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Entrevista

Entrevistamos: Valentina Luz

Do interior do Paraná para as pistas de dança do Brasil, Valentina despeja sua luz nos palcos por onde passa, incluindo o DGTL São Paulo.

Valentina Luz

Valentina Luz

Valentudo para conquistar o mundo? Para Valentina Luz, tudo não foi necessário, visto que seu carisma e sua apresentação musical, mais que eficiente, nos palcos em que frequenta, tem chamado a atenção da grande mídia, de grandes artistas da cena underground do house music e da organização de grandes festas e festivais no mundo todo, incluindo o holandês DGTL.

Trans, preta, modelo, performer e DJ, Valentina passou pelo palco Frequency do DGTL São Paulo e foi no backstage em que nos recebeu para uma franca conversa sobre sua história, suas influências e sobre toda a representatividade e espaços que a comunidade LGTQIA+ merece diante de seus talentos.

Valentina Luz

Valentina Luz

B4B: Primeiramente é um prazer conversar contigo! Lá no Paraná, quando Valentina começou a nascer sob o ballet, quais eram suas principais influências. Além da música clássica, qual era o tipo de música que te cercava?

Valentina: Cara, é algo que me cerca até hoje né, eu levo um estilo fritness, Valentudo e a Valentudo está relacionado à minha história com o funk, porque sim gente, eu sou funkeira. O funk é a minha principal referência, principalmente por causa do groove que ele me trazia, da liberdade em quebrar a coluna e me jogar, então o funk vem comigo desde a infância e me encorajando com a ideia de que um dia iria ser artista, um dia ainda iria ser vista.

B4B: O funk ainda segue presente na sua discotecagem?

Valentina: O funk é presente em alguns dos meus sets, em algumas propostas, mas é algo que sempre me despertou o desejo, pelas batidas dele, por essa mistura toda que existe, de vocais…

B4B: Quando você veio parar em São Paulo? Como surgiu a oportunidade? A selva de pedra te assustou ou a adaptação foi fácil?

Valentina: Me assustou muito, acho que assusta qualquer um né. Eu nunca tinha saído do meu estado e chegar em São Paulo foi um processo de redescoberta da potência do meu corpo, em lugar que eu não tinha praticamente nada, então foi o lugar que eu encontrei o desespero, de que precisava trabalhar, precisava ser alguém, precisava pagar o aluguel caríssimo, foi um processo de adaptação, mas ao mesmo tempo muito assustador.

Valentina Luz no palco Frequency, DGTL Sao, 2022 (por Guilherme Oliveira)

B4B: E com a sua chegada em São Paulo, você acabou conhecendo a Mamba Negra, uma das festas mais renomadas e respeitadas da cena underground paulistana. Como surgiu seu relacionamento com a Mamba e o quão importante foi isso pra você?

Valentina: Meu relacionamento com a Mamba começou através da Elvira, uma artista visual baiana, que é uma drag que trabalha com vogue e com performance e quando cheguei em São Paulo, quando já estava trabalhando como modelo, que eu descobri que modelar não tinha tanto retorno no início e foi então que a Elvira me chamou para dançar nas festas eletrônicas e a festa que mais me conectei foi a mamba negra, que é um coletivo criado por mulheres, formado por mulheres e que me acolheu desde o começo, com todas as minhas emoções afloradas, que me deu todo suporte, que eu, me descobrindo em início de carreira, precisava. E até hoje meu relacionamento com a mamba é só amor, se estou aqui hoje é graças a todos os espaços que tive na mamba, seja como performer ou como DJ.

B4B: E falando em Mamba, falamos também da comunidade LGTQIA+, que somos incluídos e gostaríamos de saber sua opinião se a nossa comunidade está sendo bem inserida e acolhida em grandes eventos como o DGTL e o que falta para que tudo isso se torne ainda mais natural?

Valentina: Primeiramente, eu acho que falta a representatividade de base, porque não é “Vem gays, vem mulheres, vem negros…”, porque é necessário ter esses grupos em lugares de destaque sim, mas não só em destaque, porque é muito desconfortável para uma artista negra e trans chega para trabalhar em um lugar onde só a hostess é uma drag ou uma trans, onde só as minas do caixa ou a galera da limpeza é negro, onde só a gay é aquela promoter que dá pinta e convida as pessoas, não, estas pessoas precisam ser inseridas naturalmente.

Eu acho que o DGTL está sim mudando a imagem, até porque já aconteceram várias coisas nestes anos de DGTL no Brasil e eu acho que é um trabalho de formiga sim, não posso chegar aqui e gritar por inclusão para a organização, eu preciso mostrar muito bem o meu trabalho e depois dialogar com a produção, argumentando que outras artistas como eu podem sim ocupar estes espaços. Atualmente pode sim rolar muita diversidade, pode rolar muita gente bonita, vários closes, mas é importante a produção dos eventos estar sempre atenta e lidar com situações que podem ser constrangedoras e causar uma má imagem para aquela festa, aquele festival. É estar super atento aos pronomes, de parar e refletir “como eu também gostaria de ser tratado”, como que eu posso tornar o mundo mais suave para todas as pessoas. É um caminho longo sim, não se muda estas coisas de um dia para o outro, mas acredito que estamos num passo a mais onde pessoas de todos os nichos, de todas as siglas possíveis, possam estar juntas, porque a música é sobre união, dança e também sobre individualidade e diversidade.

Valentina Luz no palco Frequency, DGTL Sao, 2022 (por Guilherme Oliveira)

B4B: Como você citou o DGTL, como é sua relação com festival? Como surgiu a oportunidade em ser performer e agora se tornar uma das artistas a representar o Brasil no palco Frequency?

Valentina: Sim! Eu fui performer em 2018. Era outra produção, a performance no evento ainda estava sendo incluída, a produção destes eventos ainda tinha bastante dificuldades em lidar com estes artistas visuais. O backstage foi bem difícil, aconteceram algumas coisas, que poderiam até interferir hoje na minha escolha de estar aqui, mas não é sobre isso, é sobre de fato mudar toda a estrutura e não é só na internet, é fazer as coisas mudarem na realidade e eu achei lindo esse convite, que surgiu depois que comecei a tocar, agora retornando como artista convidada, é emocionante e o que eu vivi no passado sempre me deixou hoje mais forte, podendo me colocar neste lugar onde atualmente sou muito respeitada.

B4B: E para finalizar, qual o recado que você daria para artistas trans que estão iniciando a carreira no mundo da música eletrônica?

Valentina: É bem complicado dizer isso, porque cada pessoa tem uma experiência. E através da minha experiência eu posso dizer que todo o processo é lento, mas ao mesmo tempo que tudo é lento, algo pode fazer dar um boom e você pode se surpreender com o resultado. É muito legal sempre estar preparada, estar ligada às novidades, estar atualizada, saber separar amigos de colegas, entender quem de fato pode te dar uma oportunidade legal e apoiar seu trabalho e acima de tudo fazer um ótimo trabalho. Enquanto artista, as pessoas sempre veem as 2 horas em cima do palco, mas o trabalho de um artista vai muito além disso, então é necessário ter muito foco, força e determinação. Obrigada!

Editores do Beat for Beat. Apaixonados pela música, pela pista e uma boa taça de gin.

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