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DGTL São Paulo retorna grandioso e apresenta edição histórica

Realizando uma edição histórica, o DGTL retornou ao Brasil e durante mais de 15h, apresentou o melhor da música eletrônica em seus palcos.

Foto: @stpdenilsonphoto

São Paulo, Marginal Tietê, Pavilhão do Anhembi. Foi ali, naquele 09 de abril, que uma marca reestabeleceu sua presença e importância no cenário da música eletrônica nacional. Por mais de 15 horas, clubbers do Brasil e até mesmo de outros países, estiveram reunidos para celebrar o retorno triunfal de um dos maiores festivais do mundo. O DGTL mostrou-se mais vivo do que nunca.

A excitação presente em todos que chegavam ali, era apenas um dos inúmeros sentimentos ali vividos. Durante todo o evento, rostos felizes circularam pelo pavilhão. A vontade de dançar falava mais alto e em todas as pistas do DGTL, corpos suados e em completa harmonia se misturavam ao som do techno, house e disco. A música soava alto e a emoção vibrava em uníssono com a alma que era lavada. O estado era de contemplação total.

Valentina Luz | Foto: @guilhermeoliveira85

O Frequency transformou-se num verdadeiro baile. Valentina Luz iluminou o espaço, que também foi palco da apresentação surreal de Denis Sulta. O titã brasileiro Mau Mau levou todo o seu conhecimento para o Frequency, que foi encerrado de forma brilhante por The Blessed Madonna. Transitando entre os gêneros, o palco agradou aos mais saudosistas e apresentou grandes clássicos para a nova geração. Uma aula musical.

Logo ao lado, os sons mais rápidos e industriais tomavam conta do Generator. O templo do techno no DGTL, cheio do começo ao fim, nos presentou com a apresentação impactante de Klangkuenstler, enquanto Murphy mostrava o motivo de ser uma das lendas brasileiras da dance music. SPFDJ fez o que melhor sabe fazer e preparou o terreno para I Hate Models, que de forma misteriosa e vibrante, encerrou a programação do lugar.

SPFDJ | Foto: @guilhermeoliveira85

No Modular foi aonde as melodias se encontravam. Melanie Ribbe nos transportou para Ibiza e nos mostrou toda sua bagagem musical. Jan Blomqvist foi capaz de arrancar lágrimas de muitos que ali estavam e o duo Binaryh sagrou-se como os embaixadores do techno melódico no Brasil. Innellea nos fez flutuar na mais alta nuvem, num set que precedeu a mudança de chave do palco. O que era bom, ficou ainda melhor.

Renato Ratier fez as honras e iniciou a transição perfeita. Len Faki deu sequência e trouxe uma potência que o Modular ainda não havia presenciado. Seus BPMs mais rápidos eram capazes de fazer qualquer um pular. Quando Amelie Lens subiu, o nível de euforia aumentou ainda mais e com toda a sua delicadeza, contrapondo sua música agressiva, ela fechou com chave de ouro aquela noite que poderia nunca ter fim.

Amelie Lens | Foto: @stpdenilsonphoto

Após tantos anos de espera, o DGTL conseguiu cumprir sua missão. Num evento que beirou a perfeição, foi difícil encontrar algo que pudesse desabonar uma noite mágica daquelas. Da entrada até a saída, todos os detalhes foram pensados para a melhor experiência. A parte ruim de tudo isso, é ter que esperar um ano inteiro até nosso próximo encontro. Obrigado, DGTL, por ser e excelência em forma de festival.

Confira cobertura completa nos destaques do nosso Instagram.

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Afterlife, um verdadeiro espetáculo audiovisual totalmente inesquecível

Após dois anos de muita espera, o Afterlife finalmente pousou na ARCA em São Paulo, para dois dias de verdadeiros espetáculos musicais.

São Paulo virou de ponta cabeça, literalmente. Após dois anos de muita espera, eis que uma das festas mais aclamadas de todo o mundo, fez sua estreia em solo brasileiro. Finalmente, pudemos chegar perto do “homem invertido” e presenciar o emblemático Afterlife, em toda sua potência e essência.

Durante dois dias, uma legião de fãs tomou conta da ARCA, na Zona Oeste da capital paulista. De todos os cantos e de diversos tipos e formas, o público emanava excitação. Para muitos, era o primeiro evento depois de meses. Para todos, era uma noite que entraria para sempre em nossas memórias. E assim foi.

Desde os primeiros minutos, a euforia se fez presente. De forma intercalada, Denis Horvat e Colyn abriram, respectivamente, a sexta e o sábado. Apenas trocando ordens, o sentimento foi igual com ambos. Quando a primeira música de cada uma das noites tocou, um tornado de emoções preencheu o ambiente. Fomos transportados para o melhor lugar onde poderíamos estar, cercados de pessoas com o mesmo ideal: dançar!

Sem deixarem a temperatura cair em nenhum momento, Denis e Colyn cativaram a pista presente, seja num dia quanto no outro e colocaram o nível da festa num patamar altíssimo. A cada música, em cada melodia, novas sensações nos eram apresentadas e a sede por mais era sempre maior. Seja fazendo warm-up ou tocando logo na sequência, os dois mostraram do são capazes e ditaram as regras do que viria a seguir.

A força feminina da noite e representando nosso Brasil no Afterlife, a incomparável ANNA veio como um verdadeiro trator. Esmagadora como gostamos de ver e ouvir, ela nos apresentou seu lado melódico intenso, quente, impactante. Uma verdadeira mistura do techno e o melódico juntos, em perfeita harmonia. Seu hit ‘Forever Ravers‘ foi a cereja do bolo de uma apresentação impecável, que contou até com ‘Opus’, de Pryz, um spoiler do que viria a seguir.

O duo Adriatique, tão conhecidos por seus sets únicos e queridos pelo público brasileiro, fizeram aquilo que sabem de melhor e envolveram São Paulo em uma atmosfera mágica. Com um feeling de pista fora do comum, conduziram um set digno de ser lembrado por todos, com surpresas agradáveis e músicas que foram esperadas durante toda a noite. Um verdadeiro deleite aos fãs presentes.

Os responsáveis por aquele espetáculo, finalmente subiam ao palco. Tale of Us, tão desejados por todos os presentes, chegavam para encerrar aquelas noites que não deveriam acabar. Com um verdadeiro espetáculo audiovisual, fomos presenteados com uma sequência de hits para ninguém botar defeito. De forma completamente singular, Tale of Us fez jus ao nome que carrega e entregaram sets que foram verdadeiras aulas musicais.

Talvez seja muito cedo para dizer que foi o evento do ano, mas certamente entrará no Top 5 de qualquer lista que possa surgir. O serviço da ARCA, que só melhora a cada evento que passa, em conjunto com apresentações que tirar o folego e até o lançamento de vídeos NFT, fizeram da experiência algo nunca antes vivido e que será bem difícil de ser superado. A espera valeu muito a pena e nós queremos muito mais. Obrigado, Afterlife.

A cobertura completa com mais de 100 stories, você encontra me nosso Instagram. Aproveita e siga a gente!

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Dixon celebra potente fusão entre ODD e CAOS em São Paulo

A antiga Fábrica da Ford, em Bom Retiro, bairro tradicional de São Paulo, recebeu Dixon na fusão da ODD e CAOS.

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Solomun leva techno de arena para o Autódromo de Interlagos

O respeitado e ovacionado long set de Solomun, ferveu a pista montada sob o Autódromo de Interlagos, até o amanhecer de um domingo inesquecível para os presentes.

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Ame Club e o tão aguardado encontro com a dupla Adriatique

O set tão aguardado e desejado da dupla Adriatique, no Ame Club, finalmente aconteceu e estamos aqui para contar como foi a experiência.

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Culture Is Back na ARCA: um divisor de águas na cena eletrônica nacional

Grandioso e em dose dupla, o show de retorno de Lukas Ruiz ao Brasil, Culture is Back, na ARCA, encerrou com chave de ouro 2021.

Há tempos a zona oeste de São Paulo não fervilhava daquele jeito. As luzes natalinas espalhadas pela cidade e uma vila temática ali ao lado, no Parque Villa-Lobos, ditavam o tom de fim de ano. O clima, um tanto nostálgico pela época, ganhava outras nuances para os fãs de música eletrônica brasileiros: o retorno do seu maior expoente atual, em solo brasileiro e com um show especial: Vintage Culture estava de volta!

Durante dois dias, a ARCA, espaço de eventos localizado na Vila Leopoldina, recebeu fãs de todos os tipos e idades, ávidos por um show que prometia ser apoteótico. E foi. Seja na véspera da véspera de Natal ou no próprio dia 25, uma legião de pessoas invadiram o espaço para algo que entraria para a história da música eletrônica brasileira, como uma das maiores produções já vistas. E de fato assim foi.

Quem tem acompanhado o trabalho de Lukas Ruiz nos últimos meses, com certeza percebeu um amadurecimento do artista, principalmente quando falamos de sua música. O artista que começou lá, no Nu Disco e tornou-se mais comercial, foi incorporando elementos ao longo dos meses em suas produções e sua passagem pela Defected, com certeza, trouxe ainda novas formas e sons para seu repertório. Algo que pudemos ver e ouvir de perto.

Transitando entre gêneros, mas sem perder a sua essência tão ímpar, Vintage Culture entregou dois longs sets completamente únicos. De hits como ‘Free‘ e ‘Drinkee‘ a clássicos como ‘Grey‘ de Kolsch, o brasileiro mostrou um lado mais melódico; mais progressivo; mais tech; mais house. Vintage provou, ainda mais, ser um artista versátil, adepto da música de qualidade em suas diversas formas.

Perfeito para receber um evento deste porte, a ARCA também mostrou, mais uma vez, que é um espaço completamente modular. O projeto, assinado pela M-S Live e a Entourage, usou e abusou de luzes, telão de última geração e até um cinturão ao estilo Afterlife. Será um spoiler do que está por vir? De uma coisa temos certeza: o padrão “internacional”, agora, é totalmente brasileiro.

Se havia uma forma de encerrar 2021, com certeza foi daquela. Noites rodeadas de amigos, com música boa, no quintal de casa, nos fizeram agradecer pela vida, pelo presente de podermos nos reunir mais uma vez e nos preparou, mesmo que involuntariamente, para o ano que chegou. Vintage Culture e seus convidados, ditaram o tom do que estava por vir. E virá.

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O Surreal é surreal!

Mágico, o Surreal Park inaugura em Camboriú, Santa Catarina e surpreende o público presente com atrações emblemáticas.

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Tantša Festival, o trator que nos amassou, mas abraçou os corações

Retornando após uma longa espera, a Tantša realizou seu festival, no Pavilhão do Anhembi e levou muito house e techno de altíssima qualidade.

Foto: Fernando Sigma

Há tempos uma legião vestida de preto não invadia o Pavilhão do Anhembi. O enorme galpão, localizado na zona norte de São Paulo, não escutava as batidas da música eletrônica fazia alguns meses. O hiato forçado, finalmente chegou ao fim e junto com ele, uma das festas mais importantes da cena paulista underground também retornava: era noite de Tantša Festival.

Bastava aproximar-se do espaço para já ouvir as primeiras batidas ecoando por toda rua. A avenida Olavo Fontoura era dominada por seres de todos os tipos, corpos e cores, que caminham em direção ao som que surgia dentro daquela estrutura de ferro. Mesmo sem filas, a ansiedade atingia níveis gigantescos todos que estavam ali fora. Pouco a pouco, clubbers ocupavam aquela que seria sua casa durante toda a noite.

Logo na entrada, sem enrolações, éramos recebidos pelo logo tão icônico da Tantša e o palco The Cave. Ali, os xamãs participavam do ritual voltado ao techno. Do raw ao hard, foi neste palco que presenciamos sets inesquecíveis, como Anthony Parasole e principalmente das mulheres techneras. Rebekah, um dos nomes mais esperados da noite, passou como um trator por todos nós. Fomos amassados e com gosto!

Rebekah comandando o The Cave

Ao lado, o palco The Jack recebia a house music em sua essência. Desde de apresentações em formato live, como o show de Ventura Profana, aos aguardados sets de DJ Hell e Ryan Elliot, fomos brindados com música de altíssima qualidade e guiados numa verdadeira viagem no tempo. Com direito ao lendário clássico, ‘Maniac‘, a Tantša sagrou-se como algo único.

Com ressalvas para a distância dos banheiros para as pistas de dança, uma vez que os palcos ocuparam apenas parte do pavilhão e com o preço das bebidas do bar, que não agradou a todos, o evento mostrou toda sua força. Com apresentações de tirar o folego e que estão gravadas em nossa memória, o retorno não poderia ser de outro jeito. Já podemos repetir, não acham, Tantša? Já estamos com saudades.

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The Masquerade São Paulo: O baile de gala que precisávamos

Leia agora ao review de uma noite de Claptone e amigos que ficou para a história da ARCA Spaces e da house music paulistana.

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Laroc Club e Boris Brejcha enfeitiçam o público em noite de bruxaria

Após meses fechado, o Laroc Club reabriu em sua máxima potência, recebendo um dos DJs mais queridos do público brasileiro: Boris Brejcha.

Foto: Gui Urban

O sol brilhava em Valinhos. A atmosfera daquele sábado, 20 de novembro, era diferente. Depois de tantos meses fechado, o Laroc Club reabria suas portas para uma noite que prometia ser inesquecível. Desde a chegada no estacionado até a entrada no club, a euforia tomava conta dos presentes. Nem mesmo as pequenas filas para a validação do cartão de vacinação ou ticket da festa, desanimaram. Ao entrar, bastava olhar para aquele lugar e dizer: estávamos de volta em casa.

Emoção era uma das palavras da noite. Desde os amigos que se encontravam depois de tanto tempo ou até mesmo aqueles que se conheciam pela primeira vez, após cultivarem uma amizade virtual por diversos meses. Abraços apertados, sorrisos que se cruzavam. Tudo ficou ainda mais a flor da pele quando um vídeo especial foi exibido no telão do Laroc. Memórias invadiram os presentes, lágrimas escorriam pelo rosto de todos. Estar ali era um presente a vida nos deu. Era o momento de celebrar.

Ser recebido por Junior C e Du Serena foi como abraçar um velhos amigos. Após tanto tempo ser podermos ter contatos mais próximos com as pessoas que amamos, ouvi-los tocar foi como um afago no coração. Silvio Soul conseguir conectar ainda mais o público, que a cada minuto, enchia ainda mais o club. Em poucas horas, a pista estava em sua lotação máxima e a ansiedade só aumentava. Quando Ann Clue subiu ao palco, as expectativas foram lá no alto. O mascarado estava por vir.

A magia única do Laroc, naquele fim de semana, ganhou um toque a mais, dessa vez, de bruxaria pesada. Quando as luzes se apagaram e uma máscara surgiu no horizonte, tivemos a certeza: Boris Brejcha estava entre nós. Ouvir ‘Gravity‘, ‘Happinezz‘, entre outros clássicos do bruxo, além das novas IDs que estarão no seu próximo álbum, incluindo ‘Never Stop Dancing‘, foram uma experiência única. A sonoridade ímpar de Boris, atrelada ao audiovisual, são um verdadeiro show. Fomos enfeitiçados.

Como todo espetáculo merece um encerramento digno de chave de ouro, ZAC não faria por menos. Responsável por segurar a pista após uma intensa bruxaria, o artista fez bonito e saciou os sedentos por mais música. Seu set, que inclui a fantástica ‘The Feeling‘, do Massano, foi a cereja do bolo daquela noite perfeita. Após tantos meses, a energia do ambiente era uma misto de sensações, mas com um em comum: a de que aquela momento poderia ser eterno.

As luzes se apagaram. Os carros começaram a partir em direção a suas casas. Pessoas de diversos cantos deixam o club com o sentimento de dever cumprido. O retorno, tão aguardado, havia acontecido e da maneira mais segura possível. Todos vacinados, sempre pensando no coletivo, puderam curtir juntos uma lenda da música eletrônica ali, bem pertinho. O Laroc estava de volta, maior e melhor, provando sua potência. Estamos prontos para o próximo encontro, dia 04 de dezembro, com KSHMR.

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Moving renasce; D-EDGE reabre; As pistas de dança estão de volta!

Após meses de muito espera, as pistas de dança do Estado de São Paulo estão de volta e acompanhamos de perto o retorno da Moving D-EDGE.

Foram mais de 500 dias fechados. O cruzamento da Rua Olga com a Av. Mário de Andrade nunca foi tão silencioso. Um prédio, estranho para uns, mas familiar para tantos outros, ficou ali, sozinho, quieto, aguardando pelo momento em que poderia abrir suas portas e receber a legião de pessoas vestidas de preto, ávidas por boa música e diversão, até que o tão aguardado momento chegou.

Após o hiato que parecia não ter fim, o D-EDGE reabriu suas icônicas pistas de dança, assim como diversos outros clubs de São Paulo, pronto para tirar o atraso depois de tantos meses. Celebrar a vida ganhou outro significado, após perdermos tantas outras e retomar, mesmo que parcialmente, é sinal de que as coisas estão melhorando cada vez mais. Podemos nos reunir, com cuidado, mais uma vez.

De forma triunfal, o club capitaneado por Renato Ratier, conseguir sobreviver ao caos que assolou o mundo. Junto de seu retorno, uma repaginação em sua pista 1 trouxe novos ares para o local que já era aclamado. O projeto de Muti Randolph, que brilhava no D-EDGE, foi modificado, assim como o sistema de som, que foi desenvolvido pelo próprio Ratier juntamente com a KW Audio. O que era bom, ficou ainda melhor.

Desde a entrada na casa, o riso fácil estampava o rosto de todos os presentes. Um misto de saudades e euforia invadia cada uma das pessoas na pista. Entre um drink e outro, era fácil conversar com um desconhecido, todos exalando a mais pura e legitima felicidade de estar ali. Todos aguardavam ansiosamente por aquele momento e curtir era a palavra de ordem. Dançar era regra da noite.

Binaryh no D-EDGE

Em todas as pistas, em todos os cantos, house e techno ecoavam pela Moving. O duo Binaryh, uma das atrações, nos brindou com um set melódico e energético, cheio das IDs tão comentadas nas redes sociais. André Salata, com toda sua experiência, fez as paredes do D-EDGE tremerem. Dany Bany, como uma grande diva, fez até os mais tímidos sacudirem todas as partes do corpo e isso citando apenas alguns dos artistas da noite memorável.

A noite virou dia. As janelas da pista 2 do club se abriram e o astro rei iluminou, pela primeira vez depois de tantos meses. O retorno era real. A pista era real. Corpos reunidos no mesmo espaço, cena que pareceu utópica ainda ontem, fizeram daquela reabertura algo que jamais esqueceremos. E não acabou, não mais. Está longe de acabar. Foi só o renascer, para retomar.

Clique aqui e acompanhe as próximas aberturas da Moving e aqui, todas as noites do D-EDGE.

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Aufklärung: Iluminação pelas sombras por Carlos Bucci

O techno sisudo, conceitual e pesado de Carlos Bucci, presente no EP ‘Aufklärung’, se contrapõe aos dias difíceis que estamos vivendo.

Por Lau Ferreira

O movimento iluminista foi um dos pontos de virada mais importantes da história da humanidade. Foi quando dogmas religiosos, verdades pré-estabelecidas e estruturas de poder passaram a ser questionados com base no pensamento racional. O século XVIII, portanto, marca a era em que a razão passou a ser a autoridade judiciária universal, o que foi fundamental para um progresso profundo nas mais diversas áreas — incluindo direitos humanos e liberdades individuais, partindo de um passado recente em que “bruxas” eram perseguidas e queimadas, e monarcas eram vistos como representantes divinos, com direitos acima dos demais.

No Brasil, guardadas as devidas proporções, estamos vivendo uma espécie de era pré-iluminista, em que para muitos — autoridades e cidadãos comuns — o pensamento científico perdeu valor em detrimentos a mitos, dogmas, pós-verdades e um bizarro fetichismo por submissão a líderes pretensamente messiânicos.

Ser estúpido e desprezar a integridade do vizinho virou pré-requisito para aceitação em determinados grupos; negar a realidade evidente, desobedecer o bom-senso e a lógica tornou-se virtuoso; perseguir e condenar as “bruxas” contemporâneas voltou a estar na moda; e fazer o básico para preservar a vida (própria e dos seus semelhantes) e combater um vírus perigoso tornou-se quase um ato de resistência. São, de fato, tempos sombrios, que precisam de iluminação.

Em alemão, Iluminismo é ‘Aufklärung‘, nome do novo EP do DJ e produtor catarinense Carlos Bucci, que traz seis faixas de techno sisudo — bem no estilo germânico —, por vezes ácido, como na primeira track, ‘808Ácido‘; por outras, mais dark e claustrofóbico, como em ‘Night Shift‘; ou de pegada industrial, a exemplo de ‘Poder’. ‘Rasper’ e ‘Transition of Hunger’, por sua vez, são as obras mais ravers do pacote, ao mesmo tempo em que hipnóticas e perturbadoras.

Aufklärung‘ foi lançado via Konsep Records no começo de março e está disponível desde o dia 16 em todas as plataformas e você pode comprar no Beatport.

É um disco que não é fácil de ser ouvido e assimilado para quem não está acostumado com a proposta, que requer mais do que uma simples audição para ser devidamente absorvido e compreendido e que contrasta bem com o zeitgeist (para usarmos outro termo alemão) da atualidade. Arte e conceito para iluminar as trevas, mesmo que sob um formato estético sombrio; reflexão e racionalidade para as pistas de dança, que encontram-se interditadas indefinidamente — até podermos contemplar alguma luz no fim de um túnel que mostra-se cada vez mais longo.

A ironia final, quase imperceptível: o projeto foi viabilizado pela Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc Lei (n°14.017/2020), em Blumenau; uma resposta necessária (ainda que paliativa) para alimentar a barriga dos artistas que estão praticamente impedidos de performar desde que a chaga dos últimos 12 meses se instaurou nas vísceras da nossa sociedade. Nada mais será como antes — escolheremos o caminho da luz ou o caminho das trevas?

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