com a novidade da cultura brasileira que está inserida no live, com as congas, com o remix de ‘Deixa a Gira Girar’ de Os Tincoãs, que inclusive eles conhecem a música original toda, a galera é fã, curte e conhece. Com a estética da língua portuguesa, que como é um live de dance music, o objetivo é que as pessoas dancem, se conectem com a nossa cultura, com os seus corpos, entre elas próprias, então vejo essa como a principal diferença.

B4B – E de uma maneira musical, o que você tenta levar do Brasil para a França e o que você tenta trazer da França para o Brasil?

Diogo Strausz – Eu tento trazer do Brasil aquilo que é essencial nosso, então a nossa musicalidade, a nossa junção antropofágica e multicultural e que criou uma identidade que é nossa, e que é única, em ritmos, em claves. Uma coisa que vem do samba, do choro, do Ijexá, do axé music, de como a gente reinterpretou também outros ritmos e gêneros internacionais. Busco trazer isso, essa nossa essência. 

E tento, de alguma maneira, pegar de lá o frescor. É uma maneira que eu acho interessante que eles têm de enxergar tudo, que é até um olhar que é deles. Acho que lá eles tentam se apropriar e, ao tentar se apropriar, eles acabam adicionando algum frescor. E eu acho que nós, que somos os detentores da versão original, precisamos ter também o cuidado de trazer frescor para aquilo que é nosso essencialmente. Então eu tento pegar isso deles, direcionar um olhar fresco para algo que é essencialmente nosso e que a gente já tá acostumado.

B4B – Quando falamos de artistas brasileiros que você já trabalhou, temos a Alice Caymmi, Bala Desejo, a Júlia Mestre, que tocou com você no The Town. Como é introduzir toda essa galera dentro da sua musicalidade? 

Diogo Strausz – Quando você trabalha com mais pessoas é sempre uma relação de diálogo, de troca, de escuta, e aí depende de que posição que a gente tá, se é uma posição de produtor musical do disco da pessoa ou uma posição de mais serventia. Acho que enquanto artista a gente também sempre precisa estar numa posição de serventia, mas aí não só mais ao nosso colaborador, mas também a nós, a quem a gente imagina que vai ser a audiência daquele som.

Acredito que no fim é um jogo de conciliar tantas coisas e ao mesmo tempo se manter criativo, se manter conectado com as suas ideias e no final das contas encontrar um resultado que seja completamente novo, completamente inesperado do que você acreditava quando você começou o processo. Você começa sabendo que você não sabe nada e você termina muito orgulhoso de que algo saiu daquele encontro.

B4B – Com quem você quer trabalhar que você ainda não teve a oportunidade? 

Diogo Strausz – Cara, eu queria trabalhar muito com Gilberto Gil, porque pra mim é um artista que fez isso na época dele, da maneira dele, com a tipografia dele, ele tem esse olhar que é global, que é antropofágico e que ele soube relacionar o frescor global com a essência da nossa música. 

B4B – Falando de sonoridade, como é trazer tudo isso pra dentro da música eletrônica? Nós vivemos num mundo hoje que o melódico tá em alta, o funk também, tem gente misturando samba com música eletrônica. Estão cada vez mais conseguindo explorar a música eletrônica e a música brasileira juntas. Como é pra você tentar se manter original?

Diogo Strausz -Acredito que seja justamente isso, essa pluralidade que você descreveu é um desafio que motiva todo mundo. Eu acho que inclusive cada vez mais pessoas vão enxergar a dance music como uma plataforma de exploração musical da nossa cultura e como uma possível plataforma pra gente explicar nossa cultura mundo afora, isso é muito atrativo. Como a dance music ela traça limites muito claros em relação ao que é possível e o que não é.

Dance Music, por exemplo, tem dance e tem music. Começa daí já, né? Você precisa manter uma audiência dançando, precisa de pulso, precisa estabelecer um andamento claro, até para definir um pouco dentro de algum tipo de gênero. Os timbres que você usa vão definir que tipo de gênero você está trabalhando. E é legal esse tipo de limitação porque elas mostram, que, aqui tá o zero e aqui tá o um. Entre o zero e o um você tá livre pra você fazer tudo o que você quiser, e isso expande a sua mente. Expande a sua percepção do que é possível e do que não é. Porque, contanto que eu esteja entre aqui e entre ali, o céu é o limite, então vamos abraçar isso.

B4B – E você como pessoa, o que você consome de música? 

Diogo Strausz – Nossa, eu consumo jazz, funk soul, disco music. Engraçado, eu consumo pouca música eletrônica no meu dia a dia. 

Às vezes também gosto muito de quando eu estou produzindo para algum artista, deixar que esse artista proponha uma playlist pra eu entrar no universo dessa pessoa, e aí ele sugere coisas que eu não pensaria normalmente. Mas eu tento sempre escutar música que desafia o ouvinte de alguma forma, mas ao mesmo tempo que também não seja só sobre desafiar o ouvinte de uma forma egocêntrica do artista. Gosto de música que é generosa, que é inclusiva, mas que ela sabe ser inclusiva, e te dar um puxão, e te desafiar, e falar, ó, eu consegui fazer isso que você achava que sabia e eu consegui fazer de uma maneira nova. Te fazer pensar, como é que você fez isso? Que legal, quero saber também.

B4B – Falando agora sobre o The Town, como foi a preparação pro seu show, para uma estreia de um festival tão grande quanto esse? 

Diogo Strausz – Tivemos a participação da Julia Mestre no show, e isso por si só já propõe várias novidades. Eu introduzi no live o remix que eu fiz pra uma música do Bala Desejo, que é um projeto do qual ela faz parte, e a gente também preparou um remix especial da música ‘Meu Paraíso’, que é uma música que ela lançou no disco dela. Então temos duas músicas que foram preparadas especialmente pra participação dela, para esse palco e para essa primeira edição histórica do festival.

B4B – 2023 está na sua reta final, alguns artistas estão desacelerando, outros não. Como você está para esse final de 2023? E já pensando no começo de 2024, o que você tem preparado para pós The Town?

Diogo Strausz – Para pós The Town, eu tenho algumas outras datas no Brasil, temos shows agora no Sul, em Porto Alegre, em Florianópolis; Estou fechando mais algumas outras datas aqui, Sul, Sudeste e Nordeste, o que é ótimo, ver o live circulando, ver o interesse crescendo. Eu tenho alguns lançamentos, vou lançar o meu próximo EP pela Crack Records da França, chamado ‘Samba From Outer Space’, aproveitando que você falou que o samba é um assunto, e a próxima turnê Europa marcada para março, e por enquanto é isso, e coisas ainda por vir, coisas sendo fechadas. 

B4B -Muito obrigado, Diogo! 

Diogo Strausz – Imagina, obrigado a vocês!

Siga Diogo Strausz no Instagram.

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: L_cio no The Town

Após apresentar de forma brilhante seu álbum ‘Plants’ no The Town, L_cio recebeu nossa redação para um papo super descontraído. Confira.

Edição: Carlos Vinicius

L_cio é o homem da flauta transversal. Ele é instrumentista treinado e um performer ao vivo que também conhece seu caminho no estúdio. Com uma formação musical multifacetada, criar suas músicas com sintetizadores e outros meios de geração de som eletrônico foi mais uma questão de tempo do que de ambição.

Seu último álbum é, narrativamente, uma homenagem musical aos nossos maravilhosos parceiros neste planeta nas diversas fases de sua existência entre nós. Foi após apresentar seu álbum ‘Plants’ no The Town, que o artista conversou com a gente. Confira:

Beat for Beat – Sabemos que a flauta te acompanha há mais de 30 anos,  ,as se não fosse a flauta, tem algum outro instrumento que você também toca ou que têm alguma afinidade? O que você traria para o seu live se não fosse a flauta?

L_cio – Olha, a flauta é parte da minha história da infância, eu tocava na igreja, tocava com a minha mamãe, inclusive hoje foi especial tocar com ela. Mas eu fiz 10 anos de capoeira de angola, então eu imagino eu traria isso para a minha música. Acredito que se fosse um outro instrumento musical, seria o berimbau, por causa da capoeira. Inclusive fiz mestrado na área escolar e desenvolvi o método da capoeira na escola, faz bastante tempo, mas eu acho que seria o berimbau. E não deixa de ser uma possibilidade a gente fazer isso em breve, poderia ser bacana.

L_cio no The Town

B4B – Muita gente te coloca na “casinha” do techno, outras pessoas te colocam na “casinha” do house,  mas você não se coloca em “casinha”, você faz música boa.  Como é que você define o seu mood na hora de fazer música?

L_cio – Eu sempre tento fazer alguma coisa como se eu tivesse no espaço dos espectadores. Pra mim, que sempre fui clubber mesmo, eu senti e sinto muito que a música toca nas pessoas e eu tento transcender. Eu acho que a base pra mim é a questão da transcendência, então, esquecer por um momento, ou por um bom momento o nosso cotidiano. Esquecer que às vezes temos uma conta para pagar ou que tem algum problema familiar, ou esquecer que tá vivo e tá acabando. 

Eu acho que a música tem esse poder, então eu tento fazer isso com a música,  por isso que ela se torna tão genuína, autêntica. Ela não tenta realmente seguir uma coisa que seria mais mecânica ou de mercado. Mas também atende a isso, né? Espero que atenda porque eu vivo disso também.

B4B – E você também tem que pagar os boletos, né? (risos)

L_cio – Sim, sim, e tem bastante. Por isso que às vezes eu pego a música e esqueço dos boletos (risos).

B4B – Você falou da sua mãe e foi lindo você chamá-la mãe pro palco.  Qual foi a sensação de chamar sua mãe pro palco de um festival tão grande como o The Town?

L_cio – Foi uma coisa que eu nunca tinha feito na vida, então foram muitas coisas pela primeira vez na vida hoje.  Eu já tinha tocado com a minha mamãe, inclusive com orquestra, na Igreja Imaculada Conceição. Toquei com ela na Catedral da Sé, também.  mas hoje foi uma coisa muito diferente, que é uma composição dela, num espaço novo, com uma maturidade tanto minha quanto dela, de reconhecer esse processo tão bonito que depois de tantos anos foi se reencontram.

Acho que a última vez que a gente tocou junto, eu devia ser adolescente, com 14 ou 15 anos, e agora eu tô com 46, então é uma volta grande, mas que dá num lugar tão bonito como esse. Realmente foi emocionante. Fazia tempo que eu não chorava assim, por fora eu dei uma leve chorada, mas uma grande chorada por dentro.  Foi muito gostoso.

B4B – Nós ouvimos Florescimento durante seu show, que é o single atual do seu próximo álbum, ‘Plants’.  Como foi para você tocar o single e o álbum para a audiência do The Town?

L_cio – Assim como o primeiro álbum, eu acho que é um momento de expressão de um processo.  Depois do meu álbum foi 2018, tivemos 2019 e logo em seguida uma pandemia, que foi um processo onde todo mundo sofreu muito, e pra mim foi muito sofrido, onde eu quis desaguar em alguma coisa que fosse uma homenagem,  algo que sobreviveu assim como a gente, que são as plantas, que estão aí ainda e que a gente teima a lidar de uma forma desigual com elas.  

E pra mim também foi a possibilidade de me relacionar com pessoas que eu já tinha uma relação antiga ou intensa,  como a minha companheira Lina, minha mamãe, o Bica, que foi companheiro meu de Teto Preto, o Novíssimo Edgar, que é um querido, o Jon Dixon, que eu entreguei um pendrive pra ele em 2011 e em 2021 ele me aparece. 

É uma realização, e isso reflete nas pessoas que escutam, e pra mim é muito legal porque no show eu tive uma audiência que eu nem esperava,  que é uma audiência mesmo de som e não só de pista.  Eu espero que as pessoas que gostam do meu trabalho também se deleitem com esse álbum em casa ou mostrando pra toda família e amigos.  porque são músicas super bonitas e que eu acho que as pessoas podem gostar, que é o mais importante.

B4B – E quando a gente fala de audiência, The Town é um público completamente contrário ao que você está habituado a se apresentar. Você é residente da Capslock, por exemplo, além de ser uma figura super presente na cena underground. Como é preparar um show para um público que às vezes nem sabe quem é você?

L_cio – Exato, eu tive uma grande vantagem que foi de ter o planejamento desse álbum  pautado num show de estreia, e que felizmente casou o lançamento com o The Town, então foi uma preparação em que eu estava, obviamente, muito ansioso de apresentar o trabalho num festival em que tivemos, Maroon 5, Maria Rita, Ludmilla, entre outros. E eu também fico feliz pela realização de um álbum  que contemple diferentes sonoridades, não ficou só uma música que a gente costuma ouvir nessas festas que você citou,  mas também teve o hip hop, teve o funk, teve a música ambiente.  Eu fiquei muito contente mesmo, tô muito feliz pela realização desse show.

B4B – E claro que a gente tem um álbum que está por vir e 2023 ainda tá na reta final.  O que o L_cio nos prepara pros próximos meses?

L_cio – Bom, pros próximos meses tem alguns lançamentos além do álbum.  Deve sair um lançamento com o Robert Owens, que é uma lenda do house, um cantor impressionante, que tem uma música também com o Paulo Tessuto nesse EP.  Temos também muitas festas bacanas, como a própria Capslock, então fiquem atentos.

Então eu vou conseguir rodar bastante, e se preparem que o ano que vem esse show  estará em alguns festivais, espero eu, depois dessa realização tão bonita aqui.

B4B – Obrigado, L_cio.

L_cio – Obrigado!

Siga L_cio no Instagram.

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Kevin Saunderson no The Town

Kevin Saunderson nos mostra que todo o tempo que existe é precioso, ainda mais na house music. Leia a nossa entrevista no The Town.

Kevin Saunderson no The Town (I Hate Flash, 2023)

Todo gênero musical teve sua fase embrionária no mundo, seja a música clássica, criada reis e rainhas por volta dos anos 1500, seja pelo emblemático rock, que já se familiarizavam com a guitarra nos anos 40 e revelando artistas como Elvis Presley, B.B. King e Johnny Cash e Bob Dylan, até mesmo a house music, criada a partir de um movimento que invadia Chicago na década de 80 e que ganhava o apoio de potentes artistas como Frankie Knuckles, Marshal Jefferson e Kevin Saunderson.

O produtor ficou mundialmente famoso ao criar o grupo Inner City, que com sucessos como “Big Fun” e “Good Life” levou o house music e o techno de detroit para lugares inimagináveis a partir de 1994. Kevin se transformou de um artista emergente de um reduto marginalizado em uma das cidades mais industriais dos Estados Unidos, em um dos mais requisitados artistas underground da house music.

Desde o retorno do Inner City, apresentando seu filho, Dantiez Saunderson e a nova vocalista Steffanie Christi’an, Kevin atualizou seu feeling de pista e nos mostrou presencialmente no The Town, maior festival de música de São Paulo, porque a house music nunca pode nos abandonar. Leia nossa entrevista na íntegra:

B4B: Você é um dos pioneiros da house music desde 1994, desde a criação do Inner City até agora. Como você analisa a mudança no mundo daquele tempo até os dias atuais?

Kevin Saunderson: Musicalmente, com o passar do tempo, a visão era fazer as pessoas dançarem ao redor do mundo e fazer algo novo com o qual todos pudessem se conectar. Então essa foi a minha inspiração para espalhar meu talento pelo planeta. E aqui estamos, anos mais tarde e ainda continuamos fortes, assim como no começo.

B4B: Desde o tão aguardado retorno de Inner City, você tem trabalhado com seu filho Dantiez. Como é a relação entre pai e filho no trabalho? Vocês conseguem ter essa divisão entre ser família e colegas de trabalho?

Kevin Saunderson: Olha, temos um ótimo relacionamento. Quero dizer que ele já é um adulto, então não é tipo de relação que é necessário alguma imposição, ele não é mais muito jovem, tem 30 anos. Meu filho ama música, ele tem muita paixão e isso me ajuda, nos ajudamos na verdade. Temos uma conexão muito boa. Às vezes estou viajando pelo mundo como DJ e ele fica em casa, dou uma ideia e ele começa a trabalhar nela, então somos um bom time e isso é ótimo!

B4B: Ainda sobre a volta do Inner City, como você encontrou Steffanie e quais foram os critérios para integrá-la ao grupo?

Kevin Saunderson: Bem, o que aconteceu é que Dantiez e eu começamos a trabalhar juntos em uma faixa. E então pensei em comemorar o aniversário de 30 anos do grupo em um festival de Detroit e precisávamos de um cantor. Um amigo meu me apresentou a Stef, fiz um teste com ela e ela nos surpreendeu e ficou com a vaga. Depois disso, quando a vi pessoalmente se apresentando no palco, desenvolvemos um relacionamento ainda maior, principalmente para trabalharmos em apresentações ao vivo. Ela é muito talentosa, tem muito movimento e é excepcional.

Steffanie Christi’an no The Town (I Hate Flash, 2023)

B4B: Precisamos falar sobre o seu novo single, “Heavy”, que foi lançado recentemente. Com foi retornar aos lançamentos após o álbum de reestreia e como foi esse processo produtivo da nova faixa?

Kevin Saunderson: Realmente, temos um novo single lançado nesta última semana, chamado “Heavy”. É a mesma sensação de quando fizemos o álbum, foi apenas criar uma faixa que gostamos. O álbum veio em um momento pré-pandemia, Dantiez trabalhou muito no disco, Steffanie fez a maioria das músicas e tivemos outro cantor de Detroit fazendo a segunda voz, chamado Zebra. Mas sabe, estava apenas tentando voltar a fazer música e quanto ao futuro, agora temos um novo single, lançaremos outro single e continuamos a fazer música.

B4B: Por fim, que mensagem um dos padrinhos da house music deixa para os artistas que estão começando a carreira como produtores?

Kevin Saunderson: Você tem que perseguir sua paixão, seu sonho e você só precisa continuar assim, sempre. Todos nós temos um caminho diferente na vida, todos nós queremos coisas diferentes na vida, mas sabe, se você ama o que faz, continue assim, continue trabalhando duro e não deixe ninguém dizer que você não consegue.

B4B: Muito, muito obrigado Kevin!

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Kenya20hz no The Town

Apresentando seu projeto Chaos Sonora, Kenya20hz conversou conosco sobre seu início de carreira, análise ao cenário underground brasileiro e próximos passos de sua carreira. Leia na íntegra.

Kenya20hz no The Town (por I Hate Flash, 2023)

Quando falarmos sobre Kenya20hz, podemos encontrar qualquer sinônimo de artista. DJ, produtora musica, redatora, apresentadora e investigadora cultural, natural do Rio de Janeiro, Kenya iniciou sua carreira na Red Bull Music Academy e com sua sonoridade plural, atingiu diversas pistas no Brasil e no mundo todo. Figura presente nas maiores festas undergrounds de São Paulo, incluindo selos Gop Tun, Selvagem, Mamba Negra, Carlos Capslock e Cardume, Kenya atingiu sua melhor fase sem sua carreira, ao apresentar o projeto Chaos Sonora, no palco New Dance Order do The Town, maior festival de música de São Paulo.

Kenya retornou da Europa com uma bagagem expressiva em outras cenas underground, passando pelo Time Warp Brasil, Love Family Park, na Alemanha e também shows por outras capitais, como Londres. A carioca é símbolo de representatividade das mulheres pretas, na cena eletrônica brasileira, que sob resistência, ganha cada dia mais espaço em grandes palcos por nosso país. Leia a entrevista completa que fizemos com Kenya20hz no The Town:

 

Beat for Beat: Kenya, primeiramente é um prazer falar com você. Somos seus fãs, já vimos diversos de seus sets, em vários eventos espalhados por São Paulo e sabemos de toda a importância do seu trabalho para o circuito underground brasileiro. Para começar, sua carreira iniciou lá em meados de 2015,2016. Como aconteceu e quais foram suas principais influências, o que você levou daquela época até hoje?

Kenya20hz: Minhas principais influências na música eletrônica começaram quando saí do Rio de Janeiro e muito morar em Brasília, que tem uma cena underground muito sólida, mesmo que não tão grande. Ia para muitos festivais de dark psy, de hi-tech e aí eu pude conhecer tecnologias, gêneros e estilos que não conhecia no Rio. Passei a investigar mais sobre esses gênero e aí somando a isso, na época, havia uma crescente da cena dubstep na faculdade, onde eu estudava tinham várias festas clandestinas de dubstep e eu frequentava. Foi rápido para eu baixar o Virtual DJ, por mais clicê que pareça e seu sempre tive a curiosidade. Escutar uma música, ver um DJ tocando que nunca ouvi. Eu não sou o tipo de pessoa que pega o Shazam para saber que música é, eu gosto de pesquisar, encontrar caminhos que me levem até aquela sonoridade e nestes caminhos encontrar novas músicas, novos gêneros e subgêneros, se você for cavando a música eletrônica, você vai descobrir gêneros desconhecidos para a maioria das pessoas.

 

B4B: E quanto a Red Bull Music Academy? Como surgiu a ideia de se inscrever?

Kenya20hz: Eu estava curiosa e interessada em coisas que eu não sabia que iria encontrar na faculdade. E aí, somado a isso, o destino me fez passar numa residência na Red Bull Music Academy, então saí de Brasília e fui pro Rio de Janeiro, deixei a faculdade e comecei a estudar música integralmente e minha pesquisa sempre foi muito aceita por meus colegas e não só por eles, mas só por eles. Saí da baixada fluminense para Tocar num Time Warp, para tocar num Love Family Park Festival…

 

B4B: Você já passou nos principais festivais e festas underground do país. Praticamente a maioria, como você analisa a cena undeground hoje?

Kenya20hz: Temos uma magia muito forte na nossa cena sabia? Eu tive a oportunidade de ir pela primeira vez agora pra Europa e senti algo novo para mim, era minha primeira vez lá. Conheci cinco países diferentes e pude ver rapidamente a cena de cada lugar e suas particularidades. Em Londres você tem mais Garage, Dubstep, em Berlim você tem mais techno, mas o Brasil é diferente de tudo isso e o público ajuda muito na nossa cena, são tanto formatos de se pensar, que isso foi agregado na nossa cena. Se você for em uma festa como a Mamba Negra, você consegue sentir do primeiro ao último slot, várias sonoridades. E não digo só de São Paulo, cada capital diferente tem sua microcena, seu público que deixa tudo diferente e o que eu acho que falta ultimamente é mídia para registrar tudo o que está acontecendo, em seus determinados lugares de origem, a gente ia ver o quanto o Brasil é rico, especialmente a música eletrônica, a música contemporânea que o Brasil produz.

 

B4B: Falando um pouco sobre o Chaos Sonora, esse projeto lindo que você trouxe especialmente ao The Town, como surgiu o convite e a oportunidade de trabalhar com a Dharma Jhaz, cantora, rapper e performer sonora e o Bica, trombonista e percussionista?

Kenya20hz: Então, quando esse convite chegou para mim,  uma das propostas que me fizeram  era participar dessa programação,  mas trazendo algo totalmente inédito.  E aí eu falei,  tá, o que é que a gente vai fazer? E eu sou uma apreciadora de música instrumental. Eu amo música instrumental, não importa o gênero, queria muito poder agregar o trabalho de um instrumentista para o meu som. E logo que comecei a planejar isso, eu fiz o convite para o Bica que já conhecia o trabalho dele através da Teto Preto e a Dharma Jazz é uma figura que está sempre aqui em São Paulo. Ela é de Curitiba,  mas está sempre aqui em São Paulo, fazendo alguns shows e tal e deixei claro que estava com uma ideia maluca e o The Town e o New Dance Order adorou a ideia. E hoje eu pude experimentar, né?  Eu pude ver em primeira mão ali, que esse experimento deu muito certo. Eu quis colocar o DJ como um regente, mas não só de instrumentos analógicos, mas de uma plataforma digital e deu super certo. Fiquei muito feliz, espero expandir o Chaos Sonora para outros tipos de formato, com outros artistas e outros instrumentistas também.

Bica, instrumentista do projeto Chaos Sonora, no The Town (Por I Hate Flash, 2023)

B4B: Para finalizar, o que podemos esperar da Kenya20hz até o fim de 2023? Sabemos que você vai tocar no Tomorrowland.

Kenya20hz: Eu estou muito feliz por isso,  então esperem,  essa apresentação vai ser muito especial. Eu vou explorar muito da minha autoralidade . Eu trouxe algumas músicas minhas hoje para cá,  mas eu espero no Tomorrowland estar trazendo bem mais.  Sempre trazendo curadoria e autoralidade.  Para até o final do ano,  a gente vai viajar de novo para a Europa, então tem show em terras estrangeiras,  estou muito feliz sobre isso. E a gente está avançando,  arrumando lançamentos muito importantes e quero que vocês estejam cobrindo tudo isso também.

Chaos Sonora no The Town, 2023 (Por I Hate Flash)

B4B: Com certeza, por favor. Muito obrigado por esta entrevista maravilhosa Kenya. Mande um beijo para todos nossos leitores do B4B.

Kenya20hz: Um beijo para a galera do Beat for Beat.  Espero que vocês possam assistir o meu show, em vários tipos de oportunidades. Fico muito feliz em poder fazer o som que eu faço. Espero poder alcançar todos vocês. Até breve.

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Deekapz x VHOOR no The Town

Amigos de longa data, Deekapz e VHOOR uniram forças para transformar o New Dance Order no The Town num verdadeiro baile.

Foto: Bel

Deekapz é um duo de produtores do interior de São Paulo que busca combinar influências do global bass, com o background dos beats de funk brasileiros. VHOOR é um dos beatmakers mais originais do Brasil, misturando música eletrônica com elementos do funk e percussão afro-latina.

Os artistas, que fizeram um set original no The Town, que foi do baile funk ao trap, conversaram com a nossa redação. Confira agora nossa entrevista:

Beat for Beat – Olá pessoal, tudo bem? Para começar, é importante falarmos sobre a presença preta em festivais e eventos diversos. Como foi para vocês, tocar no primeiro dia de The Town, onde o New Dance Order foi totalmente tomado pela música preta?

Deekpaz x VHOOR – Pra gente é muito foda participar disso, principalmente por ser o primeiro The Town. É muito gratificante fazer isso, mas também, temos que lembrar de que precisamos de mais espaços assim nos festivais, de mais presença preta.

É importante pois para muita gente que estará ali, na pista, curtindo a experiência, nos seremos referências, poderão se espalhar na gente. As pessoas verão que elas podem e devem ocupar espaços, ter essa consciência. Queremos ser propagadores de ideias, influenciadores da música eletrônica popular brasileira,  periférica brasileira. É muito gratificante, mesmo, sermos essas pessoas e fazermos parte do New Dance Order.b4b

B4B – Seguindo essa ideia de propagar ideias, vocês também educam o público, afinal, é importante resgatar as raízes da música, pois muitos gêneros foram embranquecendo. Vocês acham que agem como educadores musicais?

Deekpaz x VHOOR – Eu acho que esse é o papel do DJ.  Nosso papel é realmente tocar, fazer essa cadência entre o que o público quer ouvir e o que a gente realmente quer que eles escutem. O DJ tem que ter essa ciência, ele tem que ter essa consciência que a gente tem esse papel de redisciplinar a pista.

É nesse momento que a gente usa o nosso espaço para tocar as músicas dos nossos amigos da periferia, tá ligado? Da onde a gente veio também,  influenciando outros artistas também, espalhando a palavra.

B4B – Agora falando de uma forma individual com cada um de vocês, Vhoor, você acabou de lançar o Maré, o EP. Como foi a construção do material?

VHOOR – O Maré foi muito importante pra mim,  porque ele fala um pouco sobre o outro lado meu,  que é de uma pessoa que mora em Minas Gerais e que tem esse aspecto interiorano, com a família de uma cidade no interior.  Então a gente acaba tendo essa vivência que é um pouco mais devagar,  de contar com a natureza.  O Maré também parte por poder falar um pouco sobre esse lado da minha vida.

B4B – Deekapz, vocês acabaram de fazer a segunda edição  do Deekapz Experience aqui em São Paulo. Como foi essa noite, que é tão especial para vocês?

Deekapz – Foi muito foda, principalmente por termos conseguido apresentar sets individuais nossos. Foi uma forma de nos aproximarmos ainda mais do nosso público, mas o Deekapz Experience é realmente uma experiência, como o próprio nome diz, onde a gente sempre traz um convidado.

Na primeira edição, o nosso convidado foi o Vhoor, coincidentemente. A ideia é realmente propagar essa comunidade do SoundCloud, a comunidade da música eletrônica underground, divulgando nossa sonoridade, espalhando a palavra, para então os grandes festivais, tour internacional. É muito louco isso,  pensar que nós estávamos, há 10 anos atrás, no nosso quarto,  produzindo, pensando no futuro e hoje, temos nossa própria experiência.

B4B – Falando sobre o The Town, como foi a construção para a apresentação de vocês?

Deekpaz x VHOOR – Tivemos bastante ensaio. A gente conversa há muito tempo, somos produtores que se conhecem há bastante tempo e isso facilitou um pouco o processo. Além dos ensaios, das conversas, sempre tem também o processo de sentir,  ler a pista e ver o que o público quer ouvir, junto com  as coisas que a gente queria apresentar e nós fizemos isso.

foto: Bel

B4B – A chuva não atrapalhou?

Deekpaz x VHOOR – A chuva foi praticamente um desafio, mas foi muito legal ver que o público continuou ali com a gente, até o final. É muito bom ver que dois projetos que estão em ascensão, poderem contar com a presença do público até durante um empecilho.

Nós conseguimos ressignificar a música eletrônica, trazendo o funk, miami bass, até no fim do set já partimos pra um funkão mesmo, mandelão, música de amigos, fazendo um verdadeiro baile. Muita gente que estava na pista, nunca teve a oportunidade de frequentar um baile de favela, de ir na comunidade e não sabem quais são as músicas que movimentam essa cena e não trouxemos isso, até debaixo de chuva.

B4B – Aproveitando que 2023 vai entrar na reta final, o que vocês têm preparado para o final deste ano?

Deekapz – Nós estamos trabalhando no nosso próximo disco, que deve sair ano que vem, não queremos prolongar tanto assim esse lançamento, já faz muito tempo desde nosso último álbum.

VHOOR – Eu estou finalizando alguns projetinhos, mais músicas, mais trampo. Fiquem ligados!

Vejam nossa cobertura do The Town no Instagram.

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: Klean e kLap no The Town

De competidores em uma mesma batalha para o palco do The Town, conversamos com os talentosos Klean e kLap, atrações do New Dance Order.

Klean vs kLap | Foto: Padilha

DJ e produtor desde os 15 anos, kLap é um nome importante da cena bass music. Ele se destaca por misturar músicas eletrônicas de todo o mundo com a música brasileira. Klean, o DJ de apenas 21 anos que ganhou destaque internacional após seu remix ser apresentado por Rihanna no Super Bowl de 2023. Juntos, entregaram um set autoral de muito funk, house, afrobeat e todas as vertentes da bass music no The Town, onde conversaram com nosso time. Confira:

Beat for Beat – Vocês foram concorrentes da competição de beats organizada pelo Tropkillaz, onde empataram em primeiro lugar e hoje, estão trabalhando juntos no palco do The Town. Como foi o processo da evolução de competidores para amigos?

kLap – Na verdade, nunca existiu uma concorrência de fato. No nosso cenário, a gente  sempre vê o outro como um amigo, pois faz a mesma coisa que nós fazemos. Independente de quem ganhasse aquela competição, por exemplo, um ficaria feliz pelo outro. A conquista dos outros é uma conquista minha e esse sentimento é compartilhado. Mesmo que só um de nós estivéssemos aqui no The Town hoje, o sentimento de orgulho seria igual, mas justamente pelo fato de estarmos juntos aqui, transforma esse momento em algo mais especial ainda. Se estamos juntos, é pelo fato dessa mistura doida funcionar.

Klean – Na época da competição nós não nos conhecíamos ainda, mas como isso aconteceu durante a pandemia, isso fez com que nos aproximassemos ainda mais. Como ficávamos trancados em casa, produzindo sem parar, nos aproximamos bastante de forma online. Foi nesse meio tempo que começamos a trabalhar juntos, criar remixes juntos até que chegamos até aqui no palco do The Town.

B4B – E quando vocês falam de mistura, vocês são de cenas diferentes. Klean vem da Bahia, enquanto o kLap é de Brasília. Como é unificar dois cenários completamente opostos em uma coisa só?

kLap – Fazer isso é mostrar que a música eletrônica é diversa e possui várias possibilidades. Mesmo o Klean vindo da Bahia e eu do DF, duas cidades que não são tão vistas como polo da dance music, trazer essa mistura é conseguir mostrar que a música pode ser vista de várias maneiras.

Klean – Nós participamos de um nicho em comum no Soundcloud, onde nossos sons combinam muito e independente de estarmos em cidades tão diferentes, a nossa pegada sonora é muito parecida, o que torna esse processo de junção ainda mais fácil. Vocês puderam ouvir no nosso set que nosso som casa muito bem, inclusive tenho o próprio kLap como uma das minhas principais referências hoje.

B4B – Falando então da sonoridade, vocês trazem uma música eletrônica que tem bastante influência do Funk e do Trap, que mesmo sendo géneros de música eletrônica, não são tão consumidos pelo público clubber. O que vocês fazem para transmitir a mensagem de vocês para todos os públicos?

kLap – A grande questão aqui é que as pessoas ainda não veem o Funk como música eletrônica, mas sim, ele faz parte desse cenário. Nossa mistura bem para justamente mostrar que o funk, a música baiana, africana, a house… tudo faz parte da música eletrônica e essa diversidade de cultura, de gêneros, traz ainda mais possibilidades. É divertido poder ser diferente.

Klean – Eu digo que nossos sets podem ser uma porta de entrada para muita gente que ou não conhece a música eletrônica ou só consome o que é comercial, para que possam ver que existem muitas outras opções. Quando o público menos esperar, vamos misturar funk com trap e com house, tudo unificado de forma perfeita.

B4B – Agora vamos falar individualmente. kLap, você acabou de lançar um álbum, o ‘Mlk Nervoso’. Como é para você lançar um álbum completo?

kLap – Cara, ainda to tentando processar que lancei um álbum (risos). Eu passei muito tempo trabalhando para criar o material que vocês podem ouvir nas plataformas digitais e ver ele nas pistas, as pessoas ouvindo, é algo extremamente gratificante, ver como as pessoas se identificam com o trabalho.

Hoje em dia eu consigo ainda mais a importância de um artista lançar um álbum. É uma experiência incrível e vale muito a pena lançar um.

B4B – Klean, precisamos falar sobre Rihanna. Como você se sente ao ver seu remix de ‘Rude Boy’ sendo tocado no Super Bowl?

Klean – Isso tudo foi uma loucura. O remix foi criado há cerca de 3 anos atrás, postado nas redes sociais sem pretensão nenhuma de que chegasse até a cantora, eu queria só mostrar meu processo criativo. Três anos depois, a equipe da Rihanna conheceu o remix, me contataram e me pediram para usar a versão.

Até então eu não sabia onde o remix seria usado, mas eu especulava que fosse para o Super Bowl, já que ela estava confirmada. Assistir aquele show com o coração na mão, sem saber se iria acontecer ou não, até que o mundo todo ouviu e no final, deu tudo certo. Muita coisa aconteceu de lá pra cá.

B4B – Muita coisa aconteceu para ambos, até que chegamos ao The Town. Como foi a preparação para esse show? Como vocês estão se sentindo após essa apresentação?

kLap – O coração estava a mil. A ficha só caiu quando finalmente subimos no palco. Nós passamos muito tempo preparando esse show, querendo mostrar algo onde nós dois conseguíssemos nos identificar da mesma maneira. Nosso som combina muito e tentamos trazer uma proposta como se fosse uma batalha de DJs. Foi algo bem único e especial.

Klean – Nós pensamos em algo que funcionasse de algumas formas, seja nós dois de fato juntos, outras partes mais com a minha sonoridade, outras com a do kLap. Pensamos em algo que trouxesse uma estética um pouco diferente dos sets convencionais e que no fim, deu muito certo. Foi uma loucura.

Siga kLap no Instagram aqui e Klean aqui.

Categorias
Entrevista

Entrevistamos: ZOMERO

De residência em festas digitais a uma gig no Warung, o Templo da música eletrônica. Hoje, conversamos com o DJ e Produtor ZOMERO. Confira!

Foto: Fernando Sigma

Ele começou sua carreira em meio ao caos da pandemia, foi residente de festas digitais, participou do Warung School, tocou no Templo da música eletrônica, além de já ter transitado entre diversos gêneros musicais, até encontrar o seu. ZOMERO é um daqueles artistas que traz em sua essência, a vontade de vencer, sem deixar de lado seu orgulho, que ele traz para mais uma entrevista especial do Pride Month. Entrevistamos: ZOMERO

Beat for Beat – Obrigado por conversar com a gente! Você é um arquiteto que em 2019, realizou seu sonho de 20 anos. O que causou essa mudança de chave depois de tanto tempo? O que impedia que o ZOMERO de surgir?

ZOMERO – Primeiramente, eu quem agradeço o convite ! Acredito que um pouco de auto-confiança/conhecimento, e pessoas próximas apoiando uma mudança grande na vida. Em 2019 comecei um novo ciclo que queria tudo novo para minha vida e isso incluía começar uma carreira de DJ que sempre tinha imaginado. Naquele momento, por mais que eu frequentasse diversas festas e festivais, eu mal sabia as nuances do mercado musical. Hoje tenho diversas pessoas ao meu lado me apoiando e a cada dia aprendendo e trabalhando para a cena.

B4B – Você fala sobre um sonho antigo. Lembra como esse sonho começou? Quais suas primeiras lembranças quando falamos de música eletrônica?

ZOMERO – Por volta dos ano 2000, assim que entrei no colégio comecei a ouvir música eletrônica. Na época o que tocava na rádio e em diversos lugares eram as músicas – DJ Sammy – ‘Heaven’, Gigi D´Agostini – ‘L’Amour Toujours’, Square Heads – ‘Happy’, e Lasgo. Já dá para entender qual era o cenário na epóca. A partir deste ponto, comecei a ouvir muito mais, incluindo na faculdade, a partir de 2003, onde também um pouco do Drum’n’Bass já fazia parte da cena brasileira. Lembro dos festivais “Skol Beats” no Anhembi, e hoje conheço diversos daqueles DJs que se apresentaram, que na época eram desconhecidos para mim. Fico feliz de saber que a maioria continua com uma carreria sólida e que já troquei ideias com alguns deles.

 B4B – Você também é um artista que viu o começo da carreira afetado pela pandemia? Como foi para você, tentar reconhecimento num momento em que as pistas estavam fechadas? Quais foram suas táticas usadas durante a pandemia, para ter seu nome conhecido?

Durante a pandemia aproveitei o isolamento, e a falta de projetos de arquitetura, para focar na carreira. Transmiti diversas lives na Twitch, onde conheci diversos artistas e amigos, aprendi muito sobre tecnologia, pesquisa musical e sem dúvida me ajudou na desenvoltura em apresentações. Ganhei residência em festas digitais do Núcleo Big Fish do Ilan Kriger e promovia entrevistas e apresentações de outros DJs pela Cultura Cosmo. Neste momento também ingressei em cursos de Planejamento e Marketing pela Boreal Agency e também no Warung School onde consegui profissionalizar minha carreira.

B4B –  Suas produções transitam entre alguns gêneros. Você já lançou deep house e nu disco, house e tech house, assim como melodic house. Como é o seu processo criativo na hora de produzir e como determina que estilo irá seguir no próximo single? Como isso se reflete em seus djs set?

As produções transitaram entre gêneros pois eu estava me encontrando, onde de fato queria focar na produção e em qual gênero tocar. Hoje em dia minha pesquisa e produção está focada na House Music, e ela serve tanto para a criação dos meus DJs sets – descobrindo novos artistas e gravadoras – assim como usar algumas músicas de referência na minha produção – seja um timbre ou o arranjo.

B4B – Você já tocou naquele que é o templo da música eletrônica, o Warung. Conta pra gente como foi a sensação de estrear em um dos maiores clubs do mundo. Como surgiu o convite?

Foi um conjunto de emoções desde o anúncio até o fim daquele dia. Eu ingressei no Warung School e cada masterclass possuia um desafio, e os ganhadores tinham a possibilidade de lançar uma track, ou  tocar no templo. Eu ganhei um dos concursos e fiz uma apresentação B2B com a Dani Ebner, também ganhadora. Foi incrível mesmo, e ainda toquei uma track autoral, que será lançada pelo próprio selo do clube! Arrepio só de lembrar quando vi meu nome no flyer, e dos sentimentos ao subir no ‘inside’. Essas emoções aumentam ao lembrar do acidente que o clube sofreu esse ano, mas com confiança que o Templo logo retornará. E em toda essa emoção também está o cuidado e carinho de toda a equipe do clube, do começo ao fim.

O seu projeto, Zomero & Friends, está ganhando cada vez mais destaque. Quais são os próximos passos do projeto? O que pode nos adiantar entre atrações, locais e datas? 

A produção para a quarta edição da Z&F já começou. Estou muito feliz com este projeto que tem como objetivo unir amigos, amigos dos amigos, ouvindo muita música e aproveitando o espaço, mostrando que música eletrônica não precisar ser consumida apenas em grandes clubs ou festivais. O que posso adiantar para a próxima edição é que estou procurando um lugar para uma “sunset”, seguindo o pedido do público que quer aproveitar um pouco mais do dia para se divertir. A previsão é para o mês de setembro, então fiquem ligados nas redes sociais.

ZOMERO no Warung

Recentemente vimos uma publicação sua, demonstrando amor ao seu parceiro, no dia dos namorados. Você se sente confortável em falar sobre um relacionamento homo afetivo? Já sentiu alguma forma de preconceito, por ser um artista gay? 

Por ele ser muito companheiro e apoiar toda minha trajetória, me sinto confortável sim e diretamente nunca senti algum preconceito, mas sabemos infelizmente que ele existe. É triste ver na cena eletrônica que surgiu entre a população queer, preta, latina. Não entra na minha cabeça o porquê de uma pessoa se preocupar com a a orientação sexual da outra, a ponto de cometer atos terríveis. 2023 ainda temos muito que conversar e ensinar sobre respeito, mas não podemos parar nem desistir.

– Para finalizar, o segundo semestre está começando. O que o ZOMERO tem preparado para o restante de 2023? Músicas? Gigs importantes? Obrigado

Estou planejando diversas novidades para o segundo semestre e que não poderei dar o spoiler agora, mas posso garantir que o foco na produção musical trará muita música para vocês. Um pequeno spoiler é que estou finalizando uma track, com a mixagem e masterização por Dudu Marote, com vocal autoral onde a mensagem diz muito sobre o meu projeto e minha forma de ver a vida. Muito obrigado pelo papo e nos vemos nas pistas!

Siga ZOMERO no Instagram.

Sair da versão mobile